"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.
A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:
Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.
Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.
Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.
Vale muito a pena assistir!"
"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.
A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:
Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.
Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.
Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.
Vale muito a pena assistir!"
Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.
Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):
As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.
O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood. É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.
O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!
Vale muito o seu play!
Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.
Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):
As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.
O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood. É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.
O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!
Vale muito o seu play!
O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!
Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:
Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar. É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!
Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!
"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!
Vale a pena!
O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!
Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:
Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar. É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!
Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!
"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!
Vale a pena!
"Physical", série de 10 episódios da AppleTV+, é surpreendente desde o primeiro episódio, mas te garanto: assim que você entender o conceito narrativo e a forma como a história foi desenvolvida (e como os personagens se relacionam com ela), fica ainda mais claro que se trata de um produto com um requinte raro, inteligente ao mesmo tempo que é "desagradável" - como foi "Breaking Bad", por exemplo. Meu conselho então, é para que você não se guie apenas pelo primeiro episódio, pois não vai dar tempo de entender a dinâmica da série e assim se preparar para um drama extremamente profundo que será apresentado nos demais episódios que, aliás, vai tocar em assuntos bem desconfortáveis, duros e incômodos; mas que ao mesmo tempo vai chegar embrulhado em uma atmosfera nostálgica, colorida e, principalmente, irônica - e é isso que faz de "Physical" genial!
A série acompanha Sheila Rubin (Rose Byrne), uma típica dona de casa atormentada por suas escolhas, em uma San Diego cruel dos anos 80. Uma mulher que luta diariamente contra seus demônios pessoais - inclusive exteriorizado por um distúrbio alimentar gravíssimo, enquanto seu marido, Danny Rubin (Rory Scovel), um professor desempregado, ativista e muitas vezes machista, tenta se dar bem na carreira politica. Sheila busca se reencontrar como mulher e as coisas começam a mudar drasticamente quando ela descobre a aeróbica, mergulhando assim em uma jornada de empoderamento e de sucesso profissional. Confira o trailer:
Além de um conceito visual muito interessante, como comentei, "Physical" traz no seu DNA "elementos de transformação de personagem" que foram muito explorados em "Breaking Bad" por anos e que depois acabou virando uma marca registrada do Vince Gilligan, sendo transportada (em diferentes níveis, claro) para o universo feminino em outras duas séries que tem no subtexto irônico e corajoso, sua maior força (e que também merecem nossa atenção): "Good Girls" e "Mytho".
Veja, "Physical" tinha tudo para ser mais uma versão nostálgica dos anos 80 - dessa vez apoiada na febre das fitas VHS contendo exercícios aeróbicos ao melhor estilo "Jane Fonda". Ela também poderia ser um retrato romântico da jornada do herói (ou da heroína, como preferir) na busca pela independência e pelo sucesso muito além da sombra de um marido machista (mesmo fracassado). Tudo isso ainda inserido em um cenário praiano da Costa Oeste americana ao som do pós-disco da era Reagan. Pois bem, "Physical" até tem tudo isso, mas não "só" isso - o que a criadora e showrunner da série, Annie Weisman (Desperate Housewives), nos entrega é um mergulho muito mais profundo em uma história complicada, angustiante e bastante triste, onde as imperfeições do ser humano (maravilhosamente transformadas em uma sinceridade brutal pela "voz" do pensamento da protagonista) simplesmente explodem na tela.
Se Sheila Rubin diz ou age de uma forma, saiba que você nunca será surpreendido por sua motivação real já que essa "voz do pensamento" expõe exatamente todas as suas vontades - e aqui um ponto de originalidade que nos afasta da mesma empatia imediata que tivemos por Walter White, já que Sheila não foi criada para que a audiência torça por ela. Sheila, de fato, tem mais defeitos do que qualidades, mas com o passar do tempo pelo menos, vamos entendendo e até aceitando suas imperfeições. E aqui cabe um rápido, mas pertinente elogio: Rose Byrne está simplesmente fantástica e será nome certo nas premiações a partir de agora!
"Physical" vale por tudo isso e muito mais! A série não se apega a uma narrativa convencional, muito menos chega com o compromisso de ser engraçada (mesmo sendo) - se o trailer te passou isso, fique atento no que não é mostrado e interprete cada diálogo da maneira mais obscura que você conseguir, pois a série vai te provocar a ter essa atitude em todos os episódios da primeira temporada.
Vale muito a pena!
"Physical", série de 10 episódios da AppleTV+, é surpreendente desde o primeiro episódio, mas te garanto: assim que você entender o conceito narrativo e a forma como a história foi desenvolvida (e como os personagens se relacionam com ela), fica ainda mais claro que se trata de um produto com um requinte raro, inteligente ao mesmo tempo que é "desagradável" - como foi "Breaking Bad", por exemplo. Meu conselho então, é para que você não se guie apenas pelo primeiro episódio, pois não vai dar tempo de entender a dinâmica da série e assim se preparar para um drama extremamente profundo que será apresentado nos demais episódios que, aliás, vai tocar em assuntos bem desconfortáveis, duros e incômodos; mas que ao mesmo tempo vai chegar embrulhado em uma atmosfera nostálgica, colorida e, principalmente, irônica - e é isso que faz de "Physical" genial!
A série acompanha Sheila Rubin (Rose Byrne), uma típica dona de casa atormentada por suas escolhas, em uma San Diego cruel dos anos 80. Uma mulher que luta diariamente contra seus demônios pessoais - inclusive exteriorizado por um distúrbio alimentar gravíssimo, enquanto seu marido, Danny Rubin (Rory Scovel), um professor desempregado, ativista e muitas vezes machista, tenta se dar bem na carreira politica. Sheila busca se reencontrar como mulher e as coisas começam a mudar drasticamente quando ela descobre a aeróbica, mergulhando assim em uma jornada de empoderamento e de sucesso profissional. Confira o trailer:
Além de um conceito visual muito interessante, como comentei, "Physical" traz no seu DNA "elementos de transformação de personagem" que foram muito explorados em "Breaking Bad" por anos e que depois acabou virando uma marca registrada do Vince Gilligan, sendo transportada (em diferentes níveis, claro) para o universo feminino em outras duas séries que tem no subtexto irônico e corajoso, sua maior força (e que também merecem nossa atenção): "Good Girls" e "Mytho".
Veja, "Physical" tinha tudo para ser mais uma versão nostálgica dos anos 80 - dessa vez apoiada na febre das fitas VHS contendo exercícios aeróbicos ao melhor estilo "Jane Fonda". Ela também poderia ser um retrato romântico da jornada do herói (ou da heroína, como preferir) na busca pela independência e pelo sucesso muito além da sombra de um marido machista (mesmo fracassado). Tudo isso ainda inserido em um cenário praiano da Costa Oeste americana ao som do pós-disco da era Reagan. Pois bem, "Physical" até tem tudo isso, mas não "só" isso - o que a criadora e showrunner da série, Annie Weisman (Desperate Housewives), nos entrega é um mergulho muito mais profundo em uma história complicada, angustiante e bastante triste, onde as imperfeições do ser humano (maravilhosamente transformadas em uma sinceridade brutal pela "voz" do pensamento da protagonista) simplesmente explodem na tela.
Se Sheila Rubin diz ou age de uma forma, saiba que você nunca será surpreendido por sua motivação real já que essa "voz do pensamento" expõe exatamente todas as suas vontades - e aqui um ponto de originalidade que nos afasta da mesma empatia imediata que tivemos por Walter White, já que Sheila não foi criada para que a audiência torça por ela. Sheila, de fato, tem mais defeitos do que qualidades, mas com o passar do tempo pelo menos, vamos entendendo e até aceitando suas imperfeições. E aqui cabe um rápido, mas pertinente elogio: Rose Byrne está simplesmente fantástica e será nome certo nas premiações a partir de agora!
"Physical" vale por tudo isso e muito mais! A série não se apega a uma narrativa convencional, muito menos chega com o compromisso de ser engraçada (mesmo sendo) - se o trailer te passou isso, fique atento no que não é mostrado e interprete cada diálogo da maneira mais obscura que você conseguir, pois a série vai te provocar a ter essa atitude em todos os episódios da primeira temporada.
Vale muito a pena!
Futebol é coisa séria, certo? Certíssimo, mas para nós que somos brasileiros o nível de seriedade extrapola o óbvio! Já para o time de Samoa Americana e seus torcedores, futebol é apenas mais um jogo, que deve ser levado a sério, claro, mas que em hipótese alguma chancela a felicidade de um ser humano pelos seus resultados no esporte. Aliás, é assim que deveria ser, não? Talvez mais do que pela qualidade como obra cinematográfica, "Quem Fizer Ganha" de fato tem uma história incrível, especialmente por sua importante mensagem sobre o real valor das conexões humanas, mas que aqui não tem a menor pretensão de não se deixar cair no clichê - e é aí que Taika Waititi (de "JoJo Rabbit"), literalmente, marca um golaço! Seu filme é um amontoado de clichês, mas construído de uma maneira leve, divertida e propositalmente simples; que nem por isso deixa de ser um excelente entretenimento bem ao estilo que fez de "Ted Lasso" um grande sucesso de crítica e público. O fato é que existe um caminho para contar boas histórias sobre o esporte sem precisar se apegar ao estilo documental ou ter uma estrutura dramática demais; é possível simplesmente rir e chorar sem ter que se levar tão a sério - fica a dica!
Em 2001, a seleção da Samoa Americana sofreu a maior derrota da história do futebol, perdendo por 31 a 0 para a Austrália. Dez anos depois, o técnico americano/holandês Thomas Rongen (Michael Fassbender) assume o desafio de levar a equipe à sua primeira vitória nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Com um elenco excêntrico, composto por jogadores inexperientes e até mesmo a primeira jogadora de futebol transgênero do mundo, Jaiyah Saelua (Kaimana), Rongen precisa superar as diferenças culturais e as dificuldades do país para construir um time coeso e, quem sabe, competitivo. Confira o trailer:
Baseado no documentário homônimo de 2014, dirigido por Steve Jamison, "Quem Fizer Ganha" parte de uma improvável história real de superação para contar, da sua maneira, um episódio esportivo sem muita importância no cenário mundial, mas certamente inesquecível para um pequeno grupo de torcedores de um território não incorporado dos Estados Unidos situado na Polinésia, Oceania, com pouco menos de 200km de extensão. Com um humor próximo ao "pastelão", mas muito divertido pela sua proposta, o filme pontua o contraste cultural entre a ocidentalidade, de certa maneira agressiva, personificada por Rogen, e a tranquilidade e o respeito às tradições religiosas dos samoanos.
