"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.
Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:
Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".
Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin" está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).
Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas.
Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!
"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.
Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:
Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".
Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin" está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).
Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas.
Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!
"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.
A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):
"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.
A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.
Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.
Vale seu play!
"Passagem", de fato, não é um filme fácil! Sua narrativa, além de profunda e cheia de nuances emocionais, é cadenciada, reflexiva, provocativa até - algo como encontramos em "Nomadland", por exemplo. Dirigido pela talentosa Lila Neugebauer (de "Maid"), "Causeway" (no original) é um verdadeiro estudo sobre a solidão no sentido mais amplo da palavra - o roteiro se apoia na introspecção da dupla de protagonistas para discutir temas universais como os impactos dos traumas na vida das pessoas, como a resiliência pode ser a chave para uma segunda chance e, finalmente, como a amizade verdadeira pode mudar nossa perspectiva de mundo e nos dar um certo ar de esperança. Se a sinopse vai te apresentar a jornada de Lynsey como motivo para você dar o play, saiba que essa obra vai além, tecendo uma narrativa rica em detalhes que revelam a fragilidade e a força do ser humano sob vários pontos de vista.
A trama basicamente acompanha a história de Lynsey (Jennifer Lawrence) uma jovem militar que retorna para Nova Orleans e luta para se readaptar à vida civil após uma lesão traumática que sofreu no Afeganistão. Em meio à sua solidão e desespero, ela encontra em James (Brian Tyree Henry), um mecânico local, um inesperado refúgio e a chance de recomeçar. Confira o trailer (em inglês):
"Passagem" chama atenção pela profundidade de seu roteiro. Ao não se contentar em ser apenas mais uma história sobre os traumas de uma guerra, o filme acaba explorando de uma maneira muito sensível, as cicatrizes invisíveis que essa experiência deixa em seus soldados e como é árduo o processo de reconstrução da vida após um evento traumático. Sem passagens impactantes visualmente ou flashbacks que poderiam facilitar o caminho e dar uma ideia palpável do que é o horror de uma guerra, Neugebauer assume uma proposta narrativa menos expositiva nos convidando a refletir sobre a importância da conexão humana, do amor e da amizade como ferramenta de cura e redenção pela perspectiva da própria protagonista. Obviamente que essa escolha cobra o seu preço, sacrificando a dinâmica do primeiro ato e deixando para depois (e para quem tem um pouco mais de paciência) todas as conexões que vão se construindo entre Lynsey e James.
A direção de Neugebauer, nesse sentido, é impecável, pois ela arquiteta com muita inteligência todo um ambiente intimista e sensorial que nos joga na história sem pedir muita licença, ou seja, nada fica muito simples conforme vamos conhecendo os fantasmas do passado de cada um deles. Aliás, aqui a fotografia assinada por Diego García (de "Tokyo Vice"), ganha outro status como elemento narrativo - é impressionante como ele captura uma certa beleza da solidão e da melancolia colocando uma Nova Orleans cheia de contrastes como cenário sem perder o foco mais existencial dos personagens. A trilha sonora, composta por Alex Somers, é outro elemento fundamental para a construção dessa atmosfera, potencializando as emoções e intensificando o impacto das cenas quase sempre pontuando o silêncio e dando insumos para o incrível trabalho do elenco principal. Lawrence entrega uma performance visceral, transmitindo com maestria a dor e a angústia de Lynsey, enquanto Brian Tyree Henry exala carisma e magnetismo, mesmo quando destroçado emocionalmente. A química entre os dois atores é incrível e talvez o grande trunfo para a indicação de Tyree Henry ao Oscar de 2023.
Muito premiado em festivais por todo o globo, "Passagem" vai sim te tocar profundamente - mas te adianto que será preciso embarcar na proposta da diretora e no olhar menos usual de sua narrativa lenta para se conectar com a história. Saiba que mais do que um mero entretenimento, essa produção da A24 se apresenta como uma experiência de certa forma transformadora e que ficará marcada na sua memória, se não por uma trama impactante, pela atmosfera realista que Neugebauer foi capaz de imprimir ao preferir uma abordagem mais intimista, contemplativa e sensível de uma dor que teima em ser avassaladora: a dor da solidão, mesmo que acompanhada.
Vale seu play!
Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").
A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:
Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.
A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!
"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor.
Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.
