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A Origem

“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

Assista Agora

“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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A Qualquer Custo

"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

Assista Agora

"Hell or High Water" (título original) é um ótimo filme, mas talvez para alguns não será inesquecível por, justamente, dramatizar a relação familiar dentro de um universo que depende de muita ação para prender a atenção de quem assiste.

O filme acompanha a história de dois irmãos no Oeste americano: Toby (Chris Pine), um pai divorciado que tenta assegurar uma vida melhor para o filho, e Tanner (Ben Foster), um ex-presidiário com tendências violentas. Juntos, eles decidem assaltar várias agências do banco que está penhorando a propriedade da sua família. Esta espécie de vingança parece ser um sucesso até que Toby e Tanner se cruzam com um incansável policial texano à procura de um triunfo final antes da aposentadoria. Assim, ao mesmo tempo que os dois assaltantes planeiam um último roubo para completarem o seu plano, o cerco parece se fechar sob o comando do Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

O filme é muito bem dirigido pelo David Mackenzie, a fotografia do Giles Nuttgensé linda e, de fato, Jeff Bridges tinha tudo pra levar o Oscar de "Ator de Coadjuvante" em 2016 - mas não levou! Aliás, "A Qualquer Custo" teve 4 indicações naquele ano: Melhor Edição, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator de Coadjuvante e Melhor Filme; e acabou saindo com as mãos vazias!

É preciso dizer que história é realmente boa, mas faltou algum plot twist que justificasse todo o clamor pelo filme, mas ele nunca vem, deixando a experiência bastante previsível! Vale o play, claro, mas encare como um entretenimento de muita qualidade e não um filme marcante!

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A Verdadeira História do Roubo do Século

Parece ficção, mas é real -  e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!

Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):

O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.

Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.

Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Parece ficção, mas é real -  e justamente por isso é simplesmente genial esse documentário da Netflix! "A Verdadeira História do Roubo do Século" é um "La Casa de Papel" da vida real, contado pelos próprios assaltantes anos depois do crime - aliás, a riqueza de detalhes com que o diretor Matías Gueilburt (de "El Che" e "Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua") constrói a narrativa é tão impressionante que até parece mentira!

Em 2006, a Argentina sofreu o maior assalto a banco da sua história. Um plano perfeito colocado em prática foi capaz de enganar 23 reféns, 300 policias e a toda mídia argentina por um bom tempo. "Los Ladrones" (no original) conta com os depoimentos de todos os envolvidos no golpe e expõe em detalhes como toda essa jornada foi arquitetada e realizada. Confira o trailer (em espanhol):

O que mais me chamou a atenção em "A Verdadeira História do Roubo do Século" foi justamente a qualidade dos elementos que transformam qualquer obra em um grande sucesso. O fato de ser um documentário, naturalmente, dificulta essa conjunção, porém aqui temos personagens incríveis (destaque para o "professor" Fernando Araujo), uma história sensacional e uma produção de altíssima qualidade. A forma como Gueilburt aproveita todo esse material, cria uma dinâmica que dificilmente encontramos no gênero - são várias técnicas, elementos gráficos, reconstituições conceituais, além é claro dos já tradicionais depoimentos e cenas de arquivo.

Muito criativo, Gueilburt nos provoca uma reflexão ao melhor estilo Vince Gilligan (de "Breaking Bad"): seriam esses personagens verdadeiros anti-heróis (quem sabe até heróis) com personalidades marcantes, que merecem nossa torcida já que o propósito de suas ações eram justificáveis e talvez até nobres? Essa dualidade narrativa é tão empolgante que chegamos ao ponto de nos irritarmos quando descobrimos que um "pequeno detalhe" impediu que o plano fosse 100% perfeito - até o protagonista Fernando Araujo que no inicio parece uma pessoa estranha, pouco empática, se transforma em um personagem único que nutre uma certa genialidade em seu âmago.

Se você gostou da série "Roubos Inacreditáveis", pode dar um play tranquilamente que esse filme foi feito especialmente para a sua diversão - e não se julgue caso resolva torcer para os bandidos, pois toda história te fará ponderar sobre o que é "certo", o que é "errado" e, principalmente, se "valeria o risco". Essa é a "brincadeira" que sustenta esse entretenimento da melhor qualidade.

Vale muito o seu play!

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Aves de Rapina

"Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa" não é o tipo de filme de herói que me agrada, mas é preciso reconhecer que existe um público enorme que até prefere essemood mais suave e descompromissado do que algo mais denso com as discussões filosóficas que o Zack Snyder estava propondo para o DCU. Quando analisei"Coringa" escrevi o seguinte comentário: "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA". 

Pois bem, o sucesso de "Coringa" é indiscutível, com o público e com a crítica, e mesmo assim a DC ainda volta no tempo e ainda luta para se afirmar como selo! "Aves de Rapina", por exemplo, fica em cima do muro: tem muito do que eu acreditava que a DC deveria deixar de lado para fortalecer sua identidade, mas também foi muito elogiada pela forma como a história foi contada, mesmo com um roteiro infantilizado (infelizmente) - embora o filme tenha muita ação e não esconde a violência, o universo de "Aves de Rapina" é muito mais próximo de "Esquadrão Suicida" - que sempre foi tido como um fracasso que deveria ser esquecido - do que aquele de "Coringa", trazendo um look menos sombrio e com personagens coadjuvantes muito mais engraçadinhos do que bem desenvolvidos - ou seja, a DC assume a violência, mas não pesa na mão quando o assunto é se aprofundar na história e nas motivações dos personagens. A mensagem que fica é essa: "só assista o filme e se divirta!" - e eu complemento: "por sua conta e risco, claro!"

O filme passa rapidamente pela história de Harleen Quinzel, desde criança, até conhecer o Sr. C (aquele "Coringa Rapper" do Jared Leto e não aquele Coringa genial do Joaquin Phoenix) - as inserções gráficas já nos posicionam sobre o tom do filme, inclusive. Assim que restabelece a personagem Arlequina com uma premissa pseudo-dramática sobre o término do seu relacionamento com o Coringa, começa uma corrida (desesperada) para construir algumas situações que possam justificar a criação do grupo que dá nome ao filme: "Aves de Rapina"; e mesmo o roteiro sendo inteligente na apresentação de cada uma das personagens: Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Renee Montoya (Rosie Perez) e Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), quebrando muitas vezes a linearidade do tempo, as motivações de cada uma delas, são tão superficiais e batidas que refletem até em um personagem que tinha tudo para ser assustador ao melhor estilo Hannibal Lecter, o Máscara Negra (Ewan McGregor), mas que acaba soando como um garoto mimado que se irrita quando ele acha que alguém "está rindo da cara dele" (sim, existe essa cena no filme)!

Como é possível observar no trailer, e talvez por isso criou-se uma expectativa enorme sobre o seu lançamento, a novata diretora Cathy Yan assume a violência nua e crua em cenas de lutas extremamente bem coreografadas ao melhor estilo Demolidor (Netflix) na tentativa explícita de empoderar suas personagens femininas - e ela consegue cumprir sua missão com louvor. O balé da ação por trás das habilidades circenses de Arlequina pode não ter a mesma tensão e potência como em "Esquadrão Suicida", mas continua com aquele enorme carisma graças ao excelente trabalho da Margot Robbie - ela funciona tanto nas cenas mais dramáticas, quando nas escrachadas. A precisão cirúrgica da Caçadora e a habilidade natural de Renee Montoya estão muito bem justificadas e completamente dentro do contexto do filme, apenas o poder da Canário Negro que cai de para-quedas e ninguém nunca mais toca no assunto - é quase como se sua habilidade fosse a luta de rua e não a força de sua voz!

A partir daqui peço licença para refletir sobre as escolhas da DC, sem clubismo: "Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa" tem o seu mérito como subproduto da DC, mas o que me incomodou novamente, e isso não deve influenciar no gosto pessoal de ninguém, foi a falta de planejamento da DC, já que ela está tentando reconstruir seu Universo depois de algumas bobagens. Se houve um acerto tão claro e reconhecido como "Coringa" e mesmo que a proposta dos produtos sejam completamente diferentes (e são!), não se pode esquecer dos pontos de convergência entre as histórias, afinal ambas se passam em Gotham, por exemplo: então por que é tudo tão diferente? Os anos passaram entre uma história e outra, claro, mas houve algum reflexo na cidade, nos personagens? Nada é falado... Tudo fica  ainda mais confuso quando os executivos vem à público dizer que o filme é independente - mas meu amigo, existem várias referências ao (para muitos) desastroso primeiro "Esquadrão Suicida" e nenhuma sobre o novo Universo DC... cadê a coerência?

"Aves de Rapina" pode ser um acerto para quem entende que existe uma dinâmica diferente entre as obras e um distanciamento natural entre as histórias, que a liberdade artística pode influenciar no resultado individual, mas nunca como um todo e que a forma como está sendo pensado e criado o novo DCU é só para um ou outro selo da marca, com os personagens principais e tal... Não sei, para mim não convenceu, mas, como reforço, essa é só a minha opinião!

Se você gosta de filmes de ação, cheio de piadas e com alguma referência aos quadrinhos, é possível que você se divirta com "Aves de Rapina", se você espera um filmaço como "Coringa" nem perca seu tempo!

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"Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa" não é o tipo de filme de herói que me agrada, mas é preciso reconhecer que existe um público enorme que até prefere essemood mais suave e descompromissado do que algo mais denso com as discussões filosóficas que o Zack Snyder estava propondo para o DCU. Quando analisei"Coringa" escrevi o seguinte comentário: "Coringa" merece servir de modelo para todos os filmes que a DC vai produzir daqui para frente, pois trouxe para o selo (black / dark) a identidade que foi se perdendo depois dos sucessos da Marvel - e aqui cabe o comentário: a DC não é a Marvel e o seu maior erro foi querer suavizar suas histórias para se enquadrar em uma classificação que não está no seu DNA". 

Pois bem, o sucesso de "Coringa" é indiscutível, com o público e com a crítica, e mesmo assim a DC ainda volta no tempo e ainda luta para se afirmar como selo! "Aves de Rapina", por exemplo, fica em cima do muro: tem muito do que eu acreditava que a DC deveria deixar de lado para fortalecer sua identidade, mas também foi muito elogiada pela forma como a história foi contada, mesmo com um roteiro infantilizado (infelizmente) - embora o filme tenha muita ação e não esconde a violência, o universo de "Aves de Rapina" é muito mais próximo de "Esquadrão Suicida" - que sempre foi tido como um fracasso que deveria ser esquecido - do que aquele de "Coringa", trazendo um look menos sombrio e com personagens coadjuvantes muito mais engraçadinhos do que bem desenvolvidos - ou seja, a DC assume a violência, mas não pesa na mão quando o assunto é se aprofundar na história e nas motivações dos personagens. A mensagem que fica é essa: "só assista o filme e se divirta!" - e eu complemento: "por sua conta e risco, claro!"

O filme passa rapidamente pela história de Harleen Quinzel, desde criança, até conhecer o Sr. C (aquele "Coringa Rapper" do Jared Leto e não aquele Coringa genial do Joaquin Phoenix) - as inserções gráficas já nos posicionam sobre o tom do filme, inclusive. Assim que restabelece a personagem Arlequina com uma premissa pseudo-dramática sobre o término do seu relacionamento com o Coringa, começa uma corrida (desesperada) para construir algumas situações que possam justificar a criação do grupo que dá nome ao filme: "Aves de Rapina"; e mesmo o roteiro sendo inteligente na apresentação de cada uma das personagens: Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Renee Montoya (Rosie Perez) e Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), quebrando muitas vezes a linearidade do tempo, as motivações de cada uma delas, são tão superficiais e batidas que refletem até em um personagem que tinha tudo para ser assustador ao melhor estilo Hannibal Lecter, o Máscara Negra (Ewan McGregor), mas que acaba soando como um garoto mimado que se irrita quando ele acha que alguém "está rindo da cara dele" (sim, existe essa cena no filme)!

