indika.tv - ml-bm

Black Mirror

"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

Assista Agora

"Black Mirror" é uma série inglesa que surpreendeu em 2012 ao ganhar o Emmy Internacional com uma proposta inovadora: cada episódio era totalmente independente um do outro, mas o roteiro era construído sempre baseado na mesma premissa - como o mundo virtual/tecnológico pode influenciar o mundo real! Sei que hoje pode parecer nada inovador, mas em 2012 chamou a atenção do mundo por ser um projeto muito bem produzido, com uma linguagem muito dinâmica e um roteiro extremamente inteligente e criativo. Me lembro que na época, 2013, "Black Mirror" foi uma das coisas mais bacanas e inteligentes que eu já tinha assistido! 

Natural que com o passar das temporadas, aquela sensação de "novidade" acaba diminuindo e com a expectativa lá no alto, muitas pessoas vão se decepcionando com a série. Eu procuro fazer uma análise mais cuidadosa, até para não parecer injusto. Durante todos esses anos tivemos episódios excelente e outros nem tanto. Imagino que até a terceira temporada o saldo foi muito positivo. A quarta fugiu muito do conceito inicial e a quinta, mesmo voltando um pouco à sua origem (como explicarei logo abaixo), talvez tenha sido a mais fraca de todas - mas isso não quer dizer que a série está um lixo ou que não tenham coisas boas que podemos considerar como relevantes dentro desse formato incrível e original que nos faz aguardar sempre o próximo episódio.

Depois que a Netflix assumiu o projeto e "americanizou" sua produção e desenvolvimento, muito desse conceito visual inglês se perdeu (ou foi se perdendo) - porém teve algo que me chamou atenção nos dois primeiros episódios da quinta temporada: houve uma certa humanização do roteiro, ou melhor, a influência da tecnologia (e não a supervalorização dela) nas decisões ideológicas dos personagens foi um resgate da origem de Black Mirror.

Fazendo aquele resumo rápido e sincero: até a terceira temporada a diversão está garantida, a quarta varia muito e a quinta é apenas mediana. 1/3 você joga fora e os outros 2/3 você até se diverte, mas se por acaso dormir, não se preocupe que não vai mudar nada na sua vida!

Assista Agora

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich")"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista e profundamente emocional sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.

A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.

Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno. 

 A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim  - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!

Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!

Assista Agora

Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich")"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista e profundamente emocional sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.

A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.

Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno. 

 A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim  - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!

Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!

Assista Agora

Buscando...

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

Assista Agora

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

Assista Agora

Calls

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

Assista Agora

"Calls" é uma das melhores séries de ficção científica que já assisti - e o que poderia ser apenas uma opinião pontual acaba ganhando muito peso quando definimos o que essa experiência audiovisual inovadora representa através de um conceito narrativo bastante antigo: "para que uma história seja uma boa história, ela precisa apenas ser sentida"! Mas como isso é possível? Simples, porém genial: em "Calls" o que interessa são os diálogos que ouvimos e não a ação que poderíamos ver -na tela, só assistimos algumas animações que pontuam criativamente uma conversa pelo telefone ou pelo celular. 

Essa série originalmente francesa foi criada porTimothée Hochet, teve sua versão americana adaptada pelo excelente diretor uruguaio Fede Álvarez (de "O Homem nas Trevas") para oApple TV+. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a experiência sensorial que é assistir "Calls", sua premissa é enganosamente simples, ou seja, em cada episódio (aparentemente independente) temos acesso as conversas telefônicas entre duas ou mais pessoas lidando com uma situação aparentemente casual, mas que vai ganhando contornos (literalmente) fantásticos, recheados de suspense e drama. Confira o trailer:

Antes de mais nada eu preciso dizer que "Calls" pode até causar um estranhamento inicial, mas se você gosta de ficção cientifica, não desista! É claro que o fato de não podermos assistir o que está sendo captado pelo áudio das ligações, naturalmente, nos gera certa ansiedade e angustia. Ao acreditar em uma experiência imersiva e sensorial como essa, só nos resta imaginar - como nos bons tempos da rádio e mais recentemente como alguns audiobooks ou podcasts recheados de stroytelling.

