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A Escada

Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

Assista Agora

Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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A Mente do Assassino: Aaron Hernandez

"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador  já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!

A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:

O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer". 

"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!

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"A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é mais um daqueles documentários que nos fazem refletir sobre a verdadeira condição humana como reflexo de uma sociedade doente, onde os valores são facilmente subvertidos e uma família desestruturada só colabora para essa quebra de confiança e afeto. Claro que existia uma patologia, a encefalopatia traumática crônica - uma doença que causa trauma cerebral em jogadores de futebol americano, resultado de concussões repetidas na cabeça e que merece nossa atenção; mas o fato é que alguns (ou a combinação) desses fatores transformaram um jovem jogador da NFL em um frio assassino! Aaron Hernandez já era uma realidade do esporte com pouco mais de 20 anos, jogava no New England Patriots com Tom Brady e ao lado de Rob Gronkowski, tinha acabado de jogar um Super Bowl onde, inclusive, marcou um Touchdown, tinha um contrato de 40 milhões de dólares garantidos, uma esposa e uma filha recém nascida! Tudo caminhava bem até que o corpo de Ortiz Lloyd é encontrado em North Attleboro, próximo a mansão de Aaron. Lloyd era namorado da irmã de sua esposa e foi só a investigação começar que o jogador  já foi preso graças as inúmeras evidências que o colocavam como principal suspeito!

A série da Netflix, destrincha essas evidências ao mesmo tempo em que reconstrói a caminhada esportiva e social de Aaron Hernandez até o dia do seu suicídio. São três episódios de uma hora, com uma dinâmica bastante interessante que não se propõem em inocentar o atleta e sim tentar descobrir as razões que o levaram a cometer o crime! Olha, se você gostou de "O.J.: Made in America", não perca tempo, dê o play porque você não vai se arrepender! Confira o trailer:

O diretor de "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" é Geno McDermott, o produtor responsável por "The Murder Tapes". Ele foi muito inteligente em construir uma narrativa fácil de acompanhar, até para quem não conhece muito dos bastidores do futebol americano. Desde a infância de Aaron Hernandez em Connecticut, passando pela escolha de estudar (e jogar) na Universidade da Flórida, até seus últimos dias no melhor time da NFL, o New England Patriots; a série estabelece uma linha temporal que, embora não seja tão linear, equilibra muito bem vida pessoal e esportiva com depoimentos de fãs, colegas de trabalho, familiares, jornalistas e advogados, com imagens do julgamento, de reportagens da época e até uma ou outra cena dramatizada - o fato é que o documentário poderia ser um filme de ficção tranquilamente de tão potente que é a história - a dinâmica e o storytelling construído estão perfeitos! Algumas fotografias, vídeos, imagens de vigilância e até alguns telefonemas gravados enquanto Aaron Hernandez estava na prisão ajudam a construir um personagem extremamente complexo e uma história surreal, que nos convida ao julgamento a cada nova informação - muito na linha do que aprendemos a amar com "Making a Murderer". 

"A Mente do Assassino:Aaron Hernandez" é uma série documental para quem gosta do gênero. Não é um projeto tão complexo como o já citado "Making a Murderer" que acompanha a investigação, o julgamento e busca pela inocência do protagonista; também não tem tantas reviravoltas e, poucas vezes, a história nos deixa alguma dúvida, mas, certamente, tem um valor enorme como o relato de uma vida que se perde dentro das suas próprias conquistas. Tomei muito cuidado durante minha escrita para não entrar em detalhes do caso e para não estragar a sua experiência de descobertas, mas quero deixar claro que existem pontos obscuros, versões nebulosas sobre certas passagens e até algumas especulações que seriam impossíveis de se comprovar nesse momento - o que torna a série da Netflix viciante como todas as outras desse mesmo estilo - para quem gosta, claro!

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Amanda Knox

O documentário "Amanda Knox" é aquele típico "True Crime" raiz que, fosse uma antologia, poderia tranquilamente ser a história de uma temporada de "Making a Murderer". Lançado em 2016, essa produção original da Netflix explora o infame caso envolvendo Amanda Knox, uma estudante americana acusada do assassinato de sua colega de quarto britânica, Meredith Kercher, na cidade italiana de Perugia, em 2007. O documentário, dirigido por Rod Blackhurst (de "Here Alone") e Brian McGinn (uma das mentes criativas por trás de "Chef's Table"), oferece uma visão abrangente do caso, apresentando diferentes perspectivas e evidências que cercaram o julgamento e a condenação inicial de Knox.