Como é possível observar no trailer, e talvez por isso criou-se uma expectativa enorme sobre o seu lançamento, a novata diretora Cathy Yan assume a violência nua e crua em cenas de lutas extremamente bem coreografadas ao melhor estilo Demolidor (Netflix) na tentativa explícita de empoderar suas personagens femininas - e ela consegue cumprir sua missão com louvor. O balé da ação por trás das habilidades circenses de Arlequina pode não ter a mesma tensão e potência como em "Esquadrão Suicida", mas continua com aquele enorme carisma graças ao excelente trabalho da Margot Robbie - ela funciona tanto nas cenas mais dramáticas, quando nas escrachadas. A precisão cirúrgica da Caçadora e a habilidade natural de Renee Montoya estão muito bem justificadas e completamente dentro do contexto do filme, apenas o poder da Canário Negro que cai de para-quedas e ninguém nunca mais toca no assunto - é quase como se sua habilidade fosse a luta de rua e não a força de sua voz!

A partir daqui peço licença para refletir sobre as escolhas da DC, sem clubismo: "Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa" tem o seu mérito como subproduto da DC, mas o que me incomodou novamente, e isso não deve influenciar no gosto pessoal de ninguém, foi a falta de planejamento da DC, já que ela está tentando reconstruir seu Universo depois de algumas bobagens. Se houve um acerto tão claro e reconhecido como "Coringa" e mesmo que a proposta dos produtos sejam completamente diferentes (e são!), não se pode esquecer dos pontos de convergência entre as histórias, afinal ambas se passam em Gotham, por exemplo: então por que é tudo tão diferente? Os anos passaram entre uma história e outra, claro, mas houve algum reflexo na cidade, nos personagens? Nada é falado... Tudo fica  ainda mais confuso quando os executivos vem à público dizer que o filme é independente - mas meu amigo, existem várias referências ao (para muitos) desastroso primeiro "Esquadrão Suicida" e nenhuma sobre o novo Universo DC... cadê a coerência?

"Aves de Rapina" pode ser um acerto para quem entende que existe uma dinâmica diferente entre as obras e um distanciamento natural entre as histórias, que a liberdade artística pode influenciar no resultado individual, mas nunca como um todo e que a forma como está sendo pensado e criado o novo DCU é só para um ou outro selo da marca, com os personagens principais e tal... Não sei, para mim não convenceu, mas, como reforço, essa é só a minha opinião!

Se você gosta de filmes de ação, cheio de piadas e com alguma referência aos quadrinhos, é possível que você se divirta com "Aves de Rapina", se você espera um filmaço como "Coringa" nem perca seu tempo!

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Clark

Clark

Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

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Quanto menos você souber sobre a minissérie da Netflix, "Clark", mais você vai se surpreender - e imagino que positivamente. Se você ainda não clicou em "assista agora" presumo que queira entender se essa produção sueca, dirigida pelo talentoso Jonas Akerlund, é realmente para você. Pois bem, antes de mais nada é preciso dizer que Akerlund tem uma sólida carreira como diretor de publicidade e videoclipes, trabalhando com artistas do nível de Madonna, U2, Coldplay e Lady Gaga, apenas para citar alguns - assim você vai entender o tamanho do potencial desse cara que está estreando na ficção e te garanto: criatividade é o que não faltou para contar a história de Clark Olofsson.

Mas você sabe quem é Clark Olofsson? Se não sabe, não se preocupe, porque até o lançamento de "Clark" pouca gente sabia. A minissérie de seis episódios se propõe a contar a história do personagem que cunhou a expressão “Síndrome de Estocolmo”. Um criminoso que conseguiu enganar toda a Suécia por muitos anos e fez todo um país se apaixonar por ele, apesar de ter sido acusado de tráfico de drogas, tentativa de homicídio, agressão, roubos e centenas de assaltos a bancos. Confira o trailer (em inglês):

Embora a história de "Clark" seja incrível, é inegável que o conceito narrativo e visual que Akerlund imprime no projeto é o que chama mais a atenção - veja, é uma mistura de Jean-Pierre Jeunet (de "Amélie Poulain"), com Spike Lee (de "Infiltrado Na Klan") e ainda com um toque de Adam McKay (de "Vice"). Eu diria que é um sopro de criatividade (e inventividade) que pouco encontramos nas produções da Netflix (tirando algumas raras exceções). Com uma montagem primorosa e inserções gráficas divertidíssimas, o diretor nos leva para uma jornada tão absurda quanto empolgante.

A "síndrome de Estocolmo" define um estado bem particular daqueles que, uma vez submetidos a um período prolongado de intimidação, desenvolvem uma traumática conexão de empatia (e até mesmo simpatia) pelo agressor - resultado de uma complexa estratégia mental de sobrevivência ao abuso. Lendo essa definição, é bem possível que a premissa te transporte para uma outra minissérie da Netflix, "O Paraíso e a Serpente"- e de fato existem inúmeros elementos dramáticos que se assemelham, porém o tom é completamente diferente. Aqui a ação está apoiada na comédia, no non-sense e até no estereótipo (quase escrachado), ditando um ritmo alucinante para os episódios. O total controle da gramática cinematográfica proveniente de um certo estilo de publicidade e dos clipes, fazem com que "Clark" salte aos olhos, mesmo discutindo assuntos tão densos - e a proposta é tão genial, que até podemos suspeitar que "talvez" estejamos sofrendo uma, digamos, "versão lite-digital" da mesma síndrome que é discutida na história.

Baseada, obviamente, em uma história real, a minissérie reconta "as verdades e mentiras presentes" na autobiografia de Olofsson. São muitas passagens, recortes extensos, mas muito bem conectados pelo roteiro de Fredrik Agetoft e de Peter Arrhenius. Outro destaque (e que pode esperar estará em muitas premiações daqui para frente) é Bill Skarsgard - o Pennywise de "It: A Coisa". Ele está simplesmente incrível, capaz de construir uma personalidade doentia com tanto charme e veracidade que até suas enormes falhas de caráter soam como refutáveis.

"Clark" pode até causar um certo estranhamento inicial, mas embarque na proposta do diretor e repare como um personagem complexo, independente do tom imposto pela narrativa, é capaz de se humanizar através de uma construção muito cuidadosa, pouco expositiva e, principalmente, bastante sensível aos valores sobre si mesmo, trazendo uma verdade tão essencial para a história que em nenhum momento se propõe a ser documental ou tendenciosa - e isso é muito divertido!

Vale muito a pena e já se estabelece como uma das melhores produções do ano de 2022! 

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Crime Sem Saída

"Crime Sem Saída" (ou "21 Bridges") traz o carimbo dos produtores Anthony Russo e Joe Russo de "Vingadores Ultimato" e, mais recentemente, do grande sucesso "Resgate" (da Netflix). O fato é que o irmãos Russo vem se posicionando como verdadeiros maestros quando se fala de um gênio tão pouco valorizado (antes da enxurrada de filmes de heróis) como o de "ação". Nesse filme temos um conceito muito interessante, mas que infelizmente não se sustenta - ou melhor, se dilui em poucos minutos de filme. A história mostra a caçada de um detetive chamado André (o eterno "Pantera Negra", Chadwick Boseman) encarregado de capturar uma dupla de ladrões que assassinou oito policiais durante um roubo, bastante suspeito, de cocaína. Pressionado pela própria corporação, Davis acredita que a única forma de encontrar os assassinos antes que eles fujam, é bloqueando as 21 pontes que ligam Manhattan aos outros bairros de NY, porém, para que o plano dê certo, ele tem apenas 5 horas para cumprir sua missão ou tudo estará perdido. Confira o trailer:

Pelo trailer já é possível perceber que o nível de ação é bem alto, e realmente é, mas é preciso dizer que o maior chamativo do filme, que é sua premissa, não dura mais do que os primeiros 30 minutos - o fato de Manhattan estar completamente sitiada (e do tempo ser escasso) não interfere em absolutamente nada (além da idéia de estar encurralado) nas escolhas ou motivações dos personagens e isso é um baita de um vacilo do roteiro. Conceitualmente o filme não sustenta a idéia, mas se apoia no ritmo frenético das perseguições muito bem realizadas e de um mistério bem raso e previsível, para nos levar até o final. "Crime Sem Saída" é um bom filme de ação, daqueles "pipoca" mesmo, que entretem e divertem sem a pretensão de se tornar um grande sucesso e sem parecer "forçado" demais! Vale o play se você gosta do gênero!

Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a qualidade da produção, se não tão grandiosa quanto a do "Resgate", pelo menos foi muito bem fotografada pelo experiente diretor Paul Cameron (de "Colateral"  e "Déjà Vu"). Nova York tem um charme todo particular durante as madrugadas, completamente cinematográfica e Cameron aproveita muito bem esse mood para ajudar a contar a história - reparem! O diretor Brian Kirk é novato no cinema, mas ganhou muita notoriedade ao dirigir três excelentes episódios de Game of Thrones. Em "Crime Sem Saída" ele faz o "arroz com feijão", bem feito, mas sem nenhuma novidade estética ou conceitual - não dá para comparar com o trabalho que Sam Hargrave fez no "Resgate".

O roteiro acaba sendo o ponto fraco do filme. Não que seja ruim, vou reforçar, mas não se aprofunda em nada: na relação do protagonista com a mãe, no reflexo da tragédia familiar com a morte do pai e até na relação que André tem com sua "parceira" Frankie Burns (Sienna Miller). Entre os destaques do elenco não dá para deixar passar o ótimo trabalho de Chadwick Boseman - parece que o cara nasceu para ser herói de franquia e nesse filme ele é tão convincente que eu não vou me surpreender se tivermos outro filme. Stephan James (o Jesse Owens de "Raça") é um dos ladrões e sua performance está sensacional - ele fala com os olhos e essa qualidade, em um filme de ação, só coloca seu personagem em um outro patamar. Muita atenção para esse ator, com um personagem certo, ele pode ir bem longe! J.K. Simmons, lógico, sendo mais uma vez o próprio J.K. Simmons, com muita honra e talento!

Embora soe como uma certa crítica o enfoque na corrupção policial que o filme ensaia em fazer, tenho a impressão que essa escolha vem muito mais de uma referência narrativa dos filmes de ação dos anos 90 - justamente por isso que que encontramos um personagem completamente agarrado aos seus valores morais, muito (mas muito) reforçado em várias passagens do filme, mas que cria um vínculo fundamental com quem assiste - se Chadwick Boseman estivesse com a fantasia do Pantera Negra, já teríamos uma ótima continuação realizada (com o plus de vários efeitos especiais e explosões) e essas falhas do roteiro provavelmente nem estariam sendo discutidas, mas independente do figurino do protagonista, "Crime Sem Saída" entrega diversão, pode confiar!

