Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!
"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente.
"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!
(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.
(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!
(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!
(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!
(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!
(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!
Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!
O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.
Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!
Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!
"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente.
"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!
(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.
(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!
(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!
(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!
(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!
(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!
Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!
O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.
Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
A primeira coisa que você precisa saber sobre "Wasp Network - Rede de Espiões" é que não se trata de um filme de ação - ele funciona muito mais como um drama político! É claro que existe o elemento "espionagem" no roteiro, mas a forma como o diretor e roteirista francês Olivier Assayas (do ótimo "Carlos, o Chacal") adapta o livro do brasileiro Fernando Morais, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", acaba colocando o mito dos espiões em segundo plano, apostando muito mais na importância desses personagens na construção de uma rede do que na sua atividade propriamente dita!
Nos anos 90, diversos pontos turísticos de Cuba eram sucessivamente atingidos por ataques terroristas, autoria de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por expatriados descontentes com a Revolução Cubana de Fidel Castro - eram uma espécie de elite cubana que fugiu do país para morar na Flórida.O filme mostra o processo de criação de uma rede de espiões que se infiltravam nesses grupos anti-castristas nos EUA, com o intuito de evitar e até mesmo preparar Cuba em caso de novos ataques. A partir do ponto de vista de três personagens, Rene Gonzalez (Edgar Ramírez), Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), temos a noção exata do que foi o descaso do governo americano perante os fatos e a dificuldade que foi lidar com uma nova realidade, em outro pais, longe da família e sem poder contar a verdade, por mais que isso pudesse destruir suas vidas. Confira o trailer:
Olha, foi muito interessante conhecer essa história de perto, principalmente por mostrar um lado pouco explorado no cinema e que acaba nos provocando uma reflexão - o fato do roteiro (propositalmente) não assumir, em grande parte do filme, quem são os "mocinhos" e quem são os "bandidos", colabora nesse processo de auto-análise ideológica. Sem dúvida que o maior mérito do diretor foi desenvolver e contar toda a história sem ultrapassar aquela linha tênue entre a opinião politica pessoal e a necessidade de expôr o ponto de vista de todos os lados envolvidos nos fatos. Se em um determinado momento vemos imagens reais de um depoimento do presidente do EUA, Bill Clinton, em outro temos uma entrevista de Fidel Castro defendendo suas decisões e criticando a atitude americana perante provas irrefutáveis - e o mais interessante é que a posição de ambos estão apoiadas em discursos que fazem total sentido, independente do juízo de valor de cada um. É preciso dizer também, que a história é muito rica e que, em vários momentos, o filme parece não ter fôlego (e tempo) para aproveitar e se aprofundar nos detalhes de cada passagem ou de alguns personagens importantes. Tenho a impressão que "Wasp Network" poderia ser uma excelente série ou até uma minissérie, já que, como filme, acaba entregando um ótimo e curioso entretenimento, mas que, infelizmente, deixa aquele gostinho de "quero mais" para quem gosta do assunto!
O diretor Olivier Assayas tinha um material muito bom em suas mãos e sua decisão em distanciar "Wasp Network" de um thriller de espionagem sem perder o mistério que envolve o gênero, pareceu bastante inteligente; o problema é que ele precisou usar de vários conceitos narrativos para contar uma história complexa e cheia de personagens, em apenas duas horas, e acabou se perdendo um pouco - a inserção de uma narração em off para explicar o primeiro plot twist e a quebra da linearidade temporal durante o segundo ato, pareceram gratuitas demais, como se fossem as únicas opções para que tudo fizesse sentido! De fato a edição ajudou muito na construção dessa linha narrativa, criando uma determinada percepção no primeiro ato, um quebra total no segundo e uma conclusão bastante honesta no terceiro, porém, na nossa opinião, faltou uma unidade conceitual que amarrasse todas essas fases e nos transmitisse uma sensação de entendimento mais clara - mesmo que fosse com um narrador desde o inicio ou até com flashbacks, desde que isso fosse uma constante e não um artificio pontual!
