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A Escavação

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

Assista Agora

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

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Bastardos Inglórios

"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Destacamento Blood

O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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Dunkirk

Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

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Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

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Golda

Golda

Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

Assista Agora

Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

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Greyhound

"Greyhound" merecia ser visto no cinema - de preferência em um IMax! Esse novo filme do Tom Hanks, que inclusive assina o roteiro, é uma adaptação o livro "The Good Shepherd", escrito em 1955 pelo autor C.S. Forester, e mostra a jornada do capitão Ernest Krause (Hanks) que, durante a Segunda Guerra Mundial, recebe a difícil missão de levar 37 navios aliados dos EUA até o Reino Unido, pelo Atlântico, em uma região repleta de submarinos U-Boats alemães. Confira o trailer (em inglês): 

Embora o filme tenha uma dinâmica narrativa focada em um único personagem e nas decisões que ele precisa tomar para cumprir sua missão (e sobreviver), durante os 90 minutos de história, "Greyhound" está longe de ser um grande filme como "1917" - que se apoia na mesma premissa, porém em outro cenário! É claro que a tensão existe, que o visual é incrível e que o desenho de som e a mixagem criam um ambiente bastante interessante, como era de se esperar, mas o fato é que "Greyhound" não trás o diferencial estético que supere um roteiro sem muitos atrativos. O filme é um ótimo entretenimento, tem a ação que o gênero pede, mas no final não passa de mais um filme americano sobre a jornada do seu herói que luta com todas as adversidades e vence de maneira improvável seus inimigos - e fique tranquilo, isso não é spoiler, é só a constatação de um estilo de filme que se aproxima muito mais da estrutura de "Armagedom" ou "Pearl Harbor" do que de um genial "Dunkirk", por exemplo! Claro que "Greyhound" vale a pena, mas muito mais pela diversão e entretenimento, do que pela representatividade que o filme poderia ter na história!

Assista Agora ou

"Greyhound" merecia ser visto no cinema - de preferência em um IMax! Esse novo filme do Tom Hanks, que inclusive assina o roteiro, é uma adaptação o livro "The Good Shepherd", escrito em 1955 pelo autor C.S. Forester, e mostra a jornada do capitão Ernest Krause (Hanks) que, durante a Segunda Guerra Mundial, recebe a difícil missão de levar 37 navios aliados dos EUA até o Reino Unido, pelo Atlântico, em uma região repleta de submarinos U-Boats alemães. Confira o trailer (em inglês): 

Embora o filme tenha uma dinâmica narrativa focada em um único personagem e nas decisões que ele precisa tomar para cumprir sua missão (e sobreviver), durante os 90 minutos de história, "Greyhound" está longe de ser um grande filme como "1917" - que se apoia na mesma premissa, porém em outro cenário! É claro que a tensão existe, que o visual é incrível e que o desenho de som e a mixagem criam um ambiente bastante interessante, como era de se esperar, mas o fato é que "Greyhound" não trás o diferencial estético que supere um roteiro sem muitos atrativos. O filme é um ótimo entretenimento, tem a ação que o gênero pede, mas no final não passa de mais um filme americano sobre a jornada do seu herói que luta com todas as adversidades e vence de maneira improvável seus inimigos - e fique tranquilo, isso não é spoiler, é só a constatação de um estilo de filme que se aproxima muito mais da estrutura de "Armagedom" ou "Pearl Harbor" do que de um genial "Dunkirk", por exemplo! Claro que "Greyhound" vale a pena, mas muito mais pela diversão e entretenimento, do que pela representatividade que o filme poderia ter na história!

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Jojo Rabbit

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

Assista Agora

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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My Brilliant Friend

Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.

Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:

Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.

A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.

Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.

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Mais do que uma história sobre amizade, "My Brilliant Friend" é uma verdadeira jornada de descoberta! Premiadíssima, "L'amica geniale" (no original) é uma adaptação das mais ambiciosas e delicadas da obra de Elena Ferrante, e acompanha a complexa e intensa relação entre duas mulheres ao longo de décadas, retratando tanto as mudanças pessoais quanto os contextos sociais e políticos que moldam suas vidas. A narrativa é uma fusão de um profundo drama íntimo com uma pertinente reflexão social, tecendo uma história envolvente sobre a identidade e os desafios da emancipação feminina em uma sociedade patriarcal.