O filme utiliza uma abordagem bastante equilibrada para explorar os eventos em torno do crime e fornecer uma análise dos principais pontos de vista dos envolvidos. Ele apresenta entrevistas com a própria Amanda Knox, com seu ex-namorado, o italiano Raffaele Sollecito, jornalistas, advogados e familiares das vítimas. Essa variedade de perspectivas contribui para uma narrativa complexa e envolvente, porém dinâmica, permitindo que a audiência compreenda as várias camadas desse caso absurdo. Confira o trailer:

A estrutura narrativa de "Amanda Knox" é habilmente construída, alternando entre a cronologia dos eventos e as entrevistas atuais, proporcionando uma compreensão aprofundada dos personagens e das circunstâncias da época. As simulações dos acontecimentos são bem realizadas dentro desse contexto mais, digamos, "raiz" do projeto - o que funciona perfeitamente para transmitir a atmosfera tensa que cercou o caso em 2007.

É muito fácil perceber no entanto, que uma das principais forças do documentário é sua capacidade de questionar a investigação e o sistema judicial italiano. O roteiro foi muito feliz em levantar algumas dúvidas sobre a validade das evidências e a maneira como foram coletadas, destacando as falhas do processo legal que levaram à condenação inicial de Knox e Sollecito. Essa abordagem crítica provoca reflexões sobre a imparcialidade em casos de grande repercussão midiática - e aqui cabe um comentário: fosse eu professor de jornalismo, passaria esse documentário logo na primeira aula só para mostrar o que NÃO se deve fazer ao cobrir um evento como esse. Mais uma vez o jornalismo inglês virando case de imbecilidade!

Ao analisar o papel da mídia na construção da narrativa em torno do caso, o documentário destaca como a cobertura sensacionalista e as especulações da imprensa influenciaram a opinião pública e moldaram a percepção de Knox como uma figura polarizadora. Essa exploração da relação entre mídia e justiça fornece uma crítica importante ao sensacionalismo e à falta de objetividade na cobertura jornalística. O fato é que, independentemente das opiniões sobre a culpabilidade ou inocência de Amanda Knox, o filme proporciona uma experiência instigante para a audiência amante desse gênero, que na época de seu lançamento, apenas engatinhava.

Vale muito o play!

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O documentário "Amanda Knox" é aquele típico "True Crime" raiz que, fosse uma antologia, poderia tranquilamente ser a história de uma temporada de "Making a Murderer". Lançado em 2016, essa produção original da Netflix explora o infame caso envolvendo Amanda Knox, uma estudante americana acusada do assassinato de sua colega de quarto britânica, Meredith Kercher, na cidade italiana de Perugia, em 2007. O documentário, dirigido por Rod Blackhurst (de "Here Alone") e Brian McGinn (uma das mentes criativas por trás de "Chef's Table"), oferece uma visão abrangente do caso, apresentando diferentes perspectivas e evidências que cercaram o julgamento e a condenação inicial de Knox.

O filme utiliza uma abordagem bastante equilibrada para explorar os eventos em torno do crime e fornecer uma análise dos principais pontos de vista dos envolvidos. Ele apresenta entrevistas com a própria Amanda Knox, com seu ex-namorado, o italiano Raffaele Sollecito, jornalistas, advogados e familiares das vítimas. Essa variedade de perspectivas contribui para uma narrativa complexa e envolvente, porém dinâmica, permitindo que a audiência compreenda as várias camadas desse caso absurdo. Confira o trailer:

A estrutura narrativa de "Amanda Knox" é habilmente construída, alternando entre a cronologia dos eventos e as entrevistas atuais, proporcionando uma compreensão aprofundada dos personagens e das circunstâncias da época. As simulações dos acontecimentos são bem realizadas dentro desse contexto mais, digamos, "raiz" do projeto - o que funciona perfeitamente para transmitir a atmosfera tensa que cercou o caso em 2007.

É muito fácil perceber no entanto, que uma das principais forças do documentário é sua capacidade de questionar a investigação e o sistema judicial italiano. O roteiro foi muito feliz em levantar algumas dúvidas sobre a validade das evidências e a maneira como foram coletadas, destacando as falhas do processo legal que levaram à condenação inicial de Knox e Sollecito. Essa abordagem crítica provoca reflexões sobre a imparcialidade em casos de grande repercussão midiática - e aqui cabe um comentário: fosse eu professor de jornalismo, passaria esse documentário logo na primeira aula só para mostrar o que NÃO se deve fazer ao cobrir um evento como esse. Mais uma vez o jornalismo inglês virando case de imbecilidade!

