Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!
Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu gostei; mas, infelizmente, não é um filme daqueles inesquecíveis - o que me chateia um pouco, pois a história (e todo contexto que envolveu a produção) tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "Sessão da Tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo se emocionar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, em um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) se sobressai em relação "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente e alguma emoção!
"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:
"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.
Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.
Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.
Otimo entretenimento!
"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:
"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.
Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.
Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.
Otimo entretenimento!
"Alias Grace" é uma minissérie do Netflix que conta a história de uma empregada doméstica (Sarah Gadon), imigrante da Irland, ,que foi condenada à prisão perpétua após ser acusada de ter planejado a morte de seu patrão Thomas Kinnear (Paul Gross) e de sua superior na casa em que trabalhava. Grace afirma não ter lembrança do assassinato, mas os fatos são irrefutáveis. Uma década depois, o Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft) tenta ajudar Grace a recordar seu passado e finalmente esclarecer o crime. O bacana (e surpreendente) é que a história foi inspirada em um caso real que aconteceu no século XIX. Confira o trailer:
Tecnicamente a série é impecável. A direção de Arte é muito detalhista e junto com uma Fotografia precisa (principalmente nos movimentos de câmera em primeira pessoa) dita um tom muito interessante para série e sem ser piegas.
Já aviso: não é uma série fácil. Ela parece lenta, um pouco arrastada com tantas narrações em Off, mas o roteiro é cheio de detalhes e muito (mas muito) bem construído. São seis episódios de uma história sem muitas reviravoltas, mas que surpreende pela coerência dos fatos sem a pretenção de esconder seu arco principal - que instiga pelas inúmeras possibilidades (ou razões) conforme vai se aproximando do final. Vale muito a pena pela produção, pela atuação da Sarah Gadon (olho nela) e pelo roteiro excelente!!!
Vale muito a pena!
PS: A história é baseada no romance da Margaret Atwood, a mesma da premiada "The Handmaid’s Tale
"Alias Grace" é uma minissérie do Netflix que conta a história de uma empregada doméstica (Sarah Gadon), imigrante da Irland, ,que foi condenada à prisão perpétua após ser acusada de ter planejado a morte de seu patrão Thomas Kinnear (Paul Gross) e de sua superior na casa em que trabalhava. Grace afirma não ter lembrança do assassinato, mas os fatos são irrefutáveis. Uma década depois, o Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft) tenta ajudar Grace a recordar seu passado e finalmente esclarecer o crime. O bacana (e surpreendente) é que a história foi inspirada em um caso real que aconteceu no século XIX. Confira o trailer:
Tecnicamente a série é impecável. A direção de Arte é muito detalhista e junto com uma Fotografia precisa (principalmente nos movimentos de câmera em primeira pessoa) dita um tom muito interessante para série e sem ser piegas.
Já aviso: não é uma série fácil. Ela parece lenta, um pouco arrastada com tantas narrações em Off, mas o roteiro é cheio de detalhes e muito (mas muito) bem construído. São seis episódios de uma história sem muitas reviravoltas, mas que surpreende pela coerência dos fatos sem a pretenção de esconder seu arco principal - que instiga pelas inúmeras possibilidades (ou razões) conforme vai se aproximando do final. Vale muito a pena pela produção, pela atuação da Sarah Gadon (olho nela) e pelo roteiro excelente!!!
Vale muito a pena!
PS: A história é baseada no romance da Margaret Atwood, a mesma da premiada "The Handmaid’s Tale
É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.
Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:
Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.
Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica - com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).
Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.
Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada". E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!
É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.
Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:
Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.
Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica - com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).
Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.
Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada". E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!
Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!
A diretora francesa Mati Diop foi muito inteligente em abordar temas delicados de uma sociedade sofrida e cheia de conflitos sociais mostrando diversos pontos de vista e usando elementos sobrenaturais como pano de fundo. Essa co-produção França / Senegal / Bélgica usa o cenário interessando do que Dakar vem se transformando. Enquanto o abismo social entre empreiteiros e operários ditam as regras na região, a bem construída introdução de uma história de amor dá o tom de "Atlantique" no primeiro ato. O problema é que o segundo e o terceiro atos vão se enfraquecendo com a quantidade de explicações e, depois, conclusões que a história se sente obrigada a fazer. A história de Ada e Souleiman já me parecia ser o suficiente, porém o roteiro trás outras tramas sem tanto desenvolvimento - uma delas é a febre que as mulheres tem após a morte dos maridos citada em todas as sinopses do filme. Sim, ela é vital para o entendimento do que vem a seguir, mas o sua importância não se reflete nas poucas cenas que contam essa passagem. Os reais motivos da fuga para a Espanha também me soaram frágeis, embora entendível; mas não deu a dimensão da perda para as mulheres que ficaram e isso complica ainda mais quando os mortos resolvem voltar para cobrar a dívida incorporando nelas - a idéia é ótima, mas poderia ser mais impactante - fiquei com essa impressão!
O filme é lindamente fotografado pela Claire Mathon, porém alguns planos comandados por Diop são longos demais - repare na cena em que os operários estão voltando para casa no inicio do filme! A trilha sonora e o desenho de som me chamaram muito atenção - achei muito bem construída a ambientação da cidade, enaltecendo o propósito de escancarar a diferença social do país. A trilha tem uma levada bastante emocional, mas, ao mesmo tempo, conta com elementos de suspense que funcionam perfeitamente na história. Os atores também vão bem, mas nada fora da curva - me agradou o trabalho Mame Bineta Sane como Ada e só! A produção não é ruim, mas as duas cenas de incêndio em nada me convenceram - sinceramente, era possível não mostrar e mesmo assim trazer o peso e o drama das situações só com o trabalho dos atores ou com as consequências desses fatos para os personagens (o que aliás foi um grande acerto da diretora quando resolveu não mostrar o naufrágio).
"Atlantique" chegou no catálogo como a aposta da Netflix para a disputa do Oscar de filme estrangeiro. Não acredito na indicação, embora não me surpreenderá caso ela vier. Já vencer, acho muito (mas muito) difícil! O filme pode parecer contemplativo demais para alguns e passar a impressão de artístico demais para outros - é uma pena, pois acredito que vale a pena conhecer o trabalho de Diop na direção e do cinema senegalês como um todo (embora a produção seja basicamente francesa). É o estilo de filme que me atrai, mas preciso dizer que não me marcou como eu imaginava - o trailer me impactou mais que o filme! Vale a indicação apenas se você for um amante de filmes com uma pegada mais lírica!
Desde o dia que a Netflix confirmou a distribuição internacional de "Atlantique" e liberou o trailer do vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes 2019, tive a certeza que se tratava de um filme bastante interessante - o que realmente se confirmou, porém, confesso, esperava mais! Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Atlantique" é um filme independente com um perfil bem particular que deve agradar aqueles que buscam filmes mais introspectivos e com boa carreira em Festivais pelo mundo. Por se tratar de um tema que atrai o público em geral, muitas pessoas vão criticar o filme, pois, definitivamente, "Atlantique" está anos luz de distância de "Ghost", por exemplo! Depois do naufrágio de um grupo de operários senegaleses que buscavam uma melhor oportunidade na Espanha, a jovem Ada, embora prometida para outro homem, sofre secretamente a perda do seu verdadeiro amor, Souleiman, morto no acidente. Porém na noite do seu casamento, um incêndio acontece e uma das convidadas, e amiga de Ada, afirma ter visto Souleiman pelas redondezas. Com o inicio da investigação, outros acontecimentos chamam a atenção da policia e um clima sobrenatural passa a tomar conta da história. "Atlantique" tem um ritmo muito cadenciado, trabalha bem o drama da protagonista, mas, para mim, perdeu o foco da trama principal ao querer contar histórias demais! Eu gostei do filme, mas achei o roteiro econômico em vários momentos e isso atrapalhou um pouco na compreensão de determinadas situações e até na relação de alguns personagem com as subtramas. Vale o play, mas só faça isso se você gostar de filmes mais poéticos e, digamos, alternativos!