Criada por Saverio Costanzo, a série começa nos anos 1950, em um bairro pobre de Nápoles, e segue a vida de Elena Greco (apelidada de Lenù) e Raffaella Cerullo (a Lila), duas meninas de personalidades opostas, mas ligadas por uma amizade verdadeira. Lenù (Margherita Mazzucco e Elisa Del Genio) é introspectiva e estudiosa, enquanto Lila (Gaia Girace e Ludovica Nasti) é determinada e impulsiva, com um intelecto brilhante que desafia sua condição social. À medida que crescem, a amizade das duas passa por transformações, da infância para a adolescência, e depois para a vida adulta; enquanto lidam com expectativas, com a violência e com oportunidades desiguais. Confira o trailer:

Pode ser que você não se apaixone imediatamente por "My Brilliant Friend" - seu ritmo é lento e sua abordagem é mais contemplativa. Para aqueles acostumados com narrativas mais aceleradas, essa produção da HBO em parceira com a RAI pode parecer excessivamente meticulosa, mas acredite: é justamente essa escolha conceitual, parte de sua identidade e do compromisso em capturar a profundidade das emoções e dos dilemas vividos pelas protagonistas, que vai fazer você não tirar os olhos da tela por algumas boas temporadas. Costanzo faz um trabalho cuidadoso na reconstrução dos cenários e na criação de uma atmosfera que envolve a audiência através dos anos do pós-guerra. Com uma fotografia linda, ele utiliza de uma paleta de cores sombria e uma estética realista para nos deixar imersos nas ruas apertadas de Nápoles onde as fachadas desgastadas dos prédios refletem a dureza da vida cotidiana e a opressão social que define os destinos de seus personagens. Esse realismo cru se estende ao uso do dialeto napolitano, que intensifica a sensação palpável do contraste entre o mundo local e as aspirações intelectuais e culturais de Lenù, por exemplo.

A direção de Costanzo é muito feliz ao evitar o melodrama, mantendo um tom introspectivo que dá espaço para que as emoções dos personagens sejam sentidas de forma orgânica. Mesmo com uma narrativa cadenciada, focada nos detalhes da vida cotidiana, é nas nuances das relações humanas que a série ganha seu brilho. A amizade entre Lenù e Lila é retratada com verdade diante de sua complexidade, revelando tanto a cumplicidade quanto a competição que define o vínculo entre elas. A tensão constante entre admiração e ressentimento é um dos eixos de "My Brilliant Friend", assim como a forma com que elas tentam escapar das limitações impostas por sua classe social e gênero - olha, é lindo de se ver. Margherita Mazzucco e Gaia Girace, que interpretam as versões adolescentes de Lenù e Lila, trazem uma intensidade visceral ao capturar a dualidade de suas personagens - a admiração mútua e a rivalidade, a esperança e a frustração. De maneira autêntica e envolvente, a transição para a vida adulta é marcada por muitos desafios - algo que a série explora com inteligência e competência durante as temporadas. É impressionante como o nível não cai, eu diria até que só melhora.

Com um roteiro fiel à obra de Ferrante, preservando a estrutura literária e o tom introspectivo do texto original, e uma narração em off (de Lenù), que reflete sobre os eventos com o distanciamento de alguém que olha para o passado, temos uma jornada que, de fato, mantém a essência contemplativa do livro. Ou seja, "My Brilliant Friend" é uma aula de adaptação bem sucedida, que aborda questões amplas como a violência de gênero, a educação como forma de ascensão social e a opressão patriarcal através dos tempos, sem jamais perder de vista a intimidade e a amizade que é o coração dessa história imperdível! Olha, acho que é o respeito ao espírito da obra original e a profundidade psicológica das protagonistas que tornam essa série uma experiência realmente envolvente - mas é só para aqueles que buscam uma narrativa que vai além do entretenimento superficial.