Ao analisar o papel da mídia na construção da narrativa em torno do caso, o documentário destaca como a cobertura sensacionalista e as especulações da imprensa influenciaram a opinião pública e moldaram a percepção de Knox como uma figura polarizadora. Essa exploração da relação entre mídia e justiça fornece uma crítica importante ao sensacionalismo e à falta de objetividade na cobertura jornalística. O fato é que, independentemente das opiniões sobre a culpabilidade ou inocência de Amanda Knox, o filme proporciona uma experiência instigante para a audiência amante desse gênero, que na época de seu lançamento, apenas engatinhava.

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American Crime Story - 1ª Temporada

“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Anatomia de uma Queda

Anatomia de uma Queda

Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Areia Movediça

Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.

Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?

Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!

A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!! 

"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!

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Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.

Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?

Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!

A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!! 

"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!

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Argentina, 1985

"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!

A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):

Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.

O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas  passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.

"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.

Vale muito o seu play!

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"Argentina, 1985" é, essencialmente, mais um filme de tribunal, porém com dois elementos que fazem toda a diferença na forma como experienciamos a história: primeiro, Ricardo Darín é o protagonista (em uma das melhores performances da sua carreira) e depois, claro, por se basear em um fato histórico marcante, (de certa forma) recente, duro de digerir e impressionante, dentro de seu contexto sócio-político!

A trama acompanha Julio Strassera (Ricardo Darín), Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani) e sua equipe de jovens juristas, heróis improváveis que travaram uma batalha de Davi e Golias na qual, sob ameaças constantes e contra todas as possibilidades, ousaram processar pela via civil o alto-escalão das Forças Armadas da Argentina, fortemente atuante durante a ditadura, uma das mais sangrentas da América do Sul, em uma verdadeira corrida contra o tempo para fazer justiça a todas as vítimas dos militares. Confira o trailer (em espanhol):

Aposta da Argentina para o Oscar 2023, "Argentina, 1985" é uma produção da Amazon Studios com direção de Santiago Mitre (de "A Cordilheira") - o filme é um olhar profundo e emocionante sobre um regime militar que torturou, perseguiu e matou civis sob um discurso autolegitimado de estar enfrentando “insurgentes”, “populistas”, “comunistas”, “subvertidos” – pessoas que, a critério dos militares, seriam contra o progresso do país. O interessante porém, é que o roteiro se apoia no drama que foi responsabilizar os culpados por todos esses crimes em um julgamento na esfera civil e não militar como queriam os oficiais. Esse choque jurídico carrega os mesmos fantasmas de repressão do período que todos querem esquecer e é essa dinâmica que eleva a tensão narrativa e nos provoca uma reflexão muito em alta no nosso país: o quão frágil pode ser uma democracia se não respeitarmos alguns direitos individuais do ser humano.

O roteiro do Mariano Llinás e do próprio Mitre faz algumas escolhas que podem causar algum desconforto para quem procura se aprofundar no tema - ele se apoia muito mais nos depoimentos das vítimas (com um grau de emoção e veracidade impressionantes) do que na construção de uma tese de acusação (mesmo flertando com algumas  passagens que sugerem essa investigação). Essa escolha em particular, para uma audiência que não é tão familiarizada com os nomes dos envolvidos nos crimes, nos afasta da verdadeira dimensão que representou o julgamento - embora a conexão com os protagonistas seja imediata, em nenhum momento somos impactados com embates calorosos entre acusação e defesa como em "Os 7 de Chicago", por exemplo.

"Argentina, 1985" se aproveita tanto da química entre Darín e Lanzani, que nem nos damos conta de todos esses deslizes do roteiro - que, aliás, precisa muito da montagem para encaixar uma quantidade enorme de informações essenciais para a construção da história. Nada que estrague a ótima experiência de assistir um filme que foi muito competente em recriar toda uma atmosfera de incertezas e de descobrimentos que funciona como uma espécie de "ajuste de contas" pós-ditadura e que acaba expondo uma história importante, essencial e motivo de orgulho para o povo argentino.

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Atleta A

"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!

Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):

O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.

Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!

"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!

Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis! 

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"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!

Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):

O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.

Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!

"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!

Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis! 

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Brian Banks: Um Sonho Interrompido

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

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"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

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Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

Assista Agora

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Cenas de um Homicídio

"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)! 

O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:

Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha! 

Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!

A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada). 

Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!

Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!

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"Cenas de um Homicídio" (ou "American Murder: The Family Next Door" - título original) é brutal! Não visualmente, pois nada do que assistimos na tela nos choca tanto quanto aquilo que não vemos - e esse talvez seja o maior mérito desse documentário que mais parece uma obra de ficção graças a uma construção narrativa impressionante (e marcante)! 

