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1917

Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro! Assistam o vídeo abaixo e entendam a complexidade que foi produzir "1917". Reparem nas soluções encontradas para uma cena noturna (que ficou maravilhosa na tela) e como isso tudo foi cuidadosamente planejado:

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

Assista Agora

Assistir "1917" é como jogar "Medal of Honor" - a experiência é muito parecida e o fato de ter sido filmado em longos planos-sequência só fortalece essa tese, afinal o Diretor Sam Mendes te coloca em cena sem pedir licença! Embora a história seja muito simples: dois soldados são designados para entregar um carta ao oficial responsável por um batalhão de 1600 homens, cancelando um ataque que aparentemente seria um emboscada preparada pelos alemães. O grande problema é que para chegar até o destino, os dois soldados precisam atravessar o território inimigo o mais rápido possível, durante o dia e sem chamar a atenção, ou seja, uma missão quase impossível!

Só pela sinopse já dá para sentir o nível de tensão que representa essa jornada e como no video game, a gente nunca sabe "onde" e "quando" os inimigos vão atacar! É um fato afirmar que "1917" não é o melhor filme dos indicados ao Oscar, mas é preciso dizer também que, sem dúvida, é o mais espetacular e grandioso de todos eles, por consequência o mais complexo de se filmar - mas esses detalhes mais técnicos eu explico abaixo! Para você que sente saudade daquele clima de tensão de "O resgate do soldado Ryan" e de "Band of Brothers" ou é um apaixonado por jogos de guerra como "Call of Duty", não perca tempo, assista "1917" porque a imersão é enorme e a diversão está garantida!

Embora o marketing do filme aqui no Brasil tenha se apoiado na informação de que "1917" é um grande plano-sequência, essa premissa é mentirosa, mas isso não tem a menor importância, pois o que interessa é o conceito por trás das escolhas do diretor Sam Mendes (Beleza Americana) e do diretor de fotografia, Roger Deakins - 14 vezes indicado ao Oscar e vencedor por "Blade Runner 2049" em 2018. Claramente inspirado pelo processo de imersão dos jogos de video game, Mendes e Deakins quebraram a cabeça para colocar a audiência dentro do filme e explorar de maneira muito orgânica todos os movimentos de câmera que criassem a sensação de continuidade e realismo que é estar em um campo de batalha. A preocupação não era contar a história em um único plano, mas sim usar essa técnica para ampliar as sensações do público - nesse contexto outra peça importante merece ser citada: o montador Lee Smith (vencedor do Oscar por Dunkirk em 2018). Mesmo não sendo indicado ao Oscar desse ano, Smith teve um papel fundamental para criar a dinâmica de "1917": escolher o frame exato para juntar as partes e criar a sensação de continuidade sem perder o ritmo do filme. 

Deakins ainda contou com o departamento de arte para recriar os campos de batalha em tamanho real para filmar cada uma das cenas: com atores, figurantes e tudo mais, em movimentos extremamente delicados, coreografadas e ensaiados, além de fazer um estudo profundo em maquetes desse cenário para aí sim escolher qual câmera, qual lente, qual equipamento de movimento e, principalmente, para saber onde colocaria cada ponto de luz artificial sem que pudesse aparecer - afinal não era possível contar com muitos cortes. Tudo isso sem falar na necessidade de ter uma continuidade da incidência de sol para que tudo ficasse natural e na montagem se encaixasse perfeitamente. Gente, isso é muito difícil, pois como todos sabem, o sol não fica parado no mesmo lugar o dia inteiro! Assistam o vídeo abaixo e entendam a complexidade que foi produzir "1917". Reparem nas soluções encontradas para uma cena noturna (que ficou maravilhosa na tela) e como isso tudo foi cuidadosamente planejado:

