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Retrato de uma Jovem em Chamas

"Retrato de uma Jovem em Chamas" é um grande filme! Certamente um dos melhores de 2019, mas que não vai agradar a todos já que tem uma narrativa bastante cadenciada, extremamente poética, focada nos pequenos detalhes, no silêncio, no olhar, na sensibilidade e no texto bem elaborado que é capaz de unir todos esses elementos e entregar uma história com alma, feminina!

A história se passa na França do século 18, Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato da jovem Héloïse (Adèle Haenel); já que sua mãe pretende enviar a obra para um pretendente que está na Itália e assim convencê-lo a casar-se com ela. Como a noiva reluta em posar para qualquer artista que possa retrata-la, Marianne precisa se disfarçar de dama de companhia durante dia, para poder pintar o retrato de Héloïse durante as noites, usando apenas sua memória. Acontece que a aproximação entre as duas vai se tornando cada vez mais íntima e uma relação muito além da amizade parece nascer da sensibilidade de uma artista e do desejo de uma mulher em busca de descobertas. Confira o trailer:

Alguns pontos merecem destaque nesse belíssimo filme: ele é tecnicamente perfeito e todos os elementos artísticos conversam entre si com uma singularidade tamanha que em muitos momentos somos impactados por planos visualmente tão perfeitos que parecem pinturas e em outros, por diálogos tão profundos, que acabam soando muito mais como uma poesia do que como uma narrativa em 3 atos. Reparem, por exemplo, como Merlant e Haenel possuem uma conexão tão natural que tudo parece  extremamente bem ensaiado, quase como um espetáculo de teatro - e, claro, isso não é por acaso, a diretora Céline Sciamma não só tem essa consciência, como usa da própria gramática teatral para criar uma relação quase platônica ou até espiritual entre as duas personagens.

A fotografia de Claire Mathon (do também incrível "Atlantique") é outro bom exemplo dessa unidade: ela capta todas essas nuances da relação, sempre com a lente certa, com o enquadramento perfeito e com as cores que constroem uma espécie de dicotomia imaginária, que na verdade não passa de uma confusão, ou melhor, de uma busca pelo único sentimento que parece estar escondido (ou adormecido) entre elas: o amor verdadeiro! "Retrato de uma Jovem em Chamas" é um filme que fala essencialmente do amor, mas apenas pelos olhos femininos, com uma narrativa mais sensível e que nos envolve rapidamente. Não é um filme fácil, mas assim que embarcamos na história e entendemos sua razão de existir, o único caminho passa ser o de apreciar, sem pressa, uma verdadeira poesia visual!

Vale muito a pena - mas precisa gostar do estilo!

Assista Agora

"Retrato de uma Jovem em Chamas" é um grande filme! Certamente um dos melhores de 2019, mas que não vai agradar a todos já que tem uma narrativa bastante cadenciada, extremamente poética, focada nos pequenos detalhes, no silêncio, no olhar, na sensibilidade e no texto bem elaborado que é capaz de unir todos esses elementos e entregar uma história com alma, feminina!

A história se passa na França do século 18, Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato da jovem Héloïse (Adèle Haenel); já que sua mãe pretende enviar a obra para um pretendente que está na Itália e assim convencê-lo a casar-se com ela. Como a noiva reluta em posar para qualquer artista que possa retrata-la, Marianne precisa se disfarçar de dama de companhia durante dia, para poder pintar o retrato de Héloïse durante as noites, usando apenas sua memória. Acontece que a aproximação entre as duas vai se tornando cada vez mais íntima e uma relação muito além da amizade parece nascer da sensibilidade de uma artista e do desejo de uma mulher em busca de descobertas. Confira o trailer:

Alguns pontos merecem destaque nesse belíssimo filme: ele é tecnicamente perfeito e todos os elementos artísticos conversam entre si com uma singularidade tamanha que em muitos momentos somos impactados por planos visualmente tão perfeitos que parecem pinturas e em outros, por diálogos tão profundos, que acabam soando muito mais como uma poesia do que como uma narrativa em 3 atos. Reparem, por exemplo, como Merlant e Haenel possuem uma conexão tão natural que tudo parece  extremamente bem ensaiado, quase como um espetáculo de teatro - e, claro, isso não é por acaso, a diretora Céline Sciamma não só tem essa consciência, como usa da própria gramática teatral para criar uma relação quase platônica ou até espiritual entre as duas personagens.

A fotografia de Claire Mathon (do também incrível "Atlantique") é outro bom exemplo dessa unidade: ela capta todas essas nuances da relação, sempre com a lente certa, com o enquadramento perfeito e com as cores que constroem uma espécie de dicotomia imaginária, que na verdade não passa de uma confusão, ou melhor, de uma busca pelo único sentimento que parece estar escondido (ou adormecido) entre elas: o amor verdadeiro! "Retrato de uma Jovem em Chamas" é um filme que fala essencialmente do amor, mas apenas pelos olhos femininos, com uma narrativa mais sensível e que nos envolve rapidamente. Não é um filme fácil, mas assim que embarcamos na história e entendemos sua razão de existir, o único caminho passa ser o de apreciar, sem pressa, uma verdadeira poesia visual!

Vale muito a pena - mas precisa gostar do estilo!

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Self Made

"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:

A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por  A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.

De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!

A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?

Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.

Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!

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"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:

A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por  A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.

De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!

A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?

Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.

Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!

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Uma Questão de Química

"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!

"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:

Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.

A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.

Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!

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"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!

"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:

Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.

A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.

Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!

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Uma Razão Para Viver

Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.

O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!

"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!

O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!

O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!

Vale como entretenimento!

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Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.

O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!

"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!

O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!

O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!

Vale como entretenimento!

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Verdade e Justiça

Verdade e Justiça

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

Assista Agora

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

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