Um elenco que conta com Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas merece nosso respeito - pena que o tempo de tela não comportou tanto talento. Deles, Edgar Ramíres e Wagner Moura se destacam e parecem aproveitar melhor as oportunidades dadas pelo roteiro. Ana de Armas e Penélope Cruz sempre muito competentes, embora sub-aproveitadas. Gael García Bernal está mais para uma participação especial. Eu ainda destaco o ótimo trabalho do Leonardo Sbaraglia como Jose Basulto. A direção de fotografia do Yorick Le Saux ("Adoráveis Mulheres") e do Denis Lenoir ("Para sempre Alice") funciona bem alinhada com um ótimo Desenho de Produção, entregando bonitos enquadramentos e uma ótima reconstituição de época.
Para finalizar, confesso que não conhecia profundamente os acontecimentos que o filme nos mostra, apenas lembrava vagamente de notícias da época. Assistindo "Wasp Network" continuo não sabendo dizer quem estava certo: se o povo cubano ou as autoridades americanas. O fato é que o filme aproveita de diversas passagens para nos dar esse nó na cabeça - embora ele pareça pender para um dos lados, Assayas faz muita questão de deixar o julgamento final para quem assiste, apontando os erros e até alguns discursos hipócritas e contraditórios de personagens de ambos os lados. "Wasp Network" não é um filme inesquecível, merecia mais profundidade, mas é uma ótima oportunidade para conhecer um período politico interessante e com discussões bastante relevantes para os dias de hoje! Vale a pena sim, pode dar o play tranquilo!
Você vai se surpreender com "Wisting"! Essa série norueguesa de muito sucesso no seu país (lá já são várias temporadas) combina o melhor do suspense de uma investigação criminal com um olhar introspectivo sobre os dilemas e sacrifícios pessoais enfrentados por aqueles que dedicam suas vidas na busca por justiça - sim, eu sei que costumo pontuar essa característica com certa frequência, mas é inegável como essas séries nórdicas conseguem um resultado muito bacana quando partem desse contexto narrativo. Aqui, por exemplo, temos uma série baseada nos romances do ex-detetive e autor Jørn Lier Horst, adaptada por Trygve Allister Diesen e Kathrine Valen Zeiner, o que traz para tela muita credibilidade dramática - existe uma solidez por toda trama das mais envolventes, se destacando pela autenticidade e pela atmosfera tensa na busca por um serial-killer (e não necessariamente para resolver apenas um caso isolado como estamos acostumados). "Wisting", especialmente na sua primeira temporada, utiliza o formato "noir escandinavo" como base para entregar uma dinâmica muito mais próxima do estilo americano de contar esse tipo de história - inclusive com aquele toque FBI de investigação (personificada pela Carrie-Ann Moss, a eterna Trinity de "Matrix").
Na série conhecemos William Wisting (Sven Nordin), um detetive veterano da polícia norueguesa, que investiga crimes de alta complexidade. A série começa com Wisting enfrentando dois casos paralelos: um assassinato brutal com possíveis conexões internacionais e um serial killer que se tornou o principal alvo de uma caçada em colaboração com o FBI. Paralelamente, a filha de Wisting, Line (Thea Green Lundberg), uma jornalista investigativa, está trabalhando em uma matéria que inadvertidamente cruza com os casos de seu pai, criando um interessante conflito de interesses e dinâmicas familiares que adicionam uma camada das mais interessantes para a narrativa. Confira o trailer original:
É muito claro como "Wisting" trabalha sua abordagem de uma forma mais realista para apresentar o trabalho policial e investigativo da série. Diferente de muitos dramas criminais que dependem de reviravoltas mais sensacionalistas, "Wisting" opta por um ritmo mais cadenciado e metódico, muita vezes detalhado demais, eu diria; o que reflete perfeitamente os desafios e as frustrações de uma jornada dura como essa. Embora menos dinâmica, essa proposta contribui em profundidade, dando espaço até para um desenvolvimento emocional mais humano e papável dos personagens. O roteiro, muito eficaz em construir a tensão que envolve os crimes, não ignora as implicações éticas das escolhas do protagonista - desde as primeiras cenas percebemos essa dualidade. Sua luta para balancear o trabalho exigente com uma vida pessoal cheia de marcas, especialmente na relação com a filha, é um tema recorrente e tratado com alguma sensibilidade, tornando William mais do que um detetive "super-herói" ou referência em eficiência, mas um homem vulnerável e cheio de falhas - talvez por isso seja impossível não lembrar de Sarah Linden de "The Killing".