Esse filme é simplesmente sensacional - e tenho certeza, vai mexer com seus sentimentos mais nostálgicos ao mesmo tempo que vai te fazer refletir sobre o que você se tornou perante seus amigos de longa data. Dirigido pelo talentoso diretor francêsLaurent Cantet (de "Entre os Muros da Escola"), "Retorno a Ítaca" é filme sobre as histórias mais íntimas entre um grupo de amigos que, até pela amizade, vivem se julgando e buscando no outro justificativas para as próprias frustrações - bem na linha de "Les Petits Mouchoirs" (ou "Pequenas Mentiras entre Amigos").
A história se passa durante uma única noite, basicamente, no terraço de uma casa em Havana, em Cuba, onde cinco grandes amigos se encontram para festejar o retorno de um deles, Amadeo (Néstor Jiménez), que mora na Espanha há 16 anos. Em meio a nostalgia dos bons tempos da juventude e de inúmeras histórias marcantes, com direito a inevitável constatação de que todos envelheceram, emergem algumas rusgas do passado e a busca por explicações passa tomar conta do que, até ali, era apenas uma deliciosa celebração. Confira o trailer:
Em “Odisseia” de Homero, Odisseu levou 10 anos para regressar à sua terra natal, Ítaca; e é com esse princípio que Cantet cria uma narrativa extremamente envolvente onde o principal atrativo são justamente os personagens - o que foi e retornou, e os que ficaram (desamparados!). Sim, o roteiro escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e o autor cubanoLeonardo Padura, é uma crítica pesada (mas honesta) ao que se tornou Cuba em duas décadas; mas sem a menor sombra de dúvidas é a forma como as histórias dos cinco personagens vão sendo apresentadas que transforma "Retorno a Ítaca" em um drama dos mais potentes, humanos e com um dos melhores elencos que já presenciei em um filme.
A fotografia do incrível Diego Dussuel, equilibra muito bem os planos fechados que expõem os mais profundos sentimentos dos personagens, com o planos mais abertos que mesclam a beleza de um cenário praiano paradisíaco aos prédios decadentes de Havana. A forma como Dussuel e Cantet constroem aquele retrato desolador e solitário e como ele impacta no mood dos personagens é uma aula de cinema - com técnica e com alma! Veja, se a população local enfrenta um crônico problema de falta de luz, os personagens repetem emocionalmente exatamente a mesma situação. Se os vizinhos parecem (apenas parecem) viver em uma grande festa, os personagens discutem e criticam justamente esse estilo de vida - eu diria que o encaixe entre esses dois elementos é um reflexo do que é Cuba nos dias atuais: um misto de sonho e desilusão, uma "selva" como define um dos personagens!
"Retorno a Ítaca" te tira completamente da zona de conforto e te provoca em muitos momentos - da discussão politica ideológica ao profundo mergulho nos arrependimentos de um ser humano que age por impulso ou por acreditar que está seguindo o melhor caminho. Mas esse caminho é melhor para todo mundo? Ao apresentar um panorama bastante revelador sobre o estado de espírito da população cubana e sua percepção do regime de Fidel Castro, o filme escancara uma jornada muito pessoal de nostalgia e dor.
Vale muito a pena, mas antes do play saiba que essa produção francesa, falada em espanhol, venceu nada menos que o Biarritz International Festival of Latin American Cinema, o Venice Film Festival e o prêmio dos críticos no São Paulo International Film Festival, todos em 2014.
Antes de continuarmos eu preciso te passar duas informações importantes: só assista "Saída à Francesa" se você gostar de filmes "estilo Woody Allen" e também saiba que esse filme não se trata de uma comédia romântica, muito pelo contrário, para mim, a história se encaixa muito mais como um drama de relações e, aí sim, com bons elementos de comédia - a famosa "dramédia". Dito isso, fica muito simples de analisar o conceito narrativo do filme dirigido pelo Azazel Jacobs (de "The Lovers") já que mesmo com escolhas narrativas que soam próximas do absurdo, é possível se divertir e ainda refletir sobre toda aquela atmosfera introspectiva que envolve a protagonistaFrances Price (uma Michelle Pfeiffer impagável - inclusive indicada ao Globo de Ouro por essa performance em 2021).