A direção de Waititi é inteligente, pois ele sabe ser sensível e bem-humorado na dose certa. Waititi se apoia no absurdo para capturar a essência da cultura de Samoa Americana, suas referências capitalistas e a paixão do seu povo pelo futebol. O roteiro, co-escrito por Waititi e Iain Morris (o mesmo de "O Que Fazemos nas Sombras") é leve, mas sempre com a preocupação de não deixar de lado os momentos dramáticos da história que dão certa veracidade para a jornada - as marcas da goleada para a Austrália e a redenção do goleiro Nicky Salapu são bons exemplos disso. Outro ponto que merece certo destaque é a trilha sonora composta por Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") - ela é empolgante e contribui demais para a atmosfera vibrante do filme.
Embora Fassbender não tenha o carisma de Jason Sudeikis e de seu Ted Lasso, é inegável o valor da sua entrega como ator através de uma performance memorável. Ele consegue mostrar o lado humano de um técnico marcado pela vida e pela profissão - inclusive com uma cena que certamente vai te deixar de queixo caído. O elenco de apoio também é excelente, destaque para Kaimana.
"Quem Fizer Ganha" é um ótimo entretenimento, daquelesque te fará rir, chorar e vibrar com uma história real que merecia ser contada. Imperdível!
Futebol é coisa séria, certo? Certíssimo, mas para nós que somos brasileiros o nível de seriedade extrapola o óbvio! Já para o time de Samoa Americana e seus torcedores, futebol é apenas mais um jogo, que deve ser levado a sério, claro, mas que em hipótese alguma chancela a felicidade de um ser humano pelos seus resultados no esporte. Aliás, é assim que deveria ser, não? Talvez mais do que pela qualidade como obra cinematográfica, "Quem Fizer Ganha" de fato tem uma história incrível, especialmente por sua importante mensagem sobre o real valor das conexões humanas, mas que aqui não tem a menor pretensão de não se deixar cair no clichê - e é aí que Taika Waititi (de "JoJo Rabbit"), literalmente, marca um golaço! Seu filme é um amontoado de clichês, mas construído de uma maneira leve, divertida e propositalmente simples; que nem por isso deixa de ser um excelente entretenimento bem ao estilo que fez de "Ted Lasso" um grande sucesso de crítica e público. O fato é que existe um caminho para contar boas histórias sobre o esporte sem precisar se apegar ao estilo documental ou ter uma estrutura dramática demais; é possível simplesmente rir e chorar sem ter que se levar tão a sério - fica a dica!
Em 2001, a seleção da Samoa Americana sofreu a maior derrota da história do futebol, perdendo por 31 a 0 para a Austrália. Dez anos depois, o técnico americano/holandês Thomas Rongen (Michael Fassbender) assume o desafio de levar a equipe à sua primeira vitória nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Com um elenco excêntrico, composto por jogadores inexperientes e até mesmo a primeira jogadora de futebol transgênero do mundo, Jaiyah Saelua (Kaimana), Rongen precisa superar as diferenças culturais e as dificuldades do país para construir um time coeso e, quem sabe, competitivo. Confira o trailer:
Baseado no documentário homônimo de 2014, dirigido por Steve Jamison, "Quem Fizer Ganha" parte de uma improvável história real de superação para contar, da sua maneira, um episódio esportivo sem muita importância no cenário mundial, mas certamente inesquecível para um pequeno grupo de torcedores de um território não incorporado dos Estados Unidos situado na Polinésia, Oceania, com pouco menos de 200km de extensão. Com um humor próximo ao "pastelão", mas muito divertido pela sua proposta, o filme pontua o contraste cultural entre a ocidentalidade, de certa maneira agressiva, personificada por Rogen, e a tranquilidade e o respeito às tradições religiosas dos samoanos.
A direção de Waititi é inteligente, pois ele sabe ser sensível e bem-humorado na dose certa. Waititi se apoia no absurdo para capturar a essência da cultura de Samoa Americana, suas referências capitalistas e a paixão do seu povo pelo futebol. O roteiro, co-escrito por Waititi e Iain Morris (o mesmo de "O Que Fazemos nas Sombras") é leve, mas sempre com a preocupação de não deixar de lado os momentos dramáticos da história que dão certa veracidade para a jornada - as marcas da goleada para a Austrália e a redenção do goleiro Nicky Salapu são bons exemplos disso. Outro ponto que merece certo destaque é a trilha sonora composta por Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") - ela é empolgante e contribui demais para a atmosfera vibrante do filme.
Embora Fassbender não tenha o carisma de Jason Sudeikis e de seu Ted Lasso, é inegável o valor da sua entrega como ator através de uma performance memorável. Ele consegue mostrar o lado humano de um técnico marcado pela vida e pela profissão - inclusive com uma cena que certamente vai te deixar de queixo caído. O elenco de apoio também é excelente, destaque para Kaimana.
"Quem Fizer Ganha" é um ótimo entretenimento, daquelesque te fará rir, chorar e vibrar com uma história real que merecia ser contada. Imperdível!
"Questão de Tempo" é delicioso de assistir, daqueles filmes que você não tira o sorriso no rosto - leve, engraçado, emocionante e muito bacana! Mas te adianto: essa paixão toda não é imediata. O prólogo apresenta uma premissa quase infantil e sua aplicação na narrativa pode soar adolescente demais, mas eu te garanto: dê uma chance que você não vai se arrepender. Pode me cobrar depois.
Veja, o filme conta a história de Tim (Domhnall Gleeson), um jovem inglês que, depois de uma conversa com o pai (Bill Nighy), descobre que os homens de sua família têm a capacidade de viajar no tempo, porém apenas para o passado. Com esse conhecimento, ele começa a resolver todas as suas inseguranças e fragilidades de uma forma muito natural. Quando Tim vai morar em Londres com Harry (Tom Hollander), um mal humorado produtor de teatro e amigo de seu pai, para cursar a faculdade de Direito, ele conhece Mary (Rachel McAdams), por quem se apaixona à primeira vista. A partir daí ele passa a criar (e a reviver quando necessário) as melhores experiências para que os dois fiquem juntos para sempre. Confira o trailer:
Richard Curtis que tem no seu currículo de diretor poucos e competentes trabalhos como "Simplesmente Amor", carrega a experiência de dominar um tipo de narrativa que está no seu DNA de roteirista - já é seu estilo, inclusive. É dele os roteiros de "O Diário de Bridget Jones", "Quatro Casamentos e um Funeral", "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Yesterday"- apenas para citar alguns dos seus sucessos. Em "Questão de Tempo", Curtis é muito inteligente ao usar o conceito da viagem no tempo apenas para estabelecer a possibilidade de uma segunda chance, mesmo que algumas vezes essa chance não mude em nada o destino do protagonista. O bacana é que roteiro aproveita dessa ferramenta dramática para traduzir de forma leve e inteligente as aflições que todos nós vivemos em algum momento. Ao estabelecer as “regras” para essas viagens, entendemos pelos olhos de Tim que tudo tem um limite e a cada escolha do personagem, te garanto, nosso coração se enche de coisa boa - mesmo nos momentos mais sensíveis!
A música, como em todo trabalho de Curtis, é um espetáculo a parte. A trilha sonora funcionam praticamente como um personagem, ou pelo como parte deles. Temos algumas pérolas como “How Long Will I Love You” e “Mid Air” - tudo se encaixa tão bem que curtimos cada cena de uma forma bem particular. No elenco temos um Domhnall Gleeson excelente e Rachel McAdams que é, definitivamente, uma graça - do mesmo nível de Ellen Page em "Juno". Agora, quem rouba a cena é o pai de Tim, Bill Nighy - ele tem a delicadeza do texto e a sensibilidade do olhar mais fraternal que um filho pode receber. Emocionante!
"Questão de Tempo" (ou "About Time" no original) é o melhor que podemos assistir para aquecer nosso coração e a nossa alma se esse for o clima para um excelente momento de entretenimento. O filme é capaz de emocionar e divertir na mesma medida, com personagens extremamente cativantes e um roteiro que mesmo apoiado em idéias pouco originais, vai nos passar ótimas lições de vida através do seu simbolismo e inteligência.
Vale muito o seu play!
"Questão de Tempo" é delicioso de assistir, daqueles filmes que você não tira o sorriso no rosto - leve, engraçado, emocionante e muito bacana! Mas te adianto: essa paixão toda não é imediata. O prólogo apresenta uma premissa quase infantil e sua aplicação na narrativa pode soar adolescente demais, mas eu te garanto: dê uma chance que você não vai se arrepender. Pode me cobrar depois.
Veja, o filme conta a história de Tim (Domhnall Gleeson), um jovem inglês que, depois de uma conversa com o pai (Bill Nighy), descobre que os homens de sua família têm a capacidade de viajar no tempo, porém apenas para o passado. Com esse conhecimento, ele começa a resolver todas as suas inseguranças e fragilidades de uma forma muito natural. Quando Tim vai morar em Londres com Harry (Tom Hollander), um mal humorado produtor de teatro e amigo de seu pai, para cursar a faculdade de Direito, ele conhece Mary (Rachel McAdams), por quem se apaixona à primeira vista. A partir daí ele passa a criar (e a reviver quando necessário) as melhores experiências para que os dois fiquem juntos para sempre. Confira o trailer:
Richard Curtis que tem no seu currículo de diretor poucos e competentes trabalhos como "Simplesmente Amor", carrega a experiência de dominar um tipo de narrativa que está no seu DNA de roteirista - já é seu estilo, inclusive. É dele os roteiros de "O Diário de Bridget Jones", "Quatro Casamentos e um Funeral", "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Yesterday"- apenas para citar alguns dos seus sucessos. Em "Questão de Tempo", Curtis é muito inteligente ao usar o conceito da viagem no tempo apenas para estabelecer a possibilidade de uma segunda chance, mesmo que algumas vezes essa chance não mude em nada o destino do protagonista. O bacana é que roteiro aproveita dessa ferramenta dramática para traduzir de forma leve e inteligente as aflições que todos nós vivemos em algum momento. Ao estabelecer as “regras” para essas viagens, entendemos pelos olhos de Tim que tudo tem um limite e a cada escolha do personagem, te garanto, nosso coração se enche de coisa boa - mesmo nos momentos mais sensíveis!