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"Crime Sem Saída" (ou "21 Bridges") traz o carimbo dos produtores Anthony Russo e Joe Russo de "Vingadores Ultimato" e, mais recentemente, do grande sucesso "Resgate" (da Netflix). O fato é que o irmãos Russo vem se posicionando como verdadeiros maestros quando se fala de um gênio tão pouco valorizado (antes da enxurrada de filmes de heróis) como o de "ação". Nesse filme temos um conceito muito interessante, mas que infelizmente não se sustenta - ou melhor, se dilui em poucos minutos de filme. A história mostra a caçada de um detetive chamado André (o eterno "Pantera Negra", Chadwick Boseman) encarregado de capturar uma dupla de ladrões que assassinou oito policiais durante um roubo, bastante suspeito, de cocaína. Pressionado pela própria corporação, Davis acredita que a única forma de encontrar os assassinos antes que eles fujam, é bloqueando as 21 pontes que ligam Manhattan aos outros bairros de NY, porém, para que o plano dê certo, ele tem apenas 5 horas para cumprir sua missão ou tudo estará perdido. Confira o trailer:

Pelo trailer já é possível perceber que o nível de ação é bem alto, e realmente é, mas é preciso dizer que o maior chamativo do filme, que é sua premissa, não dura mais do que os primeiros 30 minutos - o fato de Manhattan estar completamente sitiada (e do tempo ser escasso) não interfere em absolutamente nada (além da idéia de estar encurralado) nas escolhas ou motivações dos personagens e isso é um baita de um vacilo do roteiro. Conceitualmente o filme não sustenta a idéia, mas se apoia no ritmo frenético das perseguições muito bem realizadas e de um mistério bem raso e previsível, para nos levar até o final. "Crime Sem Saída" é um bom filme de ação, daqueles "pipoca" mesmo, que entretem e divertem sem a pretensão de se tornar um grande sucesso e sem parecer "forçado" demais! Vale o play se você gosta do gênero!

Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a qualidade da produção, se não tão grandiosa quanto a do "Resgate", pelo menos foi muito bem fotografada pelo experiente diretor Paul Cameron (de "Colateral"  e "Déjà Vu"). Nova York tem um charme todo particular durante as madrugadas, completamente cinematográfica e Cameron aproveita muito bem esse mood para ajudar a contar a história - reparem! O diretor Brian Kirk é novato no cinema, mas ganhou muita notoriedade ao dirigir três excelentes episódios de Game of Thrones. Em "Crime Sem Saída" ele faz o "arroz com feijão", bem feito, mas sem nenhuma novidade estética ou conceitual - não dá para comparar com o trabalho que Sam Hargrave fez no "Resgate".

O roteiro acaba sendo o ponto fraco do filme. Não que seja ruim, vou reforçar, mas não se aprofunda em nada: na relação do protagonista com a mãe, no reflexo da tragédia familiar com a morte do pai e até na relação que André tem com sua "parceira" Frankie Burns (Sienna Miller). Entre os destaques do elenco não dá para deixar passar o ótimo trabalho de Chadwick Boseman - parece que o cara nasceu para ser herói de franquia e nesse filme ele é tão convincente que eu não vou me surpreender se tivermos outro filme. Stephan James (o Jesse Owens de "Raça") é um dos ladrões e sua performance está sensacional - ele fala com os olhos e essa qualidade, em um filme de ação, só coloca seu personagem em um outro patamar. Muita atenção para esse ator, com um personagem certo, ele pode ir bem longe! J.K. Simmons, lógico, sendo mais uma vez o próprio J.K. Simmons, com muita honra e talento!

Embora soe como uma certa crítica o enfoque na corrupção policial que o filme ensaia em fazer, tenho a impressão que essa escolha vem muito mais de uma referência narrativa dos filmes de ação dos anos 90 - justamente por isso que que encontramos um personagem completamente agarrado aos seus valores morais, muito (mas muito) reforçado em várias passagens do filme, mas que cria um vínculo fundamental com quem assiste - se Chadwick Boseman estivesse com a fantasia do Pantera Negra, já teríamos uma ótima continuação realizada (com o plus de vários efeitos especiais e explosões) e essas falhas do roteiro provavelmente nem estariam sendo discutidas, mas independente do figurino do protagonista, "Crime Sem Saída" entrega diversão, pode confiar!

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Cruella

A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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Esquema de Risco

Muito divertido!

Sim, você está prestes a dar um play em um filme muito divertido, dinâmico e envolvente - ao melhor estilo Guy Ritchie! Em "Esquema de Risco" você vai encontrar muita ação, alguns elementos de comédia, toques de conspiração e espionagem, e, claro, muitos tiros, pancadarias, explosões, perseguições. De fato temos tudo que um bom entretenimento-pipoca pede em uma trama: muitas reviravoltas, personagens dos mais carismáticos e diálogos cheios de sagacidade, ironia, inteligência... Enfim, esse é o tipo do filme que torcemos para ter um segundo capítulo! 

O espião Orson Fortune (Jason Statham) precisa rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia que está sendo realizada pelo bilionário Greg Simmonds (Hugh Grant). Junto com uma das melhores equipes de operações especiais do mundo, Fortune recruta o astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para ajudá-los a passar despercebidos na missão de salvar o mundo. Confira o trailer:

Poucos diretores dominam tão bem a gramática cinematográfica de filmes de ação como Guy Ritchie - e melhor, sempre impondo sua identidade, seu estilo. Em "Esquema de Risco - Operação Fortune", mais uma vez, sua direção é impecável. Ele conduz a narrativa com uma habilidade impressionante, trabalhando todos os elementos técnicos e artísticos para criar uma dinâmica muito particular. Veja, Ritchie usa uma edição rápida e estilizada para manter um ritmo tão acelerado que fica impossível tirar os olhos da tela - ele (ao lado do seu montador e parceiro de "Magnatas do Crime", James Herbert) combinam perfeitamente as cenas de ação com momentos de humor e drama, com muito equilíbrio, criatividade e fluidez. A trilha sonora mais enérgica do Christopher Benstead e a fotografia vibrante do Alan Stewart, ambos de "Magnatas" também, contribuem para criar uma atmosfera das mais empolgantes em um cenário, olha, de cair o queixo.

O elenco também brilha! Ritchie é mestre em reunir um grupo de atores experientes e carismáticos, incluindo alguns de seus colaboradores frequentes, como Jason Statham, Mark Strong e Hugh Grant. A química entre eles é visível - reparem como todos, sem exceção, funcionam perfeitamente em pró da narrativa, entregando performances divertidas e convincentes, elevando ainda mais a qualidade do roteiro escrito pelo próprio diretor, pelo Ivan Atkinson e pelo Marn Davies (os dois acompanharam Ritchie em pelo menos quatro de seus filmes). Aqui, é impossível não destacar o trabalho exagerado (propositalmente) de Hugh Grant que funciona como um eficaz alívio cômico quase que permanente e a ironia cheia de sensualidade da ótima Aubrey Plaza.

Embora "Esquema de Risco - Operação Fortune" possa ser um filme extremamente divertido, ele pode não agradar aqueles que não são tão fãs do estilo de Ritchie - de fato, em algumas momentos, a narrativa pode parecer confusa, devido às reviravoltas e à estrutura fragmentada da história (além de se apoiar em alguns estereótipos e convenções do gênero de ação e do subgênero de "filmes de assalto"). No entanto, para quem estiver disposto a encarar essa experiência, como em "O Infiltrado", eu garanto: o filme é uma diversão no ponto certo, tão despretensioso quanto inteligente - daqueles que tanto faz falta no mundo das grandes franquias de hoje!

Vale muito o seu play!

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Muito divertido!

Sim, você está prestes a dar um play em um filme muito divertido, dinâmico e envolvente - ao melhor estilo Guy Ritchie! Em "Esquema de Risco" você vai encontrar muita ação, alguns elementos de comédia, toques de conspiração e espionagem, e, claro, muitos tiros, pancadarias, explosões, perseguições. De fato temos tudo que um bom entretenimento-pipoca pede em uma trama: muitas reviravoltas, personagens dos mais carismáticos e diálogos cheios de sagacidade, ironia, inteligência... Enfim, esse é o tipo do filme que torcemos para ter um segundo capítulo! 

O espião Orson Fortune (Jason Statham) precisa rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia que está sendo realizada pelo bilionário Greg Simmonds (Hugh Grant). Junto com uma das melhores equipes de operações especiais do mundo, Fortune recruta o astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para ajudá-los a passar despercebidos na missão de salvar o mundo. Confira o trailer:

Poucos diretores dominam tão bem a gramática cinematográfica de filmes de ação como Guy Ritchie - e melhor, sempre impondo sua identidade, seu estilo. Em "Esquema de Risco - Operação Fortune", mais uma vez, sua direção é impecável. Ele conduz a narrativa com uma habilidade impressionante, trabalhando todos os elementos técnicos e artísticos para criar uma dinâmica muito particular. Veja, Ritchie usa uma edição rápida e estilizada para manter um ritmo tão acelerado que fica impossível tirar os olhos da tela - ele (ao lado do seu montador e parceiro de "Magnatas do Crime", James Herbert) combinam perfeitamente as cenas de ação com momentos de humor e drama, com muito equilíbrio, criatividade e fluidez. A trilha sonora mais enérgica do Christopher Benstead e a fotografia vibrante do Alan Stewart, ambos de "Magnatas" também, contribuem para criar uma atmosfera das mais empolgantes em um cenário, olha, de cair o queixo.

O elenco também brilha! Ritchie é mestre em reunir um grupo de atores experientes e carismáticos, incluindo alguns de seus colaboradores frequentes, como Jason Statham, Mark Strong e Hugh Grant. A química entre eles é visível - reparem como todos, sem exceção, funcionam perfeitamente em pró da narrativa, entregando performances divertidas e convincentes, elevando ainda mais a qualidade do roteiro escrito pelo próprio diretor, pelo Ivan Atkinson e pelo Marn Davies (os dois acompanharam Ritchie em pelo menos quatro de seus filmes). Aqui, é impossível não destacar o trabalho exagerado (propositalmente) de Hugh Grant que funciona como um eficaz alívio cômico quase que permanente e a ironia cheia de sensualidade da ótima Aubrey Plaza.

Embora "Esquema de Risco - Operação Fortune" possa ser um filme extremamente divertido, ele pode não agradar aqueles que não são tão fãs do estilo de Ritchie - de fato, em algumas momentos, a narrativa pode parecer confusa, devido às reviravoltas e à estrutura fragmentada da história (além de se apoiar em alguns estereótipos e convenções do gênero de ação e do subgênero de "filmes de assalto"). No entanto, para quem estiver disposto a encarar essa experiência, como em "O Infiltrado", eu garanto: o filme é uma diversão no ponto certo, tão despretensioso quanto inteligente - daqueles que tanto faz falta no mundo das grandes franquias de hoje!

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Exército de Ladrões

"Exército de Ladrões" é entretenimento puro, divertido e muito bem realizado! Dito isso, é preciso apontar, na minha concepção, seu único ponto fraco - a necessidade absurda do roteiro em ter que conectar o filme ao seu "produto principal", "Army of the Dead: Invasão em Las Vegas". Aliás, para quem não se lembra, "Exército de Ladrões" funciona como uma espécie de prequel do filme dirigido pelo Zack Snyder para a Netflix - sem ao menos precisar que ele existisse, mas com o intuito estratégico de expandir um universo e criar uma franquia promissora.

O filme, que se passa algum tempo antes de "Army of the Dead", acompanha Sebastian Schlencht-Wöhnert (Matthias Schweighöfer, antes de se tornar Ludwig Dieter), um pacato caixa de banco que trabalha na cidade de Munique. Sebastian acaba sendo atraído para a aventura de sua vida após uma jovem misteriosa, a experiente ladra Gwendoline (Nathalie Emmanuel), o recrutar para ser parte de uma equipe formada por alguns dos criminosos mais procurados da Interpol, com o claro objetivo de roubar uma sequência de cofres lendários por toda Europa - esses desenhados de forma ornamentada por um dos maiores artesãos do história e praticamente impossíveis de arrobar. Confira o trailer:

"Exército de Ladrões: Invasão da Europa" também funciona como uma história de origem do carismático personagem Ludwig Dieter. Por si só, essa conexão já seria suficiente para criar um laço emocional com tudo que viria a seguir, porém a forma escolhida pelo roteirista Shay Hatten mais atrapalha do que ajuda - o fato é que não precisava de tantas citações sobre uma pandemia zumbi nos EUA. Por outro lado, Matthias Schweingöfer (que aqui também assume a direção) foi muito inteligente em se afastar do estilo de Snyder e assim criar uma identidade para o prequel que impõe um certo ar de independência - ao lado do diretor de fotografia alemão Bernhard Jasper, eles optaram por uma linguagem mais clean, com um mood sofisticado, apoiado nos tons mais frios da Europa e do aço dos cofres que os protagonistas pretendem roubar.