Frances (Michelle Pfeiffer) é uma socialite viúva e sem dinheiro que mora em Manhattan, cujo marido morreu há quase duas décadas. Com sua herança evaporando, ela recolhe o último de seus bens e resolve viver seus dias de solidão anonimamente em um apartamento emprestado em Paris, acompanhada por seu filho Malcolm (Lucas Hedge) e de um gato de estimação. Confira o trailer:
Baseado no livro homônimo de Patrick DeWitt (que também escreve o roteiro), "Saída à Francesa" é basicamente um estudo de caso psicológico de uma mulher marcada pelo seu passado que é incapaz de se relacionar com um presente completamente diferente do que ela jamais sonhou. Embora o filme possua uma narrativa bastante peculiar, com um ritmo até mais cadenciado, é impressionante como a trama usa do "insano" para nos envolver emocionalmente e nos mostrar que mesmo a partir de uma personagem essencialmente egoísta e inconsequente, existe um ser humano sensível que, infelizmente, não soube lidar com a melancolia e com a dor de ter priorizado a superficialidade do material para preencher seu vazio existencial.
Francis tem uma aura lunática, fato - que por sinal gera bons momentos como a cena em que um garçom francês demora para trazer a conta. Mas, na minha opinião, esse não é o ponto forte do filme e sim o gatilho para que possamos entender a profundidade do texto de DeWitt. Veja, aqui temos uma personagem imponente que costuma intimidar as pessoas sem precisar falar nada, sendo apenas imprevisível, que busca se relacionar com um filho que se anula de diversas formas para tentar se moldar a algo que agrade o ego inflado de sua mãe - mesmo que soe estereotipado em um primeiro olhar, essa construção tem um sentido verdadeiro, uma marca intensa, difícil de lidar e que quando desvendada, conecta vários pontos e faz tudo ganhar outro sentido. Isso sem falar na coragem de Jacobs e de DeWitt em entregar um final digno de um bom premiado drama independente ao som de uma trilha sonora belíssima e tendo Paris como cenário.
“Saída à Francesa” não vai agradar grande parte daquela audiência que vai cair na péssima estratégia de marketing da Sony - o filme não é nada daquilo que está sendo vendido: do nome engraçadinho ao tom comercial do trailer. O filme é sim uma obra das mais competentes, que sabe perfeitamente equilibrar a loucura aparente com a dor mais introspectiva de Francis sem soar clichê. Você vai encontrar ao longo da trama momentos engraçados, outros tocantes e até alguns poucos mais angustiantes - talvez seja assim o melhor caminho para definir a sanidade de uma personagem que pouco sabe sobre companheirismo, mas que ao entender o significado de ser adulto, aprende o que realmente importa na vida.
Vale o seu play!
Antes de continuarmos eu preciso te passar duas informações importantes: só assista "Saída à Francesa" se você gostar de filmes "estilo Woody Allen" e também saiba que esse filme não se trata de uma comédia romântica, muito pelo contrário, para mim, a história se encaixa muito mais como um drama de relações e, aí sim, com bons elementos de comédia - a famosa "dramédia". Dito isso, fica muito simples de analisar o conceito narrativo do filme dirigido pelo Azazel Jacobs (de "The Lovers") já que mesmo com escolhas narrativas que soam próximas do absurdo, é possível se divertir e ainda refletir sobre toda aquela atmosfera introspectiva que envolve a protagonistaFrances Price (uma Michelle Pfeiffer impagável - inclusive indicada ao Globo de Ouro por essa performance em 2021).
Frances (Michelle Pfeiffer) é uma socialite viúva e sem dinheiro que mora em Manhattan, cujo marido morreu há quase duas décadas. Com sua herança evaporando, ela recolhe o último de seus bens e resolve viver seus dias de solidão anonimamente em um apartamento emprestado em Paris, acompanhada por seu filho Malcolm (Lucas Hedge) e de um gato de estimação. Confira o trailer:
Baseado no livro homônimo de Patrick DeWitt (que também escreve o roteiro), "Saída à Francesa" é basicamente um estudo de caso psicológico de uma mulher marcada pelo seu passado que é incapaz de se relacionar com um presente completamente diferente do que ela jamais sonhou. Embora o filme possua uma narrativa bastante peculiar, com um ritmo até mais cadenciado, é impressionante como a trama usa do "insano" para nos envolver emocionalmente e nos mostrar que mesmo a partir de uma personagem essencialmente egoísta e inconsequente, existe um ser humano sensível que, infelizmente, não soube lidar com a melancolia e com a dor de ter priorizado a superficialidade do material para preencher seu vazio existencial.