Os episódios de 15 minutos em média são extremamente bem dirigidos! Os atores são incríveis e aqui cabe um conselho: não assista dublado em hipótese alguma! No elenco temos ótimos atores como Aaron Taylor-Johnson,  Pedro Pascal, Aubrey Plaza, Mark Duplass, Rosario Dawson, Nick Jonas. Outro elemento técnico que salta aos olhos, ou melhor, "aos ouvidos", é o desenho de som e a mixagem da série - é o equilíbrio perfeito entre efeitos, trilha e voz! É impressionante como essa arte é levada para outro patamar com o objetivo claro de mexer com nossas sensações - e consegue!

Não se enganem: o diretor, todo elenco e as soluções técnicas e artísticas da série evitam que "Calls" possa ser classificada como um simples podcast ou ou até uma radionovela. As imagens que transitam entre o abstrato e o realismo tecnológico das ondas sonoras, de fato, contam ou ajudam a contar uma história extremamente bem construída e cheia de detalhes assustadores - mesmo sendo apenas retas, pontos e distorções, essas animações estão completamente alinhadas com o tom da narrativa e elas transformam a maneira com que vivenciamos todo mistério - é como se estivéssemos ouvindo a conversa alheia ou, por curiosidade, a caixa preta de uma avião antes de um acidente fatal! Emocionante e Angustiante, com o mesmo peso dramático!

Vale muito a pena: pela experiência, pela inovação e pela história bem amarrada!

Assista Agora

Caminhos da Memória

Caminhos da Memória

Assistir "Caminhos da Memória" é como acompanhar a história de um bom jogo de video-game que mistura ficção científica com vários elementos de ação e investigação. Eu diria que o filme da estreante Lisa Joy (de "Westworld") é entretenimento puro, na linha de "Minority Report" com toques de "Max Payne" (o jogo).

Na história, Nick Bainnister (Hugh Jackman) é um veterano de guerra que vive em uma Miami do futuro, parcialmente submersa pelas águas do oceano que invadiram a cidade por causa do aquecimento global. Ele trabalha com a policia local operando uma “máquina da reminiscência” - uma tecnologia que permite que indivíduos revisitem memórias, experimentando-as novamente como se estivessem lá. Quando a cantora de boate Mae (Rebecca Ferguson) busca os serviços de Nick, os dois acabam se apaixonando e vivendo um caso intenso até que ela desaparece sem deixar vestígios, deixando o Nick obcecado por encontrá-la, custe o que custar. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que muitas pessoas criticaram o filme por criarem uma espécie de comparação bastante injusta pela própria proposta de Lisa Joy - "Caminhos da Memória" não é (embora pudesse ser) um filme do Christopher Nolan. Ele não tem a profundidade narrativa, a complexidade conceitual entre texto e imagem e muito menos a genialidade estética do diretor. Joy foi roteirista e co-criadora de "Westworld", é casada com o irmão de Christopher Nolan, Jonathan, e certamente foi influenciada por uma gramática cinematográfica muito próxima de "Amnésia", "A Origem" e "Tenet", principalmente ao guardar na manga algumas cartas que ajudam a complicar, e não propriamente simplificar, seus personagens, ou seja, nem tudo é exatamente o que parece ser - mas continua sendo um filme de Joy, não de Nolan.

Um dos maiores acertos do filme, sem dúvida, foi ter Paul Cameron ("Déjà Vu" e "Westworld") como diretor de fotografia. A imersão naquela realidade distópica é imediata e tão palpável quanto nos trabalhos de Roger Deakins em "Nova York Sitiada" ou "Blade Runner 2049". A ambientação feita em CGI também impressiona pelo alinhamento com um excelente design de produção, do competente Howard Cummings ("Westworld" e "Contágio"). O que eu quero dizer é que Lisa Joy contou com o que existe de melhor, técnica e artisticamente, para entregar um filme de ficção científica e ação focado no público adulto, que busca uma história madura e emocionalmente inteligente.