A música, como em todo trabalho de Curtis, é um espetáculo a parte. A trilha sonora funcionam praticamente como um personagem, ou pelo como parte deles. Temos algumas pérolas como “How Long Will I Love You” e “Mid Air” - tudo se encaixa tão bem que curtimos cada cena de uma forma bem particular. No elenco temos um Domhnall Gleeson excelente e Rachel McAdams que é, definitivamente, uma graça - do mesmo nível de Ellen Page em "Juno". Agora, quem rouba a cena é o pai de Tim, Bill Nighy - ele tem a delicadeza do texto e a sensibilidade do olhar mais fraternal que um filho pode receber. Emocionante!
"Questão de Tempo" (ou "About Time" no original) é o melhor que podemos assistir para aquecer nosso coração e a nossa alma se esse for o clima para um excelente momento de entretenimento. O filme é capaz de emocionar e divertir na mesma medida, com personagens extremamente cativantes e um roteiro que mesmo apoiado em idéias pouco originais, vai nos passar ótimas lições de vida através do seu simbolismo e inteligência.
Vale muito o seu play!
Quem nunca presenciou um familiar ou conhecido tendo um ataque de nervos, daqueles em que a fúria transcende corpo, mente e espírito?
Quanto mais próximo do ápice da raiva, mais tênue é a linha que separa o ser humano da barbárie. O diretor/roteirista argentino Damián Szifron consegue extrair o suprassumo do humor negro existente em situações extremas. Tudo aqui é absurdo, mas ao mesmo tempo, cotidiano. E bizarro. E muito, muito engraçado!
"Relatos Selvagens" é composto por 6 histórias independentes e conectadas por personagens que abraçam, por um momento, sua pior versão. Não há tempo e nem espaço para rodeios: as tramas são objetivas e as atuações, em sua maioria, estão pelo menos um tom dramático acima do normal – o que se encaixa perfeitamente aqui, uma vez que o desenvolvimento dos personagens é limitado pelo tempo. Confira o trailer:
- PASTERNAK: Os tripulantes de um voo descobrem uma estranha coincidência. Uma curta e ótima abertura, que já injeta a adrenalina que dará a tônica da projeção.
- LAS RATAS: Uma garçonete descobre que o novo cliente é o criminoso responsável pelo suicídio do seu pai, anos antes. A cozinheira, ao saber da história, sugere um plano fatal de vingança que terá terríveis desdobramentos. Um suspense mais sóbrio, violento e dramático.
- EL MÁS FUERTE: Uma discussão entre dois motoristas numa estrada deserta. Aqui, o diretor arregaça as mangas e o humor negro bizarro e sensacional mostra as caras. Além disso, a cena de luta dentro do carro é um show à parte.
- BOMBITA: A estrela do cinema argentino Ricardo Darín interpreta um engenheiro que se vê engolido pela burocracia e pela corrupção do sistema. Não à toa, a reação dele o transforma no ‘malvado favorito’ do país.
- LA PROPUESTA: Um jovem endinheirado causa um atropelamento fatal. Seu pai, então, corre contra o tempo para forjar a absolvição do filho, num jogo de extorsão, chantagens e mentiras. Mais uma história com final trágico e surpreendente.
- HASTA QUE LA MUERTE NOS SEPARE: O melhor está no final. Uma festa de casamento com desdobramentos insanos e inimagináveis. A comunhão de elementos de romance, suspense, drama, comédia e até gore é assustadoramente equilibrada e envolvente. E a noiva está incrível.
Todas essas histórias são envolvidas por um jogo de câmeras rico e criativo, além da trilha sonora inusitada que mistura hits atuais com rock n’ roll – e funciona muito bem.
"Relatos Salvajes" (no original) é uma experiência cinematográfica que não deve ser perdida. Você pode rir, chorar, revirar os olhos, ficar tenso, mas com certeza não ficará indiferente à essa pérola do cinema argentino.
Up date: "Relatos Selvagens"foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015 vencido por "Ida" e concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes no mesmo ano.
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
Quem nunca presenciou um familiar ou conhecido tendo um ataque de nervos, daqueles em que a fúria transcende corpo, mente e espírito?
Quanto mais próximo do ápice da raiva, mais tênue é a linha que separa o ser humano da barbárie. O diretor/roteirista argentino Damián Szifron consegue extrair o suprassumo do humor negro existente em situações extremas. Tudo aqui é absurdo, mas ao mesmo tempo, cotidiano. E bizarro. E muito, muito engraçado!
"Relatos Selvagens" é composto por 6 histórias independentes e conectadas por personagens que abraçam, por um momento, sua pior versão. Não há tempo e nem espaço para rodeios: as tramas são objetivas e as atuações, em sua maioria, estão pelo menos um tom dramático acima do normal – o que se encaixa perfeitamente aqui, uma vez que o desenvolvimento dos personagens é limitado pelo tempo. Confira o trailer:
- PASTERNAK: Os tripulantes de um voo descobrem uma estranha coincidência. Uma curta e ótima abertura, que já injeta a adrenalina que dará a tônica da projeção.
- LAS RATAS: Uma garçonete descobre que o novo cliente é o criminoso responsável pelo suicídio do seu pai, anos antes. A cozinheira, ao saber da história, sugere um plano fatal de vingança que terá terríveis desdobramentos. Um suspense mais sóbrio, violento e dramático.
- EL MÁS FUERTE: Uma discussão entre dois motoristas numa estrada deserta. Aqui, o diretor arregaça as mangas e o humor negro bizarro e sensacional mostra as caras. Além disso, a cena de luta dentro do carro é um show à parte.
- BOMBITA: A estrela do cinema argentino Ricardo Darín interpreta um engenheiro que se vê engolido pela burocracia e pela corrupção do sistema. Não à toa, a reação dele o transforma no ‘malvado favorito’ do país.
- LA PROPUESTA: Um jovem endinheirado causa um atropelamento fatal. Seu pai, então, corre contra o tempo para forjar a absolvição do filho, num jogo de extorsão, chantagens e mentiras. Mais uma história com final trágico e surpreendente.
- HASTA QUE LA MUERTE NOS SEPARE: O melhor está no final. Uma festa de casamento com desdobramentos insanos e inimagináveis. A comunhão de elementos de romance, suspense, drama, comédia e até gore é assustadoramente equilibrada e envolvente. E a noiva está incrível.
Todas essas histórias são envolvidas por um jogo de câmeras rico e criativo, além da trilha sonora inusitada que mistura hits atuais com rock n’ roll – e funciona muito bem.
"Relatos Salvajes" (no original) é uma experiência cinematográfica que não deve ser perdida. Você pode rir, chorar, revirar os olhos, ficar tenso, mas com certeza não ficará indiferente à essa pérola do cinema argentino.
Up date: "Relatos Selvagens"foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015 vencido por "Ida" e concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes no mesmo ano.
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
"Sentimental" vai te surpreender pela qualidade do texto, pela capacidade do elenco e, principalmente, pela forma inteligente como as relações entre casais são discutidas com um leve toque de ironia, mas nem por isso menos verdadeira. Esse filme do excelente diretor catalão Cesc Gay (o mesmo dos também excelentes "O que os homens falam" e "Truman") é mais um presente do cinema espanhol que transita perfeitamente entre a comédia e o drama para expor, sem receio algum de parecer invasivo, a complexidade das relações humanas - com suas similaridades e particularidades.
Há 15 anos juntos, o casamento de Julio (Javier Cámara) e Ana (Griselda Siciliani) já não é mais o mesmo. Apesar de se gostarem, eles estão constantemente em embates, sempre dispostos em implicar um com o outro - sem falar, é claro, que em termos de relações sexuais, há muito já não existe. As coisas se complicam ainda mais quando os vizinhos de cima, Laura (Belén Cuesta) e Salva (Alberto San Juan), são convidados por Ana para um vinho em seu apartamento. O choque de realidades entre um casal aparentemente feliz e de bem com a vida e outro em plena crise, é imediato, e quando um assunto delicado vem à tona... Confira o trailer:
Com apenas 82 minutos e um time perfeito, "Sentimental" é muito competente em apresentar um cenário inusitado de forma espirituosa e inteligente - bem ao estilo de "Perfeitos Desconhecidos", eu diria. Inegavelmente referenciado pelos áureos tempos de Woody Allen, Cesc Gay equilibra o sarcasmo com uma franqueza quase ofensiva para tocar em pontos extremamente realistas e por si só bastante delicados. Ao usar discussões ou abordagens não convencionais sobre sexo, o diretor se aprofunda mesmo é no tédio que afeta as relações ao longo do tempo - com isso ele acaba criando um embate natural e introspectivo do que representa, de fato, estar com alguém (sem saber exatamente se é isso que ambos querem).
Por se tratar de dois casais de classe-média, algumas propostas estabelecidas pelo roteiro nos impactam de imediato - as convenções sociais que muitas vezes nos orientam, independente dos nossos planejamentos como indivíduos, são brilhantemente retratadas por um Javier Cámara no melhor da sua forma e por uma Griselda Siciliani que entrega uma personagem muito mais profunda e cheia de camadas do que possa parecer - ambos foram indicados para o Goya Awards em 2021. Mas quem ganhou mesmo foi o "bombeiro" Salva, Alberto San Juan - ele está simplesmente impecável (é impressionante como seus pensamentos, quase todos eróticos, são facilmente decodificados pelo seu olhar e pelo seu sorriso).