Outros dois elementos técnicos que ajudaram muito na construção e ambientação do filme foram: edição de som e mixagem. A edição de som é o momento onde todos os elementos sonoros da cena são criados para entregar o resultado que vemos na tela. Imaginem em um plano sem cortes, como tudo tem que se encaixar perfeitamente para criar a sensação de caos que é um campo de batalha. Nenhum dos ruídos ou barulhos que você ouve assistindo o filme foram captados durante a filmagem - do som do caminhar na grama, do avião voando ao fundo, da bomba explodindo, da porta abrindo e, às vezes, até do próprio personagem falando. Se com os cortes, já seria preocupante essa montagem, imagina em vários planos-sequência? - é muito difícil ter o controle sobre tudo, sobre cada detalhe! Já a mixagem pega todos esses elementos que foram criados e editados e ajusta exatamente no nível certo para que ambientação seja a mais natural possível. É lá que o silêncio ganha a força da dramaticidade de uma cena e a trilha sonora é inserida para ajudar no sentimento que um determinado momento pode causar! Por favor, ao assistir "1917" (e outros filmes, claro) reparem como existem inúmeros elementos sonoros que juntos criam a tensão, o desespero, a angústia! A trilha sonora desse filme é outro espetáculo, mas merece um post à parte!

"1917" é um filme complexo, como foi "Gravidade" por exemplo! Um filme que só aconteceu porque contou com mentes brilhantes e muito talento em cada um dos departamentos - é o maior exemplo de como o filme que chega na tela é uma obra coletiva (e não só do diretor como muitos acreditam). Se uma dessas engrenagens fosse mediana, não teríamos um filme como esse! "1917" é tecnicamente perfeito, mas não é o melhor filme. Das 10 indicações que levou para o Oscar, tem grandes chances em Edição de Som, Mixagem, Desenho de Produção, Trilha Sonora, Fotografia e Direção. Efeitos Visuais e Maquiagem (Cabelo) pode surpreender, mas não é o favorito. Roteiro Original não deveria nem ter sido indicado (achei só "ok") e Melhor Filme pode até levar, mas não seria justo com pelo menos 3 dos indicados!

Assista "1917" na maior tela que conseguir e com o melhor equipamento de som que estiver disponível! Vai por mim!

Up-date: "1917" ganhou em três categorias no Oscar 2020: Melhor Efeitos Visuais, Melhor Mixagem de Som e Melhor Fotografia!

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Cherry

"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.

O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.

Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:

Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).

Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.

Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".

Vale muito o play, mesmo assim.

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Dunkirk

Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

Assista Agora

Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

Assista Agora

Golda

Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

Assista Agora

Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

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Greyhound

Greyhound

"Greyhound" merecia ser visto no cinema - de preferência em um IMax! Esse novo filme do Tom Hanks, que inclusive assina o roteiro, é uma adaptação o livro "The Good Shepherd", escrito em 1955 pelo autor C.S. Forester, e mostra a jornada do capitão Ernest Krause (Hanks) que, durante a Segunda Guerra Mundial, recebe a difícil missão de levar 37 navios aliados dos EUA até o Reino Unido, pelo Atlântico, em uma região repleta de submarinos U-Boats alemães. Confira o trailer (em inglês): 

Embora o filme tenha uma dinâmica narrativa focada em um único personagem e nas decisões que ele precisa tomar para cumprir sua missão (e sobreviver), durante os 90 minutos de história, "Greyhound" está longe de ser um grande filme como "1917" - que se apoia na mesma premissa, porém em outro cenário! É claro que a tensão existe, que o visual é incrível e que o desenho de som e a mixagem criam um ambiente bastante interessante, como era de se esperar, mas o fato é que "Greyhound" não trás o diferencial estético que supere um roteiro sem muitos atrativos. O filme é um ótimo entretenimento, tem a ação que o gênero pede, mas no final não passa de mais um filme americano sobre a jornada do seu herói que luta com todas as adversidades e vence de maneira improvável seus inimigos - e fique tranquilo, isso não é spoiler, é só a constatação de um estilo de filme que se aproxima muito mais da estrutura de "Armagedom" ou "Pearl Harbor" do que de um genial "Dunkirk", por exemplo! Claro que "Greyhound" vale a pena, mas muito mais pela diversão e entretenimento, do que pela representatividade que o filme poderia ter na história!