Embora construído em uma base completamente fantasiosa, "Exército de Ladrões" trabalha seu conceito estético (e narrativo) para se aproximar muito mais de "La Casa de Papel",  "Onze Homens e um Segredo" e "Um Truque de Mestre" do que propriamente de "Army of the Dead". Essa escolha cria uma atmosfera perfeita para nos conectarmos com os personagens e torcermos por eles - na trama a expectativa de superar algo que parecia impossível é muito mais importante do que as cenas de ação em si. Claro que existe ação, mas a diversão parte da relação entre os personagens. Schweingöfer mostra uma genuína paixão pelo seu Ludwig Dieter, fortalecendo ainda mais os alívios cômicos com os quais ele já havia trabalhado no filme anterior e transformando definitivamente o personagem em um protagonista carismático e cheio de potencial para mais produtos.

"Exército de Ladrões: Invasão da Europa" explora a gênese de Dieter a partir de uma história que vai se completando com parte do material que já conhecíamos - e isso funciona muito bem. Existe um tom mais intimista ao propor o primeiro amor ao herói improvável e uma direção para a construção de um mito capaz de arrombar qualquer tipo de cofre? Sim - e isso funciona também.  Eu diria que dadas as devidas diferenças, muitos elementos que nos conquistaram em "Lupin", retorna por aqui - com a mesma proposta de suspensão da realidade, mas igualmente gostoso de assistir!

Vela o play!

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"Exército de Ladrões" é entretenimento puro, divertido e muito bem realizado! Dito isso, é preciso apontar, na minha concepção, seu único ponto fraco - a necessidade absurda do roteiro em ter que conectar o filme ao seu "produto principal", "Army of the Dead: Invasão em Las Vegas". Aliás, para quem não se lembra, "Exército de Ladrões" funciona como uma espécie de prequel do filme dirigido pelo Zack Snyder para a Netflix - sem ao menos precisar que ele existisse, mas com o intuito estratégico de expandir um universo e criar uma franquia promissora.

O filme, que se passa algum tempo antes de "Army of the Dead", acompanha Sebastian Schlencht-Wöhnert (Matthias Schweighöfer, antes de se tornar Ludwig Dieter), um pacato caixa de banco que trabalha na cidade de Munique. Sebastian acaba sendo atraído para a aventura de sua vida após uma jovem misteriosa, a experiente ladra Gwendoline (Nathalie Emmanuel), o recrutar para ser parte de uma equipe formada por alguns dos criminosos mais procurados da Interpol, com o claro objetivo de roubar uma sequência de cofres lendários por toda Europa - esses desenhados de forma ornamentada por um dos maiores artesãos do história e praticamente impossíveis de arrobar. Confira o trailer:

"Exército de Ladrões: Invasão da Europa" também funciona como uma história de origem do carismático personagem Ludwig Dieter. Por si só, essa conexão já seria suficiente para criar um laço emocional com tudo que viria a seguir, porém a forma escolhida pelo roteirista Shay Hatten mais atrapalha do que ajuda - o fato é que não precisava de tantas citações sobre uma pandemia zumbi nos EUA. Por outro lado, Matthias Schweingöfer (que aqui também assume a direção) foi muito inteligente em se afastar do estilo de Snyder e assim criar uma identidade para o prequel que impõe um certo ar de independência - ao lado do diretor de fotografia alemão Bernhard Jasper, eles optaram por uma linguagem mais clean, com um mood sofisticado, apoiado nos tons mais frios da Europa e do aço dos cofres que os protagonistas pretendem roubar.

Embora construído em uma base completamente fantasiosa, "Exército de Ladrões" trabalha seu conceito estético (e narrativo) para se aproximar muito mais de "La Casa de Papel",  "Onze Homens e um Segredo" e "Um Truque de Mestre" do que propriamente de "Army of the Dead". Essa escolha cria uma atmosfera perfeita para nos conectarmos com os personagens e torcermos por eles - na trama a expectativa de superar algo que parecia impossível é muito mais importante do que as cenas de ação em si. Claro que existe ação, mas a diversão parte da relação entre os personagens. Schweingöfer mostra uma genuína paixão pelo seu Ludwig Dieter, fortalecendo ainda mais os alívios cômicos com os quais ele já havia trabalhado no filme anterior e transformando definitivamente o personagem em um protagonista carismático e cheio de potencial para mais produtos.

"Exército de Ladrões: Invasão da Europa" explora a gênese de Dieter a partir de uma história que vai se completando com parte do material que já conhecíamos - e isso funciona muito bem. Existe um tom mais intimista ao propor o primeiro amor ao herói improvável e uma direção para a construção de um mito capaz de arrombar qualquer tipo de cofre? Sim - e isso funciona também.  Eu diria que dadas as devidas diferenças, muitos elementos que nos conquistaram em "Lupin", retorna por aqui - com a mesma proposta de suspensão da realidade, mas igualmente gostoso de assistir!

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Ida Red

Se você está em busca de um bom entretenimento sobre assaltos espetaculares em uma mistura de ação com algum drama, "Ida Red - O Preço da Liberdade" pode ser uma boa pedida - mas te adianto: não se trata de um filme inesquecível, pelo contrário, ele é despretensioso ao ponto de abdicar de pelo menos 30 minutos de história, onde as tramas, subtramas e soluções narrativas certamente seriam melhores desenvolvidas, para ganhar em dinâmica e alguma emoção. Isso faz do filme escrito e dirigido por John Swab (do mediano "One Day as a Lion") honesto em sua proposta, tanto que chegou a ser indicado ao  Locarno em 2021, mas é inegável que deixa um gostinho de que poderia ser melhor do que realmente é!

"Ida Red - O Preço da Liberdade", basicamente, acompanha a carreira da criminosa Ida ‘Red’ Walker (Melissa Leo), que luta contra uma doença terminal enquanto cumpre uma pena de 25 anos de prisão em Oklahoma. Sob a tutela de Ida, seu filho, Wyatt Walker (Josh Hartnett) sustenta os negócios da família ao lado de seu tio, Dallas Walker (Frank Grillo), até que um assalto dá errado e o detetive local e cunhado de Wyatt, Bodie Collier (George Carroll), se junta ao agente do FBI Lawrence Twilley (William Forsythe) para tentar rastrear os responsáveis pelo crime - e como é de se imaginar, eles já têm seus suspeitos. Confira o trailer: 

Embora o filme se apresente como uma montanha-russa emocional que mergulha nas complexidades das relações familiares e do dilema moral para definir o que é certo, o que é errado e em qual circunstâncias isso pode se misturar, "Ida Red" é mesmo um filme de ação. Certo disso, percebemos que durante os 120 minutos de história, assistimos Swab nos negar alguns eventos importantes da trama e isso faz com que todos aqueles conflitos soem mais superficiais do que eles poderiam ser. Ao recortar o grande arco dramático de uma família amplamente envolvida com o mundo do crime e nos apresentar apenas uma parte desse todo, o diretor assume o risco de que sua audiência não se importe realmente com aqueles personagens - isso me pareceu acontecer, por outro lado não impacta no que ele prioriza como fio condutor.

A direção de John Swab respeita suas próprias escolhas conceituais e sua abordagem habilidosa dessa gramática de gênero ao criar uma atmosfera mais sombria do que tensa, especialmente no prólogo e no final do terceiro ato, onde a ação propriamente dita, nos conduz entre os dramas mais existenciais dos personagens. Essa proposta acaba deixando para o elenco todo ônus da falta de tempo de tela - Melissa Leo talvez seja o maior exemplo disso. Ela oferece uma atuação de tirar o fôlego quando é demandada, incorporando uma Ida Red com presença magnética, mas pouco aproveitada. Josh Hartnett e Frank Grillo, esses sim oferecem performances convincentes sem tanta pressa - a química entre eles é palpável, o que adiciona uma camada extra de autenticidade à história, mas infelizmente, mesmo assim, falta aquela conexão.

A fotografia do Matt Clegg (de "What Doesn't Float") é primorosa ao equilibrar o drama mais íntimo com seus planos fechados e quase sempre estáticos, com a ação mais dinâmica das lentes mais abertas e uma câmera mais nervosa. A escolha de locações e a trilha sonora se combinam com essa dualidade da fotografia para criar um ambiente mais imersivo que faz com que a audiência se sinta parte daquele submundo - uma pena que essas sensações sejam tão esporádicas devido aos gaps do roteiro. Em resumo, "Ida Red - O Preço da Liberdade" diverte mais do que nos impacta, mesmo quando escolhe questionar o real valor da família como instituição inabalável em meio aquele cenário imoral de crimes e redenção. Uma pena que não tenha tido o tempo necessário para unificar esses dois elementos dramáticos, que estão lá, mas que acabaram funcionando mais sozinhos do que juntos.

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Se você está em busca de um bom entretenimento sobre assaltos espetaculares em uma mistura de ação com algum drama, "Ida Red - O Preço da Liberdade" pode ser uma boa pedida - mas te adianto: não se trata de um filme inesquecível, pelo contrário, ele é despretensioso ao ponto de abdicar de pelo menos 30 minutos de história, onde as tramas, subtramas e soluções narrativas certamente seriam melhores desenvolvidas, para ganhar em dinâmica e alguma emoção. Isso faz do filme escrito e dirigido por John Swab (do mediano "One Day as a Lion") honesto em sua proposta, tanto que chegou a ser indicado ao  Locarno em 2021, mas é inegável que deixa um gostinho de que poderia ser melhor do que realmente é!

"Ida Red - O Preço da Liberdade", basicamente, acompanha a carreira da criminosa Ida ‘Red’ Walker (Melissa Leo), que luta contra uma doença terminal enquanto cumpre uma pena de 25 anos de prisão em Oklahoma. Sob a tutela de Ida, seu filho, Wyatt Walker (Josh Hartnett) sustenta os negócios da família ao lado de seu tio, Dallas Walker (Frank Grillo), até que um assalto dá errado e o detetive local e cunhado de Wyatt, Bodie Collier (George Carroll), se junta ao agente do FBI Lawrence Twilley (William Forsythe) para tentar rastrear os responsáveis pelo crime - e como é de se imaginar, eles já têm seus suspeitos. Confira o trailer: 

Embora o filme se apresente como uma montanha-russa emocional que mergulha nas complexidades das relações familiares e do dilema moral para definir o que é certo, o que é errado e em qual circunstâncias isso pode se misturar, "Ida Red" é mesmo um filme de ação. Certo disso, percebemos que durante os 120 minutos de história, assistimos Swab nos negar alguns eventos importantes da trama e isso faz com que todos aqueles conflitos soem mais superficiais do que eles poderiam ser. Ao recortar o grande arco dramático de uma família amplamente envolvida com o mundo do crime e nos apresentar apenas uma parte desse todo, o diretor assume o risco de que sua audiência não se importe realmente com aqueles personagens - isso me pareceu acontecer, por outro lado não impacta no que ele prioriza como fio condutor.