A diretora francesa Mati Diop foi muito inteligente em abordar temas delicados de uma sociedade sofrida e cheia de conflitos sociais mostrando diversos pontos de vista e usando elementos sobrenaturais como pano de fundo. Essa co-produção França / Senegal / Bélgica usa o cenário interessando do que Dakar vem se transformando. Enquanto o abismo social entre empreiteiros e operários ditam as regras na região, a bem construída introdução de uma história de amor dá o tom de "Atlantique" no primeiro ato. O problema é que o segundo e o terceiro atos vão se enfraquecendo com a quantidade de explicações e, depois, conclusões que a história se sente obrigada a fazer. A história de Ada e Souleiman já me parecia ser o suficiente, porém o roteiro trás outras tramas sem tanto desenvolvimento - uma delas é a febre que as mulheres tem após a morte dos maridos citada em todas as sinopses do filme. Sim, ela é vital para o entendimento do que vem a seguir, mas o sua importância não se reflete nas poucas cenas que contam essa passagem. Os reais motivos da fuga para a Espanha também me soaram frágeis, embora entendível; mas não deu a dimensão da perda para as mulheres que ficaram e isso complica ainda mais quando os mortos resolvem voltar para cobrar a dívida incorporando nelas - a idéia é ótima, mas poderia ser mais impactante - fiquei com essa impressão!
O filme é lindamente fotografado pela Claire Mathon, porém alguns planos comandados por Diop são longos demais - repare na cena em que os operários estão voltando para casa no inicio do filme! A trilha sonora e o desenho de som me chamaram muito atenção - achei muito bem construída a ambientação da cidade, enaltecendo o propósito de escancarar a diferença social do país. A trilha tem uma levada bastante emocional, mas, ao mesmo tempo, conta com elementos de suspense que funcionam perfeitamente na história. Os atores também vão bem, mas nada fora da curva - me agradou o trabalho Mame Bineta Sane como Ada e só! A produção não é ruim, mas as duas cenas de incêndio em nada me convenceram - sinceramente, era possível não mostrar e mesmo assim trazer o peso e o drama das situações só com o trabalho dos atores ou com as consequências desses fatos para os personagens (o que aliás foi um grande acerto da diretora quando resolveu não mostrar o naufrágio).
"Atlantique" chegou no catálogo como a aposta da Netflix para a disputa do Oscar de filme estrangeiro. Não acredito na indicação, embora não me surpreenderá caso ela vier. Já vencer, acho muito (mas muito) difícil! O filme pode parecer contemplativo demais para alguns e passar a impressão de artístico demais para outros - é uma pena, pois acredito que vale a pena conhecer o trabalho de Diop na direção e do cinema senegalês como um todo (embora a produção seja basicamente francesa). É o estilo de filme que me atrai, mas preciso dizer que não me marcou como eu imaginava - o trailer me impactou mais que o filme! Vale a indicação apenas se você for um amante de filmes com uma pegada mais lírica!
"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.
Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):
A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.
Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido.
"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!
Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.
Vale seu play!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
Se você tem mais que 40 anos e está lendo este review, provavelmente você deve ter assistido "Imensidão Azul" e se emocionado com a história marcante de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e Enzo Molinari (Jean Reno) ao som de uma trilha sonora brilhante assinada por Éric Serra. Pois bem, "De Tirar o Fôlego", mesmo sendo um documentário, tem a mesma força dramática que o premiado filme de Luc Besson, ao contar a história de Stephen Keenan e Alessia Zecchini - que inicialmente se apoia no processo de superação e resiliência de uma atleta (campeã mundial de "mergulho livre"), mas que logo se transforma em uma jornada inspiradora sobre a paixão pela vida e seus limites.
Aqui conhecemos a impressionante cruzada do fenômeno Alessia Zecchini, uma vitoriosa mergulhadora italiana que treinou incansavelmente para bater o recorde mundial de mergulho livre. Porém, ela não esteve sozinha nessa missão: Alessia contou com a ajuda de Stephen Keenan, seu fiel treinador e responsável pela segurança nas competições que participava. Compartilhando o amor pelo mergulho livre, o documentário mostra as recompensas, desafios e escolhas de cada um deles, mostrando sua paixão quase obsessiva pelos oceanos e como os dois estiveram dispostos a arriscar tudo a fim de conquistarem um lugar na história. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Laura McGann (de "Revolutions", "The Deepest Breath" (no original) chega a ser impressionante de tão bom! Mesmo que inicialmente soe como mais um documentário sobre o encontro "improvável" de uma atleta em busca recordes que desafiam seus limites e de um técnico que tem uma relação muito particular com a natureza e com o esporte, o filme vai muito além graças a um simples elemento - ele tem alma! Seguindo duas linhas narrativas separadas e que, naturalmente, vão se cruzado, o roteiro é muito sagaz em nos provocar inúmeras emoções ao brincar com nossa percepção sobre o que de fato aconteceu com Keenan e com Zecchini. E aqui vai o meu conselho para que sua experiência seja única: não pesquise absolutamente nada sobre a história dos dois.
São inúmeras imagens de arquivo, depoimentos e reconstituições belíssimas que nos dão a exata sensação de mergulhar a mais de 100 metros de profundidade em cenários belíssimos. A estrutura narrativa que McGann usa para construir o documentário é tão bem planejada que parece uma ficção - é realmente impressionante como somos jogados para dentro da trama e como nos conectamos imediatamente com os personagens (da vida real). Reparem como o filme vai da apresentação dos protagonistas, passando pela contextualização de seus estilos de vida e sonhos até chegar no ápice de quando seus destinos se cruzaram em uma competição de mergulho. Agora veja, embora tudo leve a crer que algo deu errado, é pelo encontro dos dois e pela conexão instantânea através de uma paixão compartilhada, que torcemos.
É natural que "De Tirar o Fôlego" crie uma atmosfera envolvente, principalmente emocional, usando e abusando de imagens lindas, de uma trilha sonora extremamente alinhada com o conceito mais dramático para nos manter ligados em uma história onde dois personagens, juntos, formavam uma equipe aparentemente invencível, apoiando-se mutuamente e incentivando um ao outro para alcançar novos patamares no esporte. Eu diria que essa é uma história que nos deixa muitas lições e que, de fato, merecia ser contada, então prepare-se, pois certamente será um dos melhores documentários do ano - pode me cobrar depois!
Vale muito o seu play!
"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.
Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):
Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado).
Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar.
Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.
Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.
"Fonte da Vida" foi o terceiro filme do genial diretor do Darren Aronofsky (na minha opinião um dos melhores, senão o melhor, diretor da sua geração). O filme é basicamente um lindo poema sobre o amor entre duas pessoas que precisam lidar com a morte através de algumas gerações como parte do entendimento sobre a evolução e sobre a vida, que demorou cerca de 6 anos para ficar pronto - o que soa até justificável dada a complexidade do roteiro, ou seja, não é e nem será uma jornada das mais fáceis, mas tenha certeza que talvez seja uma das mais sensíveis que você vai experienciar em muito tempo! Agora, se você não gostou de "Mãe!"(do mesmo diretor) talvez seja melhor você parar por aqui, porque "The Fountain" (no original) segue a mesma estrutura narrativa cheia de simbologias e semiótica.
Na Espanha do século 16, o navegador Tomas (Hugh Jackman) parte para o Novo Mundo em busca da lendária árvore da vida. Enquanto isso, nos tempos atuais a mulher do pesquisador Tommy Creo está morrendo de câncer, mas ele busca desesperadamente a cura que pode salvá-la. Já uma terceira história une as duas primeiras: no século 26, o astronauta Tom finalmente consegue a resposta para as questões fundamentais da existência. Confira o trailer (em inglês):
Depois do sucesso de seu filme independente "Réquiem para um Sonho", Aronofsky chegou no circuito comercial com 75 milhões de dólares para fazer o que seria, até ali, o filme de sua vida, porém durante a produção, Brad Pitt abandonou o projeto por diferenças criativas com o diretor (e resolveu naufragar em "Tróia"), Cate Blanchett, que seria sua co-protagonista, também saiu e o orçamento foi reduzido para cerca 35 milhões de dólares (mais que a metade depois de tudo já planejado).
Com tantos problemas, a dúvida sempre pairou sobre o roteiro e sobre o conceito estético que o diretor gostaria de imprimir e isso, definitivamente, impactou sua performance nas bilheterias. No entanto, posso garantir que a história escrita pelo Ari Handel (fiel parceiro de Aronofsky até hoje) nos provoca uma enorme reflexão - daquelas onde as imagens servem como uma espécie de gatilho para emergir idéias (e discussões) que permanecem na nossa memória por muito tempos. Veja, e é preciso repetir, a narrativa é complexa, foge do usual, mas por incrível que pareça não é difícil de entender onde ela quer nos levar, basta sair da zona de conforto e divagar.