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"Greyhound" merecia ser visto no cinema - de preferência em um IMax! Esse novo filme do Tom Hanks, que inclusive assina o roteiro, é uma adaptação o livro "The Good Shepherd", escrito em 1955 pelo autor C.S. Forester, e mostra a jornada do capitão Ernest Krause (Hanks) que, durante a Segunda Guerra Mundial, recebe a difícil missão de levar 37 navios aliados dos EUA até o Reino Unido, pelo Atlântico, em uma região repleta de submarinos U-Boats alemães. Confira o trailer (em inglês): 

Embora o filme tenha uma dinâmica narrativa focada em um único personagem e nas decisões que ele precisa tomar para cumprir sua missão (e sobreviver), durante os 90 minutos de história, "Greyhound" está longe de ser um grande filme como "1917" - que se apoia na mesma premissa, porém em outro cenário! É claro que a tensão existe, que o visual é incrível e que o desenho de som e a mixagem criam um ambiente bastante interessante, como era de se esperar, mas o fato é que "Greyhound" não trás o diferencial estético que supere um roteiro sem muitos atrativos. O filme é um ótimo entretenimento, tem a ação que o gênero pede, mas no final não passa de mais um filme americano sobre a jornada do seu herói que luta com todas as adversidades e vence de maneira improvável seus inimigos - e fique tranquilo, isso não é spoiler, é só a constatação de um estilo de filme que se aproxima muito mais da estrutura de "Armagedom" ou "Pearl Harbor" do que de um genial "Dunkirk", por exemplo! Claro que "Greyhound" vale a pena, mas muito mais pela diversão e entretenimento, do que pela representatividade que o filme poderia ter na história!

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Jojo Rabbit

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

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Nada de Novo no Front

"Nada de Novo no Front" pode ser considerado, tranquilamente, um dos melhores filmes de 2022 - da mesma forma como também deve ser classificado como um dos mais violentos e impactantes visualmente - ele é, de fato, muito pesado! Saiba que após o "play" você estará diante de uma jornada de cerca de duas horas e meia, muito dura, visceral, indigesta e extremamente tocante - eu diria que essa produção da Netflix é praticamente um complemento ou um outro ponto de vista do que assistimos no brilhante "1917"!

"Nada de Novo no Front" conta a emocionante história de um jovem alemão, Paul Baumer (Felix Kammerer), e de seus amigos Albert Kopp (Aaron Hilmer) e Franz Muller (Moritz Klaus), durante a Primeira Guerra Mundial. Lutando pelas próprias vidas, Paul e seus colegas sentem como a euforia inicial, marcada por uma onda de fervor patriótico, se transforma em desespero e medo quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Confira o trailer:

"Im Westen nichts Neues" (no original) é baseado no livro de Erich Maria Remarque publicado em 1929. Já em 1930, a primeira versão de "Nada de Novo no Front", dirigida por Lewis Milestone, venceu o Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Roteiro", "Melhor Fotografia" e "Melhor Direção". Chancelado por uma obra premiada e inegavelmente potente, o talentoso diretor alemão Edward Berger (vencedor do Emmy em 2018 por "Patrick Melrose" e do Urso de Ouro em Berlin por "Jack", em 2014) reconstrói uma atmosfera da primeira guerra tão realista quanto impressionante, se apropriando de uma dinâmica narrativa muito envolvente que nem vemos o tempo passar!

Alguns elementos saltam aos olhos: o elenco é o primeiro deles. É tocante como todos os atores (protagonistas e coadjuvantes) passam de uma maneira muito autêntica, todo o horror de estar em uma situação indigna e desprovida de qualquer humanidade, seja durante as batalhas, seja nos momentos em que buscam alguma esperança de um dia voltar para casa, vivos - aliás, estar vivo é um dos gatilhos narrativos que mais vai te provocar durante o filme. A partir de uma bela, mas densa, fotografia do inglês James Friend (vencedor do BAFTA por "Rillington Place"), somos expostos ao que de pior a guerra pode representar e muito habilmente, Berger não suaviza em nenhum momento, deixando claro que diferença entre a vida e morte passa por um mísero milésimo de segundo (ou qualquer ação mal pensada).

"Nada de Novo no Front" foi construído de uma forma que nos tira o fôlego (mesmo com raros momentos de alívios narrativos) - as situações são, de fato, angustiantes e diversas vezes claustrofóbicas, mas é na capacidade humana de representar o medo através do olhar, que mais somos tocados. É interessante como o roteiro (também escrito por Edward Berger) faz paralelos entre o caos e o luxo, entre o horror e a tranquilidade, entre o gabinete politico e o campo de batalha. Tudo é tão bem encaixado pela edição do Sven Budelmann (de "Dark") que temos uma noção exata de como o "bastidor" é tão cruel quanto o "palco", e vice-versa. Reparem como a trilha sonora conecta esses dois mundos - ela parece rasgar a narrativa, cortando a ação com sons e notas completamente desconcertantes que incomodam demais.