Minha única observação, em tempos de tantos projetos de séries sensacionais para o streaming, diz respeito ao potencial do roteiro para um desenvolvimento melhor das histórias paralelas. Veja, a sub-trama dos Barões que comandam essa Miami destruída pelas águas e que tem o controle das terras secas, merecia, de fato, uma atenção maior até para justificar o final (sem spoiler, mas será que viria um série por aí?). O arco da família do Barão Walter Sylvan (Brett Cullen), de sua esposa Tamara (Marina de Tavira) e do filho Sebastian (Mojean Aria), funciona, mas é apressada. O mesmo serve para Saint Joe (Daniel Wu) e sua conexão com as drogas e com a corrupção da policia local.

Com uma certa "poesia Noir", "Reminiscence" (no original) faz uma reflexão romântica sobre o impacto da memória nas nossas vidas, sem fugir dos perigos que ela pode representar quando da sua dualidade perante as escolhas na jornada do protagonista - como muito já foi discutido nos filmes do Nolan. Mais uma vez, o filme é competente e será um excelente entretenimento para quem embarcar na trama, para depois desligar a TV ou quem sabe mudar de canal com aquela sensação de boas duas horas de diversão sem a pretensão de serem inesquecíveis.

Assista Agora

Assistir "Caminhos da Memória" é como acompanhar a história de um bom jogo de video-game que mistura ficção científica com vários elementos de ação e investigação. Eu diria que o filme da estreante Lisa Joy (de "Westworld") é entretenimento puro, na linha de "Minority Report" com toques de "Max Payne" (o jogo).

Na história, Nick Bainnister (Hugh Jackman) é um veterano de guerra que vive em uma Miami do futuro, parcialmente submersa pelas águas do oceano que invadiram a cidade por causa do aquecimento global. Ele trabalha com a policia local operando uma “máquina da reminiscência” - uma tecnologia que permite que indivíduos revisitem memórias, experimentando-as novamente como se estivessem lá. Quando a cantora de boate Mae (Rebecca Ferguson) busca os serviços de Nick, os dois acabam se apaixonando e vivendo um caso intenso até que ela desaparece sem deixar vestígios, deixando o Nick obcecado por encontrá-la, custe o que custar. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que muitas pessoas criticaram o filme por criarem uma espécie de comparação bastante injusta pela própria proposta de Lisa Joy - "Caminhos da Memória" não é (embora pudesse ser) um filme do Christopher Nolan. Ele não tem a profundidade narrativa, a complexidade conceitual entre texto e imagem e muito menos a genialidade estética do diretor. Joy foi roteirista e co-criadora de "Westworld", é casada com o irmão de Christopher Nolan, Jonathan, e certamente foi influenciada por uma gramática cinematográfica muito próxima de "Amnésia", "A Origem" e "Tenet", principalmente ao guardar na manga algumas cartas que ajudam a complicar, e não propriamente simplificar, seus personagens, ou seja, nem tudo é exatamente o que parece ser - mas continua sendo um filme de Joy, não de Nolan.

Um dos maiores acertos do filme, sem dúvida, foi ter Paul Cameron ("Déjà Vu" e "Westworld") como diretor de fotografia. A imersão naquela realidade distópica é imediata e tão palpável quanto nos trabalhos de Roger Deakins em "Nova York Sitiada" ou "Blade Runner 2049". A ambientação feita em CGI também impressiona pelo alinhamento com um excelente design de produção, do competente Howard Cummings ("Westworld" e "Contágio"). O que eu quero dizer é que Lisa Joy contou com o que existe de melhor, técnica e artisticamente, para entregar um filme de ficção científica e ação focado no público adulto, que busca uma história madura e emocionalmente inteligente.