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O Destino de uma Nação

Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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O Filho de Saul

O cinema de horror ou de sobrevivência em contextos extremos raramente oferece uma experiência tão visceral e imersiva quanto "O Filho de Saul". Dirigido pelo László Nemes (de "Entardecer"), essa produção húngara foi aclamada com o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2015 e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 - sem falar no BAFTA e no Goya de 2017, e no Critics Choice, no Cézar Awards e no Globo de Ouro também em 2016. Na verdade, esse filme é um testemunho impactante da brutalidade do Holocausto, contudo ao invés de se concentrar na vastidão do terror nazista, o roteiro opta por fazer um retrato íntimo, quase claustrofóbico, acompanhando cada passo de seu protagonista em uma narrativa que é tanto um ato de resistência quanto um grito silencioso de desespero. "O Filho de Saul" não só desafia as convenções do cinema atual sobre o Holocausto, como também redefine o próprio gênero com uma abordagem técnica inovadora e uma profundidade emocional sem paralelo - eu diria até comparável em seu impacto a "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg, a "A Vida é Bela" de Roberto Benigni ou até o "Zona de Interesse" de Jonathan Glazer, mas com um realismo e uma intensidade que são inigualáveis.

A história segue Saul Ausländer (Géza Röhrig), um judeu-húngaro prisioneiro em um campo de concentração que trabalha como membro do Sonderkommando - esse era o tipo de prisioneiro que era forçado a ajudar na execução e cremação dos judeus. Em meio a uma dessas "missões", Saul encontra o corpo de uma criança que ele acredita poder ser seu filho. Em um gesto de profunda humanidade (e resistência), ele decide arriscar sua vida para dar aquela criança um enterro adequado, enfrentando obstáculos quase insuperáveis para encontrar um rabino que possa conduzir uma proibida cerimônia religiosa. Confira o trailer:

Partindo de premissa dessa missão desesperada e solitária de Saul que define o arco dramático do filme e traz à tona questões éticas e morais que transcendem o contexto histórico, o que encontramos na tela é um verdadeiro soco no estômago onde tudo, absolutamente tudo, é construído para nos tirar da zona de conforto. Certamente o diferencial técnico mais notável em "O Filho de Saul" seja o uso de uma cinematografia singular. Rodado em 35mm e com uma razão de aspecto de 1.37:1, o diretor de fotografia Mátyás Erdély (de "O Refúgio") captura a experiência do protagonista em closes extremos e com planos longos, o que mantêm o foco restrito no personagem central, enquanto o horror do campo de concentração permanece desfocado e praticamente indefinível no fundo. Essa escolha conceitual não apenas reforça a percepção de confinamento e opressão, mas também faz com que a audiência viva a jornada de Saul de forma quase que em primeira pessoa. Veja, a câmera se torna uma extensão da própria visão do protagonista, nos conduzindo pelos corredores e câmaras de gás de Auschwitz com uma proximidade sufocante e imersiva, que traduz a desumanização e o caos de forma brutalmente eficaz.

É inegável que a atuação contida de Géza Röhrig é fundamental para o sucesso deste experimento narrativo. Seu desempenho contrasta com a agonia e a urgência de sua missão. Röhrig infunde Saul com uma dignidade teimosa e uma dor interna que raramente se expressa através de palavras, mas que transborda a cada gesto e olhar - é um lindo trabalho de ator. O elenco de apoio, incluindo Levente Molnár como Abraham e Urs Rechn como Biedermann também merecem elogios ao complementar essa intensidade, oferecendo performances que, mesmo em papéis menores, contribuem demais para a atmosfera sufocante e tensa. Outros aspectos que merecem sua atenção é a trilha sonora (ou em muitos momentos, a falta dela) e o design de som - essa combinação amplifica nossa experiência de uma forma tão visceral que beira o insuportável. Saiba que em "O Filho de Saul", o silêncio é frequentemente interrompido apenas pelo som ambiente do campo - como em "Zona de Interesse", só ouvimos os gritos, ordens em alemão, tiros, sofrimento e dor. E tem mais: aqui ainda percebemos essa composição se entrelaçando com a respiração e com os passos de Saul, criando uma abordagem sonora minimalista que reforça a autenticidade da experiência e que evita qualquer sensação de sentimentalismo barato, permitindo que a brutalidade daquele cenário fale por si só.

Concluindo, "O Filho de Saul" é uma obra que transcende a mera representação do Holocausto para se tornar um estudo profundo sobre a resistência da humanidade em face da absoluta falta de amor e respeito. Esse é um filme difícil, cheio de identidade, que desafia a audiência a confrontar a brutalidade do passado pela perspectiva perturbadora da realidade, sem oferecer o consolo de uma narrativa mais tradicional. Nemes cria uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo devastadora e necessária - um testamento à força de vontade e à luta incessante pela dignidade. Um filme que vai além do óbvio e que oferece uma visão angustiante, mas essencial, de uma história que não podemos esquecer.