Francis tem uma aura lunática, fato - que por sinal gera bons momentos como a cena em que um garçom francês demora para trazer a conta. Mas, na minha opinião, esse não é o ponto forte do filme e sim o gatilho para que possamos entender a profundidade do texto de DeWitt. Veja, aqui temos uma personagem imponente que costuma intimidar as pessoas sem precisar falar nada, sendo apenas imprevisível, que busca se relacionar com um filho que se anula de diversas formas para tentar se moldar a algo que agrade o ego inflado de sua mãe - mesmo que soe estereotipado em um primeiro olhar, essa construção tem um sentido verdadeiro, uma marca intensa, difícil de lidar e que quando desvendada, conecta vários pontos e faz tudo ganhar outro sentido. Isso sem falar na coragem de Jacobs e de DeWitt em entregar um final digno de um bom premiado drama independente ao som de uma trilha sonora belíssima e tendo Paris como cenário.
“Saída à Francesa” não vai agradar grande parte daquela audiência que vai cair na péssima estratégia de marketing da Sony - o filme não é nada daquilo que está sendo vendido: do nome engraçadinho ao tom comercial do trailer. O filme é sim uma obra das mais competentes, que sabe perfeitamente equilibrar a loucura aparente com a dor mais introspectiva de Francis sem soar clichê. Você vai encontrar ao longo da trama momentos engraçados, outros tocantes e até alguns poucos mais angustiantes - talvez seja assim o melhor caminho para definir a sanidade de uma personagem que pouco sabe sobre companheirismo, mas que ao entender o significado de ser adulto, aprende o que realmente importa na vida.
Vale o seu play!
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
Aclamado como um dos melhores filmes de 2004, "Sideways" (que no Brasil ganhouo sugestivo subtítulo e "Entre Umas e Outras") é uma verdadeira obra-prima do diretor Alexander Payne(de "Os Decendentes"). O roteiro (vencedor na categoria "Roteiro Adaptado" no Oscar de 2005) mergulha profundamente nas complexidades da vida adulta e de seus relacionamentos. Com uma equilíbrio perfeito entre a comédia, o drama e seus vários momentos de reflexão, o filme oferece uma experiência cinematográfica memorável e muito cativante.
A trama gira em torno de dois amigos de longa data, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church). Miles é um escritor fracassado e divorciado, que busca conforto em sua paixão pelo vinho, enquanto Jack é um ator em decadência que está prestes a se casar e decide aproveitar sua última semana de solteiro com uma viagem pelo Vale de Santa Ynez, na Califórnia. Em crise e lidando com suas próprias questões pessoais, o filme é uma verdadeira jornada sobre solidão e reencontro. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Sideways" tão especial é a maneira como Payne retrata as nuances das emoções humanas. O roteiro do próprio Payne ao lado de Rex Pickett e de Jim Taylor explora os altos e baixos da vida, a fragilidade das relações interpessoais e as oportunidades perdidas ao longo desse caminho. O filme, de fato, nos leva por uma jornada emocional, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, e nos provoca uma reflexão sobre nossas próprias vidas e escolhas - então esteja preparado!
Além da narrativa envolvente, "Sideways" também brilha em sua abordagem visual. A fotografia do diretor Phedon Papamichael captura a beleza deslumbrante do Vale de Santa Ynez, com suas vastas paisagens de vinhedos e montanhas de uma forma única - chega a ser impressionante sua não indicação ao Oscar daquela temporada (ele que foi indicado anos depois por "Nebraska" e "Os 7 de Chicago"). As cenas são cirurgicamente bem enquadradas, transmitindo tanto a sensação de serenidade quanto a de solidão dos personagens. Lindo de ver e de sentir!
O elenco, como não poderia deixar de ser, é um dos pontos altos do filme - Giamatti oferece uma performance magnífica, transmitindo com maestria a tristeza e a amargura de seu personagem. Já Thomas Haden Church traz uma energia vibrante e um toque de comicidade, equilibrando perfeitamente as nuances entre eles. Além deles, Virginia Madsen e Sandra Oh merecem destaque por suas interpretações apaixonadas e envolventes. Madsen retrata Maya, uma garçonete local que desperta o interesse de Miles, enquanto Oh interpreta Stephanie, uma sedutora e carismática amiga de Jack. Ambas as atrizes entregam trabalhos convincentes, adicionando camadas de profundidade emocional ao filme capaz de colocá-lo em outro patamar.