Minha única observação, em tempos de tantos projetos de séries sensacionais para o streaming, diz respeito ao potencial do roteiro para um desenvolvimento melhor das histórias paralelas. Veja, a sub-trama dos Barões que comandam essa Miami destruída pelas águas e que tem o controle das terras secas, merecia, de fato, uma atenção maior até para justificar o final (sem spoiler, mas será que viria um série por aí?). O arco da família do Barão Walter Sylvan (Brett Cullen), de sua esposa Tamara (Marina de Tavira) e do filho Sebastian (Mojean Aria), funciona, mas é apressada. O mesmo serve para Saint Joe (Daniel Wu) e sua conexão com as drogas e com a corrupção da policia local.

Com uma certa "poesia Noir", "Reminiscence" (no original) faz uma reflexão romântica sobre o impacto da memória nas nossas vidas, sem fugir dos perigos que ela pode representar quando da sua dualidade perante as escolhas na jornada do protagonista - como muito já foi discutido nos filmes do Nolan. Mais uma vez, o filme é competente e será um excelente entretenimento para quem embarcar na trama, para depois desligar a TV ou quem sabe mudar de canal com aquela sensação de boas duas horas de diversão sem a pretensão de serem inesquecíveis.

Assista Agora

Dark

"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.

Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:

Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.

Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.

No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.

PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!

Assista Agora

"Dark" é um original da Netflix que se tornou um sucesso instantâneo, conquistando fãs em todo o mundo. Com uma trama intricada e cheia de reviravoltas, a série explora temas como viagem no tempo, destino e livre arbítrio.

Essa produção alemã se passa em uma pequena cidade, onde um desaparecimento misterioso desencadeia uma série de eventos que levam os personagens a descobrir segredos sombrios sobre suas próprias famílias e a história daquele local. A narrativa é apresentada de forma não-linear, saltando entre diferentes épocas e personagens, o que pode ser um pouco confuso para alguns espectadores, mas que é parte da beleza da série. Confira o trailer:

Os personagens de "Dark" são complexos e bem desenvolvidos, com histórias pessoais que se entrelaçam ao longo da trama. Os atores entregam performances emocionantes, tornando fácil se envolver com cada um deles.

Um dos pontos fortes da série é a sua fotografia. As paisagens da cidade, as cenas noturnas e os efeitos especiais são de tirar o fôlego. A trilha sonora é igualmente impressionante, ajudando a criar uma atmosfera sombria e intensa.

No geral, "Dark" é uma série intrigante e envolvente, que mantém o espectador cativado do início ao fim. É um exemplo de como a televisão pode ser usada para contar histórias complexas e profundas, e é altamente recomendado para aqueles que buscam uma experiência emocionante e intelectualmente estimulante.

PS: Quando assisti a palestra da Kelly Luegenbiehl, executiva da Netflix no Rio Content Market de 2017, ela mostrou uns seis trailers de produções não-americanas para o ano. "Dark" foi disparado a que mais chamou minha atenção. Inclusive ela elogiou demais o Diretor - uma espécie de José Padilha da Alemanha (palavras dela)!!!

Assista Agora

Desaparecida

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Devs

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

Assista Agora

Distrito 9

Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".

A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:

Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.

Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.

Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.

Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!

Assista Agora

Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".

A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:

Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.

Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.

Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.

Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!

Assista Agora

Durante a Tormenta

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

Assista Agora 

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

Assista Agora 

Ex-Machina

Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.

O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:

"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!

O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!

Assista Agora

Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.

O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:

"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!

O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!

Assista Agora

Expresso do Amanhã

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

Assista Agora

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

Assista Agora

Fallout

Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!

A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:

Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.

A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.

"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!

A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:

Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.

A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.

"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Filhos da Esperança

“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.

No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:

Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!

Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.

No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.

Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!

Assista Agora

“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.

No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:

Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!

Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.

No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.

Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!