Como uma imperdível peça de teatro e com um elenco dos mais afiados, "Sentimental" vai te fazer sorrir, refletir e até te emocionar, dentro de uma simplicidade narrativa, sem se apegar em estereótipos ou atalhos cômicos, para contar uma história inusitada, mas tão palpável e realista que, mesmo com cenas mais longas e basicamente apoiadas nos diálogos, se justificam pelo simples fato de estar mostrando a vida exatamente como ela é!
Vale muito o seu play!
Aclamado como um dos melhores filmes de 2004, "Sideways" (que no Brasil ganhouo sugestivo subtítulo e "Entre Umas e Outras") é uma verdadeira obra-prima do diretor Alexander Payne(de "Os Decendentes"). O roteiro (vencedor na categoria "Roteiro Adaptado" no Oscar de 2005) mergulha profundamente nas complexidades da vida adulta e de seus relacionamentos. Com uma equilíbrio perfeito entre a comédia, o drama e seus vários momentos de reflexão, o filme oferece uma experiência cinematográfica memorável e muito cativante.
A trama gira em torno de dois amigos de longa data, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church). Miles é um escritor fracassado e divorciado, que busca conforto em sua paixão pelo vinho, enquanto Jack é um ator em decadência que está prestes a se casar e decide aproveitar sua última semana de solteiro com uma viagem pelo Vale de Santa Ynez, na Califórnia. Em crise e lidando com suas próprias questões pessoais, o filme é uma verdadeira jornada sobre solidão e reencontro. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Sideways" tão especial é a maneira como Payne retrata as nuances das emoções humanas. O roteiro do próprio Payne ao lado de Rex Pickett e de Jim Taylor explora os altos e baixos da vida, a fragilidade das relações interpessoais e as oportunidades perdidas ao longo desse caminho. O filme, de fato, nos leva por uma jornada emocional, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, e nos provoca uma reflexão sobre nossas próprias vidas e escolhas - então esteja preparado!
Além da narrativa envolvente, "Sideways" também brilha em sua abordagem visual. A fotografia do diretor Phedon Papamichael captura a beleza deslumbrante do Vale de Santa Ynez, com suas vastas paisagens de vinhedos e montanhas de uma forma única - chega a ser impressionante sua não indicação ao Oscar daquela temporada (ele que foi indicado anos depois por "Nebraska" e "Os 7 de Chicago"). As cenas são cirurgicamente bem enquadradas, transmitindo tanto a sensação de serenidade quanto a de solidão dos personagens. Lindo de ver e de sentir!
O elenco, como não poderia deixar de ser, é um dos pontos altos do filme - Giamatti oferece uma performance magnífica, transmitindo com maestria a tristeza e a amargura de seu personagem. Já Thomas Haden Church traz uma energia vibrante e um toque de comicidade, equilibrando perfeitamente as nuances entre eles. Além deles, Virginia Madsen e Sandra Oh merecem destaque por suas interpretações apaixonadas e envolventes. Madsen retrata Maya, uma garçonete local que desperta o interesse de Miles, enquanto Oh interpreta Stephanie, uma sedutora e carismática amiga de Jack. Ambas as atrizes entregam trabalhos convincentes, adicionando camadas de profundidade emocional ao filme capaz de colocá-lo em outro patamar.
Veja, embora "Sideways" seja ambientado no mundo do vinho, o filme é muito mais do que uma história sobre essa maravilha - ele é um retrato sensível sobre a condição humana que explora temas universais como o amadurecimento, a amizade e a busca contínua pela felicidade. Com diálogos afiados e personagens dos mais complexos, o filme nos leva por uma viagem introspectiva que nos deixa com uma sensação de conexão com os personagens que chega tocar a alma.
Vale muito o seu play, para ver ou rever!
Up-date: "Sideways" recebeu cinco indicações no Oscar 2005, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
Aclamado como um dos melhores filmes de 2004, "Sideways" (que no Brasil ganhouo sugestivo subtítulo e "Entre Umas e Outras") é uma verdadeira obra-prima do diretor Alexander Payne(de "Os Decendentes"). O roteiro (vencedor na categoria "Roteiro Adaptado" no Oscar de 2005) mergulha profundamente nas complexidades da vida adulta e de seus relacionamentos. Com uma equilíbrio perfeito entre a comédia, o drama e seus vários momentos de reflexão, o filme oferece uma experiência cinematográfica memorável e muito cativante.
A trama gira em torno de dois amigos de longa data, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church). Miles é um escritor fracassado e divorciado, que busca conforto em sua paixão pelo vinho, enquanto Jack é um ator em decadência que está prestes a se casar e decide aproveitar sua última semana de solteiro com uma viagem pelo Vale de Santa Ynez, na Califórnia. Em crise e lidando com suas próprias questões pessoais, o filme é uma verdadeira jornada sobre solidão e reencontro. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Sideways" tão especial é a maneira como Payne retrata as nuances das emoções humanas. O roteiro do próprio Payne ao lado de Rex Pickett e de Jim Taylor explora os altos e baixos da vida, a fragilidade das relações interpessoais e as oportunidades perdidas ao longo desse caminho. O filme, de fato, nos leva por uma jornada emocional, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, e nos provoca uma reflexão sobre nossas próprias vidas e escolhas - então esteja preparado!
Além da narrativa envolvente, "Sideways" também brilha em sua abordagem visual. A fotografia do diretor Phedon Papamichael captura a beleza deslumbrante do Vale de Santa Ynez, com suas vastas paisagens de vinhedos e montanhas de uma forma única - chega a ser impressionante sua não indicação ao Oscar daquela temporada (ele que foi indicado anos depois por "Nebraska" e "Os 7 de Chicago"). As cenas são cirurgicamente bem enquadradas, transmitindo tanto a sensação de serenidade quanto a de solidão dos personagens. Lindo de ver e de sentir!
O elenco, como não poderia deixar de ser, é um dos pontos altos do filme - Giamatti oferece uma performance magnífica, transmitindo com maestria a tristeza e a amargura de seu personagem. Já Thomas Haden Church traz uma energia vibrante e um toque de comicidade, equilibrando perfeitamente as nuances entre eles. Além deles, Virginia Madsen e Sandra Oh merecem destaque por suas interpretações apaixonadas e envolventes. Madsen retrata Maya, uma garçonete local que desperta o interesse de Miles, enquanto Oh interpreta Stephanie, uma sedutora e carismática amiga de Jack. Ambas as atrizes entregam trabalhos convincentes, adicionando camadas de profundidade emocional ao filme capaz de colocá-lo em outro patamar.
Veja, embora "Sideways" seja ambientado no mundo do vinho, o filme é muito mais do que uma história sobre essa maravilha - ele é um retrato sensível sobre a condição humana que explora temas universais como o amadurecimento, a amizade e a busca contínua pela felicidade. Com diálogos afiados e personagens dos mais complexos, o filme nos leva por uma viagem introspectiva que nos deixa com uma sensação de conexão com os personagens que chega tocar a alma.
Vale muito o seu play, para ver ou rever!
Up-date: "Sideways" recebeu cinco indicações no Oscar 2005, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
Se você que nos acompanha e sempre está em busca de algum conteúdo que remeta a uma jornada empreendedora ou ao universo das startups de tecnologia e ainda não se aventurou por uma das melhores séries já criadas sobre o assunto, esteja preparado para conhecer desde os programadores mais brilhantes às ambições mais desenfreadas de fundadores excêntricos do Vale do Silício, como em "WeCrashed" ou em "The Dropout", só que aqui em um tom infinitamente mais leve, mas nem por isso menos crítico ou relevante ao tema. "Silicon Valley", criada por John Altschuler, Mike Judge e Alec Berg, tem 6 temporadas e é um verdadeiro tesouro cômico que brilha graças a combinação de uma sagacidade afiada única, uma sátira social bastante inteligente e, claro, pelo seu elenco simplesmente excepcional - não é à toa que a série recebeu uma pancada de prêmios, além de cerca de 40 indicações ao Emmy, e foi saudada como uma das melhores comédias da última década.
"Silicon Valley", basicamente, segue a jornada tumultuada de Richard Hendricks (Thomas Middleditch), um programador introvertido que cria um algoritmo revolucionário que pode mudar a história da internet. Com o apoio do "sem noção" Erlich Bachman (T.J. Miller ), do ambicioso Dinesh Chugtai (Kumail Nanjiani) e do mal-humorado Gilfoyle (Martin Starr), Hendricks precisa lidar com todo aquele universo de inovação, cheio de intrigas e competição, enquanto tenta transformar sua startup, a Pied Piper, em um verdadeiro império tecnológico. Confira o trailer:
O que torna "Silicon Valley" verdadeiramente especial, sem dúvida, é sua capacidade de lançar um olhar incisivo sobre o universo do empreendedorismo tecnológico que virou moda nos últimos anos. Muito à frente de seu tempo, a série da HBO se aproveita do humor afiado e cheio de simbolismos do seu roteiro, para destilar os absurdos da indústria e dos egos inflados de seus atores em momentos realmente inesquecíveis. A direção habilidosa de se seus criadores entrega um ambiente autêntico e convincente, cheio de referências que só enriquecem nossa experiência como audiência.
Enquanto a fotografia e o desenho de produção capturam a grandeza e a artificialidade do Vale do Silício, o elenco acaba se destacando por suas performances impecáveis. Thomas Middleditch personifica brilhantemente a inocência de Richard Hendricks, enquanto T.J. Miller rouba todas as cenas com sua interpretação impagável de Erlich Bachman. A química entre os atores é tão palpável que praticamente conduzem a série sozinhos - principalmente nas duas primeiras temporadas. Depois vemos alguns outros personagens crescerem, como é o caso de Dinesh, Gilfoyle, do Jared (Zach Woods) e por fim do Jian Yang (Jimmy O. Yang).