Imperdível!

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O cinema de horror ou de sobrevivência em contextos extremos raramente oferece uma experiência tão visceral e imersiva quanto "O Filho de Saul". Dirigido pelo László Nemes (de "Entardecer"), essa produção húngara foi aclamada com o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2015 e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 - sem falar no BAFTA e no Goya de 2017, e no Critics Choice, no Cézar Awards e no Globo de Ouro também em 2016. Na verdade, esse filme é um testemunho impactante da brutalidade do Holocausto, contudo ao invés de se concentrar na vastidão do terror nazista, o roteiro opta por fazer um retrato íntimo, quase claustrofóbico, acompanhando cada passo de seu protagonista em uma narrativa que é tanto um ato de resistência quanto um grito silencioso de desespero. "O Filho de Saul" não só desafia as convenções do cinema atual sobre o Holocausto, como também redefine o próprio gênero com uma abordagem técnica inovadora e uma profundidade emocional sem paralelo - eu diria até comparável em seu impacto a "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg, a "A Vida é Bela" de Roberto Benigni ou até o "Zona de Interesse" de Jonathan Glazer, mas com um realismo e uma intensidade que são inigualáveis.

A história segue Saul Ausländer (Géza Röhrig), um judeu-húngaro prisioneiro em um campo de concentração que trabalha como membro do Sonderkommando - esse era o tipo de prisioneiro que era forçado a ajudar na execução e cremação dos judeus. Em meio a uma dessas "missões", Saul encontra o corpo de uma criança que ele acredita poder ser seu filho. Em um gesto de profunda humanidade (e resistência), ele decide arriscar sua vida para dar aquela criança um enterro adequado, enfrentando obstáculos quase insuperáveis para encontrar um rabino que possa conduzir uma proibida cerimônia religiosa. Confira o trailer:

Partindo de premissa dessa missão desesperada e solitária de Saul que define o arco dramático do filme e traz à tona questões éticas e morais que transcendem o contexto histórico, o que encontramos na tela é um verdadeiro soco no estômago onde tudo, absolutamente tudo, é construído para nos tirar da zona de conforto. Certamente o diferencial técnico mais notável em "O Filho de Saul" seja o uso de uma cinematografia singular. Rodado em 35mm e com uma razão de aspecto de 1.37:1, o diretor de fotografia Mátyás Erdély (de "O Refúgio") captura a experiência do protagonista em closes extremos e com planos longos, o que mantêm o foco restrito no personagem central, enquanto o horror do campo de concentração permanece desfocado e praticamente indefinível no fundo. Essa escolha conceitual não apenas reforça a percepção de confinamento e opressão, mas também faz com que a audiência viva a jornada de Saul de forma quase que em primeira pessoa. Veja, a câmera se torna uma extensão da própria visão do protagonista, nos conduzindo pelos corredores e câmaras de gás de Auschwitz com uma proximidade sufocante e imersiva, que traduz a desumanização e o caos de forma brutalmente eficaz.

É inegável que a atuação contida de Géza Röhrig é fundamental para o sucesso deste experimento narrativo. Seu desempenho contrasta com a agonia e a urgência de sua missão. Röhrig infunde Saul com uma dignidade teimosa e uma dor interna que raramente se expressa através de palavras, mas que transborda a cada gesto e olhar - é um lindo trabalho de ator. O elenco de apoio, incluindo Levente Molnár como Abraham e Urs Rechn como Biedermann também merecem elogios ao complementar essa intensidade, oferecendo performances que, mesmo em papéis menores, contribuem demais para a atmosfera sufocante e tensa. Outros aspectos que merecem sua atenção é a trilha sonora (ou em muitos momentos, a falta dela) e o design de som - essa combinação amplifica nossa experiência de uma forma tão visceral que beira o insuportável. Saiba que em "O Filho de Saul", o silêncio é frequentemente interrompido apenas pelo som ambiente do campo - como em "Zona de Interesse", só ouvimos os gritos, ordens em alemão, tiros, sofrimento e dor. E tem mais: aqui ainda percebemos essa composição se entrelaçando com a respiração e com os passos de Saul, criando uma abordagem sonora minimalista que reforça a autenticidade da experiência e que evita qualquer sensação de sentimentalismo barato, permitindo que a brutalidade daquele cenário fale por si só.