Assista Agora

Finch

"Finch" é para você que procura entretenimento leve, com algum laço emocional e um toque de reflexão sobre as relações humanas, mesmo que, mais uma vez, Tom Hanks esteja praticamente sozinho em cena. Veja, se em "Náufrago" (de 2000), Hanks se relacionou com uma bola de vôlei e provou ser possível sobreviver em uma ilha deserta após um acidente aéreo, em "Finch" o conceito é praticamente o mesmo, mas dessa vez o personagem nos entrega uma espécie de manual de sobrevivência no fim do mundo e seus companheiros de jornada são: um cachorro (muito simpático por sinal) e um robô (muito bem desenhado) que está aprendendo a viver.

Na trama, Hanks interpreta Finch, um engenheiro de robótica e um dos poucos sobreviventes de um evento solar cataclísmico que praticamente dizimou a humanidade. Ao adquirir uma doença terminal, ele decide criar um robô (vivido por Caleb Landry Jones) para que ele possa cuidar do seu cachorro, Goodyear, quando morrer. Ao perceber que uma enorme tempestade se aproxima, os três embarcam em uma peculiar jornada de sobrevivência em meio a uma América completamente destruída, onde Finch precisa ensinar para um robô o real significado de ser um humano e como as relações de confiança podem criar laços tão profundos e sentimentais que nos movem na busca de algo maior, e muitas vezes inexplicável. Confira o trailer (em inglês):

Miguel Sapochnik (o cara por trás da Batalha dos Bastardos em "Game of Thrones"), dirige um filme que tinha tudo para ser "mais do mesmo", mas que não é, pela enorme habilidade de um roteiro aqui assinado por Craig Luck e Ivor Powell, que usa de alegorias para construir uma relação imperfeita entre os personagens - como aliás, é na vida real. Se em "Náufrago" o diretor Robert Zemeckis ("De volta para o Futuro") preferiu buscar na fantasia uma condição realista e dramática, Sapochnik faz justamente o caminho inverso ao respeitar a história como uma fantástica jornada de descobertas sem a necessidade de trazer o peso ou impacto dramático além do universo onde os personagens estão inseridos. Como em "O Mágico de Óz", vamos descobrindo os motivos da transformação do mundo em um caos junto com um dos personagens - nossa Dorothy é o robô Jeff. E aqui cabe um elogio: o ator Caleb Landry Jones que dá voz (e vida) ao robô, juntamente com o time de design de produção e de efeitos especiais, conseguem entregar um personagem com verdade, ingênuo até, mas divertido - basicamente um bebê robô perfeito que precisa aprender a se virar em um mundo imperfeito.

Embora você vá encontrar uma ou outra cena com mais ação (eu destacaria a cena do tornado e do hospital), "Finch" é essencialmente um drama existencial dentro de um road movie - um "Amor e Monstros"mais adulto e menos blockbuster. O fato é que Tom Hanks impulsiona a história com sua enorme capacidade de nos tocar, enquanto um time excepcional cria personagens coadjuvantes encantadores, dando um ar de leveza para a trama, mesmo nos momentos mais sensíveis. Sapochnik que sai das grandes séries e praticamente estreia em um longa-metragem, mostra que sua capacidade de construir narrativas visuais que vão além do "movimento"e da "ação" - existe "alma" e "reflexão" no seu trabalho!

Vale o play!

Assista Agora

"Finch" é para você que procura entretenimento leve, com algum laço emocional e um toque de reflexão sobre as relações humanas, mesmo que, mais uma vez, Tom Hanks esteja praticamente sozinho em cena. Veja, se em "Náufrago" (de 2000), Hanks se relacionou com uma bola de vôlei e provou ser possível sobreviver em uma ilha deserta após um acidente aéreo, em "Finch" o conceito é praticamente o mesmo, mas dessa vez o personagem nos entrega uma espécie de manual de sobrevivência no fim do mundo e seus companheiros de jornada são: um cachorro (muito simpático por sinal) e um robô (muito bem desenhado) que está aprendendo a viver.