O filme acompanha a investigação do desaparecimento de uma mulher grávida, Shanann Watts, e de suas duas filhas: Bella de 4 anos e Celeste de 3. O principal suspeito: o marido. O problema é que tudo levava a crer que o casal, mesmo com alguns problemas, tinham uma vida tranquila, eram felizes e pareciam construir laços familiares cada vez mais fortes. Porém, o documentário, pouco a pouco, vai nos colocando em uma delicada posição, já que a investigação passa a mostrar alguns indícios difíceis de acreditar, transformando uma relação aparentemente normal em uma trama cheia de mentiras, segredos e traições. confira o trailer:

Para quem gosta do estilo "True Crime", "Cenas de um Homicídio" é uma ótima opção, pois não tem enrolação, não se trata de um crime tão complicado (embora possa parecer), porém é extremamente chocante em vários aspectos - e aqui a diretora Jenny Popplewell merece todo mérito: ela "brinca" com nossa incredulidade durante os dois primeiros atos e no momento mais marcante de uma possível confissão, ela ainda nos coloca uma pulga atrás da orelha! 

Olha, esse documentário é uma ótima pedida, mas vai te incomodar, pode acreditar!

A partir de cenas de arquivo, áudios gravados e vídeos (e fotos) postadas nas redes sociais, Popplewell reconstrói a linha temporal do desaparecimento de Shanann com uma precisão impressionante - é como se as câmeras estivessem lá desde o inicio do drama da família Watts e já soubesse exatamente o que captar e como nos provocar emocionalmente (por isso isso minha observação sobre parecer uma obra de ficção). A montagem do Simon Barker, um especialista do gênero, é incrível, já que é justamente ela que vai nos guiando e nos entregando as peças desse quebra-cabeça sem esconder nada (ou pelo menos, quase nada). 

Agora, é preciso dizer que "Cenas de um Homicídio" não é daqueles documentários cheios de reviravoltas surpreendentes ou investigações profundas que sempre acham uma testemunha escondida em algum lugar - a dúvida está, unicamente, nas costas do marido de Shanann, Chris. Não que seja um problema, mas realmente a narrativa perde um pouco do elemento surpresa e o drama parece ir perdendo sustentação com tempo. Um detalhe interessante é que a conclusão do caso foi rápida: 3 ou 4 dias, só que durante a investigação vemos muitas gravações antigas da vida pessoal do casal, principalmente da esposa desaparecida, mostrando uma personalidade forte, muitas vezes controladora e não muito, digamos, educada com quem não concordasse com ela. Isso foi o suficiente para que Chris acabasse se tornando, aos olhos de muitos, uma "vítima" de Shanann e aqui eu sugiro uma reflexão: reparem como julgamos os outros sem saber de toda a história, seja pela aparência ou pela forma que uma pessoa lida com suas emoções!

Para finalizar, eu gostaria de dar outro conselho: não busque nenhuma informação sobre o caso antes de assistir o filme - essa escolha vai impactar diretamente na sua experiência perante todas as revelações que você vai encontrar no documentário! "Cenas de um Homicídio" se aproxima mais de "The Staircase" do que "O Desaparecimento de Madeleine McCann", mas como as duas referências, já pode ser considerável imperdível! Vale seu play!

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Clemência

"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.

Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):

Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.

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"Clemência: A História de Cyntoia Brown" é mais uma empreitada da Netflix que segue a linha "Making a Murderer", mas que, embora seja um ótimo documentário, não surpreende com alguma reviravolta que nos faça perder o sentido, como ficou tão característico nesse tipo de produção que nos apresenta detalhes sobre personagens envolvidos em crimes reais. É claro que o fato de ser um filme e não uma série, ter pouco mais de 90 minutos, interfere demais na narrativa - não há tempo para um aprofundamento maior, mas cá entre nós: Cyntoia Brownnão me pareceu ter a "força" de um Steven Avery ou de um Robert Durst de "The Jinx" e isso fica muito claro durante os "saltos temporais" entre a sua prisão e as razões que levaram até sua tentativa de obter clemência do governador do Tennessee.