A direção de John Swab respeita suas próprias escolhas conceituais e sua abordagem habilidosa dessa gramática de gênero ao criar uma atmosfera mais sombria do que tensa, especialmente no prólogo e no final do terceiro ato, onde a ação propriamente dita, nos conduz entre os dramas mais existenciais dos personagens. Essa proposta acaba deixando para o elenco todo ônus da falta de tempo de tela - Melissa Leo talvez seja o maior exemplo disso. Ela oferece uma atuação de tirar o fôlego quando é demandada, incorporando uma Ida Red com presença magnética, mas pouco aproveitada. Josh Hartnett e Frank Grillo, esses sim oferecem performances convincentes sem tanta pressa - a química entre eles é palpável, o que adiciona uma camada extra de autenticidade à história, mas infelizmente, mesmo assim, falta aquela conexão.

A fotografia do Matt Clegg (de "What Doesn't Float") é primorosa ao equilibrar o drama mais íntimo com seus planos fechados e quase sempre estáticos, com a ação mais dinâmica das lentes mais abertas e uma câmera mais nervosa. A escolha de locações e a trilha sonora se combinam com essa dualidade da fotografia para criar um ambiente mais imersivo que faz com que a audiência se sinta parte daquele submundo - uma pena que essas sensações sejam tão esporádicas devido aos gaps do roteiro. Em resumo, "Ida Red - O Preço da Liberdade" diverte mais do que nos impacta, mesmo quando escolhe questionar o real valor da família como instituição inabalável em meio aquele cenário imoral de crimes e redenção. Uma pena que não tenha tido o tempo necessário para unificar esses dois elementos dramáticos, que estão lá, mas que acabaram funcionando mais sozinhos do que juntos.

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La Casa de Papel

"La Casa de Papel" é uma série espanhola criada por Álex Pina que se tornou um fenômeno global meio que por acaso, conquistando milhões de fãs em todo o mundo e fazendo com que a plataforma que só tinha o direito de distribuição da primeira temporada investisse em mais alguns anos - que cá entre nós, se mostrou uma das decisões mais acertadas de empresa em muitos anos. A produção, que estreou na Netflix em 2017, tem todos os elementos que nos conquista, mas a relação da audiência com seus personagens, de fato, coloca o título em um outro patamar - os personagens são carismáticos e bem desenvolvidos, desde seu líder brilhante, mas também complexo e cheio de segredos, como todos os outros assaltantes também são interessantes, com suas próprias histórias e motivações. 

Para quem não sabe, a série acompanha a história de um grupo de assaltantes liderados por um misterioso homem conhecido como "O Professor" (Álvaro Morte), cujo objetivo é realizar o maior assalto da história, roubando 2,4 bilhões de euros da Casa da Moeda Real da Espanha. Veja, embora não seja uma grande novidade (com cenas que já vimos em outros filmes), a forma como a trama é narrada é muito interessante, eu diria que é daquelas séries que surpreendem já no primeiro episódio e nos prendem até o final - e realmente temos um final. Confira o trailer:

"La Casa de Papel" segue uma linha narrativa bem parecida com alguns filmes da Espanha que fizeram muito sucesso na temporada 2017 - um drama (quase non-sense de absurdo) cheio de alívios cômicos inteligentes, muito contraste visual, extremamente bem produzido, com bons atores (atenção para o Pedro Alonso que interpreta o "Berlin") e um roteiro realmente bem construído - mesmo que exija certa suspensão da realidade para embarcar nas soluções "malucas" do Professor!

Um dos elementos que mais chamam a atenção em "La Casa de Papel" é a sua estética. A série é filmada com uma paleta de cores fortes e vibrantes, que criam uma atmosfera envolvente e cheia de energia. A direção também é muito dinâmica, com cenas de ação que são filmadas de forma primorosa - empolgante na sua essência. Outro ponto forte, e que alinha todos eles elementos visuais e narrativos, é sua trilha sonora. A música é usada de forma inteligente para potencializar a atmosfera certa em cada momento - as músicas clássicas, como "Bella Ciao", são criam um senso de nostalgia e emoção, enquanto as músicas eletrônicas são usadas para pontuar a tensão e o suspense.

O que dizer de Úrsula Corberó (Tóquio), Jaime Lorente (Denver), Miguel Herrán (Rio) e Esther Acebo (Estocolmo)? Como pontuei na introdução: a cereja do bolo de uma uma série imperdível que conquista o público de todas as idades com a alma - mesmo que fantasiada por uma dinâmica eletrizante, uma produção impecável e uma estética vibrante de cair o queixo. Se as últimas temporadas perdem o elemento "novidade", saiba que até lá já estamos apaixonados ao ponto de nem ligar para caminho que a trama seguiu, só queremos que aquela aventura nunca acabe mesmo!

Vale muito a pena!

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"La Casa de Papel" é uma série espanhola criada por Álex Pina que se tornou um fenômeno global meio que por acaso, conquistando milhões de fãs em todo o mundo e fazendo com que a plataforma que só tinha o direito de distribuição da primeira temporada investisse em mais alguns anos - que cá entre nós, se mostrou uma das decisões mais acertadas de empresa em muitos anos. A produção, que estreou na Netflix em 2017, tem todos os elementos que nos conquista, mas a relação da audiência com seus personagens, de fato, coloca o título em um outro patamar - os personagens são carismáticos e bem desenvolvidos, desde seu líder brilhante, mas também complexo e cheio de segredos, como todos os outros assaltantes também são interessantes, com suas próprias histórias e motivações. 

Para quem não sabe, a série acompanha a história de um grupo de assaltantes liderados por um misterioso homem conhecido como "O Professor" (Álvaro Morte), cujo objetivo é realizar o maior assalto da história, roubando 2,4 bilhões de euros da Casa da Moeda Real da Espanha. Veja, embora não seja uma grande novidade (com cenas que já vimos em outros filmes), a forma como a trama é narrada é muito interessante, eu diria que é daquelas séries que surpreendem já no primeiro episódio e nos prendem até o final - e realmente temos um final. Confira o trailer:

"La Casa de Papel" segue uma linha narrativa bem parecida com alguns filmes da Espanha que fizeram muito sucesso na temporada 2017 - um drama (quase non-sense de absurdo) cheio de alívios cômicos inteligentes, muito contraste visual, extremamente bem produzido, com bons atores (atenção para o Pedro Alonso que interpreta o "Berlin") e um roteiro realmente bem construído - mesmo que exija certa suspensão da realidade para embarcar nas soluções "malucas" do Professor!

Um dos elementos que mais chamam a atenção em "La Casa de Papel" é a sua estética. A série é filmada com uma paleta de cores fortes e vibrantes, que criam uma atmosfera envolvente e cheia de energia. A direção também é muito dinâmica, com cenas de ação que são filmadas de forma primorosa - empolgante na sua essência. Outro ponto forte, e que alinha todos eles elementos visuais e narrativos, é sua trilha sonora. A música é usada de forma inteligente para potencializar a atmosfera certa em cada momento - as músicas clássicas, como "Bella Ciao", são criam um senso de nostalgia e emoção, enquanto as músicas eletrônicas são usadas para pontuar a tensão e o suspense.

O que dizer de Úrsula Corberó (Tóquio), Jaime Lorente (Denver), Miguel Herrán (Rio) e Esther Acebo (Estocolmo)? Como pontuei na introdução: a cereja do bolo de uma uma série imperdível que conquista o público de todas as idades com a alma - mesmo que fantasiada por uma dinâmica eletrizante, uma produção impecável e uma estética vibrante de cair o queixo. Se as últimas temporadas perdem o elemento "novidade", saiba que até lá já estamos apaixonados ao ponto de nem ligar para caminho que a trama seguiu, só queremos que aquela aventura nunca acabe mesmo!

Vale muito a pena!

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Lift: Roubo nas Alturas

Divertido como um "filme de assalto" deve ser - mas, sim, será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na proposta narrativa do diretor F. Gary Gray (de "Código de Conduta") e do roteirista Daniel Kunka (de "12 rounds"). "Lift: Roubo nas Alturas" é entretenimento puro, uma mistura de ação com ótimos toques de comédia que realmente prende a atenção da audiência do início ao fim pela forma despretensiosa com que conduz sua narrativa. Essa produção original da Netflixsegue a fórmula mirabolante do roubo improvável com uma equipe de ladrões, com diferentes habilidades, que se reune para realizar o maior golpe de suas vidas. Inovador? Longe disso, aliás é cheio de clichês, o que é ótimo para o gênero, no entanto aqui temos um ponto que triunfa, mesmo tendo essa premissa, digamos, batida: seu elenco, e a interação entre todos os atores, é excelente! 

A trama segue um grupo de criminosos internacionais liderado por Cyrus (Kevin Hart) que acabam de ser contratados por Abby (Gugu Mbatha-Raw), uma agente federal, para que cumpram uma missão ambiciosa: roubar meio bilhão de dólares em barras de ouro que estão sendo transportadas para uma célula terrorista. Para deixar tudo ainda mais insano, a carga está sendo transportada em um Boeing 777 que parte de Londres rumo a Zurique, e eles devem roubá-la em pleno vôo. Confira o trailer:

"Lift: Roubo nas Alturas" é "cinema pipoca", um prato cheio para quem gosta de filmes de ação e não quer pensar muito. Como obra ele até repete aquela atmosfera "La Casa de Papel" com um dinamismo que a própria série teve dificuldade de emplacar em sua primeira temporada. Se você reparar bem, aqui no filme, a sequência que mostra toda a preparação do golpe é menor, claro, mas tão divertida quanto da série espanhola. Enquanto o texto brinca com as diferentes possibilidades e soluções para que tudo dê certo na hora do roubo (e nunca dá), também temos  a oportunidade de ver o elenco de apoio ter seu momento - talvez sem o mesmo charme, mas igualmente simpáticos, eu diria. Olhando já pelo lado da ação, as sequências de perseguição são, de fato, bem realizadas - a do plot inicial, que acompanha o roubo no leilão, achei até melhor que a do plot principal (especialmente porque exige menos das composições em CGI - e algumas não estão 100% no filme). 

Olhando pela perspectiva do roteiro, é até fácil dizer que o filme não decepciona, que tem um bom senso de humor, com piadas que funcionam na maioria das vezes, de forma equilibrada e sem forçar muito a barra. O que pega, é a falta de originalidade ou até de coragem para propor algo menos previsível - é aqui que a química de todo o elenco segura o rojão. Kevin Hart está engraçado, irônico - parece que está se divertindo em cena (o que mostra sua capacidade como um comediante que amadurece como ator). Hart tem ótimas sacadas com Gugu Mbatha-Raw - que chega até aqui depois de uma ótima jornada em "The Morning Show". Tenho certeza que ainda vamos ver ótimos e mais profundos trabalhos desses dois atores.

A direção de F. Gary Gray é segura e competente - ele sabe como criar cenas de ação e como equilibrar drama e humor. Ele brinca com a câmera, é coerente na forma como conta a história, mas acho que seu principal valor está em saber os limites da produção, do roteiro e do orçamento. Dentro dos limites, tudo é bacana! Sabe aquele filme que a gente reservava na quinta-feira para alugar no fim de semana, e quando devolvíamos na segunda achando divertido, até dávamos boas recomendações, só que nunca mais pensávamos nele? Pois é, "Lift: Roubo nas Alturas" é isso: uma ótima opção para quem está procurando um filme de ação mais descartável, no bom sentido, mais ou menos como foi aquele "O Fugitivo" de 1993.