Na trama, Hanks interpreta Finch, um engenheiro de robótica e um dos poucos sobreviventes de um evento solar cataclísmico que praticamente dizimou a humanidade. Ao adquirir uma doença terminal, ele decide criar um robô (vivido por Caleb Landry Jones) para que ele possa cuidar do seu cachorro, Goodyear, quando morrer. Ao perceber que uma enorme tempestade se aproxima, os três embarcam em uma peculiar jornada de sobrevivência em meio a uma América completamente destruída, onde Finch precisa ensinar para um robô o real significado de ser um humano e como as relações de confiança podem criar laços tão profundos e sentimentais que nos movem na busca de algo maior, e muitas vezes inexplicável. Confira o trailer (em inglês):

Miguel Sapochnik (o cara por trás da Batalha dos Bastardos em "Game of Thrones"), dirige um filme que tinha tudo para ser "mais do mesmo", mas que não é, pela enorme habilidade de um roteiro aqui assinado por Craig Luck e Ivor Powell, que usa de alegorias para construir uma relação imperfeita entre os personagens - como aliás, é na vida real. Se em "Náufrago" o diretor Robert Zemeckis ("De volta para o Futuro") preferiu buscar na fantasia uma condição realista e dramática, Sapochnik faz justamente o caminho inverso ao respeitar a história como uma fantástica jornada de descobertas sem a necessidade de trazer o peso ou impacto dramático além do universo onde os personagens estão inseridos. Como em "O Mágico de Óz", vamos descobrindo os motivos da transformação do mundo em um caos junto com um dos personagens - nossa Dorothy é o robô Jeff. E aqui cabe um elogio: o ator Caleb Landry Jones que dá voz (e vida) ao robô, juntamente com o time de design de produção e de efeitos especiais, conseguem entregar um personagem com verdade, ingênuo até, mas divertido - basicamente um bebê robô perfeito que precisa aprender a se virar em um mundo imperfeito.

Embora você vá encontrar uma ou outra cena com mais ação (eu destacaria a cena do tornado e do hospital), "Finch" é essencialmente um drama existencial dentro de um road movie - um "Amor e Monstros"mais adulto e menos blockbuster. O fato é que Tom Hanks impulsiona a história com sua enorme capacidade de nos tocar, enquanto um time excepcional cria personagens coadjuvantes encantadores, dando um ar de leveza para a trama, mesmo nos momentos mais sensíveis. Sapochnik que sai das grandes séries e praticamente estreia em um longa-metragem, mostra que sua capacidade de construir narrativas visuais que vão além do "movimento"e da "ação" - existe "alma" e "reflexão" no seu trabalho!

Vale o play!

Assista Agora

Halo

Existem duas formas de assistir "Halo" da Paramount+. A primeira, obviamente, é para quem conhece o valor estético e narrativo da franquia de videogames da Microsoft. A segunda, por outro lado, é para quem caiu de "para-quedas" na esperança de encontrar uma série de ficção cientifica com uma história interessante e que fosse, de alguma forma, um entretenimento da melhor qualidade. Pois bem, posso te garantir que para ambos, "Halo" cumpre o seu papel! Se em um primeiro olhar o projeto criado pelo Steven Kane (de "Jack Ryan") e pelo Kyle Killen (de "Awake") traz uma premissa mais existencial sobre a humanidade e o seu valor transformador perante o universo (ao melhor estilo "Duna"), rapidamente somos apresentados para uma mitologia complexa e cenas de combate dos mais empolgantes e bem realizados (remetendo ao melhor de "The Mandalorian"). Sim, a série busca expandir o universo dos games com certo equilíbrio, oferecendo uma narrativa rica em ação sem esquecer do drama, explorando com competência os conflitos intergalácticos entre a humanidade e a aliança alienígena (conhecida como Covenant) ao mesmo tempo que nos provoca ótimas reflexões carregadas de muito simbolismo.

