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Todo dia a mesma noite

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

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Vale o Escrito

Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.

"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:

Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.

De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo! 

Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor"aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.

Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!

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Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.

"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:

Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.

De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo! 

Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor"aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.

Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!

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