A direção de Trygve Allister Diesen é visualmente impressionante. Como não poderia deixar de ser, ele aproveita ao máximo as paisagens desoladas e frias da Noruega para criar uma atmosfera de tensão absurda. A fotografia destaca o contraste entre o esplendor natural do ambiente com a brutalidade dos crimes investigados, capturando o clima de melancolia e de certa opressão - característico do noir escandinavo. Repare como a câmera frequentemente se concentra em planos fechados que revelam a introspecção dos personagens, enquanto as cenas externas, mais amplas, reforçam o senso de imensidão e anonimato que os investigadores enfrentam na busca pelos criminosos - e aqui cabe um destaque: o impacto dos enquadramentos nas cenas dos crimes, seja em vídeo ou por fotos, realmente é muito bem explorado. O elenco fixo, tem um Sven Nordin que entrega uma performance equilibrada como Wisting, transmitindo tanto a competência profissional quanto a carga emocional que seu trabalho exige. Ele consegue capturar a exaustão e a determinação do personagem sem cair em muitos clichês, se tornando uma figura autêntica e fácil de se conectar. Thea Green Lundberg, como Line, é igualmente convincente, trazendo energia e dinamismo à narrativa com sua investigação jornalística.
Resumindo, "Wisting" é mais uma excelente série que traz o melhor do noir escandinavo, combinando uma investigação policial complexa com um recorte humano e sensível de seus personagens principais - mesmo que em algum momento o plot jornalístico de Line, soe que poderia ter sido melhor integrado ao enredo principal (chega parecer que ele quer competir com a narrativa central em vez de complementá-la). Com um conceito que privilegia o realismo e a introspecção, essa série oferece uma experiência imersiva para fãs do gênero, mostrando ser mais uma escolha imperdível para aqueles que sabem apreciar um drama criminal inteligente e emocionalmente ressonante ao melhor estilo HBO.
Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com "Wisting"! Essa série norueguesa de muito sucesso no seu país (lá já são várias temporadas) combina o melhor do suspense de uma investigação criminal com um olhar introspectivo sobre os dilemas e sacrifícios pessoais enfrentados por aqueles que dedicam suas vidas na busca por justiça - sim, eu sei que costumo pontuar essa característica com certa frequência, mas é inegável como essas séries nórdicas conseguem um resultado muito bacana quando partem desse contexto narrativo. Aqui, por exemplo, temos uma série baseada nos romances do ex-detetive e autor Jørn Lier Horst, adaptada por Trygve Allister Diesen e Kathrine Valen Zeiner, o que traz para tela muita credibilidade dramática - existe uma solidez por toda trama das mais envolventes, se destacando pela autenticidade e pela atmosfera tensa na busca por um serial-killer (e não necessariamente para resolver apenas um caso isolado como estamos acostumados). "Wisting", especialmente na sua primeira temporada, utiliza o formato "noir escandinavo" como base para entregar uma dinâmica muito mais próxima do estilo americano de contar esse tipo de história - inclusive com aquele toque FBI de investigação (personificada pela Carrie-Ann Moss, a eterna Trinity de "Matrix").