Olha, "Nada de Novo no Front" vale muito a pena, mas saiba que não será uma jornada das mais fáceis!

Up-date: o Filme ganhou em quatro categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme Internacional!

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"Nada de Novo no Front" pode ser considerado, tranquilamente, um dos melhores filmes de 2022 - da mesma forma como também deve ser classificado como um dos mais violentos e impactantes visualmente - ele é, de fato, muito pesado! Saiba que após o "play" você estará diante de uma jornada de cerca de duas horas e meia, muito dura, visceral, indigesta e extremamente tocante - eu diria que essa produção da Netflix é praticamente um complemento ou um outro ponto de vista do que assistimos no brilhante "1917"!

"Nada de Novo no Front" conta a emocionante história de um jovem alemão, Paul Baumer (Felix Kammerer), e de seus amigos Albert Kopp (Aaron Hilmer) e Franz Muller (Moritz Klaus), durante a Primeira Guerra Mundial. Lutando pelas próprias vidas, Paul e seus colegas sentem como a euforia inicial, marcada por uma onda de fervor patriótico, se transforma em desespero e medo quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Confira o trailer:

"Im Westen nichts Neues" (no original) é baseado no livro de Erich Maria Remarque publicado em 1929. Já em 1930, a primeira versão de "Nada de Novo no Front", dirigida por Lewis Milestone, venceu o Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Roteiro", "Melhor Fotografia" e "Melhor Direção". Chancelado por uma obra premiada e inegavelmente potente, o talentoso diretor alemão Edward Berger (vencedor do Emmy em 2018 por "Patrick Melrose" e do Urso de Ouro em Berlin por "Jack", em 2014) reconstrói uma atmosfera da primeira guerra tão realista quanto impressionante, se apropriando de uma dinâmica narrativa muito envolvente que nem vemos o tempo passar!

Alguns elementos saltam aos olhos: o elenco é o primeiro deles. É tocante como todos os atores (protagonistas e coadjuvantes) passam de uma maneira muito autêntica, todo o horror de estar em uma situação indigna e desprovida de qualquer humanidade, seja durante as batalhas, seja nos momentos em que buscam alguma esperança de um dia voltar para casa, vivos - aliás, estar vivo é um dos gatilhos narrativos que mais vai te provocar durante o filme. A partir de uma bela, mas densa, fotografia do inglês James Friend (vencedor do BAFTA por "Rillington Place"), somos expostos ao que de pior a guerra pode representar e muito habilmente, Berger não suaviza em nenhum momento, deixando claro que diferença entre a vida e morte passa por um mísero milésimo de segundo (ou qualquer ação mal pensada).

"Nada de Novo no Front" foi construído de uma forma que nos tira o fôlego (mesmo com raros momentos de alívios narrativos) - as situações são, de fato, angustiantes e diversas vezes claustrofóbicas, mas é na capacidade humana de representar o medo através do olhar, que mais somos tocados. É interessante como o roteiro (também escrito por Edward Berger) faz paralelos entre o caos e o luxo, entre o horror e a tranquilidade, entre o gabinete politico e o campo de batalha. Tudo é tão bem encaixado pela edição do Sven Budelmann (de "Dark") que temos uma noção exata de como o "bastidor" é tão cruel quanto o "palco", e vice-versa. Reparem como a trilha sonora conecta esses dois mundos - ela parece rasgar a narrativa, cortando a ação com sons e notas completamente desconcertantes que incomodam demais.

Olha, "Nada de Novo no Front" vale muito a pena, mas saiba que não será uma jornada das mais fáceis!

Up-date: o Filme ganhou em quatro categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme Internacional!

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O Destino de uma Nação

Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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O Limite

"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.

Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.

Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.

Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).

"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.

Vale muito a pena!

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"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.

Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.

Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.

Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).

"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.

Vale muito a pena!

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Os Meninos que Enganavam Nazistas

Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Pai, Filho, Pátria

"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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Top Gun: Maverick

Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

Vale muito o seu play!

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Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

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