Veja, embora "Sideways" seja ambientado no mundo do vinho, o filme é muito mais do que uma história sobre essa maravilha - ele é um retrato sensível sobre a condição humana que explora temas universais como o amadurecimento, a amizade e a busca contínua pela felicidade. Com diálogos afiados e personagens dos mais complexos, o filme nos leva por uma viagem introspectiva que nos deixa com uma sensação de conexão com os personagens que chega tocar a alma.
Vale muito o seu play, para ver ou rever!
Up-date: "Sideways" recebeu cinco indicações no Oscar 2005, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
Aclamado como um dos melhores filmes de 2004, "Sideways" (que no Brasil ganhouo sugestivo subtítulo e "Entre Umas e Outras") é uma verdadeira obra-prima do diretor Alexander Payne(de "Os Decendentes"). O roteiro (vencedor na categoria "Roteiro Adaptado" no Oscar de 2005) mergulha profundamente nas complexidades da vida adulta e de seus relacionamentos. Com uma equilíbrio perfeito entre a comédia, o drama e seus vários momentos de reflexão, o filme oferece uma experiência cinematográfica memorável e muito cativante.
A trama gira em torno de dois amigos de longa data, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church). Miles é um escritor fracassado e divorciado, que busca conforto em sua paixão pelo vinho, enquanto Jack é um ator em decadência que está prestes a se casar e decide aproveitar sua última semana de solteiro com uma viagem pelo Vale de Santa Ynez, na Califórnia. Em crise e lidando com suas próprias questões pessoais, o filme é uma verdadeira jornada sobre solidão e reencontro. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Sideways" tão especial é a maneira como Payne retrata as nuances das emoções humanas. O roteiro do próprio Payne ao lado de Rex Pickett e de Jim Taylor explora os altos e baixos da vida, a fragilidade das relações interpessoais e as oportunidades perdidas ao longo desse caminho. O filme, de fato, nos leva por uma jornada emocional, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, e nos provoca uma reflexão sobre nossas próprias vidas e escolhas - então esteja preparado!
Além da narrativa envolvente, "Sideways" também brilha em sua abordagem visual. A fotografia do diretor Phedon Papamichael captura a beleza deslumbrante do Vale de Santa Ynez, com suas vastas paisagens de vinhedos e montanhas de uma forma única - chega a ser impressionante sua não indicação ao Oscar daquela temporada (ele que foi indicado anos depois por "Nebraska" e "Os 7 de Chicago"). As cenas são cirurgicamente bem enquadradas, transmitindo tanto a sensação de serenidade quanto a de solidão dos personagens. Lindo de ver e de sentir!
O elenco, como não poderia deixar de ser, é um dos pontos altos do filme - Giamatti oferece uma performance magnífica, transmitindo com maestria a tristeza e a amargura de seu personagem. Já Thomas Haden Church traz uma energia vibrante e um toque de comicidade, equilibrando perfeitamente as nuances entre eles. Além deles, Virginia Madsen e Sandra Oh merecem destaque por suas interpretações apaixonadas e envolventes. Madsen retrata Maya, uma garçonete local que desperta o interesse de Miles, enquanto Oh interpreta Stephanie, uma sedutora e carismática amiga de Jack. Ambas as atrizes entregam trabalhos convincentes, adicionando camadas de profundidade emocional ao filme capaz de colocá-lo em outro patamar.
Veja, embora "Sideways" seja ambientado no mundo do vinho, o filme é muito mais do que uma história sobre essa maravilha - ele é um retrato sensível sobre a condição humana que explora temas universais como o amadurecimento, a amizade e a busca contínua pela felicidade. Com diálogos afiados e personagens dos mais complexos, o filme nos leva por uma viagem introspectiva que nos deixa com uma sensação de conexão com os personagens que chega tocar a alma.
Vale muito o seu play, para ver ou rever!
Up-date: "Sideways" recebeu cinco indicações no Oscar 2005, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.
Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:
Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra!
Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!
"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.
Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!
A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.
Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:
Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra!
Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!
"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.
Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!
Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.
Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:
Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.
Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.
"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia, é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.
Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!
Vale muito seu play!
Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.
Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:
Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.
Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.
"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia, é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.
Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!
Vale muito seu play!
"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.
Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:
Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.
Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.
A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!
Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!
"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.
Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:
Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.
Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.
A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!
Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!