Na série conhecemos William Wisting (Sven Nordin), um detetive veterano da polícia norueguesa, que investiga crimes de alta complexidade. A série começa com Wisting enfrentando dois casos paralelos: um assassinato brutal com possíveis conexões internacionais e um serial killer que se tornou o principal alvo de uma caçada em colaboração com o FBI. Paralelamente, a filha de Wisting, Line (Thea Green Lundberg), uma jornalista investigativa, está trabalhando em uma matéria que inadvertidamente cruza com os casos de seu pai, criando um interessante conflito de interesses e dinâmicas familiares que adicionam uma camada das mais interessantes para a narrativa. Confira o trailer original:
É muito claro como "Wisting" trabalha sua abordagem de uma forma mais realista para apresentar o trabalho policial e investigativo da série. Diferente de muitos dramas criminais que dependem de reviravoltas mais sensacionalistas, "Wisting" opta por um ritmo mais cadenciado e metódico, muita vezes detalhado demais, eu diria; o que reflete perfeitamente os desafios e as frustrações de uma jornada dura como essa. Embora menos dinâmica, essa proposta contribui em profundidade, dando espaço até para um desenvolvimento emocional mais humano e papável dos personagens. O roteiro, muito eficaz em construir a tensão que envolve os crimes, não ignora as implicações éticas das escolhas do protagonista - desde as primeiras cenas percebemos essa dualidade. Sua luta para balancear o trabalho exigente com uma vida pessoal cheia de marcas, especialmente na relação com a filha, é um tema recorrente e tratado com alguma sensibilidade, tornando William mais do que um detetive "super-herói" ou referência em eficiência, mas um homem vulnerável e cheio de falhas - talvez por isso seja impossível não lembrar de Sarah Linden de "The Killing".
A direção de Trygve Allister Diesen é visualmente impressionante. Como não poderia deixar de ser, ele aproveita ao máximo as paisagens desoladas e frias da Noruega para criar uma atmosfera de tensão absurda. A fotografia destaca o contraste entre o esplendor natural do ambiente com a brutalidade dos crimes investigados, capturando o clima de melancolia e de certa opressão - característico do noir escandinavo. Repare como a câmera frequentemente se concentra em planos fechados que revelam a introspecção dos personagens, enquanto as cenas externas, mais amplas, reforçam o senso de imensidão e anonimato que os investigadores enfrentam na busca pelos criminosos - e aqui cabe um destaque: o impacto dos enquadramentos nas cenas dos crimes, seja em vídeo ou por fotos, realmente é muito bem explorado. O elenco fixo, tem um Sven Nordin que entrega uma performance equilibrada como Wisting, transmitindo tanto a competência profissional quanto a carga emocional que seu trabalho exige. Ele consegue capturar a exaustão e a determinação do personagem sem cair em muitos clichês, se tornando uma figura autêntica e fácil de se conectar. Thea Green Lundberg, como Line, é igualmente convincente, trazendo energia e dinamismo à narrativa com sua investigação jornalística.
Resumindo, "Wisting" é mais uma excelente série que traz o melhor do noir escandinavo, combinando uma investigação policial complexa com um recorte humano e sensível de seus personagens principais - mesmo que em algum momento o plot jornalístico de Line, soe que poderia ter sido melhor integrado ao enredo principal (chega parecer que ele quer competir com a narrativa central em vez de complementá-la). Com um conceito que privilegia o realismo e a introspecção, essa série oferece uma experiência imersiva para fãs do gênero, mostrando ser mais uma escolha imperdível para aqueles que sabem apreciar um drama criminal inteligente e emocionalmente ressonante ao melhor estilo HBO.
Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com essa minissérie da Prime Vídeo que provavelmente você nem ouviu falar - ela, aliás, é uma mistura explosiva de "Sicário" do Denis Villeneuve e de "Traffic" do Steven Soderbergh, mas com aquele toque narrativo envolvente de "Narcos"! "ZeroZeroZero", criada por Leonardo Fasoli e Mauricio Katz, e baseada no livro homônimo de Roberto Saviano, é um daqueles raros exemplos em que o gênero de ação transcende a simples narrativa sobre tráfico de drogas para se transformar em um estudo profundo e eletrizante sobre poder, corrupção e as engrenagens invisíveis do crime organizado em escala mundial. Com direção primorosa do italiano Stefano Sollima, do dinamarquês Janus Metz e do argentino Pablo Trapero, essa belíssima produção mergulha no mundo sombrio e implacável da cocaína, capturando as complexas relações entre traficantes, distribuidores e intermediários que lucram (e muito) com essa indústria de proporções inimagináveis!