Tecnicamente "Fonte da Vida" é perfeito - a fotografia do Matthew Libatique (de "Cisne Negro") é belíssima e extremante alinhada com o trabalho do departamento de arte e de efeitos especiais. Outro ponto que enche os olhos (e os ouvidos) de beleza é como o desenho de som trabalha com a perfeição de sua proposta e conecta uma trilha sonora (digna de Oscar) para nos transportar através dos tempos, das encarnações, das dores e do amor.
Olha, se você leu essa análise até aqui, te digo que vale muito o seu play - mas assista "Fonte da Vida" com um olhar sem preconceito, aceite a proposta de Aronofsky e procure perceber nos detalhes porquê esse filme deve ser considerado um "cinema de primeira" onde seu entendimento estará nas crenças e nas experiências da cada um.
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
"Milagre Azul" é uma produção original da Netflix, mas se estivesse no Disney+ não seria surpresa alguma - digo isso, poiso filme tem todos os elementos narrativos que constrói uma jornada de superação, se apoiando no caráter e na fé e que, como toda "Sessão da Tarde", traz na obviedade da narrativa uma sentimento de tranquilidade e uma provocação emocional das mais agradáveis. É um filme inesquecível? Longe disso, mas merece ser assistido pelo entretenimento e, claro, pela mensagem de otimismo que o roteiro faz questão de pontuar.
O filme se passa em 2014 e conta a história real do zelador Omar Venegas (Jimmy Gonzales), responsável por um orfanato em Beja, no México. O lugar foi diretamente afetado pela passagem do furacão Odile naquele ano, e passou a viver às voltas com as dívidas de uma hipoteca. Para tentar ajudar a salvar o local onde vivem várias crianças em condições de vulnerabilidade, Omar acaba se inscrevendo em um tradicional campeonato de pesca da região - nunca antes vencido por uma equipe mexicana, diga-se de passagem. Ao lado do carrancudo capitão Wade (Dennis Quaid) e de uma equipe formada basicamente por adolescentes, Omar precisa pescar o maior marlim da competição e assim garantir o prêmio que salvará o orfanato. Confira o trailer:
Dirigido por Julio Quintana (do interessante "O Mensageiro"), "Milagre Azul" não traz nada de novo além de uma história inspiradora e correta. A conceito visual do desenho de produção da Mailara Santana em parceria com a diretora de arte María Fernanda Sabogal, por exemplo, não poderia ser mais óbvia ao potencializar o azul da fotografia do diretor Santiago Benet Mari - o que não deixar de compor planos muito bonitos. Os personagens, todos, entram na regra comum dos esteriótipos: o capitão Wade de Dennis Quaid parece cheirar álcool e traz na sua composição o típico mal humor do anti-heróis e Omar é aquele que se transformou tendo como base seu caráter e disposição para ser sempre uma pessoa boa e otimista, enquanto briga com os fantasmas do passado e vê seus amigos de infância enriquecerem as custas do tráfico de drogas. O roteiro também não foge do arco narrativo clássico: um proposto, vem o problema, toma-se uma decisão difícil com base no caráter do herói, momento de superação, sobre a trilha, final feliz e créditos que nos emocionam - e, olha, tudo isso á muito legal se você estiver no clima para esse tipo de filme.
O fato é que se você gostou de "O Milagre na Cela 7", você também vai gostar de "Milagre Azul" - os vínculos emocionais são praticamente os mesmo e os gatilhos que nos fazem acompanhar a história, idem. Ao ignorar toda obviedade na narrativa, dá para encontrar algo muito concreto para se emocionar. Os conflitos durante a competição seguem a mesma linha do conforto: uma certa empolgação com um bela mensagem. É claro que o fato de ser uma história real nos gera uma certa reflexão, mas não espere nada além disso: entretenimento familiar com toques de Disney!
Gosta da sensação de bem estar? Então dê o play sem medo!
Em um primeiro olhar, "Nove Dias" até parece um episódio dos bons tempos de "Black Mirror" ou até com uma trama mais investigativa como "Devs"ou "Vórtex", mas a grande verdade é que, com o desenrolar da história, estamos diante de uma jornada filosófica muito mais próxima de "Fonte da Vida" do que qualquer outra coisa. Esse é o filme de estreia do diretor Edson Oda (amplamente premiado com seu curta-metragem "Malaria") e que não há como negar, se destaca pela originalidade e profundidade com que desenvolve uma abordagem criativa e única sobre a vida, sobre a existência e sobre as escolhas que moldam nosso destino. "Nine Days" (no original) recebeu, merecidamente, muitos elogios da crítica e abocanhou vários prêmios em festivais de cinema, incluindo o Sundance Film Festival; então se você é fã de obras mais autorais, que de fato desafiam e provocam reflexões profundas, você está no lugar certo - pode acreditar!
Na trama, conhecemos Will (Winston Duke) um homem solitário que vive em uma casa isolada no meio do deserto, onde ele conduz uma série de entrevistas e alguns testes curiosos com almas humanas em um período pré-nascimento - é isso mesmo, você não leu errado. Entre os candidatos estão Emma (Zazie Beetz), Kane (Bill Skarsgård) e alguns outros que disputam uma única vaga para a "vida". A escolha de quem terá o privilégio de nascer, obviamente, recai sobre Will, que passa a ser confrontado por dilemas morais profundos ao lidar com suas próprias experiências e de outros escolhidos por ele no passado. Confira o trailer:
Tá, eu sei que pode parecer uma "viagem" e talvez até seja mesmo, mas é impossível deixar de comentar como o roteiro de "Nove Dias" é criativo - muito mais do que apenas um filme, eu diria que essa é uma experiência filosófica que desafia as noções convencionais sobre a existência e o propósito da vida. Escrito pelo próprio Oda, o roteiro é inteligente ao explorar os dilemas de quem tem o poder das escolhas e como cada uma delas moldam o destino das pessoas. Ao desenvolver personagens tão únicos onde cada um representa uma perspectiva sobre a vida, Oda cria uma dinâmica que a todo momento nos leva questionar nossas crenças e valores. Mesmo empacotado com um ar "Black Mirror", o que vemos na tela é justamente o contrário: o que importa são conceitos mais espirituais do livre arbítrio, do destino e até do papel que cada um de nós desempenha no mundo ao ser "um escolhido"!
Na cadeira de direção, Edson Oda é tão competente quanto com "a caneta na mão". Ele captura com muita competência toda a solidão e a introspecção de Will de uma forma envolvente e com uma certa atmosfera de mistério. A fotografia, assinada pelo Wyatt Garfield (de "The Kitchen") segue a mesma linha conceitual - tudo é meio nebuloso. Reparem como os cenários minimalistas em contraponto com os planos mais abertos, transmitem toda essa sensação de solidão e isolamento de Will. Outro ponto que merece destaque é a montagem - cuidadosa até encontrar o time certo para os diálogos perspicazes, é ela que ajuda revelar as camadas mais profundas de significado, nos dando tempo e incentivando a reflexão, mesmo após os créditos finais subirem.
"Nove Dias" tem um tom mais independente mesmo, que sabe exatamente como a mensagem sobre a importância da vida e das conexões humanas devem ressoar de maneira poderosa para deixar uma impressão indelével. São nas interações de Will com seu parceiro Kyo (Benedict Wong) e com as almas em potencial, que o filme explora as armadilhas da vida pela perspectiva do amor e da alegria ou da dor e do sofrimento. Nada é fácil e estamos cansados de saber disso, mas com muito simbolismo e sensibilidade, esse filme realmente nos convida para uma viagem emocionante e reflexiva que pode mudar nossa maneira de lidar com a vida e com nossas escolhas.
Vale muito o seu play! Você vai se surpreender!
Em um primeiro olhar, "Nove Dias" até parece um episódio dos bons tempos de "Black Mirror" ou até com uma trama mais investigativa como "Devs"ou "Vórtex", mas a grande verdade é que, com o desenrolar da história, estamos diante de uma jornada filosófica muito mais próxima de "Fonte da Vida" do que qualquer outra coisa. Esse é o filme de estreia do diretor Edson Oda (amplamente premiado com seu curta-metragem "Malaria") e que não há como negar, se destaca pela originalidade e profundidade com que desenvolve uma abordagem criativa e única sobre a vida, sobre a existência e sobre as escolhas que moldam nosso destino. "Nine Days" (no original) recebeu, merecidamente, muitos elogios da crítica e abocanhou vários prêmios em festivais de cinema, incluindo o Sundance Film Festival; então se você é fã de obras mais autorais, que de fato desafiam e provocam reflexões profundas, você está no lugar certo - pode acreditar!