A série retrata um período de guerras que acontece durante o século XXVI entre a raça humana, liderada pelo Comando Espacial das Nações Unidas (UNSC), e uma espécie alienígena conhecida como Covenant. Após anos de domínio, quando colônias começam a se rebelar, a liderança dos Covenant declara que humanos são hereges perante seus deuses e inicia uma onda genocida contra a raça humana. Após a redescoberta dos anéis de Halo, o super-soldado Spartan e líder Master Chief (Pablo Schreiber), também conhecido como John-117,  ao lado de sua equipe e a inteligência artificial Cortana, tentam destruir o que para os Covenant é um instrumento poderoso. Em contrapartida, os alienígenas também passam por conflitos internos quando um de seus comandantes é exilado e se alia com outros divergentes já do lado dos humanos. Confira o trailer (em inglês):

É realmente muito bacana como a série se propõe a criar mais camadas e assim explorar a jornada pessoal do Master Chief, enquanto ele confronta questões de identidade, lealdade e propósito. Veja, Pablo Schreiber enfrenta o desafio de ser um personagem conhecido por seu silêncio e por sua força inabalável vinda dos jogos, porém, aqui, sua presença física imponente e intensidade dão lugar a sua humanidade e vulnerabilidade - algo que até dividiu os fãs mais puristas, mas que facilitou a conexão com uma nova audiência. Natascha McElhone como Dra. Halsey, a cientista brilhante e moralmente ambígua responsável pelo programa Spartan, ajuda muito nessa linha mais "Robocop" da série - repare como Chief causa o mesmo desconforto e caos do clássico dos anos 80 de Paul Verhoeven quando, em seu ambiente rigidamente controlado, resolve começar a viver e se sentir como uma pessoa normal.

Já na linha mais épica, "Halo" é um verdadeiro espetáculo visual. A direção de arte e os efeitos visuais são de alta qualidade, recriando fielmente o visual dos jogos - é muito curioso como o diretor Jonathan Liebesman mistura os conceitos narrativos e cria um identidade tão dinâmica para sua versão da franquia. Os designs das armaduras Spartan, das naves espaciais e das paisagens alienígenas são impecáveis e verdadeiramente imersivas. A trilha sonora complementa essa proposta com temas que evocam tanto a grandiosidade das batalhas quanto a melancolia dos momentos mais pessoais - a música ajuda a ancorar a série no universo "Halo", mas não deixa de oferecer algo novo. O roteiro de Kane e Killen luta para equilibrar a fidelidade ao material original com a sua versão palpável do sacrifício e do custo da guerra pela perspectiva mais humana.

Se a narrativa pode parecer densa e confusa para aqueles que não estão familiarizados com a extensa mitologia da franquia, "Halo" também sabe que o sucesso de sua jornada está justamente em colocar seus personagens nas posições certas do tabuleiro para que tudo exploda de tempos em tempos e assim possa se reconstruir e manipular a narrativa de acordo com seu interesse. Dito isso e se a promessa de que a série pretende se estabelecer como uma marco da ficção cientifica também no streaming se cumprir, teremos pelo menos umas 4 ou 5 temporadas para discutir e celebrar como essa nova visão revitalizou um universo tão restrito aos jogos de video-game.

Vale muito seu play!

Assista Agora

Existem duas formas de assistir "Halo" da Paramount+. A primeira, obviamente, é para quem conhece o valor estético e narrativo da franquia de videogames da Microsoft. A segunda, por outro lado, é para quem caiu de "para-quedas" na esperança de encontrar uma série de ficção cientifica com uma história interessante e que fosse, de alguma forma, um entretenimento da melhor qualidade. Pois bem, posso te garantir que para ambos, "Halo" cumpre o seu papel! Se em um primeiro olhar o projeto criado pelo Steven Kane (de "Jack Ryan") e pelo Kyle Killen (de "Awake") traz uma premissa mais existencial sobre a humanidade e o seu valor transformador perante o universo (ao melhor estilo "Duna"), rapidamente somos apresentados para uma mitologia complexa e cenas de combate dos mais empolgantes e bem realizados (remetendo ao melhor de "The Mandalorian"). Sim, a série busca expandir o universo dos games com certo equilíbrio, oferecendo uma narrativa rica em ação sem esquecer do drama, explorando com competência os conflitos intergalácticos entre a humanidade e a aliança alienígena (conhecida como Covenant) ao mesmo tempo que nos provoca ótimas reflexões carregadas de muito simbolismo.

