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O Diabo no Tribunal

Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

Assista Agora

Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

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O Enfermeiro da Noite

"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!

A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:

Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.

Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.

 "O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!

A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:

Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.

Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.

 "O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.

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O Paciente

Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!

"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!

Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.

Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!

Vale muito o seu play! Só vai!

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Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!

"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:

Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!

Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.

Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!

Vale muito o seu play! Só vai!

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O Pálido Olho Azul

"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.

Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:

Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.

Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.

Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.

Vale muito seu play!

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"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.

Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:

Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.

Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.

Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.

Vale muito seu play!

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O Paraíso e a Serpente

O Paraíso e a Serpente

"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.

Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:

"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.

Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.

"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento. 

A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!

Assista Agora

"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.

Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:

"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.

Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.

"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento. 

A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!

Assista Agora

Os Filhos de Sam

A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

Vale o play!

Assista Agora

A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!

"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):

Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropseyvai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.

"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).

Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.

Vale o play!

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Outsider

Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

Assista Agora

Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.

A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer: 

"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.

Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!

Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.

Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!

Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!

Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.

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Perfume

"Perfume" é a comprovação que a produção da Alemanha, muito em breve, vai adquirir o respeito mundial das séries nórdicas - pode apostar!!! Depois de "Dark", "Parfum" (título original) dá uma aula de qualidade de produção, alinhando perfeitamente os aspectos técnicos e artísticos sem perder a sua identidade, o DNA do Cinema alemão! Na verdade "Perfume" parece ter saído da cena underground de Berlin Oriental do final dos anos 80, tamanha é a propriedade como o premiado diretor Philipp Kadelbach conduz a minissérie.

A história bebe na mesma fonte da versão cinematográfica de 2006 - o Romance do escritor Patrick Süskind. Mas as similaridades não vão muito além da idéia principal: a busca pelo perfume perfeito, mesmo que para isso seja necessário matar um ser humano para conseguir a matéria-prima! Na minissérie, que se passa nos dias atuais,  a busca pelo assassino começa quando uma desconhecida cantora é encontrada morta. As condições em que ela foi encontrada reascende uma série de dramas que cinco amigos da vítima viveram juntos durante a adolescência, em um orfanato na Alemanha. A partir daí, você vai encontrar uma trama extremamente inteligente, difícil e forte!!!

"Perfume" é um thriller realmente impactante, no seu conteúdo, na sua forma e no seu visual!!! Inicialmente, você se choca - é um fato!!! O Diretor não faz questão nenhuma de esconder nada e muito menos de deixar as coisas subentendidas. Ele mostra sem dó de quem está assistindo e o "look" da minissérie amplifica tudo isso - é um color grading extremamente contrastado, saturado e com uma predominância verde no presente, e granulado em um amarelo quase queimado no passado. É lindo, mas completamente distante da linha mais clean das séries atuais!!! A atuação também parece um pouco acima do tom, mas com o passar dos episódios, percebemos que ela também se adapta perfeitamente àquele clima sombrio. A fotografia, meu Deus, é maravilhosa. Os movimentos de câmera e a composição dos enquadramentos nas locações que eles filmaram é sensacional - sério, primeiro nível de produção!!!

O roteiro também é muito bom, achei que a trama e as sub tramas conversam perfeitamente do início ao fim; os flashbacks estão organicamente bem inseridos na montagem ajudando muito no entendimento dos fatos em duas linhas do tempos complementares. Eu assumo que percebi alguns furos ou algumas inconsistências de informações durante os episódios, mas em nada atrapalhou a minha experiência de acompanhar a investigação dos assassinatos em série. Aliás, outro grande mérito da série é a dinâmica narrativa muito bem equilibrada com a pegada mais poética do texto literário que te prende do começo ao fim. Tudo é muito bem envelopado e ajustado para termos as mesmas sensações que teríamos se estivéssemos lendo um livro de mistério - é genial!!!

São 6 episódios e uma hora em média e embora em alguns momentos o ritmo seja um pouco mais lento, "Perfume" comprova que uma boa história não precisa de enrolação; que a trama está sempre caminhando para a resolução sem muito rodeio: tudo está ali é só ir montando o quebra-cabeça junto com a policia. Meu único "porém": no sexto episódio somos apresentado a uma situação que poderia ter sido melhor desenvolvida durante a minissérie inteira, quase como se ela caísse de para-quedas - embora o roteiro não tivesse a intenção de me enganar, achei que faltaram algumas indicações mais contundentes de que aquilo pudesse realmente acontecer; mas meu amigo, isso é só um detalhe - não se apegue a ele e divirta-se porque a minissérie tem muita qualidade!!!