Veja bem: certa noite, Cyntoia, uma garota negra de 16 anos, conheceu um homem branco chamado Johnny Allen, no estacionamento de uma lanchonete, próximo a casa do seu então namorado: o traficante e cafetão, Kut-Throat. Depois de um bate-papo rápido, Allen perguntou se Cyntoia estava pronta para "ação". Ao responder afirmativamente, eles acertaram os valores e foram para a casa dele. Acontece que, em algum momento após a relação sexual, Cyntoia Brown pegou a arma que estava em sua bolsa e disparou contra Johnny Allen pelas costas. Ele morreu na hora e Cyntoia ainda levou 172 dólares da sua carteira, duas armas e a caminhonete do rapaz. Ao ser detida, Cyntoia confessou o crime, mas declarou ter agido em legítima defesa - o que, claro, não colou para ninguém! Confira o trailer (em inglês):

Quando vemos uma adolescente sendo julgada como adulta e depois condenada à prisão perpétua por homicídio (e mais 3 crimes), imediatamente criamos uma certa empatia pela personagem, como ser humano, porém nos afastamos desse sentimento quando refletimos sobre a versão que Cyntoia tanto defende e que não parece nada plausível dada as provas periciais - o fato dela nunca ter demonstrado arrependimento algum, certamente, também colabora para esse distanciamento. O interessante é que o roteiro do diretor Daniel H. Birman não se propõe a defender a versão de Cyntoia e sim apresentar a tese de que circunstâncias sociais e fisiológicas a levaram cometer o crime! É um documentário curioso nesse sentido, diferente do que estamos acostumados, e por isso me agradou tanto, mesmo sendo óbvio e pouco surpreendente, vale a pena conhecer essa história e os desdobramentos que Birman nos conta.

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Crimes de Família

Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

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Antes de mais nada é preciso dizer que a história de "Crimes de Família" é infinitamente mais potente do que o filme que vemos na tela - não que o filme seja ruim, mesmo porque ele não é, mas na minha opinião, sua previsibilidade pode prejudicar demais a experiência de quem assiste, já que as escolhas narrativas, tanto do roteiro quanto da direção, são falhas - eles fazem de tudo para criar uma expectativa por um "plot twist inesquecível" que na verdade nem precisava!

Talvez o fato do cinema argentino carregar o peso de nos ter apresentado muitos filmes surpreendentes, tenha interferido no trabalho do diretor (e co-roteirista) Sebastián Schindel. "Crimes de Família" conta a história real de dois crimes que aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em uma mesma família de classe média/alta de Buenos Aires. Em um deles, o filho do casal Alícia (Cecília Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) é acusado de estuprar e agredir sua ex-esposa. No outro, a empregada desse mesmo casal é presa acusada de cometer um homicídio e precisa enfrentar um difícil julgamento. Confira o trailer:

Embora contadas paralelamente, as duas histórias, obviamente, tem alguns elementos em comum que por si só já nos manteriam grudados no filme para que pudéssemos entender seu desdobramento, acontece que Schindel preferiu transformar uma história chocante, quase documental, em um thriller de mistério policial e para isso ele usou de uma gramática cinematográfica que notadamente funciona, só que a entrega final vai se enfraquecendo ao longo dos atos (de tão infantil que é)! Então, se você assumir que o "caminho" é muito mais interessante que o "fim" é bem provável que você vá amar o filme, mas se você cair na expectativa que o próprio diretor te sugere, a decepção pode ser grande, já que o elo entre esses dois crimes é "mais  do mesmo"!

Certamente "Crimes de Família" não tem a força de narrativa e muito menos a elegância estética de "Em Defesa de Jacob", mas a produção da AppleTV+ vai servir como referência se você gosta desse estilo de trama. No final das contas eu gostei, mas nem de longe será um filme inesquecível. Vale como uma ótima "sessão da tarde" e por algumas passagens que vamos analisar abaixo!

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Crown Heights

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

Assista Agora

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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David contra os Bancos

Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!

O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:

Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos. 

Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!

O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!

O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:

Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos. 

Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!

O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada. 

Vale muito o seu play!

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Despertar Mortal

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

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Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

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Dopesick

Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

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Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

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Elize Matsunaga: Era uma vez um crime

Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga. 

"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer: 

Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.

Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.

A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.

Vale seu play!

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Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga. 

"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer: 

Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.

Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.

A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.

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Em defesa de Jacob

É preciso entender que a AppleTV+ está apenas no começo da sua jornada e talvez por isso eu fique muito tranquilo em afirmar: de tudo que assisti até agora no serviço de streaming da Apple, "Em defesa de Jacob" é disparado o melhor titulo - não que os outros sejam ruins, mas essa minissérie é impecável, no seu roteiro, na sua produção e no seu elenco! 