"ZeroZeroZero" acompanha a trajetória de uma enorme carga de cocaína, desde o momento em que é negociada e encomendada por membros da máfia italiana até a sua chegada na Europa, mostrando as intricadas operações que envolvem cartéis mexicanos, famílias mafiosas e intermediários americanos. Cada personagem envolvido na operação vê sua vida mudar radicalmente à medida que a carga cruza os continentes. Confira o trailer original:
Bem na linha do já mencionado "Traffic" (vencedor de 4 Oscars em 2001), "ZeroZeroZero" explora de forma brilhante três frentes do tráfico simultaneamente: a negociação inicial entre mafiosos italianos da 'Ndrangheta, o transporte realizado por uma família norte-americana especializada em logística e o fornecimento controlado por um poderoso cartel mexicano. Cada um desses núcleos tem uma identidade visual distinta, destacando-se especialmente pela fotografia magistral de Paolo Carnera (de "Suburra") que usa de cores sem saturação até tons escuros e contrastes agressivos para sublinhar a crueza quase documental e o perigo constante em que os personagens vivem. A narrativa, é preciso que se diga, causa algum estranhamento em um primeiro olhar, já que a história é contada de forma não-linear, com saltos temporais e mudanças geográficas constantes, mas calma: basta se acostumar para entender que essa dinâmica mantém um ritmo frenético e extremamente eficiente, conduzido com maestria pelo roteiro de Fasoli e Katz - tenha paciência que tudo vai fazer sentido!
Ao abordar diversos idiomas e culturas, "ZeroZeroZero" oferece uma visão global e perturbadora do tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que tece uma crítica pontual sobre como o crime organizado corrompe e influencia a economia e a política mundial. A direção, especialmente nas mãos de Stefano Sollima ("Gomorra"), é impecável ao equilibrar cenas de ação violentas com momentos de tensão dramática profunda - ele domina com perfeição o ritmo narrativo, alternando entre uma sensação de perigo iminente quase insuportável com momentos mais contemplativos, permitindo que a audiência absorva a gravidade das consequências e das escolhas feitas por cada personagem. E aqui preciso citar alguns nomes do elenco: Andrea Riseborough brilha na pele da implacável Emma Lynwood, uma executiva fria e determinada que assume o comando dos negócios da família após um a morte de seu pai. Dane DeHaan que interpreta com competência Chris Lynwood, irmão de Emma - um jovem que precisa lidar com questões pessoais enquanto enfrenta a brutalidade da realidade fora de sua bolha social. E Harold Torres que entrega uma performance arrebatadora como Manuel Contreras - um militar mexicano cuja lealdade e (i)moralidade são constantemente testadas ao longo da história, destacando-se como uma das melhores performances da minissérie. Do lado italiano, impossível não citar Giuseppe De Domenico como o intragável Stefano La Piana.
Em suma, "ZeroZeroZero", posso te garantir, não é apenas uma minissérie superficial e só muito bem produzida sobre o tráfico de drogas, mas sim uma reflexão realmente contundente sobre as engrenagens ocultas do poder global e suas consequências devastadoras. Com uma direção elegante em vários sentidos, atuações marcantes (mesmo que em algumas passagens pareçam um tom acima), um roteiro afiado e uma fotografia (essa sim) deslumbrante, "ZeroZeroZero é uma obra das mais intensas e impactantes, daquelas que prendem a audiência do início ao fim, provocativa e impactante ao ponto de nos abrir os olhos sobre os mecanismos de um sistema bem estruturado que rege o mundo moderno.
Realmente imperdível!
Você vai se surpreender com essa minissérie da Prime Vídeo que provavelmente você nem ouviu falar - ela, aliás, é uma mistura explosiva de "Sicário" do Denis Villeneuve e de "Traffic" do Steven Soderbergh, mas com aquele toque narrativo envolvente de "Narcos"! "ZeroZeroZero", criada por Leonardo Fasoli e Mauricio Katz, e baseada no livro homônimo de Roberto Saviano, é um daqueles raros exemplos em que o gênero de ação transcende a simples narrativa sobre tráfico de drogas para se transformar em um estudo profundo e eletrizante sobre poder, corrupção e as engrenagens invisíveis do crime organizado em escala mundial. Com direção primorosa do italiano Stefano Sollima, do dinamarquês Janus Metz e do argentino Pablo Trapero, essa belíssima produção mergulha no mundo sombrio e implacável da cocaína, capturando as complexas relações entre traficantes, distribuidores e intermediários que lucram (e muito) com essa indústria de proporções inimagináveis!
