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A Garota Desconhecida

Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

Assista Agora

Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

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Alabama Monroe

Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

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Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

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