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Divertido como um "filme de assalto" deve ser - mas, sim, será preciso uma boa dose de suspensão da realidade para embarcar na proposta narrativa do diretor F. Gary Gray (de "Código de Conduta") e do roteirista Daniel Kunka (de "12 rounds"). "Lift: Roubo nas Alturas" é entretenimento puro, uma mistura de ação com ótimos toques de comédia que realmente prende a atenção da audiência do início ao fim pela forma despretensiosa com que conduz sua narrativa. Essa produção original da Netflixsegue a fórmula mirabolante do roubo improvável com uma equipe de ladrões, com diferentes habilidades, que se reune para realizar o maior golpe de suas vidas. Inovador? Longe disso, aliás é cheio de clichês, o que é ótimo para o gênero, no entanto aqui temos um ponto que triunfa, mesmo tendo essa premissa, digamos, batida: seu elenco, e a interação entre todos os atores, é excelente! 

A trama segue um grupo de criminosos internacionais liderado por Cyrus (Kevin Hart) que acabam de ser contratados por Abby (Gugu Mbatha-Raw), uma agente federal, para que cumpram uma missão ambiciosa: roubar meio bilhão de dólares em barras de ouro que estão sendo transportadas para uma célula terrorista. Para deixar tudo ainda mais insano, a carga está sendo transportada em um Boeing 777 que parte de Londres rumo a Zurique, e eles devem roubá-la em pleno vôo. Confira o trailer:

"Lift: Roubo nas Alturas" é "cinema pipoca", um prato cheio para quem gosta de filmes de ação e não quer pensar muito. Como obra ele até repete aquela atmosfera "La Casa de Papel" com um dinamismo que a própria série teve dificuldade de emplacar em sua primeira temporada. Se você reparar bem, aqui no filme, a sequência que mostra toda a preparação do golpe é menor, claro, mas tão divertida quanto da série espanhola. Enquanto o texto brinca com as diferentes possibilidades e soluções para que tudo dê certo na hora do roubo (e nunca dá), também temos  a oportunidade de ver o elenco de apoio ter seu momento - talvez sem o mesmo charme, mas igualmente simpáticos, eu diria. Olhando já pelo lado da ação, as sequências de perseguição são, de fato, bem realizadas - a do plot inicial, que acompanha o roubo no leilão, achei até melhor que a do plot principal (especialmente porque exige menos das composições em CGI - e algumas não estão 100% no filme). 

Olhando pela perspectiva do roteiro, é até fácil dizer que o filme não decepciona, que tem um bom senso de humor, com piadas que funcionam na maioria das vezes, de forma equilibrada e sem forçar muito a barra. O que pega, é a falta de originalidade ou até de coragem para propor algo menos previsível - é aqui que a química de todo o elenco segura o rojão. Kevin Hart está engraçado, irônico - parece que está se divertindo em cena (o que mostra sua capacidade como um comediante que amadurece como ator). Hart tem ótimas sacadas com Gugu Mbatha-Raw - que chega até aqui depois de uma ótima jornada em "The Morning Show". Tenho certeza que ainda vamos ver ótimos e mais profundos trabalhos desses dois atores.

A direção de F. Gary Gray é segura e competente - ele sabe como criar cenas de ação e como equilibrar drama e humor. Ele brinca com a câmera, é coerente na forma como conta a história, mas acho que seu principal valor está em saber os limites da produção, do roteiro e do orçamento. Dentro dos limites, tudo é bacana! Sabe aquele filme que a gente reservava na quinta-feira para alugar no fim de semana, e quando devolvíamos na segunda achando divertido, até dávamos boas recomendações, só que nunca mais pensávamos nele? Pois é, "Lift: Roubo nas Alturas" é isso: uma ótima opção para quem está procurando um filme de ação mais descartável, no bom sentido, mais ou menos como foi aquele "O Fugitivo" de 1993.

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Lupin

"Lupin" chega na Netflix para cobrir o gap deixado por "La Casa de Papel" e, de fato, deve conseguir. Essa série francesa é bem divertida e rápida - já que vem com apenas 5 episódios de 40 minutos, seguindo a mesma estratégia da sua antecessora espanhola, de dividir uma temporada em "partes". Só para contextualizar, é preciso pontuar a importância do famoso personagem literário, criado porMaurice Leblanc, Arsène Lupin - ele é uma espécie de Sherlock Holmes francês as avessas, um ladrão sofisticado e esperto, especialmente habilidoso na arte dos disfarces.

Pois bem, na série, acompanhamos Assane Diop (Omar Sy), um imigrante senegalês que, na adolescência, viu seu pai ser incriminado (injustamente) pelo roubo de um colar valioso pela poderosa família endinheirada e mesquinha de quem era motorista particular. Antes de ser mandado para a prisão, porém, Diop deixou um último presente para o filho: um romance de Arsène Lupin. Respeitando a obra como o último vínculo afetivo com seu pai, Assane transforma as histórias de Lupin em inspiração para elaborar sua vingança contra os responsáveis por sujar a honra de sua família. Confira o trailer: 

Um elemento narrativo que me chamou a atenção e que tem que ser destacado é que "Lupin" não tem a menor preocupação em criar explicações "técnicas" para justificar as ações do protagonista como fazia, mesmo que fantasiosamente, o roteiro de "La Casa de Papel"; ou seja, não se preocupe com a veracidade, embarque na fantasia, porque a série propositalmente manipula o misticismo em torno do legado original de Lupin, transformando a história de Assane em uma homenagem ao clássico personagem.

Antes de finalizar vale o registro: Omar Sy esbanja carisma e acrescenta uma dose de malícia ao personagem que fica difícil não torcer para o sucesso dos seus crimes. Golaço na escolha do protagonista dessa produção de extrema qualidade visual, com uma fotografia que "abusa" de uma Paris cinematográfica e que tem um roteiro fácil e dinâmico! Vale muito a pena pelo entretenimento puro e pela diversão sem compromisso!

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"Lupin" chega na Netflix para cobrir o gap deixado por "La Casa de Papel" e, de fato, deve conseguir. Essa série francesa é bem divertida e rápida - já que vem com apenas 5 episódios de 40 minutos, seguindo a mesma estratégia da sua antecessora espanhola, de dividir uma temporada em "partes". Só para contextualizar, é preciso pontuar a importância do famoso personagem literário, criado porMaurice Leblanc, Arsène Lupin - ele é uma espécie de Sherlock Holmes francês as avessas, um ladrão sofisticado e esperto, especialmente habilidoso na arte dos disfarces.

Pois bem, na série, acompanhamos Assane Diop (Omar Sy), um imigrante senegalês que, na adolescência, viu seu pai ser incriminado (injustamente) pelo roubo de um colar valioso pela poderosa família endinheirada e mesquinha de quem era motorista particular. Antes de ser mandado para a prisão, porém, Diop deixou um último presente para o filho: um romance de Arsène Lupin. Respeitando a obra como o último vínculo afetivo com seu pai, Assane transforma as histórias de Lupin em inspiração para elaborar sua vingança contra os responsáveis por sujar a honra de sua família. Confira o trailer: 

Um elemento narrativo que me chamou a atenção e que tem que ser destacado é que "Lupin" não tem a menor preocupação em criar explicações "técnicas" para justificar as ações do protagonista como fazia, mesmo que fantasiosamente, o roteiro de "La Casa de Papel"; ou seja, não se preocupe com a veracidade, embarque na fantasia, porque a série propositalmente manipula o misticismo em torno do legado original de Lupin, transformando a história de Assane em uma homenagem ao clássico personagem.

Antes de finalizar vale o registro: Omar Sy esbanja carisma e acrescenta uma dose de malícia ao personagem que fica difícil não torcer para o sucesso dos seus crimes. Golaço na escolha do protagonista dessa produção de extrema qualidade visual, com uma fotografia que "abusa" de uma Paris cinematográfica e que tem um roteiro fácil e dinâmico! Vale muito a pena pelo entretenimento puro e pela diversão sem compromisso!

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Nem um Passo em Falso

"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.

A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:

É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.

Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história. 

Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!

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"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.

A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:

É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.

Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história. 

Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!

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O Cheiro do Ouro

Na linha de "Como Vender Drogas Online (Rápido)" e "Clark", para citar só dois exemplos de produções divertidas sobre "até onde a ganância pode nos levar", "O Cheiro do Ouro" chega com seu humor ácido, personagens cativantes e uma trama envolvente que te prende do início ao fim - eu diria que estamos diante de um ótimo entretenimento e só. Dirigido pelo estreante Jérémie Rozan e diferente das referências citadas, o filme não é baseado em uma história real, embora aborde com muita ironia questões relevantes sobre riqueza geracional e desigualdade social, especialmente em cidades pequenas onde o "sobrenome" vale mais do que tudo. A empresa fictícia Breuil & Sons é apresentada como um símbolo universalmente reconhecível de riqueza e poder, independentemente da sua origem ou das dificuldades que seu fundador passou (não é essa a pauta), justamente por isso que a relação entre "mocinho" e "bandido", "certo" ou "errado", movimenta a trama e inevitavelmente nos conecta com o personagem transgressor - ao ponto de torcermos pelo seu sucesso "custe o que custar". 

Daniel Sauveur (Raphaël Quenard) é um rapaz comum que trabalha em uma empresa de logística de perfumes de luxo, cercado por aromas inebriantes e preços exorbitantes. Cansado de sua vida medíocre e da exploração dos "Breuil", seus patrões, ele bola um plano audacioso: desviar perfumes caros para vender no mercado negro bem mais barato. Confira o trailer (em francês):

Mesmo fantasiada de um entretenimento despretensioso e divertido, "O Cheiro do Ouro" realmente constrói um universo bastante particular que nos remete muito ao estilo que Vince Gilligan adora imprimir em seus projetos: personagens cheios de camadas, diálogos afiados e aquela critica desconfortável sobre moralidade, narrado por quem tem os seus motivos para agir daquela forma. A direção de Rozan mostra que sabe bem disso e se apoia nessa premissa para, com uma tocada precisa e criativa, transformar uma história simples em algo dinâmico e apaixonante. Veja, ao levantar discussões sobre o papel dos negócios familiares em uma economia local sem outras oportunidades, o diretor mais uma vez brinca com a percepção (quase sempre fantasiosa) de que uma administração familiar só cria uma geração de “ricos preguiçosos” que dependem apenas da herança e de quem trabalha duro para eles para ganhar ainda mais dinheiro.

Dito isso, não espere uma trama que vai te arrancar gargalhadas, mas com certeza ela irá te fazer pensar sobre a razão daquilo tudo não ser uma série que justificaria explorar mais a fundo cada um daqueles personagens - seria incrível e com muito potencial. Ao nos convidar a refletir sobre temas como desigualdade social, ganância e o sonho de uma vida melhor, a jornada de Daniel nos leva a questionar os valores da sociedade moderna e como a busca por meios, digamos, "alternativos", nem parece tão ruim assim. Raphaël Quenard entrega uma performance interessante, imprimindo aquele carisma do jovem cheio de sonhos e disposto a tudo para ter uma vida mais digna - sim, o protagonista tem aquela sagacidade que adoramos acompanhar, mas sem esquecer do toque de melancolia de quem vive na linha tênue entre o sucesso e o fracasso. Essa ganância angustiante está lá e dita o ritmo da trama.

"O Cheiro do Ouro" é um filme que diverte pela sua simplicidade - nada soa rebuscado e é essa a proposta de Rozan que também escreveu o roteiro - sim, esse é mais um exemplo do "jeito Breaking Bad" de subverter os padrões morais da narrativa em pró do bom entretenimento. Funciona!

Vale o seu play!