"Perfume" não é um Original Netflix, apenas os direitos de distribuição são - e tomara que em breve tenhamos mais produções alemãs desse mesmo nível!!!! Coisa linda de se ver e de se viver - vale o play agora!!!!!

Assista Agora

"Perfume" é a comprovação que a produção da Alemanha, muito em breve, vai adquirir o respeito mundial das séries nórdicas - pode apostar!!! Depois de "Dark", "Parfum" (título original) dá uma aula de qualidade de produção, alinhando perfeitamente os aspectos técnicos e artísticos sem perder a sua identidade, o DNA do Cinema alemão! Na verdade "Perfume" parece ter saído da cena underground de Berlin Oriental do final dos anos 80, tamanha é a propriedade como o premiado diretor Philipp Kadelbach conduz a minissérie.

A história bebe na mesma fonte da versão cinematográfica de 2006 - o Romance do escritor Patrick Süskind. Mas as similaridades não vão muito além da idéia principal: a busca pelo perfume perfeito, mesmo que para isso seja necessário matar um ser humano para conseguir a matéria-prima! Na minissérie, que se passa nos dias atuais,  a busca pelo assassino começa quando uma desconhecida cantora é encontrada morta. As condições em que ela foi encontrada reascende uma série de dramas que cinco amigos da vítima viveram juntos durante a adolescência, em um orfanato na Alemanha. A partir daí, você vai encontrar uma trama extremamente inteligente, difícil e forte!!!

"Perfume" é um thriller realmente impactante, no seu conteúdo, na sua forma e no seu visual!!! Inicialmente, você se choca - é um fato!!! O Diretor não faz questão nenhuma de esconder nada e muito menos de deixar as coisas subentendidas. Ele mostra sem dó de quem está assistindo e o "look" da minissérie amplifica tudo isso - é um color grading extremamente contrastado, saturado e com uma predominância verde no presente, e granulado em um amarelo quase queimado no passado. É lindo, mas completamente distante da linha mais clean das séries atuais!!! A atuação também parece um pouco acima do tom, mas com o passar dos episódios, percebemos que ela também se adapta perfeitamente àquele clima sombrio. A fotografia, meu Deus, é maravilhosa. Os movimentos de câmera e a composição dos enquadramentos nas locações que eles filmaram é sensacional - sério, primeiro nível de produção!!!

O roteiro também é muito bom, achei que a trama e as sub tramas conversam perfeitamente do início ao fim; os flashbacks estão organicamente bem inseridos na montagem ajudando muito no entendimento dos fatos em duas linhas do tempos complementares. Eu assumo que percebi alguns furos ou algumas inconsistências de informações durante os episódios, mas em nada atrapalhou a minha experiência de acompanhar a investigação dos assassinatos em série. Aliás, outro grande mérito da série é a dinâmica narrativa muito bem equilibrada com a pegada mais poética do texto literário que te prende do começo ao fim. Tudo é muito bem envelopado e ajustado para termos as mesmas sensações que teríamos se estivéssemos lendo um livro de mistério - é genial!!!

São 6 episódios e uma hora em média e embora em alguns momentos o ritmo seja um pouco mais lento, "Perfume" comprova que uma boa história não precisa de enrolação; que a trama está sempre caminhando para a resolução sem muito rodeio: tudo está ali é só ir montando o quebra-cabeça junto com a policia. Meu único "porém": no sexto episódio somos apresentado a uma situação que poderia ter sido melhor desenvolvida durante a minissérie inteira, quase como se ela caísse de para-quedas - embora o roteiro não tivesse a intenção de me enganar, achei que faltaram algumas indicações mais contundentes de que aquilo pudesse realmente acontecer; mas meu amigo, isso é só um detalhe - não se apegue a ele e divirta-se porque a minissérie tem muita qualidade!!!

"Perfume" não é um Original Netflix, apenas os direitos de distribuição são - e tomara que em breve tenhamos mais produções alemãs desse mesmo nível!!!! Coisa linda de se ver e de se viver - vale o play agora!!!!!

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Sharp Objects

Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!

"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.

A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido.  Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!

Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.

PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!! 

Assista Agora

Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!

"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.

A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido.  Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!

Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.

PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!! 

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Sombra Lunar

"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!

Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!

O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.

Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!

"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!

Assista Agora

"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!

Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!

O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.

Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!

"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!

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The Night Of

"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente. 

Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):

Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem! 

O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.

Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.

Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil,  que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!

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"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente. 

Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):

Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem! 

O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.

Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.

Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil,  que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!

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Um Pesadelo Americano

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

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"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

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Você

"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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