Na trama, conhecemos Will (Winston Duke) um homem solitário que vive em uma casa isolada no meio do deserto, onde ele conduz uma série de entrevistas e alguns testes curiosos com almas humanas em um período pré-nascimento - é isso mesmo, você não leu errado. Entre os candidatos estão Emma (Zazie Beetz), Kane (Bill Skarsgård) e alguns outros que disputam uma única vaga para a "vida". A escolha de quem terá o privilégio de nascer, obviamente, recai sobre Will, que passa a ser confrontado por dilemas morais profundos ao lidar com suas próprias experiências e de outros escolhidos por ele no passado. Confira o trailer:
Tá, eu sei que pode parecer uma "viagem" e talvez até seja mesmo, mas é impossível deixar de comentar como o roteiro de "Nove Dias" é criativo - muito mais do que apenas um filme, eu diria que essa é uma experiência filosófica que desafia as noções convencionais sobre a existência e o propósito da vida. Escrito pelo próprio Oda, o roteiro é inteligente ao explorar os dilemas de quem tem o poder das escolhas e como cada uma delas moldam o destino das pessoas. Ao desenvolver personagens tão únicos onde cada um representa uma perspectiva sobre a vida, Oda cria uma dinâmica que a todo momento nos leva questionar nossas crenças e valores. Mesmo empacotado com um ar "Black Mirror", o que vemos na tela é justamente o contrário: o que importa são conceitos mais espirituais do livre arbítrio, do destino e até do papel que cada um de nós desempenha no mundo ao ser "um escolhido"!
Na cadeira de direção, Edson Oda é tão competente quanto com "a caneta na mão". Ele captura com muita competência toda a solidão e a introspecção de Will de uma forma envolvente e com uma certa atmosfera de mistério. A fotografia, assinada pelo Wyatt Garfield (de "The Kitchen") segue a mesma linha conceitual - tudo é meio nebuloso. Reparem como os cenários minimalistas em contraponto com os planos mais abertos, transmitem toda essa sensação de solidão e isolamento de Will. Outro ponto que merece destaque é a montagem - cuidadosa até encontrar o time certo para os diálogos perspicazes, é ela que ajuda revelar as camadas mais profundas de significado, nos dando tempo e incentivando a reflexão, mesmo após os créditos finais subirem.
"Nove Dias" tem um tom mais independente mesmo, que sabe exatamente como a mensagem sobre a importância da vida e das conexões humanas devem ressoar de maneira poderosa para deixar uma impressão indelével. São nas interações de Will com seu parceiro Kyo (Benedict Wong) e com as almas em potencial, que o filme explora as armadilhas da vida pela perspectiva do amor e da alegria ou da dor e do sofrimento. Nada é fácil e estamos cansados de saber disso, mas com muito simbolismo e sensibilidade, esse filme realmente nos convida para uma viagem emocionante e reflexiva que pode mudar nossa maneira de lidar com a vida e com nossas escolhas.
Vale muito o seu play! Você vai se surpreender!
As vezes eu tenho a nítida impressão que até a Netflix se perde dentro do seu sistema de produção e divulgação de conteúdo, deixando títulos excelentes de lado para priorizar aquilo que é, digamos, bem mais duvidoso. Feita essa observação inicial, é impossível não citar a qualidade narrativa e visual de "O Milagre", adaptação do livro homônimo de Emma Donoghue, brilhantemente dirigido pelo chileno Sebastián Lelio (de "Uma Mulher Fantástica"). Embora cadenciado e sem a menor pressa de conectar as pontas soltas, o filme é um drama denso, envolvente e, principalmente, provocador quando usa da metalinguagem para questionar as histórias e crenças enquanto expõe a miopia parental de lidar com fatos extremos através do fundamentalismo - é de embrulhar o estômago.
Na Irlanda de 1862, uma jovem de 11 anos para de comer por 4 meses, mas permanece milagrosamente viva e razoavelmente bem de saúde, chamando a atenção de toda comunidade e de jornalistas mundo afora. A enfermeira inglesa Lib Wright (Florence Pugh) é então chamada para observar Anna O'Donnell (Kíla Lord Cassidy) e assim tentar entender o que está acontecendo e provar a veracidade dos fatos. Nesse drama psicológico, o grande mistério gira em torno de uma aldeia extremamente religiosa que acredita estar abrigando uma santa - ou mistérios mais sinistros do que parecem. Confira o trailer:
Adaptado pelo próprio Lelio ao lado Alice Birch (do ótimo "Normal People"), o roteiro de "O Milagre" é extremamente feliz ao equilibrar alguns elementos narrativos que pontuam assuntos espinhosos como "fé" e "ceticismo", transportando temas tão atuais para um universo quase figurado do século XIX em um período marcado pela "Grande Fome". Aliás, essa ligação entre a forma e o conteúdo com que observamos determinados temas ao longo do tempo, cria um verdadeiro embate emocional na história do filme, permitindo ao diretor se aproveitar de uma proposta curiosa (que se inicia no prólogo) para nos convidar a embarcar em uma jornada aparentemente real, mas com claros ares de ficção, como se procurasse nos detalhes, o nosso julgamento ideológico que se encerra em um epílogo muito criativo onde uma pergunta parece martelar nossa cabeça: estamos "dentro" (in) ou "fora" (out) daquilo tudo?
O filme é uma pintura, o que naturalmente contrasta com o peso da narrativa e das introspectivas performances de Pugh e Cassidy. A diretora de fotografia Ari Wegner (indicada ao Oscar por "Ataque dos Cães"), se aproveita das belas locações, bem como do desenho de produção digno de prêmios, para construir planos lindos e sensivelmente profundos - sem exagero, lembra muito o elogiado trabalho de Claire Mathon em "Retrato de uma Jovem em Chamas" de 2019. Esse esmero visual funciona tão bem para narrativa que Lelio chega a dar um leve toque de Robert Eggers (de "A Bruxa") para a trama, criando uma a sensação permanente de desconforto apoiado em um quase insuportável grunhido de cordas e de sons da natureza do compositor Matthew Herbert.
Inexplicavelmente esquecido no Oscar 2023, "O Milagre" foi indicado na categoria "Melhor Filme" no BAFTA - chancelando a qualidade técnica e artística da produção da Netflix que, sem a menor sombra de dúvidas, consegue entregar um drama da melhor qualidade e poderoso para aqueles dispostos a refletir sobre temas que vão além do que é mostrado nas telas, mas que de alguma maneira fazem parte de nossa percepção de como enxergamos o mundo - mesmo que em outra realidade.
Vale muito o seu play!
As vezes eu tenho a nítida impressão que até a Netflix se perde dentro do seu sistema de produção e divulgação de conteúdo, deixando títulos excelentes de lado para priorizar aquilo que é, digamos, bem mais duvidoso. Feita essa observação inicial, é impossível não citar a qualidade narrativa e visual de "O Milagre", adaptação do livro homônimo de Emma Donoghue, brilhantemente dirigido pelo chileno Sebastián Lelio (de "Uma Mulher Fantástica"). Embora cadenciado e sem a menor pressa de conectar as pontas soltas, o filme é um drama denso, envolvente e, principalmente, provocador quando usa da metalinguagem para questionar as histórias e crenças enquanto expõe a miopia parental de lidar com fatos extremos através do fundamentalismo - é de embrulhar o estômago.
Na Irlanda de 1862, uma jovem de 11 anos para de comer por 4 meses, mas permanece milagrosamente viva e razoavelmente bem de saúde, chamando a atenção de toda comunidade e de jornalistas mundo afora. A enfermeira inglesa Lib Wright (Florence Pugh) é então chamada para observar Anna O'Donnell (Kíla Lord Cassidy) e assim tentar entender o que está acontecendo e provar a veracidade dos fatos. Nesse drama psicológico, o grande mistério gira em torno de uma aldeia extremamente religiosa que acredita estar abrigando uma santa - ou mistérios mais sinistros do que parecem. Confira o trailer:
Adaptado pelo próprio Lelio ao lado Alice Birch (do ótimo "Normal People"), o roteiro de "O Milagre" é extremamente feliz ao equilibrar alguns elementos narrativos que pontuam assuntos espinhosos como "fé" e "ceticismo", transportando temas tão atuais para um universo quase figurado do século XIX em um período marcado pela "Grande Fome". Aliás, essa ligação entre a forma e o conteúdo com que observamos determinados temas ao longo do tempo, cria um verdadeiro embate emocional na história do filme, permitindo ao diretor se aproveitar de uma proposta curiosa (que se inicia no prólogo) para nos convidar a embarcar em uma jornada aparentemente real, mas com claros ares de ficção, como se procurasse nos detalhes, o nosso julgamento ideológico que se encerra em um epílogo muito criativo onde uma pergunta parece martelar nossa cabeça: estamos "dentro" (in) ou "fora" (out) daquilo tudo?