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Na linha de "Como Vender Drogas Online (Rápido)" e "Clark", para citar só dois exemplos de produções divertidas sobre "até onde a ganância pode nos levar", "O Cheiro do Ouro" chega com seu humor ácido, personagens cativantes e uma trama envolvente que te prende do início ao fim - eu diria que estamos diante de um ótimo entretenimento e só. Dirigido pelo estreante Jérémie Rozan e diferente das referências citadas, o filme não é baseado em uma história real, embora aborde com muita ironia questões relevantes sobre riqueza geracional e desigualdade social, especialmente em cidades pequenas onde o "sobrenome" vale mais do que tudo. A empresa fictícia Breuil & Sons é apresentada como um símbolo universalmente reconhecível de riqueza e poder, independentemente da sua origem ou das dificuldades que seu fundador passou (não é essa a pauta), justamente por isso que a relação entre "mocinho" e "bandido", "certo" ou "errado", movimenta a trama e inevitavelmente nos conecta com o personagem transgressor - ao ponto de torcermos pelo seu sucesso "custe o que custar". 

Daniel Sauveur (Raphaël Quenard) é um rapaz comum que trabalha em uma empresa de logística de perfumes de luxo, cercado por aromas inebriantes e preços exorbitantes. Cansado de sua vida medíocre e da exploração dos "Breuil", seus patrões, ele bola um plano audacioso: desviar perfumes caros para vender no mercado negro bem mais barato. Confira o trailer (em francês):

Mesmo fantasiada de um entretenimento despretensioso e divertido, "O Cheiro do Ouro" realmente constrói um universo bastante particular que nos remete muito ao estilo que Vince Gilligan adora imprimir em seus projetos: personagens cheios de camadas, diálogos afiados e aquela critica desconfortável sobre moralidade, narrado por quem tem os seus motivos para agir daquela forma. A direção de Rozan mostra que sabe bem disso e se apoia nessa premissa para, com uma tocada precisa e criativa, transformar uma história simples em algo dinâmico e apaixonante. Veja, ao levantar discussões sobre o papel dos negócios familiares em uma economia local sem outras oportunidades, o diretor mais uma vez brinca com a percepção (quase sempre fantasiosa) de que uma administração familiar só cria uma geração de “ricos preguiçosos” que dependem apenas da herança e de quem trabalha duro para eles para ganhar ainda mais dinheiro.

Dito isso, não espere uma trama que vai te arrancar gargalhadas, mas com certeza ela irá te fazer pensar sobre a razão daquilo tudo não ser uma série que justificaria explorar mais a fundo cada um daqueles personagens - seria incrível e com muito potencial. Ao nos convidar a refletir sobre temas como desigualdade social, ganância e o sonho de uma vida melhor, a jornada de Daniel nos leva a questionar os valores da sociedade moderna e como a busca por meios, digamos, "alternativos", nem parece tão ruim assim. Raphaël Quenard entrega uma performance interessante, imprimindo aquele carisma do jovem cheio de sonhos e disposto a tudo para ter uma vida mais digna - sim, o protagonista tem aquela sagacidade que adoramos acompanhar, mas sem esquecer do toque de melancolia de quem vive na linha tênue entre o sucesso e o fracasso. Essa ganância angustiante está lá e dita o ritmo da trama.

"O Cheiro do Ouro" é um filme que diverte pela sua simplicidade - nada soa rebuscado e é essa a proposta de Rozan que também escreveu o roteiro - sim, esse é mais um exemplo do "jeito Breaking Bad" de subverter os padrões morais da narrativa em pró do bom entretenimento. Funciona!

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O Símbolo Perdido

Se você gostou das adaptações para o cinema de "O Código Da Vinci" (2006), "Anjos & Demônios" (2011) e "Inferno" (2016), você nem precisa terminar de ler esse review, basta dar o play que sua diversão estará garantida por quase dez horas de história que estão divididas em 10 episódios! Para aqueles que ainda não se aventuraram pelas obras de Dan Brown, talvez a série "O Símbolo Perdido" seja um bom ponto de partida, já que os próprios produtores (e diretor) da trilogia cinematográfica, Ron Howard e Brian Grazer, quebraram a linha temporal do personagem eternizado por Tom Hanks, Robert Langdon, transformando o terceiro livro do autor em uma espécie de prequel, contando a mesma história, porém com Langdon em inicio de carreira.

Chamado por seu amigo e mentor, Peter Solomon (Eddie Izzard), para dar uma palestra em Washington, Robert Langdon (Ashley Zukerman) viaja até a capital americana, mas antes de entrar no palco para iniciar sua apresentação, descobre que tudo aquilo foi uma armação para obriga-lo a desvendar uma série de enigmas e assim iniciar uma busca por um antigo portal místico em meio a uma enorme conspiração que envolve políticos, pensadores históricos, perigosos assassinos, extremistas religiosos, a maçonaria e a própria CIA. Confira o trailer (em inglês):

Criada por Dan Dworkin ao lado de Jay Beattie e produzida originalmente para o Peacock, "O Símbolo Perdido" chegou ao Brasil pelo Globoplay com status de superprodução, porém o que seria uma série antológica acabou se transformando em uma minissérie (sim, a história tem um final) já que a NBCUniversal resolveu não dar continuidade ao projeto pelo seu alto custo e baixo retorno após a exibição do que seria a primeira temporada. O fato é que mesmo sendo apresentada como uma nova abordagem do trabalho de Dan Brown, Howard e Grazer replicaram muito da dinâmica visual e narrativa que fizeram com que os filmes funcionassem - talvez com menos intervenções gráficas e sem, obviamente, a maestria de Hanks.

É inegável que mesmo com uma atualização inteligente em sua forma, a minissérie sofra com o conteúdo datado em seu conceito narrativo - o sucesso arrebatador do estilo bem particular de escrita de Dan Brown, já com mais de vinte anos de "Anjos & Demônios", dificilmente se conecta com uma audiência acostumada com tramas menos expositivas. Por outro lado, o fã do autor sabe exatamente o que vai encontrar e gosta: entretenimento, aquela sensação de urgência a todo momento e o equilíbrio inteligente entre o místico, o cientifico e o religioso - tudo isso com uma boa dose de suspensão da realidade e uma certa boa vontade com todas aquelas reviravoltas sem muita lógica que ele propõe.

A minissérie tem o beneficio do tempo, fator que até justifica algumas criticas sobre os filmes, mas parece ter chegado às telas alguns anos atrasada. Por outro lado, ela se aproveita muito bem de uma fórmula que agrada uma audiência muito grande (basta lembrar do sucesso que foi "Lupin"na Netflix): a mistura dos gêneros policial e de ação, com um personagem marcante e muito atraente, como Robert Langdon (e seus parceiros de investigação), e ainda uma trama de muito mistério e misticismo - elementos que nos remetem ao Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch ou o Assane Diop de Omar Sy, com um toque romântico de Indiana Jones de Harrison Ford.

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Se você gostou das adaptações para o cinema de "O Código Da Vinci" (2006), "Anjos & Demônios" (2011) e "Inferno" (2016), você nem precisa terminar de ler esse review, basta dar o play que sua diversão estará garantida por quase dez horas de história que estão divididas em 10 episódios! Para aqueles que ainda não se aventuraram pelas obras de Dan Brown, talvez a série "O Símbolo Perdido" seja um bom ponto de partida, já que os próprios produtores (e diretor) da trilogia cinematográfica, Ron Howard e Brian Grazer, quebraram a linha temporal do personagem eternizado por Tom Hanks, Robert Langdon, transformando o terceiro livro do autor em uma espécie de prequel, contando a mesma história, porém com Langdon em inicio de carreira.

Chamado por seu amigo e mentor, Peter Solomon (Eddie Izzard), para dar uma palestra em Washington, Robert Langdon (Ashley Zukerman) viaja até a capital americana, mas antes de entrar no palco para iniciar sua apresentação, descobre que tudo aquilo foi uma armação para obriga-lo a desvendar uma série de enigmas e assim iniciar uma busca por um antigo portal místico em meio a uma enorme conspiração que envolve políticos, pensadores históricos, perigosos assassinos, extremistas religiosos, a maçonaria e a própria CIA. Confira o trailer (em inglês):

Criada por Dan Dworkin ao lado de Jay Beattie e produzida originalmente para o Peacock, "O Símbolo Perdido" chegou ao Brasil pelo Globoplay com status de superprodução, porém o que seria uma série antológica acabou se transformando em uma minissérie (sim, a história tem um final) já que a NBCUniversal resolveu não dar continuidade ao projeto pelo seu alto custo e baixo retorno após a exibição do que seria a primeira temporada. O fato é que mesmo sendo apresentada como uma nova abordagem do trabalho de Dan Brown, Howard e Grazer replicaram muito da dinâmica visual e narrativa que fizeram com que os filmes funcionassem - talvez com menos intervenções gráficas e sem, obviamente, a maestria de Hanks.

É inegável que mesmo com uma atualização inteligente em sua forma, a minissérie sofra com o conteúdo datado em seu conceito narrativo - o sucesso arrebatador do estilo bem particular de escrita de Dan Brown, já com mais de vinte anos de "Anjos & Demônios", dificilmente se conecta com uma audiência acostumada com tramas menos expositivas. Por outro lado, o fã do autor sabe exatamente o que vai encontrar e gosta: entretenimento, aquela sensação de urgência a todo momento e o equilíbrio inteligente entre o místico, o cientifico e o religioso - tudo isso com uma boa dose de suspensão da realidade e uma certa boa vontade com todas aquelas reviravoltas sem muita lógica que ele propõe.

A minissérie tem o beneficio do tempo, fator que até justifica algumas criticas sobre os filmes, mas parece ter chegado às telas alguns anos atrasada. Por outro lado, ela se aproveita muito bem de uma fórmula que agrada uma audiência muito grande (basta lembrar do sucesso que foi "Lupin"na Netflix): a mistura dos gêneros policial e de ação, com um personagem marcante e muito atraente, como Robert Langdon (e seus parceiros de investigação), e ainda uma trama de muito mistério e misticismo - elementos que nos remetem ao Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch ou o Assane Diop de Omar Sy, com um toque romântico de Indiana Jones de Harrison Ford.

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Roubos Inacreditáveis

"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.

O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):

Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.

Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos. 

Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"? 

Reflita sobre a resposta...rs.

Vale muito a pena! Mesmo!

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"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.

O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):

Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.

Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos. 

Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"? 

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Tenet

"Tenet" é mais um filmaço do diretor Christopher Nolan, nível de "A Origem" ("Inception" de 2010) e tão complicado quanto (ou mais, eu diria). Sem a menor dúvida, a experiência visual é tão esmagadora quanto o conceito narrativo, e a forma como Nolan conecta os pontos dentro de uma história muito interessante, dinâmica e inteligente é impressionante - isso só nos dá a exata noção do quão genial ele é!

Na história, um agente da CIA conhecido como "O Protagonista" (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo que teve acesso a uma tecnologia que lhe permite se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Confira o trailer:

Olha, é impossível não ficar imediatamente fascinado e fisgado pela dinâmica de "Tenet", mesmo com a dolorosa impressão de que não estamos entendendo muito bem o que está acontecendo de cara - a belíssima sequência de ação que mostra a invasão da ópera de Kiev, na Ucrânia, já nos dá um nó na cabeça. A grande questão porém, é que essa sensação de desconforto não melhora em nada durante as duas horas e meia do filme, mesmo sabendo onde estamos nos enfiando e estando bastante dispostos a tentar entender o fluxo do tempo pelos olhos de quem assiste e não pela imersão na jornada dos personagens. Sim, eu sei que pode parecer confuso e de fato é - ainda mais com repetidas quebras temporais que além de alterar completamente nossa percepção de continuidade, também nos provoca visualmente já que temos a curiosa sensação de poder prever o futuro segundos antes dele acontecer - e aqui cabe uma observação de quem já esteve em um set de filmagem: o que Nolan faz com a gramática cinematográfica para sentirmos isso, é de se aplaudir de pé!