Baseada no livro de 2012 do americano William Landay, "Em Defesa de Jacob" conta a história do promotor Andy Barber (Chris Evans), um homem que acreditava ter uma vida perfeita ao lado de sua esposa Laurie (Michelle Dockery) e do filho Jacob (Jaeden Martell). Porém quando Barber é escalado para investigar o assassinato de um adolescente de 14 anos que foi encontrado esfaqueado em um parque da pequena cidade de Massachusetts onde moram, ele começa a enfrentar um verdadeiro pesadelo. O garoto estudava com seu filho que, pouco tempo depois, passa a ser apontado como o principal suspeito de ter cometido o crime. A partir daí, a vida da família Barber vira de ponta-cabeça, sua intimidade é completamente exposta, a repercussão da acusação destrói seu convívio social e a dúvida sobre o que realmente aconteceu transforma a relação entre eles em um verdadeiro jogo de verdades e mentiras! Confira o trailer:

Antes de seguir, eu preciso dizer que "Em Defesa de Jacob" já começa genial pelo duplo sentido do seu título - isso só ficará claro no último episódio, porém o que você vai assistir nos outros sete que compõem a minissérie, é uma história dinâmica que, mesmo com algumas escolhas óbvias, nos mantém envolvidos e cheio de dúvidas sobre os fatos que levaram o crime ser cometido e sobre quem cometeu! É um verdadeiro exercício de adivinhação constante, mas que o roteiro insiste em nos afastar da solução a cada nova descoberta! Olha, vale muito a pena mesmo, entretenimento de primeira linha, nível HBO, mas na AppleTV+!

"Em Defesa de Jacob" foi criada por Mark Bomback, roteirista de "Planeta dos Macacos" e "Wolverine - Imortal". Seu roteiro traz muitas referências do excelente "Precisamos falar sobre Kevin" de 2011, mas com o frescor de se tratar de uma minissérie e de poder explorar uma história complexa, com personagens profundos, com muito mais tempo de desenvolvimento que as duas horas do filme. Toda a trama envolvendo o assassinato, a investigação criminal e o julgamento é equilibrada com momentos bastante particulares da relação familiar dos Barber. Aquela família perfeita de fato não existe, personagens impecáveis, acima do bem e do mal, muito menos, com isso, a todo momento, o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha com diálogos inteligentes e, principalmente, atuações acima da média, principalmente de Jaeden Martell - o ator consegue entregar uma performance incrível, extremamente contido, trabalhando o silêncio de um forma sombria em alguns momentos e frágil em outros - reparem! Michelle Dockery também surpreende como Laurie e o contraponto da dúvida é tão bem trabalhado pela personagem que o ótimo trabalho do Chris Evans acaba ganhando ainda mais força - embora ele tenha um tendência absurda a trabalhar um tom acima, sua certeza sobre a inocência do filho é de emocionar!

A edição também é um ponto que merece ser comentado: ela é a responsável pela dinâmica narrativa que o premiadíssimo diretor Morten Tyldum (Jogo da Imitação) impõe à história. A quebra da linha temporal parece mais confundir do que explicar e , propositalmente, os cortes nos criam a sensação de insegurança que vai progredindo até chegarmos nos episódios 7 e 8, quando nossa angústia já está quase insuportável. O fato do diretor ser norueguês, certamente, contribuiu para a escolha do look gélido que a minissérie tem - se "Garota Exemplar" trazia uma dominância mais esverdeada, "Em Defesa de Jacob" usa do azul para retratar a frieza e a solidão dos momentos de dúvida e de introspecção que acompanham cada um dos personagens, ao seu modo, em toda história!

"Em Defesa de Jacob" vem forte para a temporada de premiações, com aquele empurrãozinho de sucessos como  "Big Little Lies" ou "Em Prantos", mas com a coragem de um roteiro que nos tira da zona de conforto e nos provoca ao não responder a questão principal da trama, mas de expor as imperfeições dos relacionamentos familiares em várias camadas e situações até o seu limite!

Vale o seu play!

Assista Agora

É preciso entender que a AppleTV+ está apenas no começo da sua jornada e talvez por isso eu fique muito tranquilo em afirmar: de tudo que assisti até agora no serviço de streaming da Apple, "Em defesa de Jacob" é disparado o melhor titulo - não que os outros sejam ruins, mas essa minissérie é impecável, no seu roteiro, na sua produção e no seu elenco! 