O filme é uma pintura, o que naturalmente contrasta com o peso da narrativa e das introspectivas performances de Pugh e Cassidy. A diretora de fotografia Ari Wegner (indicada ao Oscar por "Ataque dos Cães"), se aproveita das belas locações, bem como do desenho de produção digno de prêmios, para construir planos lindos e sensivelmente profundos - sem exagero, lembra muito o elogiado trabalho de Claire Mathon em "Retrato de uma Jovem em Chamas" de 2019. Esse esmero visual funciona tão bem para narrativa que Lelio chega a dar um leve toque de Robert Eggers (de "A Bruxa") para a trama, criando uma a sensação permanente de desconforto apoiado em um quase insuportável grunhido de cordas e de sons da natureza do compositor Matthew Herbert.
Inexplicavelmente esquecido no Oscar 2023, "O Milagre" foi indicado na categoria "Melhor Filme" no BAFTA - chancelando a qualidade técnica e artística da produção da Netflix que, sem a menor sombra de dúvidas, consegue entregar um drama da melhor qualidade e poderoso para aqueles dispostos a refletir sobre temas que vão além do que é mostrado nas telas, mas que de alguma maneira fazem parte de nossa percepção de como enxergamos o mundo - mesmo que em outra realidade.
Vale muito o seu play!
Talvez o maior mérito de "O Milagre na Cela 7" seja estabelecer um vínculo emocional imediato com quem assiste, usando três elementos narrativos imbatíveis: uma criança, um pai autista e a injustiça! É impossível desvincular o sucesso dessa adaptação turca de um filme coreano de 2013, do poder que uma plataforma de streaming tem de alcançar um público certeiro e depois democratizar várias formas de dramaturgia - explicarei essa afirmação um pouco mais abaixo, já que esse é o tipo de filme que exige uma análise cuidadosa.
"O Milagre na Cela 7" conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai autista que vive em um pequeno vilarejo da Turquia com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Muito ingênuo e amável, Memo sempre foi muito querido por todos, mas sua vida muda completamente quando ele se envolve em um acidente que mata a filha de um importante tenente do exército turco (Yurdaer Okur). Acusado injustamente de assassinato e supostamente sem elementos para provar sua inocência, Memo é encaminhado para uma prisão enquanto aguarda o momento de sua execução de pena de morte. Confira o trailer:
Como é possível perceber pelo trailer, o roteiro constrói uma jornada extremamente sensível do ponto de vista de uma criança que não tem a menor noção da gravidade de uma acusação como a que o pai está sofrendo, ao mesmo tempo que o pai também não consegue entender aquela injusta realidade graças a sua condição - aliás, sua interpretação sobre o que está vivendo na prisão nos faz lembrar muito do conceito narrativo de "A Vida é Bela" (1997). Essa dinâmica, de fato, nos coloca dentro do filme durante duas horas, com muita leveza e pontuando alguns aspectos religiosos que humanizam os personagens e levantam questões tão atuais como culpa, perdão e com que olhos enxergamos isso tudo! Eu diria que o filme vale o play pela história, pela mensagem, mas para uma audiência com um olhar mais técnico, o filme não deve agradar!
Vamos lá, o diretor Mehmet Ada Öztekin entregou um filme, mas parecia que estava dirigindo uma novela. E aqui cabe uma observação importante: não por acaso a Turquia se tornou um grande exportador de novelas desde 2013 (algumas com grande sucesso no Brasil, inclusive) e "O Milagre na Cela 7" segue exatamente aquela linguagem. A Turquia é uma espécie de "México da Europa" no que diz respeito a qualidade de produção e dramaturgia - os atores são exagerados, a fotografia interna é falsa, os movimentos de câmera, na sua grande maioria, sem muito propósito e o desenho de produção é completamente fora da realidade.Isso é um problema? Claro que não, desde que você não se apegue ao trailer e a esse tipo de detalhe mais técnico; e foque no que mais te interessa: a história!
Dito isso, é natural que "O Milagre na Cela 7" agrade muita gente, da mesma forma que "A Cabana"agradou - em vários aspectos os filmes são similares, com uma história muito interessante, emocionante e que te prende do começo ao fim, mas sem um cuidado técnico e artístico que justifique voos mais altos. Eu indico o filme, é uma ótima "Sessão da Tarde", entretenimento despretensioso que vai mexer com suas emoções, mas dê o play sabendo das suas imitações para não se decepcionar!
Talvez o maior mérito de "O Milagre na Cela 7" seja estabelecer um vínculo emocional imediato com quem assiste, usando três elementos narrativos imbatíveis: uma criança, um pai autista e a injustiça! É impossível desvincular o sucesso dessa adaptação turca de um filme coreano de 2013, do poder que uma plataforma de streaming tem de alcançar um público certeiro e depois democratizar várias formas de dramaturgia - explicarei essa afirmação um pouco mais abaixo, já que esse é o tipo de filme que exige uma análise cuidadosa.
"O Milagre na Cela 7" conta a história de Memo (Aras Bulut Iynemli), um pai autista que vive em um pequeno vilarejo da Turquia com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur) e a avó, Fatma (Celile Toyon Uysal). Muito ingênuo e amável, Memo sempre foi muito querido por todos, mas sua vida muda completamente quando ele se envolve em um acidente que mata a filha de um importante tenente do exército turco (Yurdaer Okur). Acusado injustamente de assassinato e supostamente sem elementos para provar sua inocência, Memo é encaminhado para uma prisão enquanto aguarda o momento de sua execução de pena de morte. Confira o trailer:
Como é possível perceber pelo trailer, o roteiro constrói uma jornada extremamente sensível do ponto de vista de uma criança que não tem a menor noção da gravidade de uma acusação como a que o pai está sofrendo, ao mesmo tempo que o pai também não consegue entender aquela injusta realidade graças a sua condição - aliás, sua interpretação sobre o que está vivendo na prisão nos faz lembrar muito do conceito narrativo de "A Vida é Bela" (1997). Essa dinâmica, de fato, nos coloca dentro do filme durante duas horas, com muita leveza e pontuando alguns aspectos religiosos que humanizam os personagens e levantam questões tão atuais como culpa, perdão e com que olhos enxergamos isso tudo! Eu diria que o filme vale o play pela história, pela mensagem, mas para uma audiência com um olhar mais técnico, o filme não deve agradar!
Vamos lá, o diretor Mehmet Ada Öztekin entregou um filme, mas parecia que estava dirigindo uma novela. E aqui cabe uma observação importante: não por acaso a Turquia se tornou um grande exportador de novelas desde 2013 (algumas com grande sucesso no Brasil, inclusive) e "O Milagre na Cela 7" segue exatamente aquela linguagem. A Turquia é uma espécie de "México da Europa" no que diz respeito a qualidade de produção e dramaturgia - os atores são exagerados, a fotografia interna é falsa, os movimentos de câmera, na sua grande maioria, sem muito propósito e o desenho de produção é completamente fora da realidade.Isso é um problema? Claro que não, desde que você não se apegue ao trailer e a esse tipo de detalhe mais técnico; e foque no que mais te interessa: a história!
Dito isso, é natural que "O Milagre na Cela 7" agrade muita gente, da mesma forma que "A Cabana"agradou - em vários aspectos os filmes são similares, com uma história muito interessante, emocionante e que te prende do começo ao fim, mas sem um cuidado técnico e artístico que justifique voos mais altos. Eu indico o filme, é uma ótima "Sessão da Tarde", entretenimento despretensioso que vai mexer com suas emoções, mas dê o play sabendo das suas imitações para não se decepcionar!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
"O Poder da Intuição" é um documentário islandês (embora falado em inglês) de 2016, dos mais interessantes. Ele parte da seguinte questão para desenvolver sua narrativa e provocar nossa reflexão: Vivemos com a cabeça e não com nossas emoções. Sendo assim, como isso afeta nossas vidas?