"Silicon Valley" é um entretenimento fácil, para aqueles envolvidos com o universo da tecnologia e de startups, pois mesmo que elevado ao absurdo, quase tudo que vemos na tela, de fato, acontece na vida real. O ritmo é frenético, o que adiciona uma camada extra de humor e certa autenticidade, mas por ser uma sátira, pode dividir opiniões. E aqui vale lembrar de uma postagem do GatesNotes em 2018 onde Bill Gates revelou que a série era uma das poucas obras da cultura pop até ali, que "retratava de forma realista a comunidade do Vale do Silício, na Califórnia, com seus programadores sarcásticos, porém, sem nenhum trato social" - como ele!
Vale muito o seu play!
Se você que nos acompanha e sempre está em busca de algum conteúdo que remeta a uma jornada empreendedora ou ao universo das startups de tecnologia e ainda não se aventurou por uma das melhores séries já criadas sobre o assunto, esteja preparado para conhecer desde os programadores mais brilhantes às ambições mais desenfreadas de fundadores excêntricos do Vale do Silício, como em "WeCrashed" ou em "The Dropout", só que aqui em um tom infinitamente mais leve, mas nem por isso menos crítico ou relevante ao tema. "Silicon Valley", criada por John Altschuler, Mike Judge e Alec Berg, tem 6 temporadas e é um verdadeiro tesouro cômico que brilha graças a combinação de uma sagacidade afiada única, uma sátira social bastante inteligente e, claro, pelo seu elenco simplesmente excepcional - não é à toa que a série recebeu uma pancada de prêmios, além de cerca de 40 indicações ao Emmy, e foi saudada como uma das melhores comédias da última década.
"Silicon Valley", basicamente, segue a jornada tumultuada de Richard Hendricks (Thomas Middleditch), um programador introvertido que cria um algoritmo revolucionário que pode mudar a história da internet. Com o apoio do "sem noção" Erlich Bachman (T.J. Miller ), do ambicioso Dinesh Chugtai (Kumail Nanjiani) e do mal-humorado Gilfoyle (Martin Starr), Hendricks precisa lidar com todo aquele universo de inovação, cheio de intrigas e competição, enquanto tenta transformar sua startup, a Pied Piper, em um verdadeiro império tecnológico. Confira o trailer:
O que torna "Silicon Valley" verdadeiramente especial, sem dúvida, é sua capacidade de lançar um olhar incisivo sobre o universo do empreendedorismo tecnológico que virou moda nos últimos anos. Muito à frente de seu tempo, a série da HBO se aproveita do humor afiado e cheio de simbolismos do seu roteiro, para destilar os absurdos da indústria e dos egos inflados de seus atores em momentos realmente inesquecíveis. A direção habilidosa de se seus criadores entrega um ambiente autêntico e convincente, cheio de referências que só enriquecem nossa experiência como audiência.
Enquanto a fotografia e o desenho de produção capturam a grandeza e a artificialidade do Vale do Silício, o elenco acaba se destacando por suas performances impecáveis. Thomas Middleditch personifica brilhantemente a inocência de Richard Hendricks, enquanto T.J. Miller rouba todas as cenas com sua interpretação impagável de Erlich Bachman. A química entre os atores é tão palpável que praticamente conduzem a série sozinhos - principalmente nas duas primeiras temporadas. Depois vemos alguns outros personagens crescerem, como é o caso de Dinesh, Gilfoyle, do Jared (Zach Woods) e por fim do Jian Yang (Jimmy O. Yang).
"Silicon Valley" é um entretenimento fácil, para aqueles envolvidos com o universo da tecnologia e de startups, pois mesmo que elevado ao absurdo, quase tudo que vemos na tela, de fato, acontece na vida real. O ritmo é frenético, o que adiciona uma camada extra de humor e certa autenticidade, mas por ser uma sátira, pode dividir opiniões. E aqui vale lembrar de uma postagem do GatesNotes em 2018 onde Bill Gates revelou que a série era uma das poucas obras da cultura pop até ali, que "retratava de forma realista a comunidade do Vale do Silício, na Califórnia, com seus programadores sarcásticos, porém, sem nenhum trato social" - como ele!
Vale muito o seu play!
"Talk-Show", que no Brasil recebeu o inspirado subtítulo de "Reinventando a Comédia", é uma graça! Embora possa ser definida como uma comédia, eu diria que o filme tem muitos elementos do drama, porém discutidos no roteiro de uma forma muito leve, divertida e até despretensiosa - e muito desse equilíbrio perfeito, sempre no tom certo e com muita inteligência, é mérito do talento da roteirista (e protagonista), Mindy Kaling.
Em "Late Night" (no original), uma lendária apresentadora de um famoso talk-show noturno, Katherine Newbury (Emma Thompson), vive a tensão de ter seu emprego ameaçado graças aos baixos índices de audiência e um natural desgaste do formato, no ar há tantos anos. É justamente nesse momento, que Newbury contrata Molly Patel (Mindy Kaling) uma mulher, de descendência indiana e sem experiência alguma na TV, para sua equipe de roteiristas, formada essencialmente por homens, brancos e heterossexuais, e assim tentar mudar o destino de sua atração. Confira o trailer (em inglês):
Se inicialmente "Talk-Show - Reinventando a Comédia" soa como uma versão menos glamourosa (se é que se pode definir assim) de o "O diabo veste Prada", rapidamente o filme pende para a série da AppleTV+, "Morning Show" - o fato é que a produção da Amazon transita muito bem entre as duas referências citadas respeitando suas diferenças, mas aproveitando muitos elementos narrativos de ambas. Katherine Newbury é a perfeita união de Miranda Priestly de Meryl Streep com Alex Levy de Jennifer Aniston - se a personalidade forte da primeira se sobressai perante a insegurança da segunda, isso é interpretativo, porém fica claro que Emma Thompson foi capaz de definir perfeitamente todas as camadas da personagem de uma forma brilhante. É de se perguntar, inclusive, por que "raios" ela não foi indicada ao Oscar de 2020, mesmo depois de uma forte indicação para o Globo de Ouro - talvez pelo filme ser uma comédia pautada em esteriótipos da indústria? Mas Meryl Streep foi indicada 2007 com sua Miranda - enfim, coisas da Academia!
A diretora Nisha Ganatra que tem séries como "Transparent" no currículo, entrega um filme tecnicamente irretocável, com um excelente trabalho na direção de atores. Se Mindy Kaling ainda não tem o reconhecimento como atriz que tem como roteirista e produtora executiva (são 6 indicações ao Emmy), em "Talk-Show" ela entrega uma personagem perfeita para nos apaixonarmos. Agora, quando nos aprofundamos na história que Kaling criou, aí o nível vai lá em cima: ela pontua tão bem a comédia com o drama sem perder o tom e a delicadeza, mesmo nos assuntos mais, digamos, espinhosos - e aqui estamos falando de discussões sobre "política de cotas" até chegar nas dificuldades das mulheres encontrarem espaço na indústria do entretenimento à medida que envelhecem e também na forma como elas são tratadas em meio a um escândalo, pela mídia e pela opinião pública.
Obviamente que a "forma" de "Talk-Show", suaviza o seu "conteúdo" - propositalmente. Embora irônico e sagaz, nenhum comentário serve de gatilho para discussões mais profundas, mas é impressionante como cada uma das "cutucadas" vem com time ideal para que a história evolua. Saiba que o filme é divertido e muito bem realizado, um entretenimento de excelente qualidade para quem gosta do gênero.
Vale o play!
"Talk-Show", que no Brasil recebeu o inspirado subtítulo de "Reinventando a Comédia", é uma graça! Embora possa ser definida como uma comédia, eu diria que o filme tem muitos elementos do drama, porém discutidos no roteiro de uma forma muito leve, divertida e até despretensiosa - e muito desse equilíbrio perfeito, sempre no tom certo e com muita inteligência, é mérito do talento da roteirista (e protagonista), Mindy Kaling.
Em "Late Night" (no original), uma lendária apresentadora de um famoso talk-show noturno, Katherine Newbury (Emma Thompson), vive a tensão de ter seu emprego ameaçado graças aos baixos índices de audiência e um natural desgaste do formato, no ar há tantos anos. É justamente nesse momento, que Newbury contrata Molly Patel (Mindy Kaling) uma mulher, de descendência indiana e sem experiência alguma na TV, para sua equipe de roteiristas, formada essencialmente por homens, brancos e heterossexuais, e assim tentar mudar o destino de sua atração. Confira o trailer (em inglês):
Se inicialmente "Talk-Show - Reinventando a Comédia" soa como uma versão menos glamourosa (se é que se pode definir assim) de o "O diabo veste Prada", rapidamente o filme pende para a série da AppleTV+, "Morning Show" - o fato é que a produção da Amazon transita muito bem entre as duas referências citadas respeitando suas diferenças, mas aproveitando muitos elementos narrativos de ambas. Katherine Newbury é a perfeita união de Miranda Priestly de Meryl Streep com Alex Levy de Jennifer Aniston - se a personalidade forte da primeira se sobressai perante a insegurança da segunda, isso é interpretativo, porém fica claro que Emma Thompson foi capaz de definir perfeitamente todas as camadas da personagem de uma forma brilhante. É de se perguntar, inclusive, por que "raios" ela não foi indicada ao Oscar de 2020, mesmo depois de uma forte indicação para o Globo de Ouro - talvez pelo filme ser uma comédia pautada em esteriótipos da indústria? Mas Meryl Streep foi indicada 2007 com sua Miranda - enfim, coisas da Academia!
A diretora Nisha Ganatra que tem séries como "Transparent" no currículo, entrega um filme tecnicamente irretocável, com um excelente trabalho na direção de atores. Se Mindy Kaling ainda não tem o reconhecimento como atriz que tem como roteirista e produtora executiva (são 6 indicações ao Emmy), em "Talk-Show" ela entrega uma personagem perfeita para nos apaixonarmos. Agora, quando nos aprofundamos na história que Kaling criou, aí o nível vai lá em cima: ela pontua tão bem a comédia com o drama sem perder o tom e a delicadeza, mesmo nos assuntos mais, digamos, espinhosos - e aqui estamos falando de discussões sobre "política de cotas" até chegar nas dificuldades das mulheres encontrarem espaço na indústria do entretenimento à medida que envelhecem e também na forma como elas são tratadas em meio a um escândalo, pela mídia e pela opinião pública.