Concluindo, "O Filho de Saul" é uma obra que transcende a mera representação do Holocausto para se tornar um estudo profundo sobre a resistência da humanidade em face da absoluta falta de amor e respeito. Esse é um filme difícil, cheio de identidade, que desafia a audiência a confrontar a brutalidade do passado pela perspectiva perturbadora da realidade, sem oferecer o consolo de uma narrativa mais tradicional. Nemes cria uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo devastadora e necessária - um testamento à força de vontade e à luta incessante pela dignidade. Um filme que vai além do óbvio e que oferece uma visão angustiante, mas essencial, de uma história que não podemos esquecer.

Imperdível!

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Operação Cerveja

Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Os Meninos que Enganavam Nazistas

Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Os Segredos que Guardamos

Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.

A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com  o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora  "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.

Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.

"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!

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Somos os que Tiveram Sorte

Esteja preparado para uma jornada que vai mexer com suas emoções - do inicio ao fim e sem pedir muita licença! "Somos os que Tiveram Sorte", minissérie criada por Erica Lipez (de "The Morning Show"), é baseada no aclamado romance homônimo de Georgia Hunter e retrata a emocionante e angustiante história de uma família judia polonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma estrutura narrativa que abrange vários países e linhas temporais diferentes, "Somos os que Tiveram Sorte" pode ser considerada uma verdadeira saga épica sobre resiliência, sobrevivência e amor, sempre pela perspectiva dos inabaláveis laços familiares. Para os fãs de dramas históricos sobre o Holocausto, esta minissérie oferece uma experiência, de fato, envolvente, difícil, profunda e emocionalmente poderosa.

A trama segue a família Kurc, começando na cidade de Radom, na Polônia, um ano antes da invasão nazista em 1939. À medida que a guerra se aproxima e vai se espalhando pela Europa, os Kurc são forçados a se separar e seguir diferentes caminhos, cada um enfrentando desafios devastadores em sua luta pela sobrevivência. A minissérie explora justamente as jornadas dos irmãos Kurc — incluindo uma fuga perigosa para a Rússia, as dores e dificuldades nos campos de trabalho forçado, a busca desesperada por entes queridos desaparecidos e a resistência corajosa em face da ocupação nazista. Confira o trailer:

Como é possível perceber por esse belíssimo trailer, a narrativa não apenas ilumina as histórias individuais de coragem e sacrifício dos Kurc, como também destaca a força coletiva da família e sua determinação de se reunir novamente após o terror da guerra. Nesse sentido, Erica Lipez adapta o romance de Georgia Hunter com uma fidelidade impressionante ao mesmo tempo em que cria uma dinâmica cinematográfica visualmente deslumbrante e emocionalmente envolvente. A minissérie é estruturada de uma maneira não linear, saltando entre diferentes linhas temporais (e geográficas), o que permite uma exploração mais profunda dos personagens e de suas experiências únicas diante do medo em várias esferas. Essa estrutura, aliás, é ponto fundamental para refletir, com muita veracidade, o caos e a fragmentação causados pela guerra, entrelaçando as histórias da família de maneira a nos manter envolvidos e emocionalmente provocados.

A direção de "Somos os que Tiveram Sorte", realizada pelo talentoso trio Thomas Kail (de "Hamilton"), Amit Gupta (de "His Dark Materials") e Neasa Hardiman (de "Happy Valley"), consegue capturar tanto a grandiosidade dos eventos históricos quanto a intimidade das experiências mais pessoais dos personagens, proporcionando uma imersão brutal em um período que transformou a vida das pessoas e deixou marcas difíceis de curar. Aqui preciso citar dois pontos: primeiro a fotografia de Tim Ives (indicado a três Emmys e responsável pelo conceito visual de "Stranger Things") - seu trabalho é notável ao partir de uma paleta desbotada que reflete o ambiente sombrio e opressor da guerra, enquanto nas cenas de flashback ele se apropria de cores mais quentes e vibrantes, para destacar o contraste entre os tempos de paz e os horrores da guerra. Repare como essa escolha visual impacta diretamente na nossa relação emocional com a história. Depois, a trilha sonora, composta por Jon Ehrlich (de "House") e Rachel Portman (vencedora do Oscar por Emma") - é impressionante como as composições melancólicas (e muitas vezes evocativas) intensificam as cenas mais dramáticas e oferecem um contraponto potente aos momentos de silêncio e de reflexão, ajudando a criar uma atmosfera não só de tristeza, mas também de esperança e perseverança.