Baseada no livro de 2012 do americano William Landay, "Em Defesa de Jacob" conta a história do promotor Andy Barber (Chris Evans), um homem que acreditava ter uma vida perfeita ao lado de sua esposa Laurie (Michelle Dockery) e do filho Jacob (Jaeden Martell). Porém quando Barber é escalado para investigar o assassinato de um adolescente de 14 anos que foi encontrado esfaqueado em um parque da pequena cidade de Massachusetts onde moram, ele começa a enfrentar um verdadeiro pesadelo. O garoto estudava com seu filho que, pouco tempo depois, passa a ser apontado como o principal suspeito de ter cometido o crime. A partir daí, a vida da família Barber vira de ponta-cabeça, sua intimidade é completamente exposta, a repercussão da acusação destrói seu convívio social e a dúvida sobre o que realmente aconteceu transforma a relação entre eles em um verdadeiro jogo de verdades e mentiras! Confira o trailer:

Antes de seguir, eu preciso dizer que "Em Defesa de Jacob" já começa genial pelo duplo sentido do seu título - isso só ficará claro no último episódio, porém o que você vai assistir nos outros sete que compõem a minissérie, é uma história dinâmica que, mesmo com algumas escolhas óbvias, nos mantém envolvidos e cheio de dúvidas sobre os fatos que levaram o crime ser cometido e sobre quem cometeu! É um verdadeiro exercício de adivinhação constante, mas que o roteiro insiste em nos afastar da solução a cada nova descoberta! Olha, vale muito a pena mesmo, entretenimento de primeira linha, nível HBO, mas na AppleTV+!

"Em Defesa de Jacob" foi criada por Mark Bomback, roteirista de "Planeta dos Macacos" e "Wolverine - Imortal". Seu roteiro traz muitas referências do excelente "Precisamos falar sobre Kevin" de 2011, mas com o frescor de se tratar de uma minissérie e de poder explorar uma história complexa, com personagens profundos, com muito mais tempo de desenvolvimento que as duas horas do filme. Toda a trama envolvendo o assassinato, a investigação criminal e o julgamento é equilibrada com momentos bastante particulares da relação familiar dos Barber. Aquela família perfeita de fato não existe, personagens impecáveis, acima do bem e do mal, muito menos, com isso, a todo momento, o roteiro nos coloca uma pulga atrás da orelha com diálogos inteligentes e, principalmente, atuações acima da média, principalmente de Jaeden Martell - o ator consegue entregar uma performance incrível, extremamente contido, trabalhando o silêncio de um forma sombria em alguns momentos e frágil em outros - reparem! Michelle Dockery também surpreende como Laurie e o contraponto da dúvida é tão bem trabalhado pela personagem que o ótimo trabalho do Chris Evans acaba ganhando ainda mais força - embora ele tenha um tendência absurda a trabalhar um tom acima, sua certeza sobre a inocência do filho é de emocionar!

A edição também é um ponto que merece ser comentado: ela é a responsável pela dinâmica narrativa que o premiadíssimo diretor Morten Tyldum (Jogo da Imitação) impõe à história. A quebra da linha temporal parece mais confundir do que explicar e , propositalmente, os cortes nos criam a sensação de insegurança que vai progredindo até chegarmos nos episódios 7 e 8, quando nossa angústia já está quase insuportável. O fato do diretor ser norueguês, certamente, contribuiu para a escolha do look gélido que a minissérie tem - se "Garota Exemplar" trazia uma dominância mais esverdeada, "Em Defesa de Jacob" usa do azul para retratar a frieza e a solidão dos momentos de dúvida e de introspecção que acompanham cada um dos personagens, ao seu modo, em toda história!

"Em Defesa de Jacob" vem forte para a temporada de premiações, com aquele empurrãozinho de sucessos como  "Big Little Lies" ou "Em Prantos", mas com a coragem de um roteiro que nos tira da zona de conforto e nos provoca ao não responder a questão principal da trama, mas de expor as imperfeições dos relacionamentos familiares em várias camadas e situações até o seu limite!

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Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão

O documentário "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" é praticamente uma escolha obrigatória para quem assistiu (e gostou) de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão". Embora sem o mesmo brilhantismo narrativo da minissérie de 4 episódios que nos apresentou os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolvia poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades; o filme sobre sua parceira Ghislaine serve, basicamente, como um epílogo de uma história que embrulha o estômago por todo contexto que envolveu suas vítimas.

Este documentário parte dos pontos que ficaram abertos depois dos acontecimentos da minissérie. Os detalhes sobre o caso de tráfico sexual pelo prisma do envolvimento de Ghislaine Maxwell, socialite e cúmplice de Jeffrey Epstein, ganha ainda mais força com os depoimentos das próprias vítimas e do recente julgamento pelo qual ela passou. Confira o trailer (em inglês):

Se "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" fosse o quinto episódio de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" tudo faria mais sentido - porém há dois anos atrás Ghislaine sequer tinha sido indiciada, o que, claro, impactou na escolha da diretora Lisa Bryant em fechar o primeiro ciclo com o rico material que ela tinha na época. E aqui cabe uma observação relevante: a minissérie foi baseada no ivro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein”, o que permitiu a Lisa se aprofundar em diversos detalhes que, infelizmente, não se repetiu no filme de Ghislaine. Em muitos momentos, inclusive, a narrativa se torna até repetitiva e incrivelmente superficial com o claro intuito de tentar relembrar o caso Epstein sem tirar o foco da nova protagonista.