Depois que Hrund Gunnsteinsdottir pede demissão de seu alto cargo dentro da ONU por acreditar que seu propósito estava se tornando cada vez mais administrativo em vez de humanitário, ela resolve se unir com a diretora (e amiga pessoal), Kristín Ólafsdóttir, para iniciar uma jornada de pesquisa que conectasse elementos como a alma, a ciência, a natureza e a criatividade para assim entender o real poder da intuição. O documentário é uma viagem global na busca por respostas que nos ajudem a olhar para o "eu interior" em um mundo repleto de distrações e stress. Confira o trailer (em inglês):
Pessoalmente, tenho uma enorme aversão com qualquer narrativa que possa soar "auto-ajuda" - no sentido pejorativo e oportunista da palavra. Em "InnSaei" (título original) isso não acontece. Veja, ao nos depararmos com o conceito islandês "InnSaei", que pode significar “o mar de dentro” ou aquele que move o nosso mundo interior e está em constante movimento, começamos a entender para qual direção a narrativa pretende seguir, porém a palavra "InnSaei" é tão complexa quanto aquilo que ela pretende representar - alguns historiadores ainda definem esse conceito como “ver o interior”, ou seja, buscar as respostas dentro de si mesmo; ou ainda “ver de dentro para fora” indicando que podemos mudar as coisas, mas só depois que aceitarmos que precisamos de um tempo focado apenas em nós.
Gunnsteinsdottir e Ólafsdóttir (ainda bem que estou escrevendo essa análise e não falando sobre ela) foram muito felizes ao trazer para seu storytteling uma série de reflexões, seja de pensadores ou de espiritualistas, sobre o impacto do mundo moderno nas nossas vidas - principalmente no que diz respeito as decisões que tomamos diariamente. Ao iniciar essa busca em Harvard fica claro a predisposição de Gunnsteinsdottir em encontrar respostas mais racionais e é muito interessante como isso vai se desconstruindo - e aqui cabe uma provocação: será que você não partiria do mesmo lugar, estando preso na lógica e deixando de pensar sobre outras possibilidades, seja por crença limitante ou até por falta de tempo?
Quando uma espiritualista diz no documentário que o fracasso deve fazer parte da jornada e só a intuição pode nos ajudar a sair dele já subvertemos completamente o pré-conceito empreendedor que aceita o fracasso, mas que busca nos dados uma forma de responder nossas dúvidas. É claro que isso é importante, mas será que não estamos fechando os olhos para outros elementos igualmente importantes, como a natureza, por exemplo? "O Poder da Intuição" levanta essas questões a todo momento e mais do que trazer algumas respostas, ele nos faz pensar sobre ter foco no momento para se ouvir e deixar fluir as ideias (desde que o celular esteja longe e ninguém nos chame pelo WhatsApp). Sim, essa provocação é irônica, mas pertinente - aconteceu comigo.
"InnSaei" vai te fazer refletir, te provocar, expor suas fragilidades como ser humano moderno e te tirar da zona de conforto. Entender que o mundo atual "está em colapso" graças a uma forte cultura do imediatismo, que não nos deixa apreciar o que está diante de nós e nos impede de olhar uns para os outros com mais empatia; pode abrir seus olhos paras as barreiras que te impede de avançar - e isso não está escrito em tom de auto-ajuda, te juro. São só 72 minutos, mas que vão te fazer ir além do que o Instagram ou qualquer outra distração pode estar te mostrando durante o mesmo período de tempo!
Vale muito a pena!
"O Problema dos 3 Corpos" é uma mistura de "Contato", "A Chegada" e até de "V" (aquela do SBT mesmo, dos extraterrestres lagartos e tal). Lançada em 2024 pela Netflix, essa série é uma adaptação ambiciosa da aclamada trilogia de ficção científica escrita por Cixin Liu e desenvolvida por nada menos que David Benioff e D. B. Weiss (de "Game of Thrones") e pelo Alexander Woo (de "True Blood"). Com um nível de produção bastante requintado, essa adaptação busca capturar a complexidade e a profundidade do material original, trazendo uma narrativa densa e intelectualmente estimulante para as telas, explorando os meandros da ciência, da filosofia, da humanidade e do mistério com muito equilíbrio e sem esquecer do entretenimento. E oha, que entretenimento bom!
A trama de "O Problema dos 3 Corpos" gira em torno da descoberta da existência de uma civilização alienígena em um sistema estelar triplamente complexo, que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade em algum momento do futuro. A série alterna entre o passado e o presente, começando com os eventos da Revolução Cultural Chinesa e progredindo até os dias de hoje onde cientistas enfrentam a possibilidade de um invasão extraterrestre. Confira o trailer:
Benioff e Weiss, juntamente com Woo, trazem sua experiência em criar narrativas épicas para uma ficção científica que vai construindo camadas, de fato, envolventes. Desde o primeiro episódio, o que vemos é a essência filosófica e científica do romance de Liu, adaptada em uma história dinâmica e provocadora. O roteiro é denso e exige atenção pela falta de linearidade temporal e por carregar na sua gênese temas menos usuais para a audiência, por outro lado é recompensador para os apreciadores do gênero todo esse desafio intelectual e, principalmente, essa provocação sobre uma percepção de mundo cheia de simbolismos. A direção de Minkie Spiro (de "Fosse/Verdon") e dos outros diretores envolvidos no projeto, é eficaz ao capturar a grandiosidade do universo original com maestria - se há alguns anos essa adaptação parecia impossível, posso dizer que a cinematografia aplicada em "O Problema dos 3 Corpos" é realmente impressionante - com uma paleta de cores rica e efeitos visuais de alta qualidade, a direção foi capaz de criar cenários visualmente deslumbrantes. As sequências que retratam o sistema estelar triplamente complexo pela perspectiva de um jogo de video-game são particularmente notáveis, oferecendo uma sensação de maravilha pelo visual e de perigo iminente pela narrativa. Incrível!
A série também se destaca por performances convincentes de seu elenco realmente talentoso. Zine Tseng no passado e Rosalind Chao no presente, entregam uma jornada poderosa e emotiva para Ye Wenjie, capturando a dor e a determinação de uma mulher que testemunhou tragédias inimagináveis e que busca respostas em meio ao caos. já Eiza González (como Auggie Salazar), Jess Hong (como Jin Cheng) e Jovan Adepo (como Saul Durand) trazem uma mistura de curiosidade intelectual e vulnerabilidade emocional, tornando seus personagens cativantes em suas dinâmicas de amizade. Benedict Wong e Jonathan Pryce também merecem elogios por entregar atuações sólidas que ajudam a ancorar a narrativa em uma realidade que passa a ser palpável graças a eles - a cena em que Pryce tenta explicar sobre a mentira a partir de um conto de fadas para alguém que é literal é simplesmente sensacional.
É inegável que "O Problema dos 3 Corpos" carrega o peso de sua profundidade como narrativa e de sua densidade vinda do material original - não é uma série fácil de acompanhar e isso pode afastar aqueles que buscam só um entretenimento banal. Aqui, nada é banal - o que vemos na tela é realmente algo ambicioso e estimulante, uma história que oferece uma visão fascinante de um dos romances de ficção científica mais influentes dos últimos tempos e que, com um conceito visual estilizado e sua narrativa desafiadora, nos faz pensar com mais cuidado sobre a ciência e a existência humana através do tempo e do espaço. Simples, não?
Um golaço da Netflix que pede o seu play!
"O Problema dos 3 Corpos" é uma mistura de "Contato", "A Chegada" e até de "V" (aquela do SBT mesmo, dos extraterrestres lagartos e tal). Lançada em 2024 pela Netflix, essa série é uma adaptação ambiciosa da aclamada trilogia de ficção científica escrita por Cixin Liu e desenvolvida por nada menos que David Benioff e D. B. Weiss (de "Game of Thrones") e pelo Alexander Woo (de "True Blood"). Com um nível de produção bastante requintado, essa adaptação busca capturar a complexidade e a profundidade do material original, trazendo uma narrativa densa e intelectualmente estimulante para as telas, explorando os meandros da ciência, da filosofia, da humanidade e do mistério com muito equilíbrio e sem esquecer do entretenimento. E oha, que entretenimento bom!