"Somos os que Tiveram Sorte" é dura! Parte da audiência pode achar que a minissérie é cadenciada demais e até um pouco confusa de acompanhar. É verdade, no entanto é preciso que se diga que a natureza mais abrangente da narrativa ajuda demais nessa conexão mais empática com os personagens e, de maneira comovente, nos oferece uma exploração rica e complexa de um dos períodos mais sombrios da história moderna.

Uma pancada, mas que vale cada segundo do seu play!

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Esteja preparado para uma jornada que vai mexer com suas emoções - do inicio ao fim e sem pedir muita licença! "Somos os que Tiveram Sorte", minissérie criada por Erica Lipez (de "The Morning Show"), é baseada no aclamado romance homônimo de Georgia Hunter e retrata a emocionante e angustiante história de uma família judia polonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma estrutura narrativa que abrange vários países e linhas temporais diferentes, "Somos os que Tiveram Sorte" pode ser considerada uma verdadeira saga épica sobre resiliência, sobrevivência e amor, sempre pela perspectiva dos inabaláveis laços familiares. Para os fãs de dramas históricos sobre o Holocausto, esta minissérie oferece uma experiência, de fato, envolvente, difícil, profunda e emocionalmente poderosa.

A trama segue a família Kurc, começando na cidade de Radom, na Polônia, um ano antes da invasão nazista em 1939. À medida que a guerra se aproxima e vai se espalhando pela Europa, os Kurc são forçados a se separar e seguir diferentes caminhos, cada um enfrentando desafios devastadores em sua luta pela sobrevivência. A minissérie explora justamente as jornadas dos irmãos Kurc — incluindo uma fuga perigosa para a Rússia, as dores e dificuldades nos campos de trabalho forçado, a busca desesperada por entes queridos desaparecidos e a resistência corajosa em face da ocupação nazista. Confira o trailer:

Como é possível perceber por esse belíssimo trailer, a narrativa não apenas ilumina as histórias individuais de coragem e sacrifício dos Kurc, como também destaca a força coletiva da família e sua determinação de se reunir novamente após o terror da guerra. Nesse sentido, Erica Lipez adapta o romance de Georgia Hunter com uma fidelidade impressionante ao mesmo tempo em que cria uma dinâmica cinematográfica visualmente deslumbrante e emocionalmente envolvente. A minissérie é estruturada de uma maneira não linear, saltando entre diferentes linhas temporais (e geográficas), o que permite uma exploração mais profunda dos personagens e de suas experiências únicas diante do medo em várias esferas. Essa estrutura, aliás, é ponto fundamental para refletir, com muita veracidade, o caos e a fragmentação causados pela guerra, entrelaçando as histórias da família de maneira a nos manter envolvidos e emocionalmente provocados.

A direção de "Somos os que Tiveram Sorte", realizada pelo talentoso trio Thomas Kail (de "Hamilton"), Amit Gupta (de "His Dark Materials") e Neasa Hardiman (de "Happy Valley"), consegue capturar tanto a grandiosidade dos eventos históricos quanto a intimidade das experiências mais pessoais dos personagens, proporcionando uma imersão brutal em um período que transformou a vida das pessoas e deixou marcas difíceis de curar. Aqui preciso citar dois pontos: primeiro a fotografia de Tim Ives (indicado a três Emmys e responsável pelo conceito visual de "Stranger Things") - seu trabalho é notável ao partir de uma paleta desbotada que reflete o ambiente sombrio e opressor da guerra, enquanto nas cenas de flashback ele se apropria de cores mais quentes e vibrantes, para destacar o contraste entre os tempos de paz e os horrores da guerra. Repare como essa escolha visual impacta diretamente na nossa relação emocional com a história. Depois, a trilha sonora, composta por Jon Ehrlich (de "House") e Rachel Portman (vencedora do Oscar por Emma") - é impressionante como as composições melancólicas (e muitas vezes evocativas) intensificam as cenas mais dramáticas e oferecem um contraponto potente aos momentos de silêncio e de reflexão, ajudando a criar uma atmosfera não só de tristeza, mas também de esperança e perseverança.