A série retrata um período de guerras que acontece durante o século XXVI entre a raça humana, liderada pelo Comando Espacial das Nações Unidas (UNSC), e uma espécie alienígena conhecida como Covenant. Após anos de domínio, quando colônias começam a se rebelar, a liderança dos Covenant declara que humanos são hereges perante seus deuses e inicia uma onda genocida contra a raça humana. Após a redescoberta dos anéis de Halo, o super-soldado Spartan e líder Master Chief (Pablo Schreiber), também conhecido como John-117,  ao lado de sua equipe e a inteligência artificial Cortana, tentam destruir o que para os Covenant é um instrumento poderoso. Em contrapartida, os alienígenas também passam por conflitos internos quando um de seus comandantes é exilado e se alia com outros divergentes já do lado dos humanos. Confira o trailer (em inglês):

É realmente muito bacana como a série se propõe a criar mais camadas e assim explorar a jornada pessoal do Master Chief, enquanto ele confronta questões de identidade, lealdade e propósito. Veja, Pablo Schreiber enfrenta o desafio de ser um personagem conhecido por seu silêncio e por sua força inabalável vinda dos jogos, porém, aqui, sua presença física imponente e intensidade dão lugar a sua humanidade e vulnerabilidade - algo que até dividiu os fãs mais puristas, mas que facilitou a conexão com uma nova audiência. Natascha McElhone como Dra. Halsey, a cientista brilhante e moralmente ambígua responsável pelo programa Spartan, ajuda muito nessa linha mais "Robocop" da série - repare como Chief causa o mesmo desconforto e caos do clássico dos anos 80 de Paul Verhoeven quando, em seu ambiente rigidamente controlado, resolve começar a viver e se sentir como uma pessoa normal.

Já na linha mais épica, "Halo" é um verdadeiro espetáculo visual. A direção de arte e os efeitos visuais são de alta qualidade, recriando fielmente o visual dos jogos - é muito curioso como o diretor Jonathan Liebesman mistura os conceitos narrativos e cria um identidade tão dinâmica para sua versão da franquia. Os designs das armaduras Spartan, das naves espaciais e das paisagens alienígenas são impecáveis e verdadeiramente imersivas. A trilha sonora complementa essa proposta com temas que evocam tanto a grandiosidade das batalhas quanto a melancolia dos momentos mais pessoais - a música ajuda a ancorar a série no universo "Halo", mas não deixa de oferecer algo novo. O roteiro de Kane e Killen luta para equilibrar a fidelidade ao material original com a sua versão palpável do sacrifício e do custo da guerra pela perspectiva mais humana.

Se a narrativa pode parecer densa e confusa para aqueles que não estão familiarizados com a extensa mitologia da franquia, "Halo" também sabe que o sucesso de sua jornada está justamente em colocar seus personagens nas posições certas do tabuleiro para que tudo exploda de tempos em tempos e assim possa se reconstruir e manipular a narrativa de acordo com seu interesse. Dito isso e se a promessa de que a série pretende se estabelecer como uma marco da ficção cientifica também no streaming se cumprir, teremos pelo menos umas 4 ou 5 temporadas para discutir e celebrar como essa nova visão revitalizou um universo tão restrito aos jogos de video-game.

Vale muito seu play!

Assista Agora

Her

Her

"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!

Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro. 

"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!

Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!

PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!

Assista Agora

"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!

Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro. 

"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!

Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!

PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!

Assista Agora

Homecoming

Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

Assista Agora

Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

Assista Agora

I am Mother

"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.

O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:

Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!

Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!

"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!

Vale muito o play!!!!

Assista Agora

"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.

O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:

Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!

Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!

"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!

Vale muito o play!!!!

Assista Agora

Kimi

"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.

Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima? 

Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?

Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".

Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.

Assista Agora

"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.

Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima? 

Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?

Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".

Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.

Assista Agora