indika.tv - Suspense

Encounter

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

Assista Agora

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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Equinox

"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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Evil

"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.

Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:

"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!

Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.

Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.

O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.

Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!

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"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.

Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:

"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!

Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.

Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.

O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.

Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!

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Fale Comigo

Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Fragmentado

Fragmentado

Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!

Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:

É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido". 

O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em  "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!

"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!

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Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!

Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:

É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido". 

O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em  "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!

"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!

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Fresh

"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

Assista Agora

"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

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Fuja

"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

Assista Agora

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Hereditário

"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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IT - Capítulo II

Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

Assista Agora

Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

Assista Agora

Jaula

Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!

Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):

Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme. 

Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de  "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção! 

"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.

Vale muito seu play!

Assista Agora

Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!

Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):

Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme. 

Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de  "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção! 

"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.

Vale muito seu play!

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Kimi

"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.

Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima? 

Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?

Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".

Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.

Assista Agora

"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.

Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima? 

Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?

Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".

Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.

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Losing Alice

"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!

A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:

"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.

A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!

Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!

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"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!

A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:

"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.

A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!

Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!

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Mãe!

Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.

No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:

Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo"). 

"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".

É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!

Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".

Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!

Vale muito o play... 3x no mínimo!!!

Assista Agora

Depois de assistir "Mother!" (título original) é tanta coisa pra dizer que fica até difícil começar. O fato é que fica muito claro que é um filme do Darren Aronofsky ("Cisne Negro") - é o estilo dele: da escolha das lentes, dos enquadramentos (basicamente três no filme inteiro), do movimento de câmera, da direção de atores com precisão até chegar no tom perfeito, a cor e a velocidade da narrativa extremamente pontual e objetiva - nos permitindo entender apenas o que ele mostra em um determinado momento e só! Para mim, ao lado do Denis Villeneuve e do (um pouco mais novo) Derek Cianfrance, o Aronofsky está entre os melhores diretores dessa geração.

No filme, uma mulher pensa que terá um final de semana tranquilo com o marido em casa. Porém, começam a chegar diversos convidados misteriosos na sua residência e isso faz com que o casamento deles seja testado das mais variadas maneiras. Confira o trailer:

Só pelo trailer o filme já merece ser assistido, agora saiba que não será uma experiência fácil e muito menos superficial. O filme possui várias camadas e as alegorias religiosas (muito bem embasadas, inclusive) estão por todos os lados, mas nem por isso são 100% perceptíveis - mas tenha certeza: nada no filme está ali por acaso (ele vai te provar isso, mas para isso você vai ser obrigado a assistir de novo e talvez "de novo"). 

"A história surgiu de viver nesse planeta e meio que ver o que acontece à nossa volta e ser incapaz de fazer algo", disse Aronofsky em entrevista à Variety. "Eu apenas sentia muita raiva, ódio, e quis canalizar isso em uma só emoção, em um só sentimento. Em cinco dias eu escrevi a primeira versão do roteiro. Foi como se ele fluísse dentro de mim", explica o cineasta sobre o processo criativo que o acometeu ao conceber "Mãe!".

É preciso dizer que muita gente não gostou do filme e eu respeito, mas esse é o tipo de filme que te obriga a sair da zona de conforto. Não é pra qualquer um (sem deméritos, mas é preciso gostar do estilo)! É o filme que te convida à embarcar em uma viagem que faz todo o sentido quando você busca as respostas no outro ou até mesmo no google (rs). Não é um filme comum e por isso seu roteiro é simplesmente genial. A metáfora fundamental de que "Mãe!" é a personificação da natureza e o conflito está na forma perversa como as pessoas se relacionam com o universo, faz Aronofsky adotar a típica estrutura de um suspense psicológico, onde um casal e a sua casa são os protagonistas, mas a narrativa se apoia em histórias bíblicas para recontar surgimento da humanidade no planeta Terra - parece loucura? Eu sei, mas faz todo sentido!

Na direção, Aronofsky faz o que quer com a câmera, com a lente (tenho a impressão que ele rodou tudo com uma 85mm, em close e só mudava o campo focal com a "facilidade" de ter a câmera na mão) - é coisa de quem sabe brincar de cinema, e muito bem! As percepções de Deus, da Natureza, de Adão, Eva, Caim, Abel, do Planeta, do Homem e da própria vaidade são jogadas na nossa cara a todo momento - e como ganha valor quando ele se critica também, afinal ele é o criador "desse" universo!!! Cada alegoria te permite muitas interpretações e, como ele mesmo disse: "são passíveis de discussão".

Eu acho que a Academia entrou no Hype do "filme cabeça demais para o meu gosto", mas não deveria. Por justiça, Jennifer Lawrence (no melhor papel da carreira) e Javier Bardem mereciam uma indicação (interpretação de olhar). Michelle Pfeiffer também, embora um pouco mais estereotipada! Montagem e Edição de Som tinham potencial até surpreender. Agora, não ter direção, roteiro e fotografia indicados, foi para perder as esperanças no mundo!!!

Vale muito o play... 3x no mínimo!!!

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Maligno

Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

Assista Agora

Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

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Midsommar

"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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No Matarás

“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Noite Passada em Soho

"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

Vale a pena! 

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"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

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O Acusado

Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

Assista Agora

Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

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O Amante Duplo

Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.

Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:

O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.

É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.

Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que  "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!

Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!

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Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.

Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:

O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.

É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.

Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que  "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!

Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!

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