"ZeroZeroZero" acompanha a trajetória de uma enorme carga de cocaína, desde o momento em que é negociada e encomendada por membros da máfia italiana até a sua chegada na Europa, mostrando as intricadas operações que envolvem cartéis mexicanos, famílias mafiosas e intermediários americanos. Cada personagem envolvido na operação vê sua vida mudar radicalmente à medida que a carga cruza os continentes. Confira o trailer original:
Bem na linha do já mencionado "Traffic" (vencedor de 4 Oscars em 2001), "ZeroZeroZero" explora de forma brilhante três frentes do tráfico simultaneamente: a negociação inicial entre mafiosos italianos da 'Ndrangheta, o transporte realizado por uma família norte-americana especializada em logística e o fornecimento controlado por um poderoso cartel mexicano. Cada um desses núcleos tem uma identidade visual distinta, destacando-se especialmente pela fotografia magistral de Paolo Carnera (de "Suburra") que usa de cores sem saturação até tons escuros e contrastes agressivos para sublinhar a crueza quase documental e o perigo constante em que os personagens vivem. A narrativa, é preciso que se diga, causa algum estranhamento em um primeiro olhar, já que a história é contada de forma não-linear, com saltos temporais e mudanças geográficas constantes, mas calma: basta se acostumar para entender que essa dinâmica mantém um ritmo frenético e extremamente eficiente, conduzido com maestria pelo roteiro de Fasoli e Katz - tenha paciência que tudo vai fazer sentido!
Ao abordar diversos idiomas e culturas, "ZeroZeroZero" oferece uma visão global e perturbadora do tráfico de drogas, ao mesmo tempo em que tece uma crítica pontual sobre como o crime organizado corrompe e influencia a economia e a política mundial. A direção, especialmente nas mãos de Stefano Sollima ("Gomorra"), é impecável ao equilibrar cenas de ação violentas com momentos de tensão dramática profunda - ele domina com perfeição o ritmo narrativo, alternando entre uma sensação de perigo iminente quase insuportável com momentos mais contemplativos, permitindo que a audiência absorva a gravidade das consequências e das escolhas feitas por cada personagem. E aqui preciso citar alguns nomes do elenco: Andrea Riseborough brilha na pele da implacável Emma Lynwood, uma executiva fria e determinada que assume o comando dos negócios da família após um a morte de seu pai. Dane DeHaan que interpreta com competência Chris Lynwood, irmão de Emma - um jovem que precisa lidar com questões pessoais enquanto enfrenta a brutalidade da realidade fora de sua bolha social. E Harold Torres que entrega uma performance arrebatadora como Manuel Contreras - um militar mexicano cuja lealdade e (i)moralidade são constantemente testadas ao longo da história, destacando-se como uma das melhores performances da minissérie. Do lado italiano, impossível não citar Giuseppe De Domenico como o intragável Stefano La Piana.
Em suma, "ZeroZeroZero", posso te garantir, não é apenas uma minissérie superficial e só muito bem produzida sobre o tráfico de drogas, mas sim uma reflexão realmente contundente sobre as engrenagens ocultas do poder global e suas consequências devastadoras. Com uma direção elegante em vários sentidos, atuações marcantes (mesmo que em algumas passagens pareçam um tom acima), um roteiro afiado e uma fotografia (essa sim) deslumbrante, "ZeroZeroZero é uma obra das mais intensas e impactantes, daquelas que prendem a audiência do início ao fim, provocativa e impactante ao ponto de nos abrir os olhos sobre os mecanismos de um sistema bem estruturado que rege o mundo moderno.
Realmente imperdível!