"Somos os que Tiveram Sorte" é dura! Parte da audiência pode achar que a minissérie é cadenciada demais e até um pouco confusa de acompanhar. É verdade, no entanto é preciso que se diga que a natureza mais abrangente da narrativa ajuda demais nessa conexão mais empática com os personagens e, de maneira comovente, nos oferece uma exploração rica e complexa de um dos períodos mais sombrios da história moderna.

Uma pancada, mas que vale cada segundo do seu play!

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Uma Vida

Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

Vale muito o seu play!

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Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

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Zona de Interesse

Mais do que um soco no estômago (o que de fato, é), "Zona de Interesse" é um verdadeiro tapa na cara da audiência quando, respeitando a potência e a importância da história que está sendo contata, criamos uma certa analogia com o mundo que vivemos hoje - especialmente se olharmos pelo prisma das diferenças sociais tão latentes e que cada vez vem ganhando mais espaço e profundidade pelas mãos do cinema independente (basta olharmos para o sucesso de "Parasita", por exemplo). Pois bem, o filme do diretor Jonathan Glazer nem de longe será uma unanimidade e certamente deve afastar aqueles que buscam respostas claras em uma narrativa. Aqui temos uma experiência cinematográfica visceral e perturbadora, mas muito mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado - não por acaso que o filme surpreendeu no Oscar 2024 ao levar o prêmio de Melhor Desenho de Som. Aclamado pela crítica e vencedor do prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes, além do Oscar de Melhor Filme Internacional, "Zona de Interesse" nos leva a um olhar instigante sobre a banalidade do egoísmo e da relação humana perante o desconfortável.

Na trama acompanhamos o comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) enquanto constroem uma vida familiar bucólica em uma casa de luxo exatamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz. A rotina doméstica, com seus afazeres banais e conversas triviais, contrasta brutalmente com os horrores que se desenrolam a poucos metros de distância - não raramente simbolizado pelos sons de tiros, gritos e até de um potente incinerador noturno. Essa justaposição cria um efeito tão desconcertante que temos a exata noção do que é morar ao lado do inferno sem ter que olhar para ele. Confira o trailer e sinta o clima:

"Zona de Interesse" não é um filme fácil de assistir - em sua forma e em seu conteúdo. Através de sua abordagem original e corajosa, o filme nos convida a confrontar os horrores do passado e a refletir sobre as raízes do mal, tanto na sociedade quanto no indivíduo - existe um tom de urgência em sua proposta conceitual que sem a menor dúvida coloca o filme naquela prateleira de obra tão necessária quanto importante.Glazer, que basicamente construiu sua carreira dirigindo videos musicais de bandas consagradas como "Massive Attack"e "Radiohead", utiliza uma série de recursos técnicos e estéticos para criar e desenvolver a atmosfera extremamente claustrofóbica e opressora de Auschwitz com o cuidado de não expor visualmente nenhum de seus horrores. Aqui o foco não é o horror em si, mas a percepção dele pelo olhar de quem não quer enfrentá-lo por estar em uma posição mais confortável socialmente.

A fotografia do grande Lukasz Zal (indicado ao Oscar por "Guerra Fria" e pelo fabuloso "Ida") se apropria de enquadramentos rigorosos para criar uma abismo estético entre o real e o fantasioso. Se de um lado do muro as cores brotam do chão a partir da delicadeza das flores em um encontro simbólico entre a paz, a segurança e a tranquilidade; do outro o que vemos é o frio e o monocromático dos tons de cinza e marrom. Reparem como essa experiência visual nos lembra o contraste tão marcante de "Florida Project". A direção precisa de Glazer (uma das melhores do ano) sabe nos provocar de uma maneira muito sensorial, nos jogando por uma jornada perturbadora, sem jamais cair na exploração gratuita da violência ou no sentimentalismo - e é com o apoio da trilha sonora minimalista e de um premiado desenho de som, que temos uma mixagem/aula sobre criação de desconforto e de angústia constantes.

"Zona de Interesse" é mesmo um filme imperdível, mas sua identidade mais independente tende a dividir opiniões. Sem perder aquele natural incômodo de um ritmo super cadenciado, Glazer parece não querer questionar os motivos das crueldades que acontecem do "outro lado do muro" ou até mesmo as motivações dos Höss em se fazerem de surdos em troca de uma vida pautada pela comodidade - e aqui é muito interessante reparar como os personagens secundários lidam com essa mesma condição, mas com propósitos diametralmente opostos. Ainda que o filme pareça trazer para os holofotes toda a crueldade nazista, seu objetivo mesmo é pontuar como o comportamento humano se adapta àquela zona de conforto (ou de interesse) sem muito questionar o status quo.