Obviamente que a "forma" de "Talk-Show", suaviza o seu "conteúdo" - propositalmente. Embora irônico e sagaz, nenhum comentário serve de gatilho para discussões mais profundas, mas é impressionante como cada uma das "cutucadas" vem com time ideal para que a história evolua. Saiba que o filme é divertido e muito bem realizado, um entretenimento de excelente qualidade para quem gosta do gênero.
Vale o play!
"Táxi Teerã" é essencialmente provocador, onde o principal objetivo é retratar a realidade de um país afogado em regras e restrições democráticas (e religiosas) que impactam, inclusive, na liberdade (e por que não na vida) do indivíduo. Antes de mais nada, é preciso alertar que o filme não tem uma narrativa convencional, na forma clássica de se contar uma história e muito menos no seu conteúdo. Não se trata de uma trama com começo, meio e fim, e sim um manifesto, independente - um recorte social e uma crítica sobre a censura institucional.
Jafar Panahi é um diretor favorável à democracia, o que resultou em uma longa perseguição por parte do regime iraniano que restringiu muito dos seus filmes em nome do "bom senso" e que chegou ao ponto de o levar para prisão. Proibido de fazer filmes pelo governo, Panahi, ao melhor estilo Wood Allen, se apresenta como um simples motorista de táxi e resolve gravar os desafios sociais no Irã personificados através de seus passageiros. Confira o trailer:
Panahi é uma pessoa real, um cineasta conhecido no seu país e isso sugere que, inicialmente, "Táxi Teerã" seja um documentário. De fato sua estrutura se assemelha muito mais ao reality do que ao ficcional, porém o filme começa a mostrar ao que veio quando a dinâmica entre os personagens vai se construindo naturalmente com a mediação discreta de Panahi - em vários momentos fica impossível definir se uma situação é real ou encenada. Essa proposta traz um certo charme ao filme, mas são os assuntos discutidos que fortalecem a narrativa: um homem e uma mulher, cada um com seu ponto de vista, usando, inclusive, argumentos divertidos sobre a validade da pena de morte, dão o tom ao que parece ser uma esquete de um "Late Night". Imediatamente esse mood se transforma quando somos surpreendido por um passageiro acidentado que ao entrar no taxi pede para Panahi gravar seu depoimento como forma de validar um testamento para sua mulher caso algo pior lhe aconteça. E assim as histórias vão sendo construídas e desconstruídas com a mesma velocidade que um passageiro entra e sai de um táxi.
Quando um vendedor de filmes piratas, reconhece Panahi e começa a conversar sobre o cinema alternativo e questionar se os passageiros que estavam no táxi eram atores, temos a exata noção do que o diretor quer entregar: uma crítica criativa, porém fantasiada de testemunhal. Com um ritmo ágil, "Táxi Teerã" tem um refinamento técnico e artístico peculiar já que a qualidade da imagem indica uma certa precariedade, mas sua montagem em nada remete à uma obra caseira feita por um diretor filmando escondido para não ser preso. Veja, um simples táxi se transforma em uma espécie de palco onde, para nós ocidentais, o absurdo das situações pode chocar e a ironia do texto serve justamente para criar uma linha tênue entre a lástima e o humor - que é perfeitamente transformada em ação na última cena do filme.
"Táxi Teerã" levou dois prêmios no Festival de Berlin em 2015 - o "FIPRESCI" e o "Urso de Ouro" para Jafar Panahi; mas tenha muito claro que o filme é quase experimental, completamente autoral e sem nenhuma preocupação de seguir qualquer conceito narrativo usual. Posso garantir que esse é um filme extremamente nichado, onde a mensagem por traz de cada cena tem um peso muito maior do que realmente pode parecer, então se você não estiver disposto a mergulhar nessa proposta, não dê o play; por outro lado, entender uma realidade tão distante chega a ser fascinante e se essa for sua vontade, você está de frente com uma obra importante, criativa e provocadora.
"Táxi Teerã" é essencialmente provocador, onde o principal objetivo é retratar a realidade de um país afogado em regras e restrições democráticas (e religiosas) que impactam, inclusive, na liberdade (e por que não na vida) do indivíduo. Antes de mais nada, é preciso alertar que o filme não tem uma narrativa convencional, na forma clássica de se contar uma história e muito menos no seu conteúdo. Não se trata de uma trama com começo, meio e fim, e sim um manifesto, independente - um recorte social e uma crítica sobre a censura institucional.
Jafar Panahi é um diretor favorável à democracia, o que resultou em uma longa perseguição por parte do regime iraniano que restringiu muito dos seus filmes em nome do "bom senso" e que chegou ao ponto de o levar para prisão. Proibido de fazer filmes pelo governo, Panahi, ao melhor estilo Wood Allen, se apresenta como um simples motorista de táxi e resolve gravar os desafios sociais no Irã personificados através de seus passageiros. Confira o trailer:
Panahi é uma pessoa real, um cineasta conhecido no seu país e isso sugere que, inicialmente, "Táxi Teerã" seja um documentário. De fato sua estrutura se assemelha muito mais ao reality do que ao ficcional, porém o filme começa a mostrar ao que veio quando a dinâmica entre os personagens vai se construindo naturalmente com a mediação discreta de Panahi - em vários momentos fica impossível definir se uma situação é real ou encenada. Essa proposta traz um certo charme ao filme, mas são os assuntos discutidos que fortalecem a narrativa: um homem e uma mulher, cada um com seu ponto de vista, usando, inclusive, argumentos divertidos sobre a validade da pena de morte, dão o tom ao que parece ser uma esquete de um "Late Night". Imediatamente esse mood se transforma quando somos surpreendido por um passageiro acidentado que ao entrar no taxi pede para Panahi gravar seu depoimento como forma de validar um testamento para sua mulher caso algo pior lhe aconteça. E assim as histórias vão sendo construídas e desconstruídas com a mesma velocidade que um passageiro entra e sai de um táxi.
Quando um vendedor de filmes piratas, reconhece Panahi e começa a conversar sobre o cinema alternativo e questionar se os passageiros que estavam no táxi eram atores, temos a exata noção do que o diretor quer entregar: uma crítica criativa, porém fantasiada de testemunhal. Com um ritmo ágil, "Táxi Teerã" tem um refinamento técnico e artístico peculiar já que a qualidade da imagem indica uma certa precariedade, mas sua montagem em nada remete à uma obra caseira feita por um diretor filmando escondido para não ser preso. Veja, um simples táxi se transforma em uma espécie de palco onde, para nós ocidentais, o absurdo das situações pode chocar e a ironia do texto serve justamente para criar uma linha tênue entre a lástima e o humor - que é perfeitamente transformada em ação na última cena do filme.
"Táxi Teerã" levou dois prêmios no Festival de Berlin em 2015 - o "FIPRESCI" e o "Urso de Ouro" para Jafar Panahi; mas tenha muito claro que o filme é quase experimental, completamente autoral e sem nenhuma preocupação de seguir qualquer conceito narrativo usual. Posso garantir que esse é um filme extremamente nichado, onde a mensagem por traz de cada cena tem um peso muito maior do que realmente pode parecer, então se você não estiver disposto a mergulhar nessa proposta, não dê o play; por outro lado, entender uma realidade tão distante chega a ser fascinante e se essa for sua vontade, você está de frente com uma obra importante, criativa e provocadora.
Se "Mythic Quest" satiriza o mundo dos games e "Episodes" faz o mesmo com os bastidores de uma Emissora de TV, ambas com roteiros inteligentes, mas fantasiadas de non-sense, "Ted Lasso", série da AppleTV+, segue exatamente a mesma linha, porém usando o esporte como vitima da vez, mais especificamente o futebol inglês e a Premiere League - um elemento, porém, que faz toda diferença: o choque cultural (e esportivo) entre americanos e ingleses!
A série gira em torno de um técnico de futebol americano universitário que acaba de ser contratado para tentar salvar um time de futebol profissional, da primeira divisão inglesa, que está prestes a ser rebaixado. Confira o trailer:
É claro que quem tem uma certa familiaridade com o futebol (sabe a importância do campeonato inglês e como ele se tornou uma das principais vitrines do esporte mundial) e ainda entende um pouco de futebol americano e como a modalidade tem um forte impacto na cultura dos EUA (ainda mais no Kansas, de onde Ted vem) vai entender alguns detalhes bem particulares de um roteiro extremamente bem escrito, cheio de nuances e trocadilhos que, infelizmente, devem passar batido para muitos. Por outro lado, o ótimo trabalho de Jason Sudeikis (como o protagonista, Ted Lasso) elimina qualquer falta de familiaridade com ambos os esportes pelo simples fato de se tratar de um personagem muito cativante e cirurgicamente bem construído dentro de um misto de ingenuidade e genialidade - mesmo sendo over em 90% dos episódios!
"Ted Lasso" é uma espécie de "up grade" de um projeto com um estereotipado técnico de futebol americano que apareceu pela primeira vez em uma série de vídeos promocionais para a NBC Sports. Engraçado (e afiado), Lasso, se encaixou perfeitamente em um universo de projeção muito maior: o futebol. O interessante é que essa migração de universos esportivos não descaracterizou o personagem, muito bem desenvolvido em cima do conceito "e se?". O que eu quero dizer é que "Ted Lasso" quer responder uma pergunta simples: "e se" um coach que não sabe nem que o futebol tem dois tempos e não quatro, que você "treina" e não "pratica", que não sabe a diferença entre escanteio e impedimento, e (isso é incrível) que odeia empate; fosse contratado para treinar um time da principal liga de futebol profissional do mundo?