A trama de "O Problema dos 3 Corpos" gira em torno da descoberta da existência de uma civilização alienígena em um sistema estelar triplamente complexo, que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade em algum momento do futuro. A série alterna entre o passado e o presente, começando com os eventos da Revolução Cultural Chinesa e progredindo até os dias de hoje onde cientistas enfrentam a possibilidade de um invasão extraterrestre. Confira o trailer:
Benioff e Weiss, juntamente com Woo, trazem sua experiência em criar narrativas épicas para uma ficção científica que vai construindo camadas, de fato, envolventes. Desde o primeiro episódio, o que vemos é a essência filosófica e científica do romance de Liu, adaptada em uma história dinâmica e provocadora. O roteiro é denso e exige atenção pela falta de linearidade temporal e por carregar na sua gênese temas menos usuais para a audiência, por outro lado é recompensador para os apreciadores do gênero todo esse desafio intelectual e, principalmente, essa provocação sobre uma percepção de mundo cheia de simbolismos. A direção de Minkie Spiro (de "Fosse/Verdon") e dos outros diretores envolvidos no projeto, é eficaz ao capturar a grandiosidade do universo original com maestria - se há alguns anos essa adaptação parecia impossível, posso dizer que a cinematografia aplicada em "O Problema dos 3 Corpos" é realmente impressionante - com uma paleta de cores rica e efeitos visuais de alta qualidade, a direção foi capaz de criar cenários visualmente deslumbrantes. As sequências que retratam o sistema estelar triplamente complexo pela perspectiva de um jogo de video-game são particularmente notáveis, oferecendo uma sensação de maravilha pelo visual e de perigo iminente pela narrativa. Incrível!
A série também se destaca por performances convincentes de seu elenco realmente talentoso. Zine Tseng no passado e Rosalind Chao no presente, entregam uma jornada poderosa e emotiva para Ye Wenjie, capturando a dor e a determinação de uma mulher que testemunhou tragédias inimagináveis e que busca respostas em meio ao caos. já Eiza González (como Auggie Salazar), Jess Hong (como Jin Cheng) e Jovan Adepo (como Saul Durand) trazem uma mistura de curiosidade intelectual e vulnerabilidade emocional, tornando seus personagens cativantes em suas dinâmicas de amizade. Benedict Wong e Jonathan Pryce também merecem elogios por entregar atuações sólidas que ajudam a ancorar a narrativa em uma realidade que passa a ser palpável graças a eles - a cena em que Pryce tenta explicar sobre a mentira a partir de um conto de fadas para alguém que é literal é simplesmente sensacional.
É inegável que "O Problema dos 3 Corpos" carrega o peso de sua profundidade como narrativa e de sua densidade vinda do material original - não é uma série fácil de acompanhar e isso pode afastar aqueles que buscam só um entretenimento banal. Aqui, nada é banal - o que vemos na tela é realmente algo ambicioso e estimulante, uma história que oferece uma visão fascinante de um dos romances de ficção científica mais influentes dos últimos tempos e que, com um conceito visual estilizado e sua narrativa desafiadora, nos faz pensar com mais cuidado sobre a ciência e a existência humana através do tempo e do espaço. Simples, não?
Um golaço da Netflix que pede o seu play!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.
Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:
Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!
O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!
Sorrindo, eu te digo: vale seu play!
"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.
Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:
"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.
Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.
Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.
Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!
"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.
Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:
"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.
Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.
Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.
Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!
"Pequena Mamãe" é um filme incrível, de uma sensibilidade única, delicado, profundo, envolvente e muito sincero - mas vai agradar apenas um público bem específico! Se partirmos do principio que os filmes da premiada diretora e roteirista francesa, Céline Sciamma (do excelente "Retrato de uma Jovem em Chamas") giram sempre em torno de protagonistas cheias de camadas, que dialogam com o olhar, com o sentimento e com alma, fica claro que esse filme vai nos tocar.
O filme conta a história de Nelly (Joséphine Sanz), uma menina de 8 anos que acabou de perder a avó. Enquanto ajuda seus pais a esvaziar a casa em que sua mãe cresceu, Nelly conhece outra menina da sua idade, Marion (Gabrielle Sanz) e, com a conexão imediata entre as duas, começa uma bela amizade. Entre brincadeiras e confidências, elas descobrem um segredo fascinante que vai ajuda-las no entendimento do que acontecerá em suas vidas dali para frente. Confira o trailer:
Não existe outra maneira de começar essa análise sem citar a aula de roteiro que é o prólogo de "Pequena Mamãe". Assim que termina de jogar palavras cruzadas com uma senhora, Nelly passeia de quarto em quarto, despedindo-se de mais duas ou três idosas com o seu simpático "au revoir",até chegar em um quarto recém esvaziado. Ela então pergunta para uma mulher que está de costas: “Posso ficar com a bengala dela?” “Sim”, responde em tom melancólico essa mulher. Foram três linhas de diálogos que ratificam o poder que Sciamma tem de criar uma atmosfera completamente sensorial sem ao menos precisar se apoiar em uma trilha sentimentalista ou em estratégias didáticas como um personagem emocionado olhando uma foto de toda família reunida em um momento de alegria e saudade! Não, "Pequena Mamãe" não é esse filme, então tenha em mente que você não terá todas as respostas e muito menos explicações para cada atitude das protagonistas, mas não se preocupe: tudo fará sentido, desde que você se permita olhar para dentro e refletir sobre suas vivências e memórias.
Em pouco mais de 70 minutos, com apenas dois personagens em cena (e mais três adultos transitando por aquele universo dramático), poucos cenários e diálogo curtos, Sciamma cria uma espécie de fábula para discutir temas como o luto, arrependimentos, ciclos familiares e, principalmente, o entendimento de algumas escolhas - e aqui falo tanto das escolhas de vida quanto daquelas que fazemos internamente, sozinhos. O filme tem um ar bastante comovente, mas não derruba uma lágrima sequer e se você já tiver um(a) filho(a), a conexão será imediata - reparem na cena, também no prólogo, onde mãe e filha fazem uma pequena troca de carinhos dentro do carro. Embora apenas o rosto da mãe esteja no enquadramento, as ações justificam a intimidade, o cuidado e também a tristeza daquele momento. Lindo de ver!
"Pequena Mamãe" é uma história de auto-conhecimento e contato com os sentimentos mais profundos a partir do olhar inocente de uma criança - e o caminho encontrado para isso é o caráter mágico do encontro entre Nelly e Marion. Embora use de uma simbologia completamente fantasiosa, a conexão é tão generosa quanto verossímil para as duas. Além do primor da direção e roteiro, o elenco está incrível (com maior destaque para a cumplicidade natural entre Joséphine e Gabrielle), a fotografia da talentosa Claire Mathon (de "Spencer", "Atlantique" e também de "Retrato de uma Jovem em Chamas") é outro espetáculo e a montagem de Julien Lacheray (de "A Jornada"), a cereja do bolo!
Antes de finalizar, por favor, reparem na cena em que Nelly e Marion encenam uma história como se fosse uma peça de teatro e veja como roteiro trabalha tão bem as metáforas para explicar a relação entre as escolhas, despedidas e o amor entre mãe e filha.
Bom, acho que depois de tudo não preciso nem dizer que vale muito a pena, né?
"Pequena Mamãe" é um filme incrível, de uma sensibilidade única, delicado, profundo, envolvente e muito sincero - mas vai agradar apenas um público bem específico! Se partirmos do principio que os filmes da premiada diretora e roteirista francesa, Céline Sciamma (do excelente "Retrato de uma Jovem em Chamas") giram sempre em torno de protagonistas cheias de camadas, que dialogam com o olhar, com o sentimento e com alma, fica claro que esse filme vai nos tocar.
O filme conta a história de Nelly (Joséphine Sanz), uma menina de 8 anos que acabou de perder a avó. Enquanto ajuda seus pais a esvaziar a casa em que sua mãe cresceu, Nelly conhece outra menina da sua idade, Marion (Gabrielle Sanz) e, com a conexão imediata entre as duas, começa uma bela amizade. Entre brincadeiras e confidências, elas descobrem um segredo fascinante que vai ajuda-las no entendimento do que acontecerá em suas vidas dali para frente. Confira o trailer:
Não existe outra maneira de começar essa análise sem citar a aula de roteiro que é o prólogo de "Pequena Mamãe". Assim que termina de jogar palavras cruzadas com uma senhora, Nelly passeia de quarto em quarto, despedindo-se de mais duas ou três idosas com o seu simpático "au revoir",até chegar em um quarto recém esvaziado. Ela então pergunta para uma mulher que está de costas: “Posso ficar com a bengala dela?” “Sim”, responde em tom melancólico essa mulher. Foram três linhas de diálogos que ratificam o poder que Sciamma tem de criar uma atmosfera completamente sensorial sem ao menos precisar se apoiar em uma trilha sentimentalista ou em estratégias didáticas como um personagem emocionado olhando uma foto de toda família reunida em um momento de alegria e saudade! Não, "Pequena Mamãe" não é esse filme, então tenha em mente que você não terá todas as respostas e muito menos explicações para cada atitude das protagonistas, mas não se preocupe: tudo fará sentido, desde que você se permita olhar para dentro e refletir sobre suas vivências e memórias.