Imperdível em vários sentidos!

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Mais do que um soco no estômago (o que de fato, é), "Zona de Interesse" é um verdadeiro tapa na cara da audiência quando, respeitando a potência e a importância da história que está sendo contata, criamos uma certa analogia com o mundo que vivemos hoje - especialmente se olharmos pelo prisma das diferenças sociais tão latentes e que cada vez vem ganhando mais espaço e profundidade pelas mãos do cinema independente (basta olharmos para o sucesso de "Parasita", por exemplo). Pois bem, o filme do diretor Jonathan Glazer nem de longe será uma unanimidade e certamente deve afastar aqueles que buscam respostas claras em uma narrativa. Aqui temos uma experiência cinematográfica visceral e perturbadora, mas muito mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado - não por acaso que o filme surpreendeu no Oscar 2024 ao levar o prêmio de Melhor Desenho de Som. Aclamado pela crítica e vencedor do prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes, além do Oscar de Melhor Filme Internacional, "Zona de Interesse" nos leva a um olhar instigante sobre a banalidade do egoísmo e da relação humana perante o desconfortável.

Na trama acompanhamos o comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) enquanto constroem uma vida familiar bucólica em uma casa de luxo exatamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz. A rotina doméstica, com seus afazeres banais e conversas triviais, contrasta brutalmente com os horrores que se desenrolam a poucos metros de distância - não raramente simbolizado pelos sons de tiros, gritos e até de um potente incinerador noturno. Essa justaposição cria um efeito tão desconcertante que temos a exata noção do que é morar ao lado do inferno sem ter que olhar para ele. Confira o trailer e sinta o clima:

"Zona de Interesse" não é um filme fácil de assistir - em sua forma e em seu conteúdo. Através de sua abordagem original e corajosa, o filme nos convida a confrontar os horrores do passado e a refletir sobre as raízes do mal, tanto na sociedade quanto no indivíduo - existe um tom de urgência em sua proposta conceitual que sem a menor dúvida coloca o filme naquela prateleira de obra tão necessária quanto importante.Glazer, que basicamente construiu sua carreira dirigindo videos musicais de bandas consagradas como "Massive Attack"e "Radiohead", utiliza uma série de recursos técnicos e estéticos para criar e desenvolver a atmosfera extremamente claustrofóbica e opressora de Auschwitz com o cuidado de não expor visualmente nenhum de seus horrores. Aqui o foco não é o horror em si, mas a percepção dele pelo olhar de quem não quer enfrentá-lo por estar em uma posição mais confortável socialmente.

A fotografia do grande Lukasz Zal (indicado ao Oscar por "Guerra Fria" e pelo fabuloso "Ida") se apropria de enquadramentos rigorosos para criar uma abismo estético entre o real e o fantasioso. Se de um lado do muro as cores brotam do chão a partir da delicadeza das flores em um encontro simbólico entre a paz, a segurança e a tranquilidade; do outro o que vemos é o frio e o monocromático dos tons de cinza e marrom. Reparem como essa experiência visual nos lembra o contraste tão marcante de "Florida Project". A direção precisa de Glazer (uma das melhores do ano) sabe nos provocar de uma maneira muito sensorial, nos jogando por uma jornada perturbadora, sem jamais cair na exploração gratuita da violência ou no sentimentalismo - e é com o apoio da trilha sonora minimalista e de um premiado desenho de som, que temos uma mixagem/aula sobre criação de desconforto e de angústia constantes.

"Zona de Interesse" é mesmo um filme imperdível, mas sua identidade mais independente tende a dividir opiniões. Sem perder aquele natural incômodo de um ritmo super cadenciado, Glazer parece não querer questionar os motivos das crueldades que acontecem do "outro lado do muro" ou até mesmo as motivações dos Höss em se fazerem de surdos em troca de uma vida pautada pela comodidade - e aqui é muito interessante reparar como os personagens secundários lidam com essa mesma condição, mas com propósitos diametralmente opostos. Ainda que o filme pareça trazer para os holofotes toda a crueldade nazista, seu objetivo mesmo é pontuar como o comportamento humano se adapta àquela zona de conforto (ou de interesse) sem muito questionar o status quo.

Imperdível em vários sentidos!

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