Isso prejudica a experiência? Absolutamente não, porém cria um vinculo tão grande com a obra anterior que seria desrespeitoso da minha parte dizer que a história de "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" se conta sozinha - não, ela não se conta e isolada perde completamente sua força! Com a ajuda de Maiken Baird (produtora de sucessos como "Ícaro" e "Allen contra Farrow") Lisa revisita alguns elementos que conectados ao caso, nos ajudam a entender um pouco mais da relação entre Ghislaine e Epstein -  o ponto alto, no entanto, se dá na construção do perfil de Ghislaine e como sua relação com o pai, o milionário da mídia Robert Maxwell, definiu traços da sua personalidade marcante (e doentia).

"Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" basicamente repete a fragilidade de “Who is Ghislaine Maxwell?”, da HBO, que bebeu da fonte de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", mas que trouxe poucas novidades para o entendimento do caso como um todo (inclusive de sua investigação e julgamento). Eu diria que esse documentário é até dinâmico, bem produzido, bem dirigido e que funciona muito bem como encerramento de um assunto que passou de novidade (e até surpreendente pelos nomes envolvidos e pelo fim trágico de Epstein) para um tema que dominou os noticiários por muito tempo e que me pareceu ter se desgastado demais.

Repetindo: vale seu play, apenas se você já assistiu "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"!

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O documentário "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" é praticamente uma escolha obrigatória para quem assistiu (e gostou) de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão". Embora sem o mesmo brilhantismo narrativo da minissérie de 4 episódios que nos apresentou os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolvia poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades; o filme sobre sua parceira Ghislaine serve, basicamente, como um epílogo de uma história que embrulha o estômago por todo contexto que envolveu suas vítimas.

Este documentário parte dos pontos que ficaram abertos depois dos acontecimentos da minissérie. Os detalhes sobre o caso de tráfico sexual pelo prisma do envolvimento de Ghislaine Maxwell, socialite e cúmplice de Jeffrey Epstein, ganha ainda mais força com os depoimentos das próprias vítimas e do recente julgamento pelo qual ela passou. Confira o trailer (em inglês):

Se "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" fosse o quinto episódio de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" tudo faria mais sentido - porém há dois anos atrás Ghislaine sequer tinha sido indiciada, o que, claro, impactou na escolha da diretora Lisa Bryant em fechar o primeiro ciclo com o rico material que ela tinha na época. E aqui cabe uma observação relevante: a minissérie foi baseada no ivro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein”, o que permitiu a Lisa se aprofundar em diversos detalhes que, infelizmente, não se repetiu no filme de Ghislaine. Em muitos momentos, inclusive, a narrativa se torna até repetitiva e incrivelmente superficial com o claro intuito de tentar relembrar o caso Epstein sem tirar o foco da nova protagonista.

Isso prejudica a experiência? Absolutamente não, porém cria um vinculo tão grande com a obra anterior que seria desrespeitoso da minha parte dizer que a história de "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" se conta sozinha - não, ela não se conta e isolada perde completamente sua força! Com a ajuda de Maiken Baird (produtora de sucessos como "Ícaro" e "Allen contra Farrow") Lisa revisita alguns elementos que conectados ao caso, nos ajudam a entender um pouco mais da relação entre Ghislaine e Epstein -  o ponto alto, no entanto, se dá na construção do perfil de Ghislaine e como sua relação com o pai, o milionário da mídia Robert Maxwell, definiu traços da sua personalidade marcante (e doentia).

"Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" basicamente repete a fragilidade de “Who is Ghislaine Maxwell?”, da HBO, que bebeu da fonte de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", mas que trouxe poucas novidades para o entendimento do caso como um todo (inclusive de sua investigação e julgamento). Eu diria que esse documentário é até dinâmico, bem produzido, bem dirigido e que funciona muito bem como encerramento de um assunto que passou de novidade (e até surpreendente pelos nomes envolvidos e pelo fim trágico de Epstein) para um tema que dominou os noticiários por muito tempo e que me pareceu ter se desgastado demais.

Repetindo: vale seu play, apenas se você já assistiu "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"!

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