Em pouco mais de 70 minutos, com apenas dois personagens em cena (e mais três adultos transitando por aquele universo dramático), poucos cenários e diálogo curtos, Sciamma cria uma espécie de fábula para discutir temas como o luto, arrependimentos, ciclos familiares e, principalmente, o entendimento de algumas escolhas - e aqui falo tanto das escolhas de vida quanto daquelas que fazemos internamente, sozinhos. O filme tem um ar bastante comovente, mas não derruba uma lágrima sequer e se você já tiver um(a) filho(a), a conexão será imediata - reparem na cena, também no prólogo, onde mãe e filha fazem uma pequena troca de carinhos dentro do carro. Embora apenas o rosto da mãe esteja no enquadramento, as ações justificam a intimidade, o cuidado e também a tristeza daquele momento. Lindo de ver!
"Pequena Mamãe" é uma história de auto-conhecimento e contato com os sentimentos mais profundos a partir do olhar inocente de uma criança - e o caminho encontrado para isso é o caráter mágico do encontro entre Nelly e Marion. Embora use de uma simbologia completamente fantasiosa, a conexão é tão generosa quanto verossímil para as duas. Além do primor da direção e roteiro, o elenco está incrível (com maior destaque para a cumplicidade natural entre Joséphine e Gabrielle), a fotografia da talentosa Claire Mathon (de "Spencer", "Atlantique" e também de "Retrato de uma Jovem em Chamas") é outro espetáculo e a montagem de Julien Lacheray (de "A Jornada"), a cereja do bolo!
Antes de finalizar, por favor, reparem na cena em que Nelly e Marion encenam uma história como se fosse uma peça de teatro e veja como roteiro trabalha tão bem as metáforas para explicar a relação entre as escolhas, despedidas e o amor entre mãe e filha.
Bom, acho que depois de tudo não preciso nem dizer que vale muito a pena, né?
"Professor Polvo" é um filme sobre conexão, sobre a maravilhosa relação com o desconhecido e o entendimento que cada ser vivo desse planeta tem um lugar importante dentro da natureza - sim, pode parecer papo de professor de biologia, mas pare e reflita: o que de tão espectacular pode existir em um documentário sobre um homem que mergulha todo dia para se encontrar com um polvo? Pode ter certeza que essa resposta está no seu "play" - existe verdade, sensações, sentimentos e, claro, a chancela de saber que esse mesmo documentário é um dos favoritos para levar o Oscar 2021 da categoria! Mas o filme é, de fato, incrível!
“Professor Polvo” é dirigido e roteirizado por Pippa Ehrlich (em seu primeiro documentário) e por James Reed (de “Jago: Uma Vida no Mar“) e conta a jornada de Craig Foster, cineasta, amante dos oceanos e conservacionista marinho. Enquanto passava por um período de dificuldades profissionais e de depressão pessoal, Foster começou a mergulhar na costa da Cidade do Cabo, na África do Sul, em busca de isolamento e paz, foi a partir daí que ele passou acompanhar e se relacionar, por quase um ano, com um polvo. Acompanhamos essa história pelo seu próprio ponto de vista e pelas imagens que ele mesmo gravou na época. Do contato inusitado com o molusco ao longo do tempo às reflexões que essa experiência acabou provocando em Foster, percebemos com muita sensibilidade as mudanças na sua vida e como essa conexão transformou a maneira como ele encarava seus problemas. Confira o trailer:
Pelo trailer já fica fácil perceber que o primeiro elemento que salta aos olhos é a qualidade cinematográfica das imagens feitas, tanto por Craig Foster quanto por Ehrlich e Reed - principalmente as subaquáticas. São planos bem trabalhados, uma combinação de cores e texturas que impressionam pela beleza. A fotografia como um todo é de cair o queixo, reparem.
Outro ponto, claro, é o roteiro - ele amarra perfeitamente a história com motivações coerentes com a proposta e consegue criar uma conexão emocional próxima daquela que o protagonista experienciou - é impressionante como passamos a torcer e a nos angustiar com um "polvo" no fundo do mar! Embora a montagem sugira uma certa manipulação emocional, com uma linda trilha sonora de Kevin Smuts, em momento algum nos sentimos enganados por isso - o que vemos e sentimos, está de acordo com o propósito do filme e de quanto isso era importante para Foster.
Eu não sou uma pessoa tão ligado a natureza a ponto de achar “Professor Polvo” um documentário inesquecível, porém não posso deixar de ressaltar o quanto essa história me tocou! Pode acreditar, é um trabalho de uma delicadeza enorme. A força de vontade de Craig em acompanhar o polvo e de nos contar cada detalhe dessa jornada, faz parecer mentira como essa constância foi capaz de construir uma relação que nos toca de verdade - só por isso já vale muito mais do que nossa atenção.
A verdade é que “Professor Polvo” conta uma história completamente inimaginável que prova como a vida pode ser assustadoramente selvagem, profundamente sensível e capaz de impactar tantas pessoas com um sentimento que para muitos soa impossível. Olha, vale muito a pena! Faz bem para alma e para o coração!
"Professor Polvo" é um filme sobre conexão, sobre a maravilhosa relação com o desconhecido e o entendimento que cada ser vivo desse planeta tem um lugar importante dentro da natureza - sim, pode parecer papo de professor de biologia, mas pare e reflita: o que de tão espectacular pode existir em um documentário sobre um homem que mergulha todo dia para se encontrar com um polvo? Pode ter certeza que essa resposta está no seu "play" - existe verdade, sensações, sentimentos e, claro, a chancela de saber que esse mesmo documentário é um dos favoritos para levar o Oscar 2021 da categoria! Mas o filme é, de fato, incrível!
“Professor Polvo” é dirigido e roteirizado por Pippa Ehrlich (em seu primeiro documentário) e por James Reed (de “Jago: Uma Vida no Mar“) e conta a jornada de Craig Foster, cineasta, amante dos oceanos e conservacionista marinho. Enquanto passava por um período de dificuldades profissionais e de depressão pessoal, Foster começou a mergulhar na costa da Cidade do Cabo, na África do Sul, em busca de isolamento e paz, foi a partir daí que ele passou acompanhar e se relacionar, por quase um ano, com um polvo. Acompanhamos essa história pelo seu próprio ponto de vista e pelas imagens que ele mesmo gravou na época. Do contato inusitado com o molusco ao longo do tempo às reflexões que essa experiência acabou provocando em Foster, percebemos com muita sensibilidade as mudanças na sua vida e como essa conexão transformou a maneira como ele encarava seus problemas. Confira o trailer:
Pelo trailer já fica fácil perceber que o primeiro elemento que salta aos olhos é a qualidade cinematográfica das imagens feitas, tanto por Craig Foster quanto por Ehrlich e Reed - principalmente as subaquáticas. São planos bem trabalhados, uma combinação de cores e texturas que impressionam pela beleza. A fotografia como um todo é de cair o queixo, reparem.
Outro ponto, claro, é o roteiro - ele amarra perfeitamente a história com motivações coerentes com a proposta e consegue criar uma conexão emocional próxima daquela que o protagonista experienciou - é impressionante como passamos a torcer e a nos angustiar com um "polvo" no fundo do mar! Embora a montagem sugira uma certa manipulação emocional, com uma linda trilha sonora de Kevin Smuts, em momento algum nos sentimos enganados por isso - o que vemos e sentimos, está de acordo com o propósito do filme e de quanto isso era importante para Foster.
Eu não sou uma pessoa tão ligado a natureza a ponto de achar “Professor Polvo” um documentário inesquecível, porém não posso deixar de ressaltar o quanto essa história me tocou! Pode acreditar, é um trabalho de uma delicadeza enorme. A força de vontade de Craig em acompanhar o polvo e de nos contar cada detalhe dessa jornada, faz parecer mentira como essa constância foi capaz de construir uma relação que nos toca de verdade - só por isso já vale muito mais do que nossa atenção.
A verdade é que “Professor Polvo” conta uma história completamente inimaginável que prova como a vida pode ser assustadoramente selvagem, profundamente sensível e capaz de impactar tantas pessoas com um sentimento que para muitos soa impossível. Olha, vale muito a pena! Faz bem para alma e para o coração!