É claro que a resposta seria: "Não vai dar certo"! E era isso mesmo que Rebecca (a brilhante, Hannah Waddingham), nova Presidente do time, que assumiu em meio ao caos pessoal, depois de se separar do marido playboy, infiel e arrogante, e ver seu divórcio ser exposto (reparem) nos jornais sensacionalistas britânicos. Com isso, o único objetivo de Rebecca passa a ser atingir o ex-marido e nada melhor do que destruir o seu time do coração, o AFC Richmond! Engraçado que o carisma e a pureza de Lasso, além do seu otimismo indiscutível, vão conquistando desde os jogadores (e aqui você tem um retrato completamente estereotipado do que se tornaram esses atletas (e nem por isso mentiroso), uma arrogante imprensa britânica que (como todos sabem) adora misturar a vida profissional com a pessoal das suas vítimas, até os próprios torcedores que enxergam (com muita paixão) a contratação do americano como um verdadeiro absurdo.
Embora não seja seu principal objetivo, "Ted Lasso" traz conceitos empreendedores muito discutidos ultimamente, basta fazer uma relação entre o esporte e a liderança empresarial: a necessidade absurda de ser resiliente, a opção por considerar sempre o copo "meio" cheio (e nunca "meio" vazio), a importância do trabalho em equipe (em detrimento à estrela egoísta), de ouvir todos os colaboradores (afinal uma grande idéia pode surgir de qualquer um), de lidar com pessoas diferentes (de formas diferentes), de ser humilde, disposto a sempre aprender, de escutar, de inovar; tudo isso de uma forma leve, divertida, pouco expositiva ou didática.
O fato é que "Ted Lasso" é surpreendentemente boa e engraçada - talvez a melhor série de comédia lançada em 2020! Muito bem produzida a série já é apontada como uma das favoritas para a próxima temporada de premiações levando com ela, Jason Sudeikis e Hannah Waddingham. São muitos detalhes que não cabe aqui pontuá-los para não interferir na experiência de acompanhar a jornada de transformação que Lasso provoca. Se em "Episodes" vimos o choque cultural de roteiristas ingleses tentando emplacar seu sucesso nos EUA, aqui ocorre o contrário e de uma forma igualmente competente!
Vale muito a pena!
Se "Mythic Quest" satiriza o mundo dos games e "Episodes" faz o mesmo com os bastidores de uma Emissora de TV, ambas com roteiros inteligentes, mas fantasiadas de non-sense, "Ted Lasso", série da AppleTV+, segue exatamente a mesma linha, porém usando o esporte como vitima da vez, mais especificamente o futebol inglês e a Premiere League - um elemento, porém, que faz toda diferença: o choque cultural (e esportivo) entre americanos e ingleses!
A série gira em torno de um técnico de futebol americano universitário que acaba de ser contratado para tentar salvar um time de futebol profissional, da primeira divisão inglesa, que está prestes a ser rebaixado. Confira o trailer:
É claro que quem tem uma certa familiaridade com o futebol (sabe a importância do campeonato inglês e como ele se tornou uma das principais vitrines do esporte mundial) e ainda entende um pouco de futebol americano e como a modalidade tem um forte impacto na cultura dos EUA (ainda mais no Kansas, de onde Ted vem) vai entender alguns detalhes bem particulares de um roteiro extremamente bem escrito, cheio de nuances e trocadilhos que, infelizmente, devem passar batido para muitos. Por outro lado, o ótimo trabalho de Jason Sudeikis (como o protagonista, Ted Lasso) elimina qualquer falta de familiaridade com ambos os esportes pelo simples fato de se tratar de um personagem muito cativante e cirurgicamente bem construído dentro de um misto de ingenuidade e genialidade - mesmo sendo over em 90% dos episódios!
"Ted Lasso" é uma espécie de "up grade" de um projeto com um estereotipado técnico de futebol americano que apareceu pela primeira vez em uma série de vídeos promocionais para a NBC Sports. Engraçado (e afiado), Lasso, se encaixou perfeitamente em um universo de projeção muito maior: o futebol. O interessante é que essa migração de universos esportivos não descaracterizou o personagem, muito bem desenvolvido em cima do conceito "e se?". O que eu quero dizer é que "Ted Lasso" quer responder uma pergunta simples: "e se" um coach que não sabe nem que o futebol tem dois tempos e não quatro, que você "treina" e não "pratica", que não sabe a diferença entre escanteio e impedimento, e (isso é incrível) que odeia empate; fosse contratado para treinar um time da principal liga de futebol profissional do mundo?
É claro que a resposta seria: "Não vai dar certo"! E era isso mesmo que Rebecca (a brilhante, Hannah Waddingham), nova Presidente do time, que assumiu em meio ao caos pessoal, depois de se separar do marido playboy, infiel e arrogante, e ver seu divórcio ser exposto (reparem) nos jornais sensacionalistas britânicos. Com isso, o único objetivo de Rebecca passa a ser atingir o ex-marido e nada melhor do que destruir o seu time do coração, o AFC Richmond! Engraçado que o carisma e a pureza de Lasso, além do seu otimismo indiscutível, vão conquistando desde os jogadores (e aqui você tem um retrato completamente estereotipado do que se tornaram esses atletas (e nem por isso mentiroso), uma arrogante imprensa britânica que (como todos sabem) adora misturar a vida profissional com a pessoal das suas vítimas, até os próprios torcedores que enxergam (com muita paixão) a contratação do americano como um verdadeiro absurdo.
Embora não seja seu principal objetivo, "Ted Lasso" traz conceitos empreendedores muito discutidos ultimamente, basta fazer uma relação entre o esporte e a liderança empresarial: a necessidade absurda de ser resiliente, a opção por considerar sempre o copo "meio" cheio (e nunca "meio" vazio), a importância do trabalho em equipe (em detrimento à estrela egoísta), de ouvir todos os colaboradores (afinal uma grande idéia pode surgir de qualquer um), de lidar com pessoas diferentes (de formas diferentes), de ser humilde, disposto a sempre aprender, de escutar, de inovar; tudo isso de uma forma leve, divertida, pouco expositiva ou didática.
O fato é que "Ted Lasso" é surpreendentemente boa e engraçada - talvez a melhor série de comédia lançada em 2020! Muito bem produzida a série já é apontada como uma das favoritas para a próxima temporada de premiações levando com ela, Jason Sudeikis e Hannah Waddingham. São muitos detalhes que não cabe aqui pontuá-los para não interferir na experiência de acompanhar a jornada de transformação que Lasso provoca. Se em "Episodes" vimos o choque cultural de roteiristas ingleses tentando emplacar seu sucesso nos EUA, aqui ocorre o contrário e de uma forma igualmente competente!
Vale muito a pena!
Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!
Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.
O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.
O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".
Vale o play se você gostar do estilo.
Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!
Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.
O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.
O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".
Vale o play se você gostar do estilo.
"The White Lotus" é sensacional! Certamente uma das melhores séries do ano, porém não vai agradar a todos pelas suas escolhas conceituais e narrativas bem particulares - e aqui cabe uma rápida comparação: se você não gostou de "Breaking Bad", é bem possível que você também não goste dessa produção da HBO, pois embora sejam completamente diferentes, alguns elementos muito marcantes na série de Vince Gilligan e que dividiu a opinião da audiência, praticamente explodem na tela em "The White Lotus" como o refinado humor negro inserido em diálogos cheios de profundidade dramática, uma pontuação de moodquase "insuportável" de boa (que em Breaking Bad era visual e aqui é sonoro) e para finalizar, o time entre uma ação e sua consequência que implica em sensações muito incomodas. Mas calma, vou aprofundar melhor isso mais abaixo.
A narrativa, centrada em umresort de luxo no Havaí, acompanha o cotidiano de alguns hóspedes e membros do quadro de funcionários e, à medida que seus problemas se misturam, as tramas se afunilam em um emaranhado de mentiras, ressentimentos e discussões que colocam toda a atmosfera paradisíaca e relaxante em xeque. Nessa primeira temporada temos uma mulher emocionalmente afetada que precisa cumprir o ritual de jogar as cinzas da sua mãe no mar, uma família típica americana completamente desestruturada e um casal em Lua de Mel absolutamente desconectados entre si - o que eles tem em comum: todos são ricos, brancos e estão em posições privilegiadas na sociedade graças a essas características. Confira o trailer:
Primeiro vamos falar do roteiro - genial, mas longe de ser perfeito. Imagino que por algum tipo de estratégia (desnecessária), a série começa já no final de uma semana de férias onde descobrimos que alguém que estava noresort,morreu.Embora isso não impacte em absolutamente nada na experiência de assistir "The White Lotus", acaba até irritando quando nos deparamos com a solução desse "impasse"! Por outro lado, toda jornada se sobressai a partir de um texto muito inspirado que soube equilibrar três elementos essenciais para a construção de uma narrativa tão imersiva: o elenco, a trilha sonora e uma excepcional montagem.
A trilha sonora eclética composta por Cristobal Tapia de Veer (de "Electric Dreams") dita o ritmo sa série e nos traz sensações que uma montagem bem sagaz do Heather Persons ("The Flight Attendant") só amplifica. No meio disso tudo, um elenco sensacional. Destaque para Jennifer Coolidge como a solitária, insegura e cheia de problemas Tanya McQuoid; Steve Zahn, como Markum pai de família liberal e submisso marido de uma alta executiva paranóica e, finalmente, Murray Bartlett como Armond, o gerente do hotel, que enfrentou vícios e que há cinco anos luta para se manter sóbrio.
"The White Lotus" é um excelente entretenimento que mergulha nas diversas camadas dos personagens e que ritmadas por uma condução competente do diretor Mike White ("O Estado das Coisas") faz da crítica social apenas o ponto de partida para discutir uma série de outros assuntos que se fossem enxergados de outra forma, certamente, seriam classificados como "tabu". Eu diria que a série toca fundo no egocentrismo, no conformismo, na falta de noção e percepção de mundo, além é claro, do pessimismo perante uma conturbada essência humana.
Vale muito a pena! Mesmo!
"The White Lotus" é sensacional! Certamente uma das melhores séries do ano, porém não vai agradar a todos pelas suas escolhas conceituais e narrativas bem particulares - e aqui cabe uma rápida comparação: se você não gostou de "Breaking Bad", é bem possível que você também não goste dessa produção da HBO, pois embora sejam completamente diferentes, alguns elementos muito marcantes na série de Vince Gilligan e que dividiu a opinião da audiência, praticamente explodem na tela em "The White Lotus" como o refinado humor negro inserido em diálogos cheios de profundidade dramática, uma pontuação de moodquase "insuportável" de boa (que em Breaking Bad era visual e aqui é sonoro) e para finalizar, o time entre uma ação e sua consequência que implica em sensações muito incomodas. Mas calma, vou aprofundar melhor isso mais abaixo.
A narrativa, centrada em umresort de luxo no Havaí, acompanha o cotidiano de alguns hóspedes e membros do quadro de funcionários e, à medida que seus problemas se misturam, as tramas se afunilam em um emaranhado de mentiras, ressentimentos e discussões que colocam toda a atmosfera paradisíaca e relaxante em xeque. Nessa primeira temporada temos uma mulher emocionalmente afetada que precisa cumprir o ritual de jogar as cinzas da sua mãe no mar, uma família típica americana completamente desestruturada e um casal em Lua de Mel absolutamente desconectados entre si - o que eles tem em comum: todos são ricos, brancos e estão em posições privilegiadas na sociedade graças a essas características. Confira o trailer:
Primeiro vamos falar do roteiro - genial, mas longe de ser perfeito. Imagino que por algum tipo de estratégia (desnecessária), a série começa já no final de uma semana de férias onde descobrimos que alguém que estava noresort,morreu.Embora isso não impacte em absolutamente nada na experiência de assistir "The White Lotus", acaba até irritando quando nos deparamos com a solução desse "impasse"! Por outro lado, toda jornada se sobressai a partir de um texto muito inspirado que soube equilibrar três elementos essenciais para a construção de uma narrativa tão imersiva: o elenco, a trilha sonora e uma excepcional montagem.
A trilha sonora eclética composta por Cristobal Tapia de Veer (de "Electric Dreams") dita o ritmo sa série e nos traz sensações que uma montagem bem sagaz do Heather Persons ("The Flight Attendant") só amplifica. No meio disso tudo, um elenco sensacional. Destaque para Jennifer Coolidge como a solitária, insegura e cheia de problemas Tanya McQuoid; Steve Zahn, como Markum pai de família liberal e submisso marido de uma alta executiva paranóica e, finalmente, Murray Bartlett como Armond, o gerente do hotel, que enfrentou vícios e que há cinco anos luta para se manter sóbrio.
"The White Lotus" é um excelente entretenimento que mergulha nas diversas camadas dos personagens e que ritmadas por uma condução competente do diretor Mike White ("O Estado das Coisas") faz da crítica social apenas o ponto de partida para discutir uma série de outros assuntos que se fossem enxergados de outra forma, certamente, seriam classificados como "tabu". Eu diria que a série toca fundo no egocentrismo, no conformismo, na falta de noção e percepção de mundo, além é claro, do pessimismo perante uma conturbada essência humana.
Vale muito a pena! Mesmo!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!
Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!
O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo.
É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!
Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!
Essa é uma série despretenciosa que foi lançada sem tanto alarde pela HBO em 2015. e que fechou o seu ciclo com apenas duas temporadas - se você gosta de séries como "Easy"ou "Modern Love", certamente "Togetherness" é para você, mas saiba que o gostinho de "quero mais" pode te consumir no final do 16º episódio. Criada pelos irmãos Duplass (dos geniais "Transparent" e "Room 104") e por Steve Zissis (de "Cruella"), "Togetherness" te fará rir e chorar em uma jornada, de fato, apaixonante. Com um humor até certo ponto ácido e uma sensibilidade bastante aguçada, a narrativa explora com muita inteligência os desafios da vida adulta com um toque de realismo que nos distancia daquelas comédias românticas mais tradicionais - talvez por isso ela tenha agradado mais a critica do que o público em geral, mesmo depois das duas indicações no "Critics Choice Awards" de 2015.
A trama, basicamente, gira em torno de Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey), um casal que enfrenta uma crise no casamento após a chegada dos filhos. Buscando recuperar a chama da paixão, eles decidem convidar o melhor amigo de Brett, Alex (Steve Zissis), e a irmã de Michelle, Tina (Amanda Peet), para morarem com eles. A convivência entre os quatro personagens, com suas próprias frustrações e inseguranças, gera situações hilárias e comoventes, explorando temas como amizade, amor, família e a busca pela felicidade. Confira o trailer a seguir (em inglês):
Me diga se você já viu isso em algum ligar: primeiro um casal na faixa dos seus 35 anos, com família e tudo mais, que se amam, mas que vem sofrendo com o desgaste natural após 10 anos de relacionamento. Segundo, um outro casal de amigos improváveis formado por um ator, quase fracassado, e uma linda mulher que ainda está solteira, mas não se conforma com isso. Pois é, eu sei sua resposta e é justamente isso que torna "Togetherness" imperdível - a forma como os irmãos Duplass e a Nicole Holofcener capturam a essência da vida real, com seus altos e baixos, sem filtros ou romantizações, é impressionante (e dolorido). Reparem como a série até começa apresentando um lado mais cômico da trama e de seus personagens, mas conforme vão passando os episódios é o drama que vai dando o tom da narrativa.
"Togetherness" se destaca pela naturalidade das atuações de seu pequeno elenco - mérito da direção sensível e cirúrgica dos Duplass. Não por acaso, todo aquele contexto de identificação nos leva para uma jornada verdadeiramente emocional, onde nos empatizamos com as dúvidas e angústias dos personagens ao ponto de nos fazer questionar nossas próprias escolhas de vida. Sem dúvida que a série representa um convite a reflexão sobre o que realmente importa na vida.
Ao mesmo tempo que nos diverte com situações e personagens excêntricos cheios de camadas que nos conquistam com sua humanidade, "Togetherness" também sabe ser apaixonante pelas discussões sobre os dilemas da vida adulta. Os irmãos Duplass mais uma vez marcam um golaço com essa comédia dramática que aposta na sabedoria de seu conceito narrativo para falar de sentimentos e trazer sensações muito presentes em algum momento da nossa vida - é o equilíbrio perfeito entre o alivio cômico e o drama mais intenso! Olhando alguns anos em retrospectiva, fica fácil atestar que "Togetherness" merecia uma melhor chance - leia-se uma terceira e definitiva temporada!
Sim, essa é daquelas de sentimos seu cancelamento, mas que ainda assim merece ser descoberta!
Essa é uma série despretenciosa que foi lançada sem tanto alarde pela HBO em 2015. e que fechou o seu ciclo com apenas duas temporadas - se você gosta de séries como "Easy"ou "Modern Love", certamente "Togetherness" é para você, mas saiba que o gostinho de "quero mais" pode te consumir no final do 16º episódio. Criada pelos irmãos Duplass (dos geniais "Transparent" e "Room 104") e por Steve Zissis (de "Cruella"), "Togetherness" te fará rir e chorar em uma jornada, de fato, apaixonante. Com um humor até certo ponto ácido e uma sensibilidade bastante aguçada, a narrativa explora com muita inteligência os desafios da vida adulta com um toque de realismo que nos distancia daquelas comédias românticas mais tradicionais - talvez por isso ela tenha agradado mais a critica do que o público em geral, mesmo depois das duas indicações no "Critics Choice Awards" de 2015.
A trama, basicamente, gira em torno de Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey), um casal que enfrenta uma crise no casamento após a chegada dos filhos. Buscando recuperar a chama da paixão, eles decidem convidar o melhor amigo de Brett, Alex (Steve Zissis), e a irmã de Michelle, Tina (Amanda Peet), para morarem com eles. A convivência entre os quatro personagens, com suas próprias frustrações e inseguranças, gera situações hilárias e comoventes, explorando temas como amizade, amor, família e a busca pela felicidade. Confira o trailer a seguir (em inglês):
Me diga se você já viu isso em algum ligar: primeiro um casal na faixa dos seus 35 anos, com família e tudo mais, que se amam, mas que vem sofrendo com o desgaste natural após 10 anos de relacionamento. Segundo, um outro casal de amigos improváveis formado por um ator, quase fracassado, e uma linda mulher que ainda está solteira, mas não se conforma com isso. Pois é, eu sei sua resposta e é justamente isso que torna "Togetherness" imperdível - a forma como os irmãos Duplass e a Nicole Holofcener capturam a essência da vida real, com seus altos e baixos, sem filtros ou romantizações, é impressionante (e dolorido). Reparem como a série até começa apresentando um lado mais cômico da trama e de seus personagens, mas conforme vão passando os episódios é o drama que vai dando o tom da narrativa.
"Togetherness" se destaca pela naturalidade das atuações de seu pequeno elenco - mérito da direção sensível e cirúrgica dos Duplass. Não por acaso, todo aquele contexto de identificação nos leva para uma jornada verdadeiramente emocional, onde nos empatizamos com as dúvidas e angústias dos personagens ao ponto de nos fazer questionar nossas próprias escolhas de vida. Sem dúvida que a série representa um convite a reflexão sobre o que realmente importa na vida.
Ao mesmo tempo que nos diverte com situações e personagens excêntricos cheios de camadas que nos conquistam com sua humanidade, "Togetherness" também sabe ser apaixonante pelas discussões sobre os dilemas da vida adulta. Os irmãos Duplass mais uma vez marcam um golaço com essa comédia dramática que aposta na sabedoria de seu conceito narrativo para falar de sentimentos e trazer sensações muito presentes em algum momento da nossa vida - é o equilíbrio perfeito entre o alivio cômico e o drama mais intenso! Olhando alguns anos em retrospectiva, fica fácil atestar que "Togetherness" merecia uma melhor chance - leia-se uma terceira e definitiva temporada!
Sim, essa é daquelas de sentimos seu cancelamento, mas que ainda assim merece ser descoberta!
Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.
Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:
Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza" expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.
Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.
"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".
Vale muito o seu play!
Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!
Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.
Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:
Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza" expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.
Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.
"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".
Vale muito o seu play!
Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!