"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!
Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):
Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".
É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White. A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.
A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero.
"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!
Vale muito a pena!
"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!
Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):
Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".
É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White. A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.
A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero.
"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!
Vale muito a pena!
Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!
"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:
A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.
Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!
Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.
Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!
Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!
Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadié um desses caras. Todos os filmes dele são realmente muito bons, acima da média! "O apartamento" não é diferente: ganhou Cannes, Oscar, Globo de Ouro e mais de 80 festivais importantes pelo mundo!
"The Salesman" (em titulo internacional) conta a história de um casal que é obrigado a se mudar para um apto onde a antiga moradora era uma prostituta. Essa particularidade acaba gerando uma situação que marca a relação deles, iniciando um jogo psicológico ao melhor estilo Denis Villeneuve em "Os Suspeitos". Confira o trailer:
A trama de "O Apartamento" apresenta o casal Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) novos locatários do apartamento de Babak (Babak Karimi), que acabou despejando a antiga moradora, uma prostituta. Certa noite, Rana esquece a porta do apartamento aberta e acaba sendo estuprada por um intruso misterioso que deixa para trás algumas pistas de sua identidade. Revoltado, Emad prefere não avisar a polícia e inicia uma investigação por conta própria na tentativa de descobrir o autor do crime enquanto tenta apoiar sua esposa, manter seu emprego, superar o trauma e continuar sua vida.
Uma das coisas que precisamos elogiar no trabalho sensacional do Asghar Farhadi é sua discrição - ele dirige seus filmes sem querer aparecer mais do que sua obra. Em todos os seus trabalhos, ele coloca a câmera sempre no melhor lugar, mesmo que esse lugar seja o mais óbvio possível para contar aquela parte da história. Ele é muito técnico, seguro e prioriza o trabalho de direção de atores como poucos da sua geração - o que inegavelmente faz toda a diferença. Reparem aqui no trabalho profundo de Hosseini e Alidoosti!
Outra coisa que chama muito a atenção ao acompanhar o trabalho de Farhadi é que ele escreve todos os filmes que dirige - chega ser impressionante como ele consegue manter a qualidade da escrita alinhada com a sua capacidade como diretor. Em "O Apartamento", ele vai construindo uma narrativa densa e multifacetada, explorando as profundezas da psique humana e as complexas relações interpessoais - eu diria que seu principal gatilho está justamente em desvendar os segredos dos personagens e a questionar suas motivações. Isso cria uma atmosfera de angustia onde, a cada cena, a tensão e o suspense só aumentam, mas de uma forma muito palpável.
Asghar Farhadi tem 2 Oscars, e só não ganhou o terceiro com "O Passado" em 2014 porque seria barbada demais - tanto que já tinha levado o Globo de Ouro naquele ano. Agora é preciso que se diga: "O Apartamento" é indigesto ao retratar temas como violência, vingança, culpa e redenção em uma jornada que não oferece respostas fáceis, mas que nos leva por uma jornada profunda de julgamento e de análise moral dos personagens e, claro, de suas ações. Imperdível!
Sim, estamos diante de um cinema iraniano de muita qualidade!
Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!
Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:
"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.
O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!
Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!
Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!
Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:
"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.
O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!
Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!