Veja, se nos filmes anteriores Nolan investiu algum tempo (e muitos efeitos especiais) para estabelecer as regras daqueles universos que ele criou, em "Tenet" ele simplesmente nos joga dentro de um "buraco de minhoca" - sem a menor intenção de fazer algum trocadilho! Nolan quis chegar em outro nível de construção narrativa, como se ele mesmo se desafiasse a entregar algo complexo, mas auto-explicativo ao mesmo tempo. Se ele não se preocupou com a audiência ao não dar explicações expositivas, com certeza ele agiu minuciosamente para não nos deixar a impressão de que alguma ponta ficou solta - e isso é impressionante!

Por mais difícil que seja compreender 100% de "Tenet", a sensação de entretenimento é tão boa que nem nos preocupamos com os detalhes - Nolan faz isso por nós! Quando ele se propõe em juntar as peças e repetir os planos, usando enquadramentos que por alguma razão possam ter passados despercebidos - de um retrovisor quebrado sem motivo ou de uma mulher saltando de um iate em segundo plano; tudo se conecta tão organicamente que passar esse tempo todo em uma espécie de zona nebulosa do entendimento, não atrapalha em nada nossa experiência, pelo contrario, só vai somando ao que receberemos no final!

Vencedor do Oscar de Efeitos Visuais e indicado em apenas mais uma categoria (Desenho de Produção) em 2021, Nolan mostrou que está muito a frente do seu tempo e que nem mesmo a Academia foi capaz de entender seu trabalho mais autoral. Ele não ter sido indicado como Melhor Diretor e Melhor Roteiro é de uma injustiça poucas vezes vista. 

Agora um aviso: para aqueles que buscam uma jornada fácil, "Tenet" definitivamente não é para você. Mas se você está disposto a sair de uma zona de conforto intelectual e mergulhar em uma realidade complicada de assimilar e processar, dê o play e esteja preparado para lidar com um cérebro em frangalhos depois que o filme terminar, mas feliz pelo excelente entretenimento.

Vale muito a pena! Pela aula de cinema e pela experiência única!

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"Tenet" é mais um filmaço do diretor Christopher Nolan, nível de "A Origem" ("Inception" de 2010) e tão complicado quanto (ou mais, eu diria). Sem a menor dúvida, a experiência visual é tão esmagadora quanto o conceito narrativo, e a forma como Nolan conecta os pontos dentro de uma história muito interessante, dinâmica e inteligente é impressionante - isso só nos dá a exata noção do quão genial ele é!

Na história, um agente da CIA conhecido como "O Protagonista" (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo que teve acesso a uma tecnologia que lhe permite se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Confira o trailer:

Olha, é impossível não ficar imediatamente fascinado e fisgado pela dinâmica de "Tenet", mesmo com a dolorosa impressão de que não estamos entendendo muito bem o que está acontecendo de cara - a belíssima sequência de ação que mostra a invasão da ópera de Kiev, na Ucrânia, já nos dá um nó na cabeça. A grande questão porém, é que essa sensação de desconforto não melhora em nada durante as duas horas e meia do filme, mesmo sabendo onde estamos nos enfiando e estando bastante dispostos a tentar entender o fluxo do tempo pelos olhos de quem assiste e não pela imersão na jornada dos personagens. Sim, eu sei que pode parecer confuso e de fato é - ainda mais com repetidas quebras temporais que além de alterar completamente nossa percepção de continuidade, também nos provoca visualmente já que temos a curiosa sensação de poder prever o futuro segundos antes dele acontecer - e aqui cabe uma observação de quem já esteve em um set de filmagem: o que Nolan faz com a gramática cinematográfica para sentirmos isso, é de se aplaudir de pé!

Veja, se nos filmes anteriores Nolan investiu algum tempo (e muitos efeitos especiais) para estabelecer as regras daqueles universos que ele criou, em "Tenet" ele simplesmente nos joga dentro de um "buraco de minhoca" - sem a menor intenção de fazer algum trocadilho! Nolan quis chegar em outro nível de construção narrativa, como se ele mesmo se desafiasse a entregar algo complexo, mas auto-explicativo ao mesmo tempo. Se ele não se preocupou com a audiência ao não dar explicações expositivas, com certeza ele agiu minuciosamente para não nos deixar a impressão de que alguma ponta ficou solta - e isso é impressionante!

Por mais difícil que seja compreender 100% de "Tenet", a sensação de entretenimento é tão boa que nem nos preocupamos com os detalhes - Nolan faz isso por nós! Quando ele se propõe em juntar as peças e repetir os planos, usando enquadramentos que por alguma razão possam ter passados despercebidos - de um retrovisor quebrado sem motivo ou de uma mulher saltando de um iate em segundo plano; tudo se conecta tão organicamente que passar esse tempo todo em uma espécie de zona nebulosa do entendimento, não atrapalha em nada nossa experiência, pelo contrario, só vai somando ao que receberemos no final!

Vencedor do Oscar de Efeitos Visuais e indicado em apenas mais uma categoria (Desenho de Produção) em 2021, Nolan mostrou que está muito a frente do seu tempo e que nem mesmo a Academia foi capaz de entender seu trabalho mais autoral. Ele não ter sido indicado como Melhor Diretor e Melhor Roteiro é de uma injustiça poucas vezes vista. 

Agora um aviso: para aqueles que buscam uma jornada fácil, "Tenet" definitivamente não é para você. Mas se você está disposto a sair de uma zona de conforto intelectual e mergulhar em uma realidade complicada de assimilar e processar, dê o play e esteja preparado para lidar com um cérebro em frangalhos depois que o filme terminar, mas feliz pelo excelente entretenimento.

Vale muito a pena! Pela aula de cinema e pela experiência única!

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Victoria

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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White Lines

"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

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"White Lines" é a mais nova empreitada do criador de "La casa de papel". A primeira vista, a série parecia trazer fortes elementos de "Bloodline" (também da Netflix), se apoiando na tríade "drama familiar x paraíso turístico x investigação de um crime" De fato essa nova série do Alex Pina bebeu na fonte, mas sem a profundidade narrativa dos irmãos Kessler e de Daniel Zelman (criadores de "Bloodline"), e muito menos a elegância (nível HBO) do diretor Johan Renck - e aqui cabe um observação: "Bloodline" foi uma das maiores decepções da Netflix até hoje, com uma primeira temporada sensacional, a segunda mediana e a terceira beirando o constrangimento! Pois bem, voltando a "White Lines" de Pina, encontramos muito da sua marca - o que exige uma enorme abstração da realidade para que possamos nos divertir. Dessa vez, acompanhamos Zoe Walker (Laura Haddock) que, após vinte anos, tenta desvendar o motivo e o responsável pela morte do seu irmão mais velho, Axel (Tom Rhys Harries), um jovem DJ que saiu de Manchester, na Inglaterra, para se aventurar em Ibiza, na Espanha, após ser colocado para fora de casa pelo pai. Confira o trailer:

Pelo trailer temos a impressão de se tratar de uma história mais densa do que realmente ela é. A atmosfera adolescente lembra muito mais "Tidelands" do que a já comentada "Bloodline", porém com um roteiro melhor amarrado e se apoiando em personagens bem escritos. É verdade que Alex Pina sabe fazer muito bem isso e como em "La casa de papel", ele repete sua forma de contar histórias, usando a quebra da linha temporal para chamar nossa atenção e nos prender pela curiosidade (ao estilo "Breaking Bad") até nos entregar uma breve solução por episódio - com isso a temporada vai passando e nem nos damos conta! "White Lines" pode receber o selo de super-produção e de ótimo entretenimento, capaz de esconder o assassino de Axel até o último o episódio, o único "porém" é que o roteiro apresenta tantas possibilidades, que são tão mal exploradas, que nos cria uma sensação de superficialidade. Sabendo disso, vale pelo entretenimento!

Pina criou um universo gigantesco em "White Lines" e, na minha opinião, não soube explora-lo como deveria. Como em "La casa de papel", Pina usa a construção dos personagens para dar o peso das tramas e de muitas sub-tramas. O tom dramático da irmã inconformada com a morte do irmão, personificado na personagem de Zoe, se confunde excessivamente com o humor, quase pastelão, do personagem de Marcus (Daniel Mays), traficante, DJ e um dos melhores amigos de Axel. Essa transição entre drama e humor funciona na série, mas enfraquece a linha narrativa principal, já que Marcus "engole" Zoe em sua jornada - ele é tão mais carismático que em um determinado momento da temporada, já nem estava tão curioso para descobrir quem matou Axel, queria mesmo saber é como Marcus daria a volta por cima!

Outro exemplo cabe aos dois personagens que completam o entouragede Axel. Anna (Angela Griffin) nos é apresentada como uma organizadora de grande eventos sexuais (ou orgias, como preferir) em Ibiza, com grande influência em várias camadas da sociedade local - isso simplesmente desaparece depois do primeiro episódio, transformando sua personagem em uma coadjuvante sem muita importância em 70% da história, se limitando a ser a ex-mulher de Marcus. O quarto elemento, David (Laurence Fox) é a muleta non-sense de Pina (o Arturito de "La Casa") - todas as cenas de enrolação acontecem com David, uma espécie de líder espiritual e life coach. Além desse núcleo mais próximo de Axel, temos a versão "Romeu & Julieta" da série com a disputa entre as duas famílias mais poderosas de Ibiza: os Calafat e os Martinez. Tirando uma ou outra interação direta entre elas, os personagens Calafat, sem dúvida, são mais interessantes e importantes para a trama: nela temos o filho injustiçado pelo pai, Orio (Juan Diego Botto), principal suspeito de ter assassinato Axel, Kika (Marta Milans) ex-namorada de Axel (ops) e Conchita (Belén López), uma mãe que disputa os namorados com a filha e que super-protege o filho, viciada em sexo e adúltera confessa - sério, nada mais "novela mexicana"! Ah, esqueci do "todo poderoso" Andreu Calafat (Pedro Casablanc), mas esse personagem não mostrou a que veio nos dez episódios. Você acha que terminou? Não, ainda tem o segurança da família Calafat, o Big Boss da Boate e Bad Boy sensível, Boxer (Nuno Lopes) - outro personagem que resolve tudo, sai ileso sempre, mas vai perdendo força até praticamente sumir no final!

Pois bem, fiz questão de descrever rapidamente todos o personagens, até com uma certa ironia, para mostrar que Alex Pina transformou "White Lines" quase em uma novela. Todos se cruzam, claro, mas priorizam transitar por linhas completamente diferentes do que realmente interessa na série: "quem matou Axel?". Embora a própria Zoe tenha uma jornada de transformação ao deixar sua família na Inglaterra para enfrentar a "vida loca" de Ibiza, isso não se sustenta - a dinâmica de Pina não nos faz torcer por ela. Cada episódio praticamente se completa, deixando ganchos para o próximos, mas diminuindo a importância de tudo que já foi resolvido. As cenas de flashback servem para contextualizar e estabelecer um paralelo entre personagens nos anos 90, jovens, e a condição atual de cada um deles. Juntamente com o choque cultural entre ingleses e espanhóis (bem pontuado durante a temporada), esse "vai e vem" da história funciona muito bem para expôr a importância conceitual da narrativa e também serve de estratégia para nos manter entretidos sempre.

Resumindo: "White Lines" é um ótimo entretenimento, para quem gosta (ou está com saudades) de séries como "Revenge" - que exploram muito as características do ambiente onde a trama acontece, com personagens interessantes, mas que não precisam de um maior aprofundamento para fazer sentido na história e que carregam um certo mistério que aos poucos vão sendo desvendados. Vale pela diversão, pela beleza da fotografia e